LIÇÕES QUE DEVEMOS TIRAR DAS CATÁSTROFES CLIMÁTICAS OCORRIDAS NO RIO GRANDE DO SUL E SANTA CATARINA.
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Os
fatos já confirmam que 2023 o planeta terra bateu dois recordes de temperaturas
médias mais quentes registradas em toda a história. No verão do hemisfério
norte os termômetros oscilaram temperaturas que superaram os quarenta graus por
semanas. Episódios extremos do clima como as elevadas temperaturas e outras
catástrofes já vinham sendo previstas por organizações ligadas ao clima e as
COPs (Conferências sobre o Clima) se medidas voltadas a redução das emissões de
gases poluentes não fossem executadas imediatamente.
Os
incêndios que devastaram o território canadense, parte da Europa, Austrália e
outras regiões do planeta são demonstrações claras de que o planeta terra
chegou ao seu limite máximo de saturação climática. A queima de combustíveis
fósseis, os desmatamentos e a agricultura predatória estão entre os fatores
responsáveis por todo esse desarranjo climático que avassala o planeta e acendendo
a luz amarela sobre nossa existência nele. De fato existe agora um ingrediente amargo
adicionado a todo esse destempero climático global, o EL NIÑO. De acordo com
especialistas, o EL NIÑO, seu ciclo se mostra mais agressivo que os anteriores,
isso pelo fato de estarem às águas do oceano pacífico equatorial mais quentes que
em outras ocasiões.
Existe
consenso entre os meteorologistas que as temperaturas escaldantes ocorridas no
verão do hemisfério norte serão repetidas também no verão do hemisfério sul. Nesse
inverno, o território brasileiro foi palco de mais de uma dezena de catástrofes
provocadas por chuvas torrenciais. Cidades como São Sebastião, no estado de São
Paulo, sul da Bahia, grande Recife e toda a faixa costeira de Santa Catarina
tiveram de alguma maneira episódios extremos do clima, com perdas humanas e consequências
sem precedentes à infraestrutura e atividades econômicas.
Só
na região do extremo sul do estado de Santa Catarina em especial o município de
Praia Grande foram dois ou três ciclones extratropicais que colocaram o município
no mapa dos mais suscetíveis aos efeitos do aquecimento global do território
brasileiro. Mas não ficou restrito somente a essa região do estado catarinense,
o Rio Grande do Sul também vinha tendo registro de chuvas intensas, com cheias
de rios, deslizamentos e perdas humanas, como ocorreu em junho último no
litoral norte do estado.
Frente
a tudo isso, os meteorologistas e outros estudiosos do clima permaneciam
atentos nas telas de seus computadores rastreando por vinte quatro horas
qualquer sinal estranho do tempo que pudesse trazer riscos às populações do sul
do Brasil. Se sabe que muitos municípios brasileiros já possuem todo um
complexo arcabouço de ações coordenadas pelas Defesas Civis com vistas às
tomadas de medidas emergenciais antecipadas na hipótese de alertas de tempestades
mais severas.
Durante
dias, agências nacionais e internacionais de monitoramento climático vinham
divulgando boletins diários acerca da formação de um ciclone extratropical de enorme
intensidade na costa do Rio Grande do Sul. Já se sabia mais ou menos o possível
trajeto que o ciclone faria e o grande volume de chuvas que seria precipitado
sobre os municípios situados no Vale do Taquari, Caí, Jacuí, e de outras bacias
importantes do centro e norte do estado, com volumes que alcançariam de
trezentos a quinhentos milímetros.
Dito
e feito, entre os dias primeiro e quatro de setembro, tendo o dia quatro como a
data do epicentro, o que haviam previstos os meteorologistas do MetSul, entre
outros, se confirmaram. Um absurdo volume de água caiu sobre as bacias citadas
pelos órgãos de monitoramento levando a morte mais de quarenta e pessoas, sendo
que cerca de uma dezena permanecem desaparecidas. Diante do cataclismo ou
catástrofe previsível, houve um bate-boca ou desentendimento envolvendo o
governador do estado gaúcho e um jornalista da Globo News sobre o ocorrido. O jornalista
alegou que houve negligência por parte do Estado de não ter tomado providências
antecipadas para evitar ou mitigar ao máximo perdas de vidas humanas.
De
certo modo as críticas impetradas pelo jornalista têm consistência, pois de
acordo com os históricos do episódio climático extremo, foram inúmeros os
alertas de chuvas torrenciais emitidas, que ações mais efetivas deveriam ser
executadas pelo Estado. O que parece é
que os gestores públicos e outros organismos estatais foram literalmente
contaminados pelo vírus negacionista propagado pelo ex-presidente e seus
apoiadores extremistas. Todos devem se lembrar da campanha antivacina durante a
pandamia, atitude que resultou na morte de milhares de brasileiros. A campanha
negacionista não atingiu apenas o setor da saúde, a ciência no seu todo foi
atacada brutalmente, tudo passou a ser questionado, duvidado, inclusive a
própria esfericidade do planeta terra.
Se
a ciência fosse realmente levada a serio não teria havido tantas vidas ceifadas
nas tempestades que se abateram sobre o estado gaúcho. Desde o primeiro boletim
encaminhado pelas agencias de meteorologia que previam chuvas próximas aos 500
mm, toda a população das áreas de riscos deveriam ser alertadas e removidas
para locais seguros. Porém, isso não ocorreu. Outro detalhe importante que
merece reflexão. Muitas dessas cidades atingidas por cheias estão situadas as
margens de rios que historicamente sofrem inundações. As legislações
estabelecem, a exemplo do Código Florestal Brasileiro, que margens de rios,
córregos, lagos, lagos não devem ser ocupadas por serem APPs.
O
que se vê ultimamente são ataques frontais contra o código florestal,
desfigurando ou suprimindo dispositivos referentes às APPs urbanas, ou seja,
tornando legais ocupações cujos proprietários infringiram regras legais ambientais.
Em 1995 catástrofe parecida a do RS ocorreu no município de Timbé do Sul, extremo
sul de Santa Catarina. Chuvas torrenciais provocaram deslizamentos de terras,
rochas e vegetação das encostas da serra geral matando dezenas de pessoas. As mortes
foram exatamente de pessoas que residiam às margens de rios, como no rio figueira,
Timbé do Sul, curso d’água que integra a bacia do rio Araranguá.
O
que mais se houve falar em relação à tragédia no RS é se o estado gaúcho e os municípios
possuem planos de contingenciamento para tais episódios extremos do tempo. É perceptível,
de acordo com os fatos, que houve sim falhas substanciais no gerenciamento das
ações. É verdade também que esse problema não se restringe apenas ao estado do
RS. SC e até mesmo o estado de São Paulo vem pecando nesse quesito. A catástrofe
que se abateu sobre a cidade de São Sebastião, litoral norte de São Paulo,
demonstrou que não houve ação de contingenciamento para evitar perdas de vidas
humanas.
O furacão
Catarina que devastou o extremo sul de Santa Catarina e norte do Rio Grande do
Sul em 2004 passou a servir de parâmetros em relação a futuros episódios
climáticos extremos nessa mesma região. Diante do ocorrido, o Estado, a defesa
civil e prefeituras deveriam ter definidos planos de contingenciamentos com
vistas a preparar a população à tomada de medidas na ocorrência de furacões e
outras catástrofes. Acreditem, vinte anos depois do furacão, não se tem
informações que ações dessa magnitude foram discutidas e executadas. Se hoje os
meteorologistas alertassem da ocorrência de um episódio nas proporções do “Catarina”,
ninguém saberia o fazer.
Prof.
Jairo Será
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