O PATRIOTISMO RUSSO E RESISTÊNCIA ÀS TENTATIVAS NAPOLEÔNICAS E NAZISTAS DE DOMINAÇÃO TERRITORIAL
Caminhando pelas ruas e gigantescas
avenidas da capital, observando os edifícios, prédios públicos e outros espaços
de enorme circulação de pessoas, impressionou o enorme número de bandeiras
russas hasteadas. Por que razão a Rússia exibe tantas bandeias? Seria uma
atitude eminentemente política; imposição do Estado para impressionar os países
ocidentais ou uma imagem que realça poder e autodeterminação de um povo?
Se vasculhar a história do povo Russo,
pode-se concluir que há milhões de motivos que justificam as bandeiras
hasteadas, talvez muito mais que as bandeiras vistas nos filmes hollywoodianos,
muitas das quais maquiadas que nada refletem à realidade. Desde os primórdios,
para sobreviver, a população russa teve de enfrentar terríveis adversidades
climáticas e longas e perversos domínios dos proprietários de terras, dos
czares, que procuravam manter a população em condição de servidão/escravidão.
Mesmo depois da queda das centenárias monarquias, de ter vivenciado uma curta
experiência do socialismo revolucionário até 1923, quando morreu Lênin, a
população outra vez viveu o pesadelo da nova fase de servidão, agora sob a
bandeira do socialismo soviético Stalinista.
A segunda Guerra Mundial foi outro
episódio amargo enfrentado pelos russos que deixou milhões de pessoas mortas.
Dentre os episódios marcantes desse período destacaram o Cerco de Lenigrado e a
Batalha de Stalingrado. A Batalha de Stalingrado foi certamente o episódio que
contribuiu para o início da derrocada do nazismo e o começo do fim da segunda
guerra. Na batalha de Stalingrado, os alemães tiveram sua primeira e decisiva
derrota. No retorno para Berlin, a capital Alemã foi ocupada pelas forças
aliadas.
Quanto ao plano de Hitler, a segunda
guerra mundial tinha como propósito a germanização de todo continente Europeu
e, possivelmente, os demais continentes. Com suas investidas vitoriosas na
parte sul, oeste e norte do continente, o plano de Hitler agora era expandir
para o leste onde lhe daria o controle de vasta área sob influência do estado
soviético. Paradoxalmente, em 1939, a Alemanha e União Soviética selaram pacto
de não agressão, fato que contribuiu para o fortalecimento das relações
comerciais entre ambos. Todos acreditavam que o respectivo acordo não se
perpetuaria pelo fato dos dois estadistas, Hitler e Stalin, se odiarem.
Retornando a Moscou, é claro que em dois
ou três dias na cidade é humanamente impossível visitar e apreciar todos os
locais que retratam uma cultura tão cheia de mistérios e pouco conhecida.
Somente a praça vermelha onde está o kremlin
e todo o seu aparato arquitetônico, palácios, igrejas, museus, etc, consumiriam
dois dias. Um dia inteiro com certeza para desfrutar as incomparáveis riquezas
que pertenceram à família imperial. É claro que todas as nobrezas conhecidas
sempre tiveram a ostentação como marca principal. O museu imperial de
Petrópolis, no Rio de Janeiro, é um bom exemplo da opulência vivida pelos Bragança
nos seus quase cem anos de império. Entretanto, toda a riqueza lá depositada é
discreta comparada ao que os Romanov acumularam em seus quase três séculos de
domínio sobre o grande território russo.
A quem diga que a resistência russa às
várias tentativas de ocupação napoleônica e nazista tenha alguma relação com o
vasto tesouro acumulado em São Petersburgo e Moscou. Se toda a riqueza, de
valor incalculável, fosse pilhada pelos exércitos invasores o rumo da história
do continente europeu certamente teria sido bem diferente. Outro questionamento
feito é o motivo pelo qual o regime soviético não ter dado fim a tudo que
reportasse ao antigo regime? Foi talvez graças a conservação desses tesouros
considerados patrimônio da humanidade que a Rússia tem sido atualmente um dos
países mais visitados no mundo.
Não há dúvida que muita gente deve ter
sacrificado a própria vida ou sido explorada ao extremo para que os czares
acumulassem dinheiro a ponto de que fossem investidos na edificação dos
majestosos castelos, catedrais e nos tesouros feitos com pedras precisos. Cada
sala do museu visitado no interior do Kremlin, os olhos eram ofuscados diante
da quantidade, beleza e refinamento das jóias, vestimentas, carruagens ali
distribuídas. Outro detalhe importante, como manter por longos anos uma
população subjugada ao domínio de uma família que se revezou a frente do trono
poder trezentos anos.
A presença no interior do Kremlin de
inúmeras catedrais ortodoxas centenárias, e do lado externo da muralha, a Catedral
de São Basílio, símbolo máximo do poder religioso que marcou o império, sem
dúvida são as explicações da longevidade de um regime como dos Romanov. Tanto no interior do museu, como nos demais
ambientes visitados no Kremlin, houve a mesma sensação tida quando chegamos a
alfândega que separa a Finlândia da Rússia. O receio de que a qualquer instante
um cidadão russo mal humorado nos interceptasse e expulsasse do país. Tal
sensação tem relação com a longa propaganda antirussa aplicada durante décadas
pelos EUA, especialmente nos filmes, construindo a imagem do russo como um
demônio.
A Rússia sempre se destacou no planeta
como tendo uma das mais espetaculares escolas de balé do planeta. É tão verdade
que países como Cuba teve durante o regime soviético a segunda maior escola
fora do território russo. Em 1992, quando estive em Havana pela primeira vez
tive a felicidade de apreciar no teatro municipal a peça monumental lago dos
cisnes, do escritor russo Piotr Llitch Tchaikovsky. Na passagem pela Rússia, um
dos itens incluídos na programação foi assistir no Teatro Mariinsky de São
Petersburgo, o espetacular show de balé retratando o folclore russo.
Na cidade de Moscou, num dos pontos
estratégicos do Kremlin, está um enorme canhão, cuja obra prima da engenharia
russa é carregada de histórias e mitos. Para muitos o artefato jamais disparou
um só tiro. No entanto, se disparou ou não, o que impressiona é o seu tamanho e
o que representa para o país. Segundo historiadores, os primeiros canhões
construídos na Rússia datam do período medieval, quando os povos Tártaros adquiriram
a tecnologia dos povos chineses. Até o final século XVI os Russos se destacaram
no mundo como sendo um dos melhores na construção desses artefatos. O canhão do
Tzar, como é conhecido, data desse período. Nas proximidades do enorme canhão
estão distribuídos enfileirados dezenas de canhões menores, ambos serviram como
armamentos da artilharia russa para proteger as muralhas de Novgord dos ataques
inimigos.
Quem se impressionou com o enorme canhão
também deve ter se espantado quando se deparou com um sino de dimensões
gigantescas no interior do Kremli. Do mesmo modo que o canhão onde muitos
afirmam jamais ter disparado um tiro, o sino seguiu o mesmo destino. Na
realidade, segundo consta na literatura disponível, o atual sino é o terceiro
construído no século XVIII a pedido da Imperatriz Anna Ioannovna. Suas
dimensões impressionam.
O objeto pesa 200 toneladas e tem 6 metros de
altura. Para permitir sua construção, peças dos sinos anteriores foram fundidas
e um poço foi escavado para servir de suporte. Um incêndio fez com que o sino
se desprendesse do suporte, caindo e fraturando um pedaço do mesmo. Por cerca
de um século o sino ficou imerso no poço. O Czar Alexandre I resolveu mandar
construir uma escada para permitir as pessoas a apreciá-lo. O espetacular
objeto de engenharia foi decorado com figuras da imperatriz Anna Ioannovna.
Prof. Jairo Cezar
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