A SUSTENTABILIDADE COMO META PARA A
RELIGAÇÃO DO HUMANO COM O COSMOS
O
progresso e a abundância preconizados pelos teóricos funcionalistas do século
XIX para as futuras gerações estão sofrendo um intenso revés nas últimas
décadas do século XXI. Isso se dá no instante que relatórios de agências
internacionais estão divulgando dados que comprovam estar havendo picos recordes
da temperatura do planeta nos últimos quatro anos. Os adeptos aos conceitos clássicos de
desenvolvimento, podem até refutar tais relatórios, afirmando que os recordes
de temperatura da terra ocorrem por fatores cíclicos naturais. Dia após dia
esses argumentos estão perdendo a credibilidade, pois regiões até então imune
ao aquecimento como as zonas glaciais, sofrem abruptas mudanças com perdas
significativas da cobertura de gelo.
Se
o que está se sucedendo com o clima do planeta fosse realmente uma falácia de
ativistas críticos à economia de mercado, não teria porque gastar milhões de
dólares para a realização de tantas conferências e assinaturas de acordos e
protocolos envolvendo centenas de países. Claro que os funcionalistas liberais
jamais se renderão à realidade do fracasso da ciência clássica, da tecnologia
como pressuposto “sagrado” ao bem estar da humanidade. Há centenas de milhares
de anos comunidades humanas que habitavam frações inexpressivas do planeta já compreendiam
a fragilidade dos vários ecossistemas e a necessidade de cautela no uso dos
recursos naturais. O extrativismo vegetal, a caça e o cultivo de espécies
vegetais, por exemplo, ocorriam seguindo fielmente rituais sagrados cujo
descumprimento impactaria a sobrevivência do grupo.
Não
havia certamente na antiguidade uma definição conceitual objetiva para esse
modele de organização, porém, era consenso do grupo que avançando os limites
toleráveis do consumo necessário diário, de um modo ou de outro, teria que
responder junto ao conselho supremo pelo erro cometido. A crença exacerbada à
ciência, à tecnologia, vai paulatinamente extrapolando o “ego antropocêntrico” sobre
a natureza a ponto de não saber como lidar com o inesperado. A mecanização
agrícola, com equipamentos e insumos cada vez mais sofisticados não impede o
surgimento de plantas, fungos e insetos, que sem predadores naturais, tende-se
a se multiplicar. Semelhante a uma guerra, um plano de ação é montado com o
despejo de milhares de quilos de pesticidas, fungicidas sobre o solo. Poucos
dias depois, o ciclo se repetirá, com novos e novos lançamentos de venenos.
Na
tentativa de combater o inimigo invasor, novos e poderosos agrotóxicos são
aplicados, fortalecendo o ciclo interminável de um sistema produtivo ameaçador
e insustentável. A terra é como um organismo vivo, portanto, seu bom
funcionamento exige conexões sistêmicas perfeitas e permanentes entre os vários
componentes da grande teia viva, a terra. Nesse sentido, ultimamente mais e
mais pesquisas vem afirmando que a frágil esfera azul está diariamente sendo
mais e mais maltratada que é necessário combater esse modelo produtivo perverso
e irracional, substituindo por outro, capaz de recuperar religar o humano com o
cosmo. Do ponto de vista mecânico, racional, argumentos desse tipo, quântico, qualquer
um estará suscetível a uma avalanche de críticas sem precedentes.
É
claro que falar de agroecologia, permacultura, entre outras tantas técnicas de
cultivo humanizadas, é muito difícil de compreensão à população condicionada há
séculos a certo padrão de plantio convencional. O próprio sistema econômico
trabalha diariamente contrário a qualquer proposta de tentativa de
realinhamento humano com o cosmo. Os movimentos sociais em prol da natureza são
um bom exemplo dessa incessante tentativa de readequação quântica. Entretanto, quando
lideranças desses movimentos não são literalmente silenciados, os que
sobrevivem são achincalhados, desmoralizados por quem detém ou representa os
detentores do poder a ponto de recolherem-se à clandestinidade.
Muito
se escreveu e ainda se escreve sobre práticas de desenvolvimento sustentáveis
capaz de produzir sem impactar ecossistemas inteiros. Diariamente pessoas no
mundo inteiro estão se convencendo da necessidade de mudar hábitos de consumo,
adquirindo produtos e derivados compatíveis às práticas sustentáveis. A atividade
sustentável não ocorre exclusivamente em nível de consumo, ela se dá também no campo
espiritual, religando o humano com o universo. O teólogo e escritor Leonardo
Boff, pode ser sim um dos grandes filólogos, que por décadas vem se dedicando, trabalhando
insistentemente para sensibilizar ou espiritualizar o homem, redescobrindo como
um importante integrante da grande nave mãe terra.
O
próprio Papa Francisco, na encíclica lançada em 2017, fez menção à necessidade
de todos cuidarem da nossa casa comum, a terra. Parece que os manifestos sobre o
cuidado da mãe terra, pouco estão ecoando aos ouvidos de lideranças importantes
do mundo globalizado, que escancaradamente descumprem protocolos assinados em
defesa do planeta. O Brasil não se exclui dessa aberração comprometedora à
sobrevivência das espécies vivas. O aumento sistematizado do desmatamento nos
biomas amazônico e cerrado, somada a aprovação de leis esdrúxulas estimulando o
uso de agrotóxicos, a liberação da caça e a fragilização da atividade orgânica,
são motivos de grande preocupação de que o planeta está trilhando um caminho
perigoso e sem volta.
O
que nos resta, portanto, é o fortalecimento dos vínculos interpessoais e de comunidades
inteiras, compartilhando hábitos de convívio saudáveis e verdadeiramente sustentáveis.
Compartilhar experiências inovadoras que promova a cooperação à competição, a
coletivização à individualização, elevando o senso de justiça e respeito às diversidades
culturais. O tempo necessário para superação dos vícios desumanizadores poderá
ser de algumas ou várias gerações, dependendo do grau de politização que se
propõe promover à sociedade.
Prof.
Jairo Cezar
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