REGATA
VOLVO OCEAN RACE, EM ITAJAÍ, E A ASSINATURA DA CARTA COMPROMISSO, MARES LIMPOS
Tive
a feliz oportunidade de visitar o município de Itajaí quando da realização da primeira
edição no território catarinense da regata Volvo Ocean Race, em 2012,
considerada a fórmula um dos mares. Cinco anos depois, o estado novamente é
contemplado com mais uma etapa da edição, sendo outra vez o município Itajaí
escolhido como sede, reunindo milhares de pessoas do Brasil e do exterior.
Diferente das edições anteriores, a regata 2018, chamou a atenção por um
aspecto peculiar, que talvez, tenha sido fator decisivo por atrair maior
público que as edições anteriores. Estamos nos referindo ao barco da equipe
Turn The Tide on Plastic, patrocinada por uma Organização Não Governamental Ambiental
Portuguesa, Mirpuri Fundation,[1]
que participa da regata com objetivo de promover campanha despertando a atenção
da população e das autoridades acerca dos impactos provocados pelos plásticos nos
oceanos.
Quem
tem o hábito de frequentar as praias durante o verão, já deve ter constatado a grande
quantidade de resíduos plásticos,
vidros, metais, entre outros rejeitos, espalhados pela orla. Com a elevação da
maré todo esse material é transportado e depositado nos fundos dos oceanos causando
impactos irreversíveis as frágeis cadeias de
ecossistemas. Embora campanhas de limpeza das praias sejam realizadas
por ONGs e voluntários, não são suficientes para frear o enorme descarte de lixo ano após ano. Quase todos comungam com a mesma opinião de
que campanhas de sensibilização não são suficientes para combater essa terrível
“praga” que está transformando o planeta (oceanos e continentes) em um grande
lixão a céu aberto.
Durante
as três semanas, período em que as embarcações da regata ficaram estacionadas
no porto de Itajaí, dentre as atividades
realizadas e que despertaram a atenção do público, foi o seminário
técnico-científico “o futuro dos oceanos”. Por não ter participado do evento e acompanhado de perto
as explanações dos inúmeros palestrantes representando diferentes organizações
governamentais e do terceiro setor, muito do que está escrito nesse artigo são
informações obtidas por meio do blog foro de itajai e outros sites importantes
como o da ONU-BR (ONU Brasil Ambiental).
Segundo
o que está descrito no relatório do foro, todos os palestrantes discorreram
sobre o envolvimento das entidades que representam na luta pela proteção do
planeta. Além da presença de integrantes
do governo federal (Ministério do Meio Ambiente), Ministério Público Federal e
do terceiro setor, todos expondo os problemas do lixo e destacando iniciativas
para reduzir os impactos ao ambiente, chamou a atenção o que disse o membro da
ONU - Meio Ambiente Brasil, afirmando que o governo Brasileiro havia lançado em
setembro de 2017 a Campanha Mares Limpos.[2]
Sobre
a campanha, é de se presumir que poucos/as brasileiros/as, exceto integrantes
do MMA (Ministério do Meio Ambiente), devem ter informações mais detalhadas da mesma.
Acessando o site ONU-BR encontrei outras informações sobre o tema oceano, contendo
informações sobre eventos importantes já ocorridos e programados; acordos
assinados e participação do governo brasileiro em campanhas de combate a
degradação da sua costa marítima com descarte de plástico. A decisão do Brasil de
aderir a campanha mares limpos aconteceu em reunião de Cúpula da ONU, em 2017,
em Nova Iorque.
Em
Nova Iorque, o Ministro do Meio Ambiente se comprometeu junto com os demais participantes em criar
plano de combate ao lixo do mar, como também formalizar a criação do santuário
das baleias do atlântico sul e de áreas protegidas marinhas. Talvez
poucos brasileiros também saibam que em fevereiro de 2017, ocorreu em Bali, a
conferência mundial sobre os oceanos. Que no encontro foram deliberadas ações
emergenciais para minimizar os impactos negativos gerados pelos plásticos nos
oceanos. Dentre as várias iniciativas elencadas, se destacaram a políticas
de redução de plásticos; minimizar ao
máximo a fabricação de embalagens plásticos por parte das indústrias e mudanças
de hábitos de consumo.[3]
No
Brasil essa campanha foi lançada em junho de 2017. Se o plano nacional de
saneamento básico, lançado em 2007 a lei sobre resíduos sólidos, em 2010, ambos
continuam anos luz para se tornar uma realidade em todo território nacional,
imaginemos propostas como essas de combate uso de plásticos, num cenário
político tão conturbado, de políticos corruptos, de fragilidades expostas em
todos os setores da sociedade. Um exemple de iniciativa interessante que
poderia ser adotada no Brasil, foi implantada no Chile, onde o governo federal
sancionou legislação banindo sacolas plásticas em cidades costeiras.[4]
A
expectativa agora é que o evento realizado em Itajaí possa despertar mais
interesses da sociedade brasileira acerca do problema dos plásticos e outros
detritos descartados nos oceanos. A
cidade de Itajaí saiu na frente das demais, se tornando a primeira a redigir
carta compromisso, mares limpos. O documento discorre sobre inúmeras ações que o
município deve desenvolver em parceria com os demais municípios vizinhos, elaborando
leis, promoção de seminários, palestras, atividades de sensibilização ambiental.
A intenção é que tudo isso contribua para mudanças de comportamentos e atitudes
sobre o manejo de ecossistemas e consumo saudável, excluindo sacolas
plásticas.
O
prefeito do município de Itajaí mostrou ser um dos grandes entusiastas da carta
compromisso. Em entrevista proferida em uma das rádios do município de
Araranguá, relatou a importância de ter sido escolho Itajaí para sediar uma das
etapas da regata oceânica volta o mundo, que além de fomentar a economia da
região, deixou um grande legado cultural e ambiental.
Mas
nem tudo são rosas como mostrou o prefeito no seu discurso, pintando um cenário
um tanto romantizado do município, e do seu desejo torná-lo referência em
políticas ambientais sustentáveis para o restante do país. A provável impressão
que levaram consigo os integrantes das equipes e da organização do evento, foi
de que tudo que foi dito e está descrito na carta serão cumpridas. No blog foro
de Itajaí, num dos parágrafos está escrito que o governo brasileiro vem
desrespeitando tratados internacionais sobre vários temas, que no município de Itajaí não é diferente.
Recentemente foram realizadas alterações de dispositivos do plano diretor para permitir a construção de condomínios de grande
porte em locais não permitidos.
São
esses episódios negativos que, talvez, os organizadores do evento não ficaram
sabendo. Até que ponto uma carta compromisso de tamanha importância e complexidade
que é a sua execução, seja realmente cumprida, se questões legais elementares
no município são violadas a bel prazer de grupos poderosos que ditam as regras
do jogo do tabuleiro político local e estadual?
Prof.
Jairo Cezar
[1]
http://mirpurifoundation.org/mirpuri-news/volvo-ocean-race-2017-18/turn-the-tide-on-plastic-out-of-itajai-to-newport/
[2] http://forodeitajai.org.br/itajai-assina-a-carta-de-compromisso-mares-limpos-da-onu-meio-ambiente/
[3] http://www.ecodesenvolvimento.org/posts/2017/posts/brasil-adere-a-campanha-mares-limpos-da-onu-meio?tag=economia-e-politica
[4]
https://nacoesunidas.org/governo-brasileiro-adere-a-campanha-mares-limpos-da-onu-meio-ambiente/
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