O II SIMPÓSIO ÍBERO-AMERICANO DE
TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS (UFSC – ARARANGUÁ) MOSTROU O ABISMO QUE SE ENCONTRA O BRASIL NESSE
SEGUIMENTO
As
novas tecnológicas como computadores, internet os smarts fones, dia após dia
vem se transformando em ferramentas indispensáveis em todos os seguimentos da
sociedade. São esses novos dispositivos fixos e móveis de comunicação e de
trabalho que proporcionam agilidade e eficiência em tarefas simples e
complexas, que tornaram realidade projetos impensáveis no passado. Tornar disponível e
habilitar a sociedade ao uso eficiente de toda essa maquinaria digital requerem
profundas mudanças de paradigmas conceituais, que envolverá governos,
universidades, centros de pesquisa e a sociedade civil.
Entretanto,
para alguns países o desafio ainda é superar barreiras primárias do atraso
institucional, cujas políticas para o setor são pífias, descontínuas e de fraca
influência no setor produtivo. Na tentativa de reverter esse atraso quase
crônico das tecnologias no campo da educação, algumas iniciativas isoladas por
parte de universidades estão sendo oferecidas ao público, como o II Simpósio
Ibero-Americano de Tecnologias Educacionais, promovido pela UFSC, Campus
Araranguá. O encontro se caracterizou como um importante marco da instituição
para a região de Araranguá, que deu os primeiros passos para a superação do
atraso estrutural que permeia o cenário econômico e social regional há décadas.
Como
não poderia ser diferente, os organizadores do simpósio tiveram como
prerrogativa escolher temas e expositores que assegurasse ao público a compreensão
geral das tecnologias educacionais e suas políticas em âmbito dos países
ibero-americano. Tanto na primeira como
na segunda mesa redonda, os debatedores se deteram em abordar laboratórios
tecnológicos virtuais; projetos; experiências e programas de fomentos à
pesquisa para o aprimoramento da educação nos níveis básico e superior. Em se
tratando de Brasil, as políticas públicas em vigor, dentre elas a BNCC (Base
Nacional Curricular Comum) prioriza as unidades de ensino como ambiente
apropriado para estimular os estudantes a resolverem problemas complexos a
partir das ferramentas tecnológicas disponíveis.
É
ilusório pensar numa transformação social consistente, sustentável e duradoura
sem políticas de Estado para o seguimento. O processo, portanto, precisa estar devidamente
articulado com outras políticas e governos, combinando disponibilidade de
recursos e formação continuada dos profissionais da educação. Sobre a
experiência do uso da tecnologia nas escolas de Portugal, a palestrante Dr.
Neuza Pedro fez alguns apontamentos destacando que no país europeu a transição
do modelo clássico de educação para o mundo digital vem se dando de forma
lenta, pois tudo se traduz como experimento.
Os
próprios governos se posicionam um tanto arredios às tecnologias, justificando
a fragilidade do setor à escassez de recursos para investimentos em
laboratórios de experimentos. O Estado português, porém, embora inflexível
quanto ao financiamento, abre as portas das universidades públicas e
instituições às parcerias com setor privado, com a instalação de laboratórios
no interior de seus espaços. Todo
fomento, compra e manutenção, deverá partir das parcerias público privado e do
empenho dos profissionais da educação.
Outro
tema apresentado no encontro foram as políticas do CNPq, (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico) instituição criada no Brasil na
década de 1950, cujo papel estratégico foi e é criar e financiar programas para
o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro. A porta voz do órgão
presente no encontro expôs os fluxos de recursos oriundos do governo e de
parcerias para a pesquisa. Ressaltou que não houve cortes significativos de
verbas pelo atual governo que poderiam comprometer o funcionamento do órgão.
O
que causou mais apreensão, segundo a palestrante, foram os cortes de bolsas aos
pesquisadores que estão desenvolvendo seus trabalhos no exterior, forçando o
CNPq a fazer alguns ajustes para não comprometer projetos de pesquisa em
execução. No Brasil, segundo a representante do órgão, o setor de pesquisa em
tecnologia se depara com gargalos a serem superados para alcançar níveis
satisfatórios de desenvolvimento. Dentre as inúmeras demandas elencadas, a
precária formação de professores e a resistência à utilização de mídias se
colocam como entraves de difícil solução.
Para
romper tais barreiras, o CNPq defende que os governos invistam mais em programas
de formação continuada de professores, que lhe garanta uma leitura crítica da
aplicação das tecnologias nos ambientes de ensino. Também se deve priorizar no
Brasil uma formação docente acompanhada de políticas, elaboração de projetos
pedagógicos atualizados e a multidisciplinaridades das abordagens no cotidiano
dos espaços escolares.
O
professor José Armando Valente, da Universidade Estadual de Campinas, fez uma
breve exposição da trajetória histórica dos programas governamentais voltados a
impulsionar a educação através do emprego de tecnologias. Destacou algumas
iniciativas importantes ainda nos governos militares, como o projeto EDUCOM,
início da década de 1980, que introduziu a informática nas escolas, utilizando
algumas instituições de ensino superior como laboratórios de experimentos.
A
intenção era a partir desses centros de referência disseminar a cultura digital
em escala nacional, desenvolvendo pesquisas e preparando multiplicadores para a
disseminação dessas inovações às escolas
brasileiras. É importante ressaltar que o aporte tecnológico na educação teve,
no início, um viés político-militar, ou seja, vinculado à segurança nacional.
Os protagonistas do plano corroboravam com o mesmo
pensamento, acreditando que tal iniciativa impulsionaria a aprendizagem tecnológica no
Brasil a partir das escolas, dinamizando a economia com um parque industrial
mais eficiente e trabalhadores qualificados.
Outros
programas posteriores receberam atenção dos governos como o PRONINFE (Programa
Nacional de Informática Educativa), lançado em 1989, cujo propósito era
expandir os projetos de educação digital a todos os níveis de ensino. Havia a
intenção também de promover e incentivar a capacidade de recursos humanos no
domínio das tecnologias. Naquele
momento, o conceito filosófico que permeava os idealizadores dos programas
tecnológicos estava tracejado numa visão de que a internet por ser um bem
cultural teria de estar disponível à toda a sociedade. Em 1997, o PRONINFO foi
encerrado, sendo que no seu lugar foi criado o PROINFO (Programa Nacional de
Tecnologia Educacional), onde se mantém até os dias atuais, com inclusão e
exclusão de iniciativas, cujos resultados estão muito longe ainda de retirar o
Brasil da lista dos mais atrasados no mundo nesse setor.
Embora
o PROINFO tenha se dividido em duas etapas, de 1997/2006 e de 2007/2016, esse
último decênio por meio do PROINFO INTEGRADO, ambos, inquestionavelmente, com inúmeras
ações prometidas em termos educacionais, como a formação e capacitação de
profissionais, distribuição de computadores, lep tops, tablets, banda larga,
etc, o que constata nas milhares de escolas públicas básicas distribuídas por
todo território é um quadro desolador. O que mais se vê nessas instituições são
salas, antes chamados laboratórios, transformados
em depósitos de sucatas de equipamentos inutilizados por falta de manutenção e
peças de reposição.
O
que é mais estarrecedor é que mesmo com os bilhões em investimentos nesses
quarenta anos de caminhada tecnológica, estados como Santa Catarina foi
aprovada lei de n. 14.363/2008 que impede o uso de celulares em sala de aula.
Quanto à banda larga, são raras as escolas que não se obrigam a fazerem
campanha de arrecadação de dinheiro para tornar mais eficiente à internet, pois
a potência disponível pelo governo não é suficiente para suprir a demanda
mínimia de obrigações nas unidades de ensino público estadual.
Não
há dúvida que o Brasil, permanece ano luz de distância em eficiência
tecnológica em comparação a dezenas de países espalhados nos cinco continentes,
entre eles os sul-americanos Chile e Uruguai. O Uruguai é o primeiro país do globo
a universalizar a tecnologia na educação, ferramenta disponível em todas as
escolas públicas, com participação ativa do Estado. O que chama atenção no
Uruguai é que independentemente dos governos ou partidos que se revezam em
quatro em quatros anos, o projeto permanece funcionando.
A
experiência no Uruguai é considerada tão exitosa que o país não poderia ficar excluído
do simpósio. Para expor a experiência no país vizinho ao Brasil foi convidado o
Professor Dr. José Miguel Garcia, que é coordenador de Educação, Ciência e
Tecnologia da Faculdade Latino-Americana e Ciências Sociais (FLACSO). Antes de
expor o que relatou o professor Miguel acerca da atual situação do programa no
Uruguai, é conveniente fazer um breve relato histórico do plano hoje conhecido
CEIBAL que foi instituido em 2007.
A
idéia, no inicio, era concentrar todos os esforços possíveis na disseminação de
ferramentas tecnológicas, Leptops, em todos os centros educacionais públicos
espalhados pelo território Uruguaio. Era consenso por parte dos governantes e
dos setores ligados à pesquisa, que a universalização da TIC (Tecnologias da Informação e
Comunicação) seria possível em curto espaço tempo promover transformações
significativas no país. A criação de
riquezas; a melhoria da qualidade de vida; o desenvolvimento humano e a
inclusão social seriam umas das pretensões iniciais do plano.
Tanto
estudantes quanto professores teriam direito a um leptop, bem como a rede WIFI
disponível internamente e no entorno das instituições de ensino. Em 2011, os
estudantes das escolas infantis também foram beneficiados com a distribuição de
computadores. Conforme relatório
apresentado por organizações internacionais, o Uruguai obteve melhoria no
desempenho dos seus estudantes, sendo elogiado até pelo relator especial da ONU
onde afirmou ser o Uruguai um grande exemplo para o mundo.
Nos
quase trinta minutos de explanação, o professor Dr. Miguel demonstrou ser um
grande entusiasta do projeto CEIVAL, afirmando que já é visível uma mudança
cultural significativa no país. Que a proposta do governo foi inicialmente
atender as escolas do interior e por fim todas as escolas públicas da capital
Montevidéu. Que o sistema foi desenvolvido para atender crianças, servindo como
ferramenta de apoio ao processo pedagógico. Tanto a infraestrutura, formação de
professores, entre outros, são concepções que permeiam o programa, ambos estão
integrados, caminham juntos e estão incorporados aos planos estratégicos de
Estado, independente dos governos que assumem o comando político do país.
No
momento dos debates o público presente lançara questionamentos acerca das
Políticas Públicas relativa à TIC no Brasil. O professor Valente foi enfático
em afirmar que no Brasil esse seguimento caminha em passos de tartaruga, que
nenhum programa tem continuidade, que morre na praia a cada mudança de governo.
O processo de formação de professores é decadente, agravado ainda mais pela
situação calamitosa das escolas públicas cujos laboratórios, quando existem, os
aparelhos disponíveis estão desativados por falta de manutenção.
A
TIC nas escolas públicas poderia desencadear um salto de qualidade tanto
educacional quanto cultural, se os governos incluíssem a educação tecnológica
como política estratégica de Estado. Com tais ferramentas disponíveis os
estudantes poderiam se tornar autores de projetos, desempenhando sua capacidade
criativa, tendo o apoio permanente dos professores, mediando os passos dos
estudantes.
A
última e a mais esperada das palestras foi a proferida pelo professor Alberto
Cupani, no qual abordou a relação entre inteligência e tecnologia no processo
de construção humana. Afirmou que durante
a sua existência o ser humano passou por diversas fases importantes, sendo elas
a fase do homo fabers e homo sapiens. Foi nessa segunda etapa, que ocorreu o
aprimoramento da inteligência humana, capaz de construir instrumentos mais
complexos com o aprimoramento das técnicas. A linguagem, principalmente a
escrita, se caracterizou como um recurso técnico importante, permitindo
exteriorizar o pensamento. São as tecnologias que fazem expandir nossa mente,
bem como modificar nossa inteligência.
Além
da inteligência inter-humana, os avanços das técnicas vêm permitindo a criação
de ferramentas mais sofisticadas ao ponto delas adquirirem quase vida própria,
independente, estamos nos referindo à inteligência artificial. Está tão
presente no dia a dia das pessoas, ao ponto de assumir um papel um tanto
preocupante, pois, além de poder salvar vidas, diagnóstico médico, tende também
a nos vigiar, nos comandar, nos substituir e nos derrotar.
Entre
técnica e tecnologia, a primeira é a mais importante, pois ela se dá a partir
de um componente intelectual que acompanha o grau de consciência, onde resulta
em ferramenta, que vai se aprimorando quanto mais usamos a inteligência. O que
não acontece hoje é a tecnologia ou recurso tecnológico não ser uma decisão
coletiva, que depende de pequeno agrupamento de pessoas ou companhias decidindo
sobre uma e não outra tecnologia.
Até
que ponto a tecnologia é considerada como elemento primordial ao
desenvolvimento econômico e à felicidade humana. Diariamente os meios de
comunicação vêm bombardeando o pensamento coletivo com publicidades afirmando
que o mundo está melhor hoje por causa da tecnologia. Não produzimos apenas por
necessidade, portanto, o que é produzido é determinado por uma rede de
interesses diversos, que nos fazem acreditar que nos tornaremos mais incluídos,
felizes, livres e evoluídos se adquirirmos tecnologias, computadores,
celulares, TV, etc. Na realidade, cada vez mais o ser humano está ficando refém
do que produz, escravo passivo das máquinas que ditam o ritmo de vida diária.
Não
é plausível pensar que tudo pode ser respondido como um problema técnico. Alguma
resposta a certos problemas como na saúde pode vir de um aconselhamento
espiritual. A ciência não é a deusa do universo. Ao mesmo tempo em que deixamos
de acreditar nos dogmas, como respostas às dúvidas existenciais, nos tornamos incondicionalmente
confiantes na tecnologia (Google). Não seria esse um dogma da contemporaneidade
humana?
Prof. Jairo Cezar
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