LIXO ELETRÔNICO – SEM RECICLAGEM O PLANETA NÃO SUPORTARÁ TODO LIXO DESCARTADO
Se as legislações em vigor das quais exigem dos
governos o cumprimento de metas sociais elementares como a universalização do
abastecimento de água potável e o tratamento dos esgotos que estão longe de se
tornarem realidade, imaginemos, então, outros dispositivos importantes das leis
como os planos de resíduos sólidos, em especial o que trata sobre os lixos
eletrônicos. Muita gente talvez, nem tem noção do problema
que resultará o gigantesco volume de eletrônicos comercializados e os que estão
virando sucata, onde não estão sendo prestados os devidos cuidados conforme
estabelece a lei n. 12.305/2010 sobre Política Nacional de Resíduos Sólidos.
O que mais preocupa é o fato de os poucos
municípios que implantaram seus planos de saneamento básico, alguns, muito
precariamente, cumpriram um ou dois itens do programa, como distribuição de
água potável e construção de estação de tratamento de esgoto. É possível contar
nos dedos os municípios que avançaram além dessas demandas básicas. Ainda hoje quase a totalidade o lixo
recolhido nos grandes e pequenos municípios são destinados aos aterros
sanitários e lixões a céu aberto. São milhares de postos de trabalho que
poderiam ser abertos somente com a reciclagem, sem contar outras demandas que
se multiplicariam junto com essa cadeira de transformação.
O Brasil ainda peca no aspecto reciclagem,
como em outros tantos programas sociais, resultantes de uma cultura política
míope, cujos programas de governo, quando existem, não duram mais do que quatro
anos. No campo da reciclagem, não são
processos complexos e irrealizáveis, bastam comprometimentos e cumprimentos de
legislações. São poucos os brasileiros que sabem que a legislação sobre
políticas de resíduos sólidos obriga empresas que comercializam agrotóxicos,
pilhas, baterias, lâmpadas, óleos, pneus e eletro-eletrônicos a dar um destino
correto ao produto descartado pelo cliente.
Os veículos de comunicação e o próprio poder
público não estão informando a população acerca dessas obrigações legais, muito
menos dos riscos à saúde e o meio ambiente a manipulação e o descarte incorreto
desses rejeitos. O ecoponto é uma das poucas iniciativas importantes
implantadas em Araranguá. Entretanto, desde a sua criação é mantido quase no
anonimato, poucas sabem onde fica localizado, quem coordena e quais os produtos
descartáveis que são recolhidos. Do mesmo modo que existem campanhas quase
permanentes para prevenir o contágio com o mosquito da dengue, o empenho também
deveria ser o mesmo com o lixo eletrônico devido aos riscos de contaminação aos
ecossistemas.
Muitos estudos comprovam que o aumento da
incidência de doenças degenerativas, câncer, Alzheimer, Parkinson, entre
outras, resultam do consumo de alimentos e água contaminados com metais
pesados. Todos os anos são despejados no mercado milhões e milhões de novos
equipamentos eletrônicos. Somente em 2016, somente 20% de lixo eletrônico
descartado no Brasil foi recolhido e reciclado. Dos 80% restante, 4% tiveram como
destino os lixões, e os outros 76% restante foram incinerados, despejados em
aterros, reciclados informalmente ou outros destinos desconhecidos. Se nesse
mesmo ano todo o lixo eletrônico descartado indevidamente no planeta fosse
reciclado, poderia ter gerado 55 bilhões de dólares. Valores dos quais superam
em muito os PIBs de dezenas de países. É inacreditável imaginar que diante de
um problema tão grave e presente na vida de bilhões de pessoas no mundo todo,
pouco mais de 40 países desenvolvem políticas de quantificação de dejetos
eletrônicos.
O que se vê no Brasil, mesmo com a política
de resíduos sólidos em vigor, são programas isolados acontecendo em alguns
municípios apoiados pelos poderes constituídos ou, que é mais comum, através de
iniciativas próprias de empresas de reciclagem.[1]
O Estado do Rio Grande do Sul, em 2017 se destacou nacionalmente por lançar
programa estadual que propõe descartar corretamente equipamentos eletrônicos
utilizados pelos órgãos públicos.
A proposta batizada de SUSTENTARE tende a
recolher equipamentos que serão encaminhados a uma entidade de ressocialização
de detentas em Porto Alegre, que se encarregarão de reciclar e recuperar
eletrônicos a serem reutilizados. O programa SUSTENTARE teve outros
desdobramentos como a instalação de cinqüenta ecopontos distribuídos em escolas
estaduais nos municípios da região metropolitana da grande Porto Alegre[2].
A comunidade e os estudantes foram inseridos no projeto, com atividades
curriculares e extracurriculares que contribuem para o esclarecendo da importância
do descarte correto desses materiais.
Em Santa Catarina, dos 294 municípios, apenas
64 delas tem algum tipo de coleta seletiva. Das seis regiões pólos do estado
catarinense, menos Criciúma, Chapecó se destaca no recolhimento de descartáveis
com mais de 1000 toneladas por mês. Porém, o maior problema enfrentado por
esses municípios e nos demais que promovem a reciclagem é o desconhecimento acerca
do manejo eficiente das embalagens recicladas. Se no estado mais de 30% do
material reciclado acabam inda para os aterros, imaginemos agora os absurdos
que devem ocorrer com os eletrônicos[3]
No sul de Santa Catarina, estudantes do curso
de engenharia ambiental da UNESC, desenvolveram aplicativo que auxilia as
pessoas a identificar pontos de recolhimentos de eletrônicos. O usuário escolhe
o produto que quer reciclar, seleciona a empresa mais próxima de sua residência
e encaminha o produto.[4]
São iniciativas que vem fazendo a diferença nesse conturbado mundo onde quase
tudo que é produzido pela indústria tem o tempo de vida útil reduzido, decorrente
da pressão do mercado.
No
município de Araranguá, estudantes, professores e demais funcionários de uma
escola pública estadual, há dois anos vem participando de um projeto ambiental
pioneiro voltado à contenção dos desperdícios de energia elétrica e água. No
entanto, o projeto, a cada etapa vem sofrendo desdobramentos, com a inclusão de
outras demandas como o reaproveitamento do lixo orgânico. No transcurso do
projeto o grupo percebeu que a questão do lixo eletrônico também deveria ter atenção
especial.
No início do ano letivo de 2018, foi mantido
contato com o proprietário de uma empresa que realiza a coleta e reciclagem de
lixo eletrônico no município de Araranguá, onde se firmou pareceria entre a mesma
e a EEBA. A proposta inicial é mobilizar toda a comunidade escolar, envolvendo-os/as
na campanha de coleta de lixo eletrônico. Além de estimular a economia da
região através da geração de emprego e renda na comercialização dos produtos, a
ação também visa sensibilizar a sociedade acerca do modo correto de descartar tais
equipamentos.
Durante os contraturnos, estudantes que
integram o projeto se reúnem na biblioteca da escola, onde desenvolvem
estratégias para viabilizar a proposta. A construção de cartazes contendo
frases de sensibilização são uma delas. Os mesmos, depois de confeccionados,
são distribuídos em pontos estratégicos da escola, fazendo com que todos se
sintam motivados a participar. Foi disponibilizado no interior da escola um
recipiente, onde estão sendo alocados os equipamentos já recolhidos na escola e
os que estão sendo trazidos pelos estudantes.
O que se pretende com essa iniciativa é
despertar o interesse da comunidade e dos poderes constituído acerca do tema
lixo eletrônico. Alertá-los/as sobre os direitos e obrigações de quem produz e
dos consumidores, bem como a inclusão nos PPPs e currículos da escola de
temáticas que auxiliem na reflexão sobre o mundo do consumo irracional e os
efeitos perversos no equilíbrio do planeta.
Prof. Jairo Cazar
[1] http://www.susepe.rs.gov.br/conteudo.php?cod_conteudo=3284&cod_menu=4
[2] http://www.sustentare.rs.gov.br/projeto-ecoponto-na-escola
[3] http://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2017/06/um-terco-do-lixo-destinado-a-coleta-seletiva-de-sc-nao-e-aproveitado-por-descarte-incorreto-9823641.html
[4] http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2015/08/estudantes-de-sc-criam-aplicativo-para-auxiliar-descarte-correto-do-lixo.html
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