20 ANOS DE COMITÊ ARARANGUÁ E AS
DEMANDAS DA BACIA HIDROGRÁFICA CONTINUAM CADA VEZ MAIORES
O
tema recursos hídricos, nos últimos tempos, vem se formatando como campo
estratégico de debate obrigatório em todo planeta, pelo fato de que a cada dia
a água está se tornando um recurso cada vez mais escasso, desencadeador de dezenas,
centenas de conflitos pelo seu controle. A escolha do Brasil como sede para o
oitavo (FAMA) Fórum Mundial da Água, deve ter sido influenciado pela grande
reserva de água acumulada no subsolo e superfície do território, e os riscos de
contaminação decorrentes das fragilidades das políticas de execução dos planos
de gestão. Fazendo um recorte em escala
menor da problemática hídrica, é impossível deixar de fora dessa amostra a
bacia hidrográfica do rio Araranguá, uma das mais degradadas no Brasil.
Desde
1998 a respectiva bacia é administrada por um comitê gestor, constituído de uma
comissão executiva e conselho consultivo, onde discutem e deliberam ações
elencadas nos planos. No entanto, o próprio comitê não consegue sozinho, dar
conta de concretizar a infinidade de demandas que se avolumam a cada nova
gestão. O fato é que os comitês, estrategicamente, se configuraram em programas
de descentralização das gestões hídricas. No entanto, embora a responsabilidade
e o compromisso pela elaboração dos planos e suas execuções fiquem sob a tutela
do comitê, além, é claro, de todo o imbróglio ambiental, a mesma coisa não
acontece os recursos financeiros, permanecendo sob a tutela e vontade política
do chefe do poder executivo.
Demandas
ambientais do tipo disputas por água, extração de seixos e despejo de efluentes
poluidores, todo o encargo de responsabilidade está agora sobre o comitê. Convém salientar, que não é exatamente esse o objetivo
principal do comitê ou dos comitês, porém, os fatos dão evidências de que
quando os governos decidiram pela descentralização do controle das bacias
hidrográficas, a intenção era minimizar ao máximo a pressão sobre si e empurrar
para a sociedade. Na primeira assembléia ordinária do comitê da bacia
hidrográfica do Araranguá de 2018, ocorrida no dia 05 de abril, ficou bem
visível o desinteresse dos governos, principalmente de Santa Catarina, com a
eficiência dos comitês.
Em
2015, depois de quase dois anos de intermináveis reuniões, debates e oficinas,
finalmente se concluiu o tão esperado plano de recursos hídricos para a bacia
do rio Araranguá. Havia a expectativa de que após sua homologação por meio de
audiências públicas, os objetivos e metas elencadas imediatamente fossem
executados. Já se passaram quase três anos e o plano continua estagnado por
falta de recursos. Algumas das metas elencadas, consideradas de caráter
emergenciais, se fossem executadas, poderiam contribuir para minimizar ou
solucionar demandas que hoje estão ocupando quase todo o tempo da equipe
executiva do comitê, na solução de conflitos decorrentes do uso da água.
Segundo
informou a presidente do comitê, são sete os impasses desencadeados por
disputas de água, cujo comitê está mediando. Se as pendências fossem unicamente
por questões hídricas, não sobrecarregaria tanto o comitê, o fato é que outras
diligências estão ocupando muito tempo das reuniões, como denúncias de extração
de seixos e despejos de elementos poluidores na bacia, cujas soluções dependeriam
das mudanças de comportamentos de seguimentos empresariais, órgãos
licenciadores, gestores públicos e da própria sociedade, num todo. A retirada
de pedras dos leitos dos afluentes do Rio Araranguá está se tornando um
problema quase incontrolável, impactando todo o ecossistema, cujos efeitos já
estão sendo sentidos em dezenas de comunidades do interior devido ao
rebaixamento dos lençóis freáticos, comprometendo a recarga dos aqüíferos.
Órgãos
ambientais que deveriam estar sintonizados como as políticas do comitê, vêm se
transformando em verdadeiros imbróglios de resistência, como exemplo a FATMA,
acusada de liberar licenças autorizando a mineração, porém, não executa seu
trabalho primordial que é a fiscalização nesse seguimento. Essa é, também,
outra questão conflitante que já poderia ter tido alguma solução se o plano
estivesse em andamento. Parece que existem forças obscuras atuando nos
bastidores dos poderes de decisão, trabalhando para que o plano de gestão da
bacia não tenha êxito.
O
setor da mineração de carvão continua atraindo a atenção dos membros dos
comitês em quase todas as reuniões ou assembléias ordinárias realizadas. Claro,
sempre com denúncias relatadas por algum membro do comitê, de algum crime ambiental
cometido ou prestes a ocorrer. Dessa vez, um integrante do comitê da região de
Treviso, denunciou que uma empresa carbonífera teria lançado rejeito de carvão em
um dos afluentes do Rio Araranguá. Relatou outros crimes ambientais praticados
por empresas do seguimento, onde os infratores são isentos de qualquer tipo de
punição. Criticou a impunidade dos criminosos ambientais, bem como a
parcialidade dos órgãos ambientais, que se tornam cúmplices dos crimes por autorizarem
licenças tanto para extração como para depósitos de rejeitos de carvão em áreas
de proteção permanente.
No
comitê, o próprio setor carbonífero tem uma cadeira, representado pelo sindicato
das mineradoras, o SIECESC. Depois de ouvir o apelo emocionado do representante
de Treviso, o integrante das mineradoras respondeu que o setor já vem cumprindo
sentenças de reparos ao passivo ambiental desde 2003. Que a intenção é resgatar
a imagem do seguimento carbonífero arranhando por infrações cometidas. Que todos
os projetos apresentados para o setor são viáveis, porém, não são infalíveis. Que
defende a fiscalização do crime ambiental ocorrido no Treviso para comprovar se
foi criminoso ou acidental.
Um
cidadão que passou a integrar o corpo de delegados do comitê, que representa a
SIDASC, lançou críticas acirradas ao modelo energético que utiliza o carvão como
matéria prima, e que são necessários maiores investimentos em energias
renováveis, como eólica, solar, etc. A resposta do representante do carvão foi
imediata, afirmando que é necessário explorar todas as fontes de energias
possíveis, que quanto mais eólicas, fotovoltaicas forem construídas, mais
termelétricas deverão existir para reparar a intermitência do setor. Quis informar
o cidadão que os sistemas ou residências atendidas com energia eólica ou solar
ficam instáveis, dependendo da oferta de ventos ou luz solar.
Defendeu
o carvão, afirmando que é um produto “nosso”, que as tecnologias em vigor
atualmente permitem sua extração e beneficiamento sem qualquer risco de
impactos ambientais. Vários países estão interessados em conhecer a tecnologia
que reaproveita as cinzas do carvão para produzir energia. Que esse sistema é
conhecido como sintetizador de cinzas.
Outro
cidadão, que atua no comitê, desde o começo, há vinte anos, aproveitou para
fazer um desabafo e também denunciar, como o fez o cidadão de Treviso. Disse
que estava encerrando sua participação no comitê, devido a sua idade, que
estava um tanto triste por não ter visto sair do papel algumas propostas
elencadas há anos como a represa do Rio do Salto, no Timbé do Sul. Nunca imaginava
chegar à reunião do comitê e ouvir de membros da entidade de que o pleno de
gestão da bacia corre o risco de ser engavetado, pelo fato de recursos não
terem sido ainda repassados pelo governo do estado.
Denunciou
ao comitê que em Araranguá vários crimes ambientais vêm sendo cometidos. O primeiro
trata do licenciamento para construção de prédios, cuja água do subsolo ou do
lençol freático, é bombeada 24 horas utilizando bombas. O segundo crime, por
ele narrado, trata do uso do manancial lagoa da serra para a prática de Jet ski,
que tem dias que são vistos 20 embarcações no local. Como pode a liberação
dessa prática no município se para pescar no rio é proibido, desabafou o
cidadão.
Prof. Jairo Cezar
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