OS GIGANTESCOS FLUXOS DE REFUGIADOS DO AQUECIMENTO GLOBAL
Quem acompanhou os últimos noticiários da imprensa
nacional e internacional acerca de dois furações que atingiram algumas ilhas do
caribe e a costa sul dos Estados Unidos, mais intensamente as cidade de Houston
no estado do Texas, e Miami na Flórida, deve ter percebido que o número de
mortes causadas pelos ventos foi mínimo, comparadas as 2000 vítimas fatais
contabilizadas provocadas pelo furação Katarina que arrasou New Orleans há dez
anos. O Katrina provocou transtornos e prejuízos de proporções gigantescas, foram
cerca de 130 mil desalojados e prejuízos
superiores a um bilhão de dólares
A
pergunta que certamente muitos gostariam de fazer é por que não foram
realizados em New Orleans os mesmos procedimentos de evacuação, cuidados e
atenção semelhantes ao ocorrido em Miami? Seria pelo fato de expressiva parcela
da população do território atingindo ser negra e pobre? Miami, especialmente Miami
Beach é o reduto dos afortunados norte americanos que têm suas mansões
milionárias edificadas nos locais mais valorizados do balneário. Se o furacão
Irma, que desde a sua formação no oceano atlântico, o mundo inteiro o
acompanhava em tempo real pela internet o seu deslocamento, a velocidade dos
ventos e o momento exato que iria atingir os locais povoados, por que não foram
feitas a evacuação da população das ilhas do caribe que estavam na rota da
tormenta? Muitas mais vidas não poderiam
ser salvas?
Todos
esses episódios extremos do clima que irão resultar na transferência de bilhões
de dólares do orçamento público para a recuperação da infraestrutura destruída é
uma resposta do planeta terra às
posturas inconseqüentes tomadas por muitos líderes de potências mundiais em
querer insistir na manutenção de políticas econômicas depredatórias. Há cerca de dois meses, um pronunciamento do
presidente Trump provocou revolta e apreensão internacional quando afirmou categoricamente
que abandonaria o acordo do clima assinado pelo seu antecessor alegando custos
econômicos elevados e, afirmando também, que o aquecimento global não existe, que é uma
invenção dos chineses para destruir a economia do estados unidos.
Afirmar
que as mudanças do clima é uma invenção dos chineses é desconsiderar todo um
acúmulo de informações acumulados nas últimas décadas sobre o clima que
comprovam que o aquecimento global é uma realidade inquestionável e bem
presente nas nossas vidas. Muitos céticos do clima de plantão tentam a todo
custo se opor às pesquisas, unicamente para preservar o atual modelo predatório
de produção e consumo que está comprometendo o suprimento de recursos naturais
disponíveis. O que não podemos mais
duvidar é de que o planeta terra está sim dando o troco aos crimes ambientais
provocados nas últimas décadas e que sempre foram colocados para de baixo dos
tapetes. Um exemplo de irresponsabilidade foi o Brasil, quando em 2012 aprovou o código florestal anistiando
milhares de desmatadores.
Se a
metade dos gastos hoje disponibilizados para reparar os efeitos devastadores do
clima, como enchentes, tornados, furações, estiagens e toda a logística montada
para atender aos milhões de migrantes e refugiados do clima, fossem aplicadas
em projetos de energias renováveis e à sensibilização ambiental, os efeitos negativos
poderiam ser mínimos. Não é o que vem se
sucedendo. Possivelmente muitos crédulos no mundo inteiro devem estar imaginando
que os furacões e outras adversidades do clima sobre o território americano,
são respostas vindas do céu à irresponsabilidade do governo Trump e dos seus
aliados que insistem continuar poluindo o planeta.
Por
outro lado é importante que se Dida que o Brasil não está imune aos efeitos das
mudanças climáticas, pois também está contribuindo com a emissão de milhões de
toneladas de CO2 oriundo dos desmatamentos de seus principais biomas. Era comum em um passado recente ouvir pessoas
se vangloriando por estarem vivendo num país livre de terremotos, furacões e
outras tantas catástrofes climáticas que acreditavam jamais pudesse ocorrer por
essas bandas.
O Furacão
Catarina, em 2004, que devastou cidades do extremo sul de Santa Catarina, os
constantes tornados, as frequentes cheias e estiagens históricas, sem registro
estatístico comparável, vem se acentuando e acendendo a luz amarela. Todos
esses acontecimentos do clima devem ser vistos com atenção. Não podemos mais
continuar achando que tudo isso é normal, que sempre foi assim, etc, etc. É necessário,
portanto, repensar o modo como cada um vem se comportando dentro do seu
microcosmo, sobre hábitos de consumo, utilização do lixo, da água, energia,
etc.
A
recente decisão do presidente Michel Temer de suprimir a Unidade de Conservação
da Reserva do Cobre; de flexibilizar as legislações que tratam sobre
licenciamento ambientais e do recente relatório apresentado pelo instituto SOS
Mata Atlântica, que mostra o aumento do desmatamento da floresta atlântica nos
últimos dez anos, são alguns dos acontecimentos preocupantes que requer maior
atenção da população para que não sofram num futuro muito próximo situações
semelhantes às da região do caribe e costa sul dos estados unidos, devastadas
por furações.
Nas
décadas de 60, 70, milhares de pessoas afetadas pela estiagem do nordeste
brasileiro migraram para as grandes cidades dos sudeste, se transformando em um
dos primeiros e grandes êxodos de refugiados do clima ocorridos no Brasil. Tudo
indica que esse processo tende a continuar e se intensificar nas próximas
décadas, não exclusivamente por nordestinos, mas por levas de pequenos e médios
agricultores do interior de estados importantes que estão sendo afetados por
estiagens e que se deslocarão para as grandes cidades em busca de trabalho.
Nos
últimos 13 anos, entre 2003 a 2015, houve um crescimento dos decretos de emergência e calamidade em decorrência da
estiagem em mais de 400% em todo o país. No mesmo intervalo de tempo houve o
aumento de 199% o número de municípios que decretaram estado de emergência ou
calamidade em decorrência da estiagem.
Agora se somarmos com outros episódios extremos como inundações,
deslizamentos de encostas, entre outros, um quarto dos municípios brasileiros,
totalizando 1.296, encaminharam pedido de socorro para os órgãos
governamentais. São 71% de pedidos em
decorrência da seca no nordeste e norte de Minas Gerais, e 29%, resultante das enxurradas
e temporais no Sul, Sudeste e Norte do Brasil.
A
transposição do rio São Francisco, que já custou aos cofres públicos quase 10
bilhões de reais é vista com otimismo por milhares de nordestinos acreditando
sê-lo a solução para décadas de falta d’água. Na realidade, depois de anos e já quase
concluída, a obra vem sendo concebida como pesadelo para milhares ribeirinhos
do São Francisco que acompanham atônitos a progressiva redução do volume de água do rio dia após dia, especialmente
depois que as bombas de sucção foram acionadas. Se as chuvas nas cabeceiras do
rio São Francisco continuar caindo em volumes abaixo do normal, a tendência é o
comprometimento do abastecimento dos estados e das cidades atendidas pela
transposição.
Para
evitar um possível êxodo das populações que sofrem os efeitos de longas estiagens,
não somente as que vivem no semi-árido do nordeste, mas Brasília e Fortaleza, essa
última com 900 mil pessoas que sofrem com a falta d’água, é necessário fazer o
que muitos países com problemas parecidos vêm fazendo. A estratégia é o desenvolvimento de políticas
públicas voltadas ao uso eficiente dos recursos hídricos; a construção de cisternas;
a universalização dos sistemas de tratamento dos esgotos e os programas de
sensibilização ambiental.
Se
programas como os Planos Municipais de Saneamento Básico e o uso eficiente dos
recursos hídricos conduzidos pelos comitês gestores das bacias hidrográficas,
não forem bem executados pelos gestores públicos, a tendência é o agravamento
das doenças e dos fluxos migratórios de pequenas e médias cidades agrícolas em
todas as regiões brasileiras. Ainda há
tempo de evitar aquilo que está se prevendo há décadas no Brasil, e que já se torna realidade em muitos países
africanos e asiáticos, o progressivo aumento dos refugiados do aquecimento
global.
Prof.
Jairo Cezar
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