PROFESSOR NILDO OURIQUES, DA UFSC, EM ENTREVISTA ANALISA A ATUAL CONJUNTURA SOCIAL E POLÍTICA E DEFENDE
A REVOLUÇÃO BRASILEIRA COMO SAÍDA ÀS CRISES ESTRUTURAIS
A
entrevista concedida pelo professor Nildo Ouriques da área de economia da UFSC
à Rádio Faixa Livre, proporcionou ao público que o ouviu momentos de apreensão
e reflexão acerca da atual conjuntura política e econômica brasileira. Durante sua
fala insistiu em reafirmar que o modo como a política e a economia estão sendo
geridas no Brasil não tenderá a reverter a crise que se abate sobre milhões de
cidadãos (ãs) que perderam seus empregos nos últimos meses. Discordou das
várias opiniões quase consensuais onde tentam reiterar categoricamente que a
crise atual não tem precedentes na história recente do Brasil. Para o
professor, o período que antecedeu ao golpe de 1964, esteve mergulhado em um
dos momentos mais tensos em comparação ao atual.
Havia,
portanto, no começo da década de 1960 um processo revolucionário embrionário
prestes a eclodir, sendo que os setores dominantes do capital tinham
consciência disso. As várias iniciativas
protagonizadas pelo governo João Goulart, como a reforma agrária, conferiam um
tom esperançoso à população em relação ao futuro. No entanto, na contramão do
processo de possíveis rupturas estruturais, as elites locais e internacionais
apoiadas pelos generais se articularam e outorgaram o golpe de 31 de março de
1964.
A
partir desse episódio fatídico foram 20 anos de censura e terror imposto pelos
governos militares, para viabilizar a ferro e foto o projeto desenvolvimentista
do Estado brasileiro. Diferente do modelo de sindicalismo construído no ciclo anterior
ao golpe de 1964, que propunha solução às contradições do capital e que conduziu
à burguesia brasileira a articulação de um plano de resistência, o atual modelo
de organização, seus representantes não possuem memória histórica, muito menos
modelo de projeto de sociedade que alimente as esperanças da classe
trabalhadora. Seguindo na mesma esteira do desenvolvimentismo combinado ou dependente
dos anos 1970 a 1990, o estado brasileiro tem hoje na mineração e na exploração
da terra os únicos suportes do establishement liberal.
São
gigantescas corporações multinacionais vinculadas aos seguimentos do mercado de
commodities que controlam o jogo quase irracional da economia e política. Gravitando
na orbita desses seguimentos está a burguesia empresarial brasileira a exemplo
da FIESP, cujo seu principal membro o ex-candidato a prefeito do município de
são Paulo, Paulo Skaff, está as voltas com a justiça, também denunciando por
envolvimento por crime de corrupção. Essa mesma federação também protagonizou a
fixação de um enorme pato inflável na avenida paulista contendo a seguinte
mensagem: “não vou pagar o pato”.
Intensificam-se
também por todo território nacional ramificações de ações repressivas do Estado
contra manifestações que se opõem as políticas de supressão de direitos. Isso
reflete o grau de insatisfação da população e a reação quase irracional,
fascista, de quem tenta manter as massas trabalhadoras acuadas através da
força. A esperança de uma ruptura pacifica institucional se esgotou, segundo o
professor. A saída, portanto, deve ser o
fortalecimento dos movimentos, das massas populares para o que chamamos de a
Revolução Brasileira. O processo já se sucede espontaneamente com a ocupação de
escolas públicas, universidades, entre outros.
Essas
manifestações contribuem para o amadurecimento político crítico dos ativistas
que resistem aos ataques do capital contra direitos conquistados e a própria
existência. Informou também que
expressiva parcela da riqueza brasileira está indo para fora do país, sendo,
portanto, um dos vários motivos do nosso subdesenvolvimento. São trilhões de
reais depositados lá fora, dinheiro que poderia estar financiando educação,
saúde e toda infraestrutura necessária. Sem contar, é claro, a dívida faraônica
dos grandes proprietários de terras que somam um trilhão de reais, dinheiro
suficiente para assentar mais de 200 mil famílias. Governo federal e
proprietários devedores estão tentando encontrar caminhos para uma possível
anistia dessas dívidas. Método semelhante ao que ocorreu em 2012, com a
aprovação do código florestal brasileiro, que anistiou todos que praticaram
crimes ambientais até 2008.
Não
há dúvida que a corrupção envolve o Estado brasileiro e que tal patologia quase
crônica vem contaminando os diversos seguimentos da sociedade, atravessando
agremiações partidárias tradicionais, PSDB, PMDB, PT, grandes corporações do
setor de mineração, empreiteiras, contaminando até mesmo a própria sociedade.
Se há uma força tarefa do MP chancelada pelo Juiz Sérgio Moro para limpar o Brasil,
ou seja, caçar as bruxas enraizadas nos interstícios dos partidos e
organizações, porque razão que as investidas não seguem a mesma proporção no
Banco Central e Ministério da Fazenda, que também são órgãos suspeitos de
estarem contaminados com o vírus da corrupção.
Na eleição
que levou Lula ao poder em 2000, a expectativa era que o pleito assegurasse a
elaboração de um radical programa de governo, que pudesse promover reformas
estruturais de caráter popular, no mesmo molde que se sucedeu anterior ao golpe
de 1964. Nada disso ocorreu. O comportamento do presidente foi a conciliação de
classes, no estilo “paz e amor”, num país desgraçado, afetado pela miséria,
fome, escassez de saneamento básico, educação, saúde, ou seja, sem qualquer
perspectiva de futuro.
O
que mudou nesses quase vinte anos de governos petistas? Apenas ações paliativas
que não atacaram as raízes dos problemas, como os programas assistencialistas e
de incentivo ao consumo. As políticas de credito fácil proporcionaram o
endividamento ainda maior da população e o vertiginoso enriquecimento do setor
financeiro. Não podemos mais admitir que o povo tenha outra vez que passar por tamanha
penúria, de políticas entreguistas que estão endividando pessoas e enriquecendo
bancos e o sistema financeiro internacional. A dívida pública brasileira deve
ser investigada. É necessária uma profunda auditoria dessa dívida para saber
quanto que já foi paga e se há ainda dívida a pagar. É preciso romper e
decretar o não pagamento, pelo fato de já ter sido paga. O que está se fazendo
é crime de lesa pátria.
O
episódio de junho de 2013 quando das manifestações que se espalharam por todo
território brasileiro deve servir de referências para esquerda brasileira. As
expectativas dos seguimentos dos transportes urbanos eram que o aumento das
passagens não resultaria em reações da população. Muito pelo contrário, em
poucos dias, estudantes e a população indignada invadiram ruas para protestar,
tendo como bandeiras de luta, além da oposição ao aumento das passagens, o
combate a corrupção. A pressão foi tamanha que o próprio governo ficou acuado
tendo que mudar o discurso e se pronunciar em rede nacional o apoio aos
movimentos divulgando medidas emergenciais para acalmar as massas.
O
crescimento vertiginoso dos movimentos neopetencostais também foi outro item
comentado pelo professor Nildo. Disse que o próprio quadro de instabilidade
econômica e social tende a estimular o fortalecimento e a expansão desse
seguimento religioso, entre outros, a claro. Há uma profunda ramificação das
igrejas evangélicas no interior dos espaços de poder como no legislativo. Até
mesmo a constituição de bancadas de parlamentares com forte poder de influência
nas votações de projetos importantes para quem estão representando.
É
exatamente isso o que interessa aos lideres dessas organizações que manipulam
milhões de desesperadas incrédulos da política que buscam na fé uma resposta ou
saída às suas dores e carências. O que a população freqüentadora desses templos
e de outros espaços religiosos, de diferentes crenças deveriam fazer seria
investigar como votaram os congressistas que os representam em projetos como a
PEC-241 (câmara), PEC-055 (senado); reforma previdência, entre outras. É claro que não precisa nem investigar, pois,
com raras exceções, votaram a favor das reformas. O fato é como tais igrejas se
sustentariam tendo uma população satisfeita e feliz com suas condições básicas
de subsistência supridas.
Quanto
mais perdas sociais, maiores serão as dores, o desespero, que por fim, templos
e igrejas cheiros, suscetíveis a uma profunda lavagem cerebral. A contradição é
como continuar arrecadando fortunas e a disseminação de templos por todas as
partes do país e do planeta se a população tem um Estado que lhe assiste socialmente?
Na realidade, existe por traz desse fantasioso poder místico de “remição dos
pecados e da dor”, um projeto maior que ultrapassa as paredes dos templos,
ocupando as instâncias de decisões políticas. A vitória eleitoral do candidato
a prefeito no município do Rio de Janeiro, Marcelo Crivela, já é o primeiro passo
para a concretização desse plano de poder.
O
próprio líder máximo da Igreja Universal do Reino de Deus, Bispo Macedo, expõe
claramente esse plano na sua obra cujo título é “Plano de Poder: Deus, os
Cristãos e a Política”. O que dizer dos inúmeros canais de TV, de propriedade
dessas organizações religiosas que ficam no ar 24 horas transmitindo
programações cuja finalidade é a oferecer à população palavras de conforto e
domínio ideológico. Um exemplo para elucidar como algumas figuras importantes
da política brasileira usavam o manto da religião para se esconder dos crimes
cometidos com o dinheiro público, foi a do ex-deputado e presidente da câmara
Eduardo Cunha. A população que frequenta essas igrejas tem de observar isso e
rechaçar todo tido de irregularidade e benefício obtido por tais lideres ao
custo da miséria humana. Enquanto a classe média vai para o Divã do
Psicanalista, a população desprovida de tudo vai para igreja, que é também serve
de catarse, ou seja, uma espécie de Diva Espiritual.
Prof. Jairo Cezer
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