EUA,
RÚSSIA E CHINA AS VOLTAS DE REEDITAREM UMA NOVA GUERRA FRIA
Depois
do término da segunda guerra mundial o planeta ficou sob a órbita de tuas superpotências
nucleares os EUA e a URSS, que disputaram sistematicamente e entre si a
hegemonia geopolítica e econômica global. Esses quase quarenta anos de polarização
política e ideológica, de 1954 a 1989, foram conhecidos como o período da
guerra fria. A corrida armamentista, disputas aeroespaciais, conflitos
regionais, golpes militares como os que se sucederam na América do Sul nas
décadas de 1970, ambos, de um modo ou de outro, tiveram alguma influência tanto
do pensamento capitalista norte americano como do socialismo russo.
O
fim da polarização leste oeste, protagonizada pela célebre queda do Muro de
Berlim, não significou o “fim da história” ou das guerras, idéias amplamente disseminadas
na época por um respeitado intelectual economista representante da vertente
ideológica vencedora e agora hegemônica, o capitalismo. Se o capitalismo
ocidental financiado pelas grandes potências, bem como o socialismo soviético
russo se nutriam das desgraças alheias, que lhes rendiam supremacia ideológica e
financeira na indústria de armamentos e tecnologias durante a guerra fria, era
necessário, portanto, forjar novos inimigos, novas guerras, para manter ativa a
fabulosa e bilionária máquina destrutiva bélica.
Na
concepção das grandes potências ocidentais, paz é sinônimo de desgraça, de
desemprego e ruína econômica. Somente através das guerras é que se consegue
alavancar os empregos de milhões de cidadãos e cidadãs dessas potências. Lembra
do plano Brenton World, programa bilionário dos patrocinado pelos estados
unidos para recuperação dos países afetados pela segunda guerra mundial. De
onde se originaram esses bilhões para alavancar as economias dos países
destroçados? É claro que foi com a venda de armamentos e mantimentos para
alimentar uma guerra sanguinária que durou seis anos.
Quem
acreditou que o fim da “cortina de ferro” ocidente oriente proporcionaria o fim
da história, ou seja, a supressão definitiva das contradições e ideologias, deu
com os burros n’água, segundo a gíria popular. Jamais o mundo viveu nos últimos
anos tantas guerras, tanta destruição, tanta exploração e violência contra
milhares de cidadãos e cidadãs, que por fatalidade ou desgraça divina, habitam palcos
onde hoje é o epicentro de uma nova reedição da guerra fria, o oriente médio. O
conflito na Síria, como outros tantos que o antecederam, a exemplo da guerra do
Kuait, a invasão do Afeganistão, Iraque, a primavera árabe, o crescimento do
terrorismo e do fluxo migratório na Europa e nos Estados Unidos, têm como
elementos motivadores os EUA, Rússia e China, que disputam suas hegemonias
sobre a região e o resto do planeta.
Atualmente,
somente o uso de armamentos convencionais não é suficiente para vencer uma
guerra. É preciso também ter o domínio sobre os instrumentos responsáveis pela formatação
da opinião pública, ou seja, das mídias, das poderosas agências de comunicação
que divulgam imagens e informações que chegam as residências de bilhões de
pessoas diariamente. O genocídio na Síria e seus desdobramentos têm relação acerca
do modo como essas informações são reproduzidas e repassadas pelas mídias
oficiais.
Forjar
demônios e santos são uma das estratégias. Quem acompanha diariamente os
noticiários dos telejornais acerca dos conflitos no oriente médio se tem a
sensação de que o principal responsável pelo massacre de sírios e a destruição
de cidades históricas como Aleppo é do presidente sírio Bashar Al-Assad, visto
pela mídia como um ditador e inimigo do ocidente. Suprimi-lo do poder ou
eliminá-lo proporcionaria a retomada da paz e a redemocratização da região. Na realidade, tanto a Síria como o Iraque e o Kuait,
Irã, Palestina, entre outros, foram e são a ponta de um enorme iceberg cujas
potencias procuram ofuscar acerca dos verdadeiros objetivos sobre a região.
Afinal
o que se esconde por traz desse conflito? Por as potências ocidentais como os
EUA, a própria Rússia, China e o Irã têm relação direta e indireta com o que
está ocorrendo lá? O poderio bélico de ambos, comparado com o da Síria, seria
suficiente para por um fim imediato no horror que assombra aquela região.
Quanto aos demais países árabes ou a famosa liga árabe de apoio mútuo, por que vem
se mantendo alheias diante da brutalidade contra a população civil.
O
que dizer de países como Arábia Saudida, Iêmen, que há décadas são administrados
por regimes ditatoriais sanguinários cuja imprensa insiste em lançar qualquer
menção ou opinião que possa venha denegrir a imagem pudica de seus lideres. Não
seria porque esses países fornecem expressiva parcela do petróleo consumido
pelo ocidente e seus ditadores apoiados pelas potências ditas democráticas?
São um emaranhado de episódios paralelos na
região que confundem até mesmo os mais experimentados analistas do assunto,
imaginem os demais. Nesse cenário conturbado estão se confrontando, forças
rebeldes, forças pró-governo, integrantes do exército islâmico, etc. Quem é
quem nessa história e por que essa região continua sendo palco de
acontecimentos terríveis para a história da civilização? O fato é que a região
sempre esteve em disputa por ser uma rota importante no comercio oriente ocidente,
além é claro berço das três principais religiões monoteístas, o judaísmo, o
cristianismo e o islamismo. Excluir tais elementos religiosos no contexto
político e geopolítico regional, Na época, dominar as rotas asseguraria o
controle não só econômico, mas também territorial político e ideológico sobre
os povos do entorno.
O
primeiro sinal que resultou no esfacelamento definitivo do socialismo soviético
ocorreu no Afeganistão, quando o exército dos mujahideen, financiado pelos EUA,
China, Paquistão, entre outros, impuseram derrotas expressivas no exército
russo. Mesmo com a retira do exército soviético, o Afeganistão continuou
mergulhado em crises e golpes políticos. A ascensão no poder do grupo
fundamentalista islâmico Talibã se configuraria em mais uma página triste para
história da região. Tudo é claro, ainda reflexo dos resquícios herdados da
guerra fria.
Retornando
ao episódio da Síria, em 2012 quando a ONU aprovou resolução para invadir o
território e retirar do poder à força o presidente Bashar Al-Assad, o plano
esbarrou com o veto da China e da Rússia. A oposição dessas duas potências à
resolução inauguraria um novo cenário geopolítico na região, bem como o
restabelecimento do poderio russo enfraquecido a partir de 1989. Por que os
Estados Unidos agem com tanta veemência para tirar do poder o presidente Assad,
enquanto que o Kremlin procura lhe assegurar todo o apoio para sua permanência.
Desde
a época soviética, os russos construíram duas bases navais na Síria, no mar
mediterrâneo. A presença, tanto a soviética, na guerra fria, como a russa, dias
atuais, jamais foi bem digerida pelos estados unidos e demais potências
aliadas. A derrubada de Assad para os estados unidos seria uma forma de levar a
supressão das bases russas. Isso se daria num possível governo pós Assad, que
receberia todo o apoio ocidental. Onde entra a china e o Irã nessa história. A
china é hoje um dos principais investidores em tecnologias para exploração de
petróleo no mundo. O país tem milhões de dólares investidos na Líbia, cujo
governo de Gaddafi foi derrubado apoiado por ações militares da OTAN.
A
presença chinesa no mediterrâneo, norte da África e oriente médio, como da
própria Rússia, deixam os países que integram a OTAN preocupados. Portanto, o conflito na Síria nada mais é do
que o controle da soberania do mar mediterrâneo. Todos sabem a importância que
é o domínio desses lugares. É lá que estão as principais rotas de navios que
levam e trazem riquezas, bem como de poços de petróleo que abastecem o ocidente.
A
pergunta que não quer calar é: há riscos, do conflito na Síria, se tornar o
estopim para um conflito global generalizado nos mesmos moldes da primeira e
segunda guerra mundiais? As possibilidades são remotas pelo fato de não haver
sistemas de governo polarizados como no passado. Impara entre ambas as
políticas de alianças flexíveis, de cooperação e integração mutua. No entanto,
2017, com a ascensão no poder de Trupp, e seu programa de governo conservador,
as expectativas não são muito otimistas de que as alianças não possam ser
rompidas e as tensões resultarem num conflito generalizado.
Prof.
Jairo Cezar
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