O
RELATÓRIO DO PISA (ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO) REVELOU O PROFUNDO ABISMO QUE ENVOLVE A EDUCAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA
A menos
de um mês da homologação da Medida Provisória 746/2016 que alterou
significativamente artigos e parágrafos da LDB, lei n°. 9394/96, em relação ao
ensino média, na ultima terça feira, 06 de dezembro, saiu o resultado da
avaliação do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) envolvendo
72 países que integram a OCDE (Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico). Nenhuma surpresa em relação ao Brasil, continua nas
últimas posições e piorando. O que
chamou a atenção não foram exatamente os números, que para quem acompanha o dia
a dia das escolas públicas brasileiras e conhece a realidade, não se
surpreendeu. Foi a certeza inequívoca do
erro comedido pelo governo federal de outorgar medida provisória insistindo que
a causa dos péssimos resultados na educação pública está no ensino médio.
A
avaliação do PISA ocorre a cada três anos com estudantes com idade de 15 anos
nas áreas de matemática, ciências e leitura. Nessa idade o estudante está
concluindo o ensino fundamental, portanto, se tivesse que ocorrer alguma
reforma jamais deveria partir do ensino médio, mas do ensino fundamental incluindo
aí o ensino infantil. O que é revoltante é chegar à escola um dia depois da
publicação da pesquisa e ter de ler reportagem publicada no Jornal Diário Catarinense
pelo Diretor de Políticas de Planejamento Educacional da SED (Secretaria da
Educação) onde afirma que para reverter o mau desempenho do ensino no estado
estão sendo tomadas algumas medidas como a
implantação do ensino de nove anos e o fim da progressão automática.
Em
nenhum momento o jornal fez qualquer menção aos problemas estruturais das
escolas e ao violento ataque à carreira docente. E olha que Santa Catarina
comparada com os demais estados da federação, obteve um desempenho um tanto
quanto satisfatório, se classificando entre os cinco primeiros. Imagine a
situação dos demais estados? Agora se for
comparado os pontos obtidos pelo estado nas três áreas avaliadas, pelo índice
geral do PISA, é de causar vergonha e requerer asilo político em outro país.
Pois vejamos: em ciências a media da OCDE foi de 493, já o Brasil alcançou a 66ª
colocação, com média 401. Santa Catarina ficou na quinta posição entre os
estados, com média 418. No campo da leitura a média da OCDE manteve-se igual a
de ciência, 493. O Brasil, com a posição 50 obteve média 407. Já o estado
catarinense a média em leitura foi a mesma obtida em ciências, também lhe
assegurando a 5ª colocação.
Agora
na área da matemática, a posição 66 do Brasil, entre os 72 países avaliados, já
mostra que algo de muito errado está ocorrendo com educação.
Enquanto a nota da OCDE foi de 490, o Brasil alcançou 377. No entanto há algo muito
curioso nesse item relativo à matemática envolvendo o estado de Santa Catarina e
que merece reflexão. Se a nota obtida pelo Brasil foi de 377, Santa Catarina
recebeu nota 398, conquistando a terceira posição entre os 27 estados da
federação. O país melhor posicionado em matemática entre os 72 participantes
foi Cingapura, cuja média foi 564. Para a
OCDE, a média 2 obtida nas provas é considerada adequada para a ascensão
social. Com base nesse parâmetro, quase a
metade dos estudantes brasileiros não se configuram como cidadãos, pois
receberam menos de 2 pontos. Somente em matemática 70,25% dos estudantes não
conseguiram a média mínima.
No
geral, 41,1% dos estudantes brasileiros com idade de 15 anos estão abaixo do
nível 2 considerado limite ideal pela OCDE. A conclusão que se tem é que esse
grupo de pessoas tem dificuldades ou não consegue interpretar dados ou fórmulas
simples de matemática. O fato é que são inúmeros os fatores que contribuem para
o Brasil chegar a esse nível tão desolador e pessimista em relação a educação
pública. O que mais está contribuindo para isso além de outros fatores é claro que
é o sócio-econômico. Quanto mais desenvolvidos, mais investimentos em escolas,
formação de professores e salários, melhores foram os resultados. A diferença
entre estes e os mais pobres chegou aos 37 e 38 pontos. A repetência também
contribui para os resultados negativos, pois desestimula os estudantes a
estudarem ou continuarem os estudos, levando a evasão precoce.
Outro
dado importante no relatório do PISA é que poucos foram os países que tiveram
melhorias no seu desempenho educacional e que o problema da educação pública
não é exclusividade apenas do Brasil. Na América do Sul, países como Chile,
México e o Uruguai apresentaram desempenho pouco melhor que o brasileiro,
porém, ambos, incluindo o Brasil, estão muito abaixo dos países com melhores posições
como China, Coréia do Sul, Cingapura, Hong Kong, Japão. Nesses países não acontece
o que está se verifica no Brasil, o ataque brutal à profissão docente, particularmente
dos que atuam na educação básica, com perdas de direitos de arrochos salariais.
Os prognósticos para os próximos anos para a educação não são nada animadores.
A tendência é a queda ainda maior da posição no ranque do PISA em 2018 quando
sairá divulgada nova pesquisa.
A
aprovação da PEC 055 dos gastos públicos em segundo turno no senado, quarta
feira, 14 de dezembro, e sua sansão pelo presidente da republica um dia depois,
abriu novo ciclo para educação, saúde, cujos reflexos poderão ser notados já no
primeiro ano de sua execução. O agravamento da qualidade desses serviços
oferecidos à população é um deles. Alguns dados relevantes, os jornais e os
demais veículos de comunicação de massa se eximiram de mostrar em relação ao
PISA. No Brasil os investimentos públicos por estudante dos 6 aos 15 anos, ou
seja, em todo o ensino fundamental, é de 38.190 dólares. É equivalente a 42% do
montante investido pelos demais países da OCDE que apresentaram os melhores
resultados, totalizando 90.294 dólares. Os
investimentos são expressivos na carreira docente, tanto na formação inicial como
a continuada.
Agora
em se tratando de remuneração dos professores o fosso é mais profundo. Enquanto
o salário médio anual do professor na OCDE alcança os 42.062 dólares, no Brasil
os profissionais da educação têm de conviver com míseros 12.337 dólares anuais.
Bem abaixo dos 26.048 dólares recebido pelo professor de séries iniciais no
Chile e 28.262 dólares, no México. Outro agravante é o percentual de horas
trabalhadas pelos professores brasileiros, 42 horas semanais. São cinco horas a
mais, comparada aos demais países que integram a OCDE, ou seja, 37 horas
semanais. A Lei do Piso Nacional do Magistério, conquistada mediante acirradas luta
pelos professores do ensino básico brasileiro, certamente perderá sua validade
com a promulgação da PEC 055, que estabelece como parâmetro pra o reajuste dos salários
dos trabalhadores o percentual de inflação do ano anterior. As previsões de
inflação medida pelo IBGE para 2015 serão de 5.5 a 6%.
Desde
a promulgação da lei do piso, em quase todos os estados, para assegurar alguns
ganhos reais ao vencimento, os professores tiveram que enfrentar longas greves,
a pressão dos governos e do aparato policial estabelecido para repreender o
punir os professores. Sabemos que é consenso de quase a totalidade dos
professores brasileiros que é utopia almejarem remunerações salariais nos moldes
recebidos pelos professores de Cingapura, Japão, Suécia e principalmente da
Finlândia. Em âmbito comparativo, o professor que atuava no ensino primário na
Finlândia em 2015 recebia mensalmente 3.132 euros mensais, que convertido em
reais chega a 11.800 reais. Já o professor de ensino médio seu salário mensal é
de 3.832 euros. Enquanto a media salarial anual dos professores de ensino
básico na Finlândia supera os 130 mil reais, no Brasil é pouco mais ou pouco
menos de 43 mil reais.
E a
propaganda mentirosa do governo estado de Santa Catarina em relação a
eficiência do ensino continua ocupando as páginas dos jornais. O Diário
Catarinense e o A Noticia trouxeram em anexo, no dia 15 de dezembro, caderno Informativo
Educação SC, da Secretaria de Estado da Educação. As inúmeras reportagens ali
contidas não correspondem à realidade das mais de mil escolas públicas
estaduais. Todas as reportagens e imagens ali contidas procuram forjar um
ambiente que realça alegria, otimismo e sucesso. A intenção é induzir as
pessoas a acreditarem que as medidas que estão sendo tomadas pelo governo e seu
secretario da educação são as corretas e que revolucionarão a educação. Se isso
fosse verdade, as avaliações do PISA, nas áreas de matemática, ciência e leitura,
não teriam sido tão baixas e motivo de constrangimento público.
Na
página 7 do informativo onde discorre
sobre “Escolas com Jornada Ampliada em SC” traz especificações de como será o novo ensino médio
catarinense. Dentre as muitas medidas se
destaca a que se refere ao papel dos educadores vistos agora como “sujeitos inspiradores”. Segundo o governo: “isso se conseguirá com um bom clima escolar e com aulas coesas,
estruturadas, intencionais, compromissadas, colaborativas e desafiadoras”.
O professor que está diariamente em sala de aula sabe que nada disso
corresponde a realidade. O fato é que muitas das escolas que tiveram suas
jornadas ampliadas sofrem também o descaso, com educadores pouco inspirados
para o desenvolvimento de projetos, da promoção do protagonismo e das
competências dos estudantes. Quem
consegue inspiração trabalhando em ambientes insalubres, com goteiras por todos
os cantos, paredes rachadas?
Outra
farsa do Estado é quanto às promessas de reforço da Tecnologia Educacional, que
está descrito na página 9 do informativo.
A manchete da página traz a seguinte inverdade: “Internet, jogos, smartfhones e
conteúdos interativos são utilizados no ambiente escolar como instrumentos
facilitadores do aprendizado, além de preparar os jovens do Ensino Médio para o
vestibular e Enem”. Realmente
tanto o governo como o secretário da educação desconhecem o cotidiano das
escolas estaduais. Afirmar que foram investidos 11 milhões para melhorar a velocidade
de conexão à internet em todas as regionais é piada e uma afronta aos
professores como da EEBA de Araranguá, que foram forçados a fazerem uma
“vaquinha” para angariar recursos e aumentar a velocidade da internet da
escola. Quanto à sala de informática, são apenas quatro computadores que estão
funcionando, para atender uma demanda de quase mil estudantes.
A
impressão que se tem é que existem dois planetas, a Terra, habitada pelos
mortais, professores, estudantes e a população em geral, e urano, milhões de
quilômetros de distância onde vivem alguns “lunáticos
superpoderosos políticos”, que governam a terra sem o mínimo de discernimento
da realidade. Essa é a situação de Santa Catarina. Ao mesmo tempo em que
centenas de escolas, ginásios e quadras esportivas necessitam urgentemente de reparos
para evitar tragédias, o governo vem falando uma linguagem que milhares de
professores ainda não dominam como: Pesquisa Guia EduTec; Sala Web; Aplicativos
Mobile; Google for Education, etc, etc. Na opinião do governo: “as novidades do mundo tecnológico já
ganharam o espaço escolar. Aulas mais dinâmicas, atividades interdisciplinares,
e aplicação de recursos tecnológicos têm enriquecido o aprendizado e servem
para aproximar professores e alunos da rede pública estadual”. Tem que
deixar claro que as escolas catarinenses, se algum resultado positivo vem sendo
alcançado, é porque o professor dá um duro danado preparando suas aulas nos
finais de semana, sem qualquer remuneração extra. Expressiva parcela desses
professores trabalha em duas, três e até quatro escolas semanalmente para
preencher sua carga horária. Imaginemos 20 anos o profissional da
saúde, educação, segurança, sem um ganho real nos seus salários que possa lhes
proporcionar o mínimo de qualidade de vida.
Interessante
que em nenhum momento o governo fez qualquer menção aos livros didáticos e as
bibliotecas das escolas que estão se tornando depósitos. Antes
de gastar milhões de reais com recursos tecnológicos geralmente distantes da
realidade das escolas, seria melhor que as escolas parassem suas atividades por
um tempo e reavaliassem tudo, do currículo as estruturas físicas e pedagógicas.
Uma comissão seria constituída na escola para fazer o levantamento completo da
realidade. Talvez o que causaria mais impacto seria constatar a enormidade de livros
didáticos, revistas e caixas e mais caixas de materiais didáticos de apoio que
jamais foram utilizados. Se quantidade de livros e materiais didáticos fosse sinônimo
de qualidade de ensino, o Brasil seguramente estaria entre os primeiros países
classificados no ranque do PISA.
Prof.
Jairo Cezar
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