O LONGO E DIFÍCIL DESAFIO DE TORNAR ESCOLAS PÚBLICAS AUTOSSUFICIENTES EM PRODUÇÃO DE ENERGIA RENOVÁVEL
Depois
de oito meses de ter iniciado o Projeto Sustentabilidade na EEBA, com o titulo “Atitudes
Simples que Auxiliam na Contenção dos Desperdícios de Energia na EEBA”,
é importante fazer uma breve exposição e reflexão das ações executadas, das
dificuldades ocorridas durante o percurso e dos contatos e ações previstas para
as próximas etapas. Não há dúvida de que as pretensões relativas ao projeto
são um tanto quanto ousadas quando se
tem diante dos olhos escolas cujo cenário estrutural é preocupante. Querer trabalhar no imaginário
dos (as) nossos (as) jovens a concepção de escolas sustentáveis, do uso eficiente
dos recursos naturais, do não desperdício, do reaproveitamento da água, da
reciclagem do lixo, etc, é algo ainda quase inimaginável. Isso ocorre pelo fato
de nossas escolas, com raras exceções, apresentam estruturas depredadas que não
oferecem as mínimas condições para o
satisfatório desempenho das atividades pedagógicas.
A
EEBA, conhecido por muitos araranguaenses pelos tradicionais nomes Colégio
Normal e Estadual, que no passado recente foi uma das principais referências da
educação no sul de Santa Catarina, quem transita pelos corredores, salas de
aula e demais cômodos do educandário consegue ter um parcial noção o modo como
os governos vêm tratando a educação pública catarinense. A expectativa em
relação ao projeto sustentabilidade é de ir além da mera aplicação de ações
visando a contenção dos desperdícios de energia e instalações de placas
fotovoltaicas. A intenção, todavia, é romper com os paradigmas tradicionais de
uma educação funcionalista, conteudista, competitiva e excludente, que muito
pouco do que se aprende no dia a dia em sala de aula tem real utilidade para o
bem estar de milhares de estudantes e suas famílias.
Na
eventualidade de querer fazer uma enquete com estudantes que concluíram o
ensino médio sobre a aplicabilidade do que aprenderam
nas escolas com o cotidiano de suas vidas, não há de se surpreender se as
respostas da maioria forem negativas. É justamente o que se pretende com o
projeto sustentabilidade, a reformulação substancial do (os) currículo (os), dando
significado prático as disciplinas concebidas pelos estudantes como tediantes,
sem vida, com conteúdos exclusivamente voltados para o cumprimento de
formalidades oficiais, como provas bimestrais e exames nacionais como o ENEM. A
Proposta Curricular de Santa Catarina, sancionada em 2014, caminha nessa
direção, de uma educação transformadora.
A contenção
dos desperdícios de energia na EEBA, talvez seja compreendida por muitos (as)
professores (as) e demais profissionais como uma proposta pouco atraente e
possível de se concretizar. Durante as duas últimas semanas de novembro, nas
dezenas de exposições da proposta feitas às turmas da unidade de ensino, realimentou
as expectativas de que o colégio está caminhando no rumo de uma grande transformação
cultural e que refletirá no dia a dia das famílias e de toda a sociedade.
Quando se afirmou nos debates que o que se pretende com o projeto necessitará
de tempo, paciência e persistência de todos, (as), isso pode ser evidenciado pelo simples motivo
das escolas publicas estaduais estarem absolutamente desalinhadas com a vida
das famílias dos estudantes, por não verem na instituição qualquer perspectiva
de transformação de sua
realidade.
A
parceria com o curso de Engenharia de
Energia da UFSC e com a CELESC, deu outra dinâmica ao projeto pelo fato das
duas instituições estarem engajadas num mesmo
objetivo voltadas à sustentabilidade. O contato feito com o professor Luciano,
da UFSC, teve resposta positiva e imediata, cujo aceite sucedeu no primeiro
encontro na EEBA, no dia 25 de maio de 2015, onde foram discutidas a tratativas
da palestra para estudantes e demais
profissionais que ocorreu no dia 26 de junho de 2016. Por cerca de uma
hora aproximadamente, o professor expôs aos (as) estudantes do ensino médio,
período matutino, o que é realmente o curso de engenharia de energia, onde
atuam e quais as perspectivas de carreira do (a) profissional da área de
energia. Destacou os projetos que o
curso vem coordenando na região, dentre eles a instalação de geradores nas
pilastras da plataforma de pesca no Município de Arroio do Silva para obtenção
de energia proveniente das ondas do oceano.
No
final da palestra o professor informou que o projeto sustentabilidade da EEBA que está em execução poderá ser enviado à
Celesc, para o Programa de Eficiência Energética ANEEL/CELESC.[1] A expectativa é de que o
projeto da EEBA possa ser selecionado, lhe assegurando recursos em dinheiro para aplicação na escola e
comunidade. Depois da realização da palestra com o professor Luciano, no mesmo mês os estudantes do PIBID, coordenado
pelos professores Cássio e Karen, também se inseriram na proposta fazendo o
levantamento completo do número de lâmpadas, modelos e potência existentes na
EEBA. Do mesmo modo como ocorreu com o professor do curso de engenharia de
energia da UFSC, com o envio de cópia do projeto, a Celesc, Regional de
Criciúma, também teve o projeto protocolado nas suas dependências.
De
imediato tivemos resposta também com o aceite do Engenheiro de carreira da
estatal, Célio Bolan. No dia 17 de julho, também nas dependências do auditório
do educandário, o engenheiro Célio promoveu importante palestra discorrendo sobre as políticas da estatal vem
desempenhando no campo da sustentabilidade. Esclareceu que a regional de Criciúma
promovendo ações conjuntas com alguns municípios, como Criciúma e Imbituba, com vistas a substituição de todo sistema de
iluminação pública antigo por equipamentos novo e mais eficientes. No jornal
informativo da Celesc editado no mês de novembro de 2016, traz na sua capa a
respectiva manchete: Iluminação Pública: Boas Práticas em
Iluminação Pública Rendem Esforços no Faturamento. O programa da CELESC
vai além da simples troca de lâmpadas. A campanha ultrapassa a esfera pública
atingindo as residências das famílias com a substituição de equipamentos,
lâmpadas e eletro domésticos de baixo consumo de energia.
Segundo
o professor e também engenheiro, o problema do desperdício de energia é um dos
principais entreves à atração de novas empresas em municípios no estado como os que estão
situados da região do sul do estado. Com
intenção de despertar ainda mais a atenção dos (as) estudantes, professores
(as) e a comunidade, na feira multidisciplinar ocorrida no dia 26 de agosto de
2016 nas dependências do educandário, o tema que tratou sobre o desperdício de
energia foi bem apreciado pelo público. Vários experimentos foram apresentados
pela equipe de estudantes envolvidos no projeto. Uma das atrações foi a maquete
de uma residência emprestada pela Celesc, onde exibia os cômodos de uma casa,
seus principais equipamentos elétricos e quantidade de consumo em kW/h, de cada
um deles.
A
exposição das lâmpadas também foi outro destaque. Um suporte de madeira foi
montado e sobre ele fixado três bocais contendo três lâmpadas: uma
incandescente, uma florescente e uma Led. O professor de física da EEBA se
prontificou em construir uma equação onde matematicamente demonstrou que o
consumo de energia elétrica com Lâmpadas Led é imensamente inferior as demais,
especialmente comparado com lâmpadas incandescentes. No pátio, o professor de engenharia de
energia, Dr. Luciano, fez vários demonstrativos utilizando equipamentos por ele
trazidos como uma placa foto voltaica, pequenos ventiladores movidos a energia
solar, protótipo de um automóvel movido por hidrogênio e um luxímetro, aparelho
para medir a luminosidade dos ambientes.
No mês de setembro de 2016 outro encontro
ocorreu nas dependências da biblioteca da EEBA, agora para discutir os preparativos para
a V Feira Cultural Multidisciplinar Regional, evento que ocorreu no dia 16 de
setembro de 2016 nas dependência da EE Dolvina Leite de Medeiro, no Bairro
Urussanguinha. Na feira, o projeto Sustentabilidade da EEBA tornou-se conhecido
por um público maior, que embora não tivesse sido classificado para as etapas seguintes, os (as) estudantes que
estiveram envolvidos no desafio, representaram com extrema desenvoltura a
unidade de ensino na qual estudam.
Diante
das dificuldades de qualquer escola com três turnos, como acontece com a EEBA,
de querer envolver todo o corpo discente em atividades como o que está se
pretendendo, o recurso foi utilizar uma sala de aula desativada, reunir os
equipamentos e materiais produzidos durante os oito meses de execução do projeto.
O objetivo da montagem do ambiente foi oportunizar
todo público docente e discente para melhor compreender as reais finalidades da
proposta que direta e indiretamente interferirá na vida de cada um e do planeta
num todo. Durante três semanas
aproximadamente, cuja data de inicio foi o dia 09 de novembro, todas as turmas
do colégio estiveram no local acompanhada por seus/suas respectivos/as
professores/as. Além de obterem
informações importantes sobre estratégias para economizar energia tiveram
oportunidade para dialogar com a equipe organizadora.
Muitas
foram as contribuições trazidas pelos estudantes, principalmente quanto ao
cotidiano de suas casas relativas ao uso adequado de equipamentos elétricos e
informações relativos aos gastos mensais de energia. Despertaram a atenção
algumas ações que as famílias dos/as estudantes vêm aplicando nas suas
residências para minimizar ao máximo a conta de luz mensal. Às trocas de
lâmpadas de elevado consumo de energia por outras mais econômicas foram algumas
das atitudes tomadas pelos seus familiares repassados pelos estudantes. Relataram que tiveram visitas de profissionais
da Celesc oferecendo, gratuitamente, lâmpadas e chuveiros alternativos, cujo
consumo de energia é relativamente menor que os convencionais.
Em
relação ao uso dos chuveiros, o que se constatou, na fala dos estudantes, é que
parcela deles (as) os utilizam diariamente, cujo tempo de banho muitas vezes
extrapola vinte a trinta minutos. Um tempo exageradamente elevado pelo fato do alto
consumo de energia e água. Diane dessa realidade foi proposto que os estudantes
discutissem com os familiares estratégias para reduzir gradativamente os
valores mensais da conta de energia elétrica. Uma delas partiu da professora de sociologia, Karen, sugerindo
aos estudantes para estabelecer em suas casas estratégias ou acordos com os
pais para redução dos gastos de energia. Sugeriu para que o dinheiro
economizado com a conta de energia poderá ser disponibilizado para outros fins
como melhorar a potência da internet,
assinatura de TV, etc.
Várias
vezes foram evidenciadas que a instalação de equipamentos fotovoltaicos no
colégio é um processo que se dará de médio e longo prazo. O primeiro motivo se
deve pelo fato do colégio ser público e administrado pelo Estado. Isso se
traduz de existir uma burocracia, quando o assunto é gestão dos recursos
destinados ao pagamento de energia elétrica e água, que se mantém sob o
controle das ADRs (Agências de Desenvolvimento Regionais). O desconhecimento
dos valores gestos mensalmente com água e energia os impedem de definir planos
de gestão mais consistente. A efetivação do projeto sustentabilidade voltado a
contenção do desperdício de energia elétrica na EEBA, irá requerer o
agendamento de uma reunião com o representante da ADR e o Gerente Regional de
Educação. No encontro será apresentado o projeto e debatido estratégias de como
a escola pode ser beneficiada com a redução do desperdício e valores gastos com
energia mensalmente.
A
certeza de que o projeto sustentabilidade na EEBA tem reais perspectivas de sucesso
e de se tornar referência para outras escolas da região e do estado ficou
evidenciado quando a UFSC e CELESC entraram como parceiros. No mês de novembro
inúmeras foram as publicações em jornais do estado tratando sobre as políticas
da Celesc de incentivo a produção limpa de energia e planos de contenção dos
desperdícios. O próprio engenheiro Célio Bolan, da Celesc de Criciúma, já havia
mencionado os planos da empresa em palestra ocorrida no colégio no mês de
agosto de 2016. Informou que o município de Criciúma teria uma economia substancial
na sua conta de energia anual, cerca de 800 mil reais, com a troca das lâmpadas
dos postes públicos por Led.
O
jornal Diário Catarinense, publicação digital do dia 16 de novembro de 2016,
trouxe reportagem informando que Santa Catarina é o maior gerador de energia
alternativa da federação por número per capto de habitantes. São vários os
fatores por tal transformação. Um deles é cultural, segundo o jornal. Outro se
deve a resolução 428/2012 do governo federal que permite ao cidadão produtor de
energia renovável, como a fotovoltaica, a injetar o excedente na rede geral e
trocar por créditos. Por não haver o
uso de baterias, tornando o custo de instalação mais barato, nos dias nublados
ou de chuvas, o consumidor passa a utilizar a energia convencional fornecida
pela Celesc. Outro atrativo é que a resolução permite que haja compartilhamento
dos equipamentos entre várias residências cujos créditos de consumo poderão
também ser compartilhados.
No
último dia 25 de novembro, nova reportagem no DC – Clicrbs trouxe a seguinte
manchete: Programa da Celesc vai custear 60% da instalação de sistema de
energia solar em residências catarinenses.
Lendo a reportagem se constata que a Celesc vem ampliando seu leque de
abrangência disseminando seu programa de incentivo a fontes alternativas em
todo o estado. O projeto é uma parceira
entre a estatal e a ENGIE que terá um custo orçado de 11, 9 milhões de reais
que atenderá cerca de mil residências. A contrapartida dos consumidores que
aderirem o programa será de 6.68 milhões de reais. Se todas as residências brasileiras fossem
instalados equipamentos fotovoltaicos, a produção de energia proveniente do sol
seria duas vezes maior que a consumida pelas atuais residências. Sem contar que
sistema proporcionaria uma economia de 90 bilhões de reais anuais para as
populações.
No
entanto, para aderir o programa os interessados deverão cumprir alguns
requisitos importantes, além é claro, de desembolsar 6.7 mil reais com os
custos dos equipamentos e instalação. A expectativa de duração dos equipamentos
será de 25 anos e o retorno dos investimentos em quatro anos. Dentre as
condicionantes para ser contemplado com o projeto estão: estar em dia com a
Celesc; ter o telhado uma inclinação de 15° a 25°; telhado (lado norte) desvio
admitido de +/- 30°; ter internet WIFI; consumo médio de 350 KW/h, último 12
meses; recurso para contrapartida; etc. As políticas governamentais de
incentivo as fontes alternativas de energia ainda são discreto em comparação as
demais fontes convencionais. O que se deveria fazer para reduzir os atuais 30%
de tributos acima dos cobrados com as atuais fontes, seria implantar alguns
programas como linhas de crédito subsidiados; uso do FGTS; tributação
diferenciada, entre outras medidas.
Quanto
ao projeto sustentabilidade que está em execução na EEBA, o mesmo já é uma
realidade e tem tudo para ser um grande sucesso. Exemplos são os que não
faltam. Um deles, coordenado pela ONG Greenpeace, foi o projeto pioneiro
desenvolvido na Escola Municipal Milton Magalhães Porto, de Uberlândia/MG,
coordenado pelo Greenpeace em parceria com a prefeitura do município. No
telhado foram fixadas 48 placas fotovoltaicas para gerar energia solar para 700
estudantes. A idéia é transferir para a escola os valores gastos mensais com
energia para ser aplicado em programas pedagógicos.
Depois
da instalação das placas ocorrida em 13 de abril de 2015, a prefeitura fez o
primeiro repasse de 1.3 mil reais para a escola, valor resultante de 75% de energia
economizada. O consumo médio/mês da escola com energia elétrica era de 300
reais. A expectativa era de que em um ano a escola teria um repasse de 15 mil
reais, chegando a 18 ou 20 mil reais até outubro. Se o programa de placas
fotovoltaicas fosse adotado pela prefeitura do município de São Paulo, com a
instalação em todas as escolas, o município economizaria cerca de oito milhões
de reais por ano na conta de energia. Já o município do Rio de Janeiro, a
economia seria maior, alcançando os nove milhões de reais.
Prof.
Jairo Cezar
Nenhum comentário:
Postar um comentário