EDUCAÇÃO
INTEGRAL E O CAOS DAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DE ENSINO MÉDIO EM SANTA
CATARINA
Os
(as) professores (as) da EEBA que acompanharam atônitos (as) todo o polêmico
processo referente ao decreto federal 746/2016 que alterou inúmeros
dispositivos da LDB relativos ao ensino médio, que entre as medidas estabelece a
permanência do (a) estudante na escola com a disseminação das escolas
integrais, devem ter se surpreendido (a) quando o corpo gestor da escola informou
que o recurso encaminhado ao MEC solicitando a conversão da unidade em período integral,
teria sido vetado. É importante
esclarecer que no município de Araranguá nenhuma escola de ensino médio recebeu
o aceite do Ministério da Educação, por não ter o Estado feita as adequações
necessárias que pudessem capacitá-las ao atendimento de estudantes nos turnos
intermediários.
Nos
demais municípios que congregam a 22 Gered, (Regional de Araranguá) apenas três
escolas tiveram seus processos aprovados, isso porque são construções recém
inauguradas, porém, já apresentam problemas de infraestrutura, rachadura,
goteiras, com riscos de terem seus processos vetados nos próximos anos ou até
mesmo interdição definitiva. Na contramão dessa ordem, o Estado de Santa
Catarina deu início às matrículas nas escolas públicas estaduais para o ano
letivo de 2017 já prevendo o convertimento de escolas de turnos normais em
integrais. Os dois principais jornais de circulação estadual, O Diário Catarinense
e o A Notícia, trouxeram no dia 23 de novembro de 2016 reportagens evidenciando
as inovações pretendidas pelo governo para o ensino médio.
Em
nenhum momento, ambos os órgãos noticiosos fizeram qualquer menção aos inúmeros
problemas estruturais envolvendo centenas de escolas públicas. Somente na
regional de Araranguá, de acordo com informações fornecidas por integrante do
corpo de bombeiro, das 42 escolas estaduais, apenas três receberam alvarás para
funcionamento. As demais estão exercendo suas atividades de forma
irregular. São essas três escolas recém
construídas ou reformadas que foram contempladas pelo MEC e que irão oferecer
ao público ensino integral. A situação
das demais unidades estaduais de ensino vinculadas a ADR-Araranguá, com raras
exceções, beira o desespero. No município do Sombrio temos a Escola Estadual
Catulo da paixão Cearense, no Sombrio, há quase um ano interditada e relegada
ao abandono. Não há qualquer expectativa do inicio de construção do novo prédio.
Bem ao contrário do que apregoam os políticos locais, deputados estaduais da
base governista, que vem prometendo o início imediato das obras.
Em
Araranguá, são inúmeras unidades de ensino estão quase no nível de
deteriorização e possível intervenção comparável a unidade do Sombrio. A Escola
Estadual Maria Garcia Pessi, depois anos de promessas, cujas estruturas colocam
em risco a integridade física de centenas de estudantes e profissionais,
finalmente teve início sua reforma definitiva. Porém, há poucos dias a imprensa
noticiou que foram paralisados os trabalhos por conta de processo impetrado por
empresa não contemplada na licitação e que foi deferido pelo Tribunal de
Justiça de Santa Catarina, onde deferiu liminar paralisando a obra. Quando irá recomeçar,
ninguém sabe.
Temos
também a Escola E.F Jucemar Paes, alvo de 40 arrombamentos e furtos em menos de
um ano. Para conter a violência e os prejuízos, a APP (Associação de Pais e
Professores) e a comunidade se reuniram e promoveram campanhas para angariar
recursos para instalação de câmaras de vigilância e outros reparos, cujo compromisso
deveria ser do próprio Estado. Seriam necessárias muitas páginas para mencionar
todas as escolas que apresentam defeitos dos quais impossibilitam o
satisfatório desempenho das atividades pedagógicas.
A
EEBA, antigo Colégio Estadual de Araranguá, um dos educandários mais
tradicionais do sul de Santa Catarina, é outro exemplo de descaso por parte do
governo com a educação pública. Se as atividades docentes estão ocorrendo com “normalidade”,
isso também se deve ao empenho do corpo gestor e demais profissionais, que vem
promovendo campanhas para angariar fundos até mesmo para a aquisição de papel
higiênico e material de limpeza. Sem contar as dezenas de goteiras, que a cada ameaça
de mal tempo deixa os (as) estudantes, professores (as), gestores (as) e demais
trabalhadores (as) em estado de tensão, devido aos transtornos que traz ao
ambiente escolar.
Outro
exemplo de descaso e má gestão dos recursos públicos foi a construção do
Anfiteatro Célia Belizzária, vinculado a EEBA, que custou aos cofres do estado
mais de cinco milhões de reais. Desde a sua inauguração há quase vinte anos, o prédio
vem apresentando problemas freqüentes, com goteiras, vazamentos e outros tantos
problemas, que resultou na interdição por parte do corpo de bombeiro. Com a
interdição, o prédio se encontra abandonado e alvo de vândalos. Em pouco mais
de um mês, o prédio foi atacado duas vezes por arrombadores onde furtaram uma
porta de alumínio. O próprio ginásio de
esportes, desde que foi concluído, sua quadra e os demais ambientes pouco foi
utilizado. Além de inúmeras goteiras, parte do piso de um dos vestiários cedeu
e a parede apresenta risco de desabamento.
Diante
desse quadro desolador e de insegurança, as atividades físicas e esportivas,
como forma de preservar a integridade física dos (as) estudantes, vêm sendo
realizada em uma quadra que também não oferece condições ideais para a atividade
física. Isso é um pequeno exemplo de tantos outros casos dramáticos das escolas
públicas de santa Catarina que estão na mesma situação. O caso da interdição do anfiteatro trouxe enorme
transtorno para o município e para a própria escola, por ser o único ambiente
na região com estrutura para eventos culturais, como shows e peças teatrais.
Há cerca
sete meses um grupo de estudantes da EEBA vem ensaiando, com enorme
dificuldade, peça teatral para ser apresentada à comunidade escolar agora no
começo de dezembro. A interdição do anfiteatro forçou a professora, coordenadora
do projeto, a utilizar outro espaço sem o mínimo de infraestrutura para
assegurar aos integrantes da peça tranqüilidade nos ensaios. O que é
estarrecedor quando alguém se propõe a doar parte do seu tempo para oferecer
arte à comunidade escolar é chegar às vésperas da estréia da peça e ter que
correr uma caixinha na escola para arrecadar recursos para comprar material
para decoração do cenário e vestimenta dos personagens. É de chorar...
Agora,
querer o Secretário da Educação do Estado, se utilizar de dois órgãos
noticiosos para fazer propaganda a favor do governo acerca do ensino integral
omitindo o quadro caótico de centenas de escolas e ginásios, que aos pedaços colocam
em risco à vida de milhares de estudantes, é subjugar a inteligência de milhões
de catarinenses. É importante esclarecer que o governo catarinense, todos os
anos, transfere dos cofres públicos para o grupo RBS, proprietário dos jornais
distribuídos em mais de 1000 escolas, mais de dez milhões em contrato de pagamento.
Quem leu as reportagens publicadas nos dois jornais, as opiniões ali elencadas,
do Secretário da Educação do Estado; membros da ADR (Agência de Desenvolvimento
Regional) e estudantes, todos, orquestradamente, emitiram opinião demonstrando extremo
otimismo do atual cenário educacional. O fato é que desconhecem ou se fazem
desconhecedores do real quadro conjuntural das escolas.
Poderia
ter os jornais entrevistado integrantes da entidade que representa os
professores, o Sinte, e ouvi-los sobre o que pensam no tocante ao assunto
escolas integral. Acredita-se que a opinião se divergiria das que foram
descritas pelo jornal. O secretário relatou que um dos possíveis impasses para
que o ensino médio integral flua com harmonia tem haver com aspectos culturais
da família, que ainda impõe certa resistência. Não é nada disso. O problema
mesmo é que centenas e milhares de estudantes necessitam trabalhar no turno
intermediário para auxiliar na renda família. Também querer usar como exemplo
as escolas particulares, que adotam o turno integral com atividades culturais,
esportivas, etc, como justificativa para sua implantação na rede pública, é
também desconhecer a realidade social dos estudantes e das estruturas de cada
escola.
Não
há dúvida que o projeto de reestruturação da educação publica nas esferas
federal, estaduais e municipais segue uma lógica funcionalista empresarial,
como forma de adequar às escolas e o sistema curricular à formação com baixo
custo de mão de obra disponível para o mercado. É nessa direção que os governos
estaduais estão caminhando, firmando parcerias com as federações empresariais,
fundações e institutos que vem patrocinando e executando projetos com viés empresarial.
Em Santa Catarina, o governo do Estado, todas as reformas que estão em curso na
educação estadual, no momento da elaboração das legislações e estratégias de
execução, sempre têm assentos reservados para representantes do capital, nesse
caso, a FIESC e fundações como a Itaú, Ayrton Sena, entre outras.
A
certeza da influencia desses seguimentos nas políticas de ajustes no sistema
educacional catarinense é constatada quando da publicação no dia 22 de novembro
de 2016 de um artigo no Diário Catarinense, escrito pelo Diretor de Articulação
e Inovação do Instituto Ayrton Sena, intitulado “O Futuro da Educação”. No
texto, critica o modelo de ensino brasileiro decadente que vem caindo no
“ranque” internacional, ficando abaixo da Guatemala e do Irã, cujo principal
problema é a perda de competitividade. Disse que o principal combustível para
melhorar a qualidade do trabalho e produtividade é o investimento na educação.
Uma
das saídas é melhorar o ensino médio com currículos que possa atrair os jovens
e que responda os desafios do século 21. Afirmou que SC tem um trunfo que é a
implantação do ensino integral a partir de 2017, que ampliará as fronteiras e a
qualidade do Ensino Médio. Também ressaltou que o estado precisará de
parceiros, e que já vem ocorrendo através da participação da FIESC que junto
com a SED (Secretaria da Educação) vem promovendo o movimento Santa Catarina
pela Educação.
No
final do artigo afirmou que todas as ações que estão sendo promovidas “poderá
ser mais um exemplo que SC dará ao país: realizar de forma coletiva a
construção de uma nova educação”. É Claro que será uma nova educação,
bem de acordo com que desejam os detentores do poder político e econômico. Certamente
isso se dará com mais desenvoltura agora com a sansão do decreto
presidencial que instituiu a reforma do ensino médio, onde, entre outras
medidas, serão excluídos dos currículos Educação Física, Artes, Sociologia e
filosofia. O que se quer nesse novo
modelo de educação é formar trabalhadores indolentes, passivos, submissos aos mandos
de um sistema econômico perverso, que procura sugar ao máximo a força do
trabalhador cada vez mais desprotegido e perdedor de direitos.
Prof.
Jairo Cezar
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