A
INVISIBILIDADE DAS MULHERES NA POLÍTICA EM ARARANGUÁ
Por
meio de um projeto de lei do legislativo municipal de Araranguá, aprovado em
2002, todos os anos os vereadores e vereadoras daquela casa indicam uma mulher
com algum trabalho relevante na sociedade araranguaense para ser homenageada
com o troféu Alzira Rabello. É inquestionável a importância de um projeto de
tamanha magnitude, onde passou dar visibilidade às cidadãs, muitas das quais anônimas,
desconhecidas do público, porém, com extenso histórico de trabalhos sociais,
assistenciais, em prol dos mais necessitados.
Sabemos
que historicamente a mulher sempre foi vista como sujeito coadjuvante, de
segunda classe, no processo civilizatório ocidental. Algumas conquistas de
direitos elementares, como de salários, de votar e ser votada se deram por meio
de muitas lutas e resistências. Mulheres trabalhadoras tiveram que sacrificar
suas próprias vidas para que hoje milhões de cidadãs no mundo inteiro pudessem
ter o mínimo de dignidade em suas vidas. Uma das grandes barreiras ainda hoje enfrentada
pelas mulheres ocidentais ocorre na política, nas esferas dos legislativos e dos
executivos municipais, estaduais e federais.
Nos
pleitos eleitorais ainda são inexpressivos o número de mulheres eleitas para
ocuparem esses respectivos postos, mesmo considerando legislações criadas como a
que trata sobre cotas, obrigando os partidos políticos, inserirem em suas
siglas, 30% de candidatas femininas, à disputarem as eleições proporcionais. Parece
que tal legislação pouco efeito teve e está tendo na inclusão da mulher num
campo sempre dominado por homens. O número de mulheres eleitas nos últimos pleitos
para o legislativo, principalmente o municipal, ficaram muito abaixo do
esperado.
Um
exemplo de município onde a mulher é pouco presente no cenário político é
Araranguá. Nos seus 145 anos de história política, quatro foram às mulheres
eleitas para o legislativo, sendo uma mulher apenas para o executivo, claro que
de forma interina, em substituição ao titular, em 1947. Permaneceu no cargo por
45 dias. Nos últimos dois pleitos eleitorais, 2020 e 2024, não chegou a 50
mulheres candidatas em cada pleito, que se dispuseram a se filiarem nos
partidos e participarem da campanha a uma das 15 cadeiras do legislativo. Convém
destacar que o número de homens que ingressaram a campanha nos dois últimos pleitos
foi quase sempre o dobro ao das mulheres.
Se
observarmos a lista total dos candidatos e candidatas e o total de votos
recebidos/as nesses dois últimos pleitos, o que chama atenção é a posição que
elas ficaram nessa tabela. Mais de 80% delas ficaram posicionadas nas últimas
posições, com votações pífias. O resultado negativo delas nesses dois pleitos permitiu
que eu fizesse uma breve reflexão: a inserção de expressiva parcela de mulheres
nos partidos para as disputas eleitorais é possível acreditar que não ocorreu
por fatores ideológicos, mas por cumprimento de legislação especifica sobre
cotas de candidaturas.
Diante
dessa realidade um tanto estranha, se torna até paradoxal, em um evento tão
importante como o 8 de março, alusivo ao dia internacional das mulheres, que
homenageia mulheres do município de Araranguá, de não ter sido eleita uma única
mulher sequer à vaga do legislativo. Afinal
de contas, por que as mulheres no município de Araranguá continuam invisíveis, excluídas
acerca do processo político, mesmo elas representando 52% da população do
município?
O
estranhamento da mulher não se dá somente no campo da política, em outros
segmentos ela também pouco aparece. Nas mais de duas centenas de ruas
existentes no território araranguaense, pouco mais de trinta delas tem o nome
de mulheres escritas nas placas fixadas. É sabido por experiência que uma
mulher ou mulheres atuando em espaços de gestão publica, legislativo, por
exemplo, elas têm maior capacidade de construção laços de afetividade e de
compromissos entre seus pares masculinos em prol de projetos de cunho sociais.
Também,
por outro lado, não ter mulheres ocupando cadeiras no legislativo municipal,
por exemplo, garante ao homem certo empoderamento, domínio inconsciente de um
cenário historicamente masculinizado e já incorporado pela sociedade como algo
natural. A presença de uma mulher ali, desperta medo, fragilidade, de achar que
a qualquer momento ele será desafiado. A atitude costumeiramente aplicada pelo
homem nesses espaços masculinizados, diante da presença feminina, são
comportamentos machistas, como forma de subjugá-las, inferiorizá-las.
Prof.
Jairo Cesa
Nenhum comentário:
Postar um comentário