AÇÃO ANTRÓPICA NA ORLA DO MUNICÍPIO
DE ARARANGUÁ COLOCA EM RISCO DE EXTINÇÃO ESPÉCIES MIGRATÓRIAS, COMO AS BATUÍRAS
DE BANDO.
Foto - Jairo |
Quem
caminhou pela orla do município de Araranguá nos últimos dias deve ter
observando a presença de bandos de pequenos pássaros que caminham
freneticamente na praia alimentando-se de pequenos crustáceos, minhocas, etc. Esses pássaros são conhecidos como batuíras ou batuíras de bandos. São espécies
migratórias que voam milhares de quilômetros duas vezes ao ano, do hemisfério
norte ao hemisfério sul e vice versa. Nesse momento, outono no hemisfério sul, elas estão se
dirigindo para o norte, até o Canadá. Por ser uma viagem longa, as batuíras
necessitam se alimentar bem rápidas durante todo o trajeto.
A
orla de Araranguá é uma parada obrigatória para as batuíras, como em outras
praias catarinenses e brasileiras. O que se nota em cada ciclo migratório é o número cada vez
menor dessa espécie em nossas praias. Acredita-se que entre os fatores
responsáveis pela redução progressiva de batuíras, está à poluição das
praias e construções, como plataformas, que dificultam os
deslocamentos das mesmas. A criação de políticas públicas de proteção para espécies
marinhas, principalmente migratórias, se constitui como obrigação aos gestores
públicos municipais e seus órgãos ambientais.
Para
o município de Araranguá, a decisão do TRF 4, Tribunal Regional Federal, de Porto
Alegre, pela proibição do transito de veículos não oficiais na orla se
constitui como uma vitória à biótica costeira. Durante a atual temporada de
verão era perceptível a presença da polícia militar fazendo frequentes rondas até o atual canal
aberto do rio, cerca de 1000 metros ao sul do estuário do rio Araranguá. Os veículos não
autorizados pelo órgão ambiental municipal eram solicitados que retornassem
para que seus proprietários não fossem acometidos de multa.
Terminada a temporada, o acesso de veículos na orla ficou sem controle, sendo que muitos transitam sobre as dunas e restingas, que são habitats naturais de espécies endêmicas da flora e da fauna. Além do tuco-tuco, um tipo de mamífero roedor, que se esconde em tocas nas dunas, tem também uma espécie de tipo de caranguejo, ocypode quadrata, que vive em tocas na areia da praia. Tanto o tuto-tuco quanto o caranguejo, ambos são considerados os mais ameaçados pelo transito desordenado de veículos na orla do município de Araranguá.
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No
entanto, são frequentes as ameaças do poder público municipal e do seu órgão ambiental
de querer derrubar a decisão que proíbe o fluxo de veículos na orla. O fato é
que mesmo com a decisão do TRF 4, quem caminha pela praia pode observar números expressivos de veículos transitando, que além de causar estresse às aves
migratórias, muitos dos ocupantes lançam lixo à praia, como plásticos, vidros e
latas.
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O que é mais assustador foi ter detectado no entorno do guarda vida central da orla do Morro dos Conventos, grande quantidade de bitucas de cigarros espalhadas sobre a areia da praia. Com a elevação das marés essas partículas de cigarros, que são excessivamente tóxicas, terão como destino o fundo do mar, servindo de alimentos aos peixes e outras espécies marinhas. Sacas plásticas, tampinhas de garrafas, canudos e copos plásticos, tudo isso poderão ser confundidos como alimentos pelos animais marinhos, provocando intoxicações e possível mortes dos mesmos.
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Todo esse material lançado na orla, associado
aos que são trazidos pelo rio, serão absorvido pelo oceano. A presença de inúmeras
tartarugas mortas na orla de Araranguá pode estar associada aos resíduos plásticos
deixados na praia, que no oceano os quelônios confundem com alimentos. Precisamos,
portanto, continuarmos atentos a qualquer ação do poder público em pretender
derrubar a decisão do TRF 4, pois, sendo vitorioso, se constituirá cem uma
grande derrota ao complexo e frágil bioma costeiro de Araranguá.
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Deixar bem claro que defender a preservação do Morro
dos Conventos, não significa estar contra o desenvolvimento do município, muito
pelo contrário, o que queremos de fato é que sejam cumpridas as demandas do Plano
de Gestão Integrada do Projeto Orla, que são mais de 200. Essas demandas foram discutidas e acordadas
pelos delegados indicados pelas varias entidades civis, empresariais e do poder
público, durante as dezenas de reuniões e oficinas do Projeto Orla, ocorridas
entre 2014 a 2016 no próprio Balneário Morro dos Conventos.
Prof.
Jairo Cesa
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