sexta-feira, 14 de março de 2025

 

CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 2025 – FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL

https://campanhas.cnbb.org.br/campanha/campanha-da-fraternidade-2025/


Desde que o papa Francisco assumiu o papado em 2013, foram inúmeras as ações deliberadas em defesa do planeta terra. Um das mais importantes foi a campanha da fraternidade de 2015, quando propôs que o tema tivesse alguma relação com a defesa da mãe terra. Na época, o planeta já dava sinais nítidos dos efeitos perversos da ação humana sobre sua biosfera, que medidas deveriam ser tomadas urgentemente para não alcançar o estágio do não retorno. A terra como sendo o habitat de todos os seres vivos, o tema inserido nas capas das cartilhas da campanha da fraternidade de 2016 foi Laudato SI, que em língua portuguesa significa “Louvado Seja”- O Cuidado da Casa Comum.  

O tema da campanha da fraternidade faz alusão a própria Encíclica com o mesmo nome lançada pelo papa Francisco em 2015. O termo Encíclica é uma espécie de carta escrita pelo papa, que é enviada as igrejas cristãs de todo o mundo, comunicando alguma atualização à doutrina. Essa encíclica contém cerca de 200 paginas, destacando pontos importantes de como os humanos deveriam se comportar para não coloque em risco de colapsar a mãe terra, a casa comum de todos os seres vivos. Durante a quaresma, com duração de quarenta dias, católicos, cristãos ortodoxos, anglicanos, luteranos, e outras denominações Presbiterianas e Reformadas, espalhadas pelo planeta, devem ter lido e debatido os capítulos da cartilha, e certamente, tiveram melhor compreensão de que cuidar da terra ou da casa comum é um ato divino, que segundo essas e outras religiões monoteístas, as concebem o planeta terra e o próprio universo como uma  criação de Deus.

Dez anos depois da publicação da encíclica e da campanha da fraternidade, o cenário que hora se vislumbra no horizonte do planeta terra é de extrema atenção e preocupação. Parece que os ensinamentos trazidos por essa encíclica, mínimos foram os resultados positivos nos corações e mentes das autoridades e do segmento produtivo global. Desde então o clima do planeta vem sendo acometido por intempéries com graus catastróficos de destruição. Os constantes e contínuos episódios climáticos extremos, enxurradas e estiagens avassaladoras, dão mostras de que a manutenção das atuais políticas produtivas insustentáveis está colocando o planeta terra em um caminho perigoso do não retorno.

Parece que os rotineiros encontros de cúpulas em defesa do clima, a exemplo das Cops, como a de Paris, em 2015, não estão assegurando resultados desejados, como por exemplo, evitar que a temperatura média do planeta não alcance a média crítica de 1.5 graus Celsius, antes do final desse século.  De acordo com estudos obtidos por organizações que fazem o acompanhamento diário das temperaturas no planeta, há evidencias claras que o limite preocupante de 1.5 graus Celsius, foi atingindo em 2024. Sendo assim, o planeta já está em uma condição de emergência climática, ou seja, que todas as medidas pensadas e discutidas nas COPs com prazos mais longos para serem executadas, deverão ser imediatamente revistas, pelo fato de o limite médio de temperatura de 1.5 termos sido antecipado em mais de meio século.

O fato é que existem evidências claras que o planeta está aquecendo além do seu limite desejado. São ondas de calor que vem transformando países ou continentes inteiros em um verdadeiro caldeirão, cujas temperaturas facilmente superam os 40 graus Celsius. O que demorava cinquenta ou cem anos para quebras de temperaturas médias globais, nos últimos cinco anos os cientistas comprovaram por meio de monitoramento ter havido quebras recordes de temperaturas médias. Os impactos do aumento médio da temperatura global influenciam diretamente em toda a complexa biótica planetária, principalmente nos oceanos onde habitam espécies extremamente frágeis e profundamente afetadas pelo aquecimento global.

Além das entidades cientificas estarem envolvidas na tentativa de reverter o possível hecatombe climático que o planeta terra está trilhando, organizações sociais, ONGs, movimentos religiosos também estão se engajando conjuntamente na esperança de sensibilizar as autoridades globais e segmentos econômicos, para que repensem suas políticas e práticas produtivas consideradas degradantes e impactantes à mãe terra. Novamente a igreja católica, como havia feito há dez anos, por iniciativa do sumo pontífice, o papa Francisco, quando lançou à encíclica, em 2025, determinou que a campanha da fraternidade nesse ano abordasse tema vinculado à ecologia.

O que causa espanto é o fato de uma religião como a católica com mais de um bilhão de fieis seguidores no mundo inteiro, cujos reflexos da encíclica de 2016, Láudano Si, pouco efeito teve nas mudanças de comportamento das autoridades no modo de compreender o planeta como um elemento vivo e frágil. Talvez agora o Papa Francisco, pela sua forte vinculação às causas sociais, humanitárias, tenta lançar sua última cartada em vida na tentativa de mais uma vez sensibilizar a humanidade de que estamos num caminho sem volta.  Ou repensamos e mudamos nossas praticas comportamentais nada saudáveis com a nossa mãe terra ou teremos uma existência bem curta junto com as demais espécies vivas existentes.

O tema “Fraternidade e ecologia integral e o lema Deus viu que tudo era muito bom”, tende a propor uma forte mobilização das igrejas cristãs cuja expectativa é fazer as pessoas pensarem que a atual realidade planetária é extremamente critica. Ecologia integral tem como fundamento, pensar o planeta como uma grande casa viva, um complexo conjunto de teias, interconectadas e sensíveis a qualquer ação antrópica. Apelar à religião, a fé, se mostra até plausível, entretanto, nos debates acerca do tema é necessário dar bastante ênfase ao atual modelo econômico, o poder das grandes corporações do petróleo, dos agrotóxicos, entre outras, que estão por trás desse insano desejo de domínio planetário.

Como vem se observando no atual cenário global, dominado por guerras e disputas comerciais entre grandes potencias, são raros, nos encontros envolvendo tais lideranças, para tratar acordos de paz ou de negócios, a inclusão de demandas elencadas nas conferências do clima, como a redução das emissões dos gases do efeito estufa, investimentos em energias renováveis, agroecologia, etc. Fora toda a negação articulada pelo grande capital sobre pautas ambientais, mais uma vez é importante louvar o papa Francisco, que vem cumprindo a risca com o seu propósito a frente do pontífice, a busca da conciliação entre as religiões, construção de uma um mundo mais fraterno, mais tolerante, sem injustiças sociais.

Prof. Jairo Cesa            

Nenhum comentário:

Postar um comentário