segunda-feira, 24 de março de 2025

 

5ª CONFERÊNCIA ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE – DEMANDAS PARA O ENFRENTAMENTO DA EMERGÊNCIA CLIMÁTICA E A CRISE HIDRICA



A crise hídrica que se coloca como uma preocupante realidade para milhões de pessoas no mundo inteiro tende a se tornar mais critica nas próximas décadas se populações e autoridades não tomarem consciência de que modelos produtivos vigentes são causas primárias desse colapso hídrico que já é real. O que se observa e que demonstra ser verdadeiro é o tema água e suas complexidades, vir a público para reflexão e debate somente uma vez por ano, no dia 22 de março, data que é celebrado o dia internacional da água.

São poucos os meios de comunicação, gestores municipais, instituições de ensino, entre outras organizações, que não divulgam alguma ação alusiva ao tema, como plantio de árvores, recolhimento de lixo em mananciais, etc. No dia seguinte ao 22 de março, tem-se a sensação de que tudo volta à normalidade, como de um vírus pandêmico que provoca o esquecimento por um ano, até o próximo 22 de março. Como um disco furado que repete a música o tempo inteiro, o discurso sobre a água segue essa mesma analogia, a repetição dos problemas, das promessas e o esquecimento do que foi prometido. Todos sabem que a fragilidade no saneamento básico, no tratamento de esgoto, por exemplo, é um dos fatores primordiais á redução progressiva da demanda de água com qualidade para milhões de brasileiros.

O que é mais espantoso nesse debate sobre crise hídrica, é que o Brasil é um dos territórios com maior disponibilidade de água doce do mundo, decorrente da concentração de expressiva quantidade de rios, lagos, lagoas e uma boa fração do aqüífero guarani. Acreditem, diante da aparente abundância hídrica, milhares de pessoas já sofrem a falta desse líquido, principalmente na região amazônica, assolada por estiagens históricas e a degradação dos mananciais por resíduos orgânicos. Na bastassem os poluentes domésticos e industriais, outro problema invisível ao olho humano, porém detectável mecanicamente são os ativos químicos, como os agrotóxicos, que se subdividem em contato com o solo em centenas de princípios ativos altamente tóxicos. Muitos desses princípios são detectados em quase todas as analises laboratoriais realizadas pelas redes distribuidoras em todos os municípios brasileiros.

Nas bacias hidrográficas do Sul de Santa Catarina, as bacias do Tubarão, Urussanga e do Araranguá, um dos vilões contaminantes das águas é o carvão mineral. É sabido que tais bacias hidrográficas são comprovadamente umas das mais degradas do país, contendo em suas águas metais pesados provenientes principalmente de resíduos de carvão. Embora tendo sido aprovada na Assembléia Legislativa de Santa Catarina (ALESC), legislação que estabelece políticas voltadas à transição energética limpa no estado, essa medida, no entanto, não garante a supressão definitiva dessa atividade no estado.

Na 5ª Conferência Estadual sobre o Meio Ambiente, ocorrida nos dias 18 e 19 de março de 2025, em Florianópolis, foram elencadas 20 proposições que serão apresentadas na Conferência Nacional programada para acontecer no final do mês abril próximo em Brasília. Foram cinco eixos discutidos na conferência, ficando assim distribuídos: Eixo I – Mitigação; Eixo II – Adaptação e preparação para desastres; Eixo III – Justiça Climática; Eixo IV – Transformação Ecológica e Eixo V – Governança e Educação Ambiental. No Eixo I, das seis propostas discutidas pela plenária, quatro delas foram escolhidas para a plenária nacional. Uma dessas quatro trata exatamente do problema recorrente no sul do Brasil, a degradação ambiental por carvão mineral. A proposta do primeiro eixo foi assim redigida: “revogar as leis que prorrogam a exploração de carvão, proibindo a abertura de novas minas de carvão a partir de 2030. Incentivar o uso de energias limpas e renováveis e biocombustíveis através de incentivos fiscais e taxação de combustíveis fosseis  (carvão e outros) estabelecer metas e prazos”.

Os incentivos governamentais bilionários ao agronegócio, progressivamente vem escancarando as “porteiras” para a flexibilização das legislações relativas ao comércio de agrotóxicos, muitos dos quais já banidos na União Europeia e outros países por décadas. São substâncias químicas extremamente letais à biótica dos solos e das águas. Infindáveis são as pesquisas que confirmam ser o consumo de alimentos e águas contaminadas por agrotóxicos os vilões do aumento de casos de doenças degenerativas, a exemplo dos cânceres. Parkinson, Alzheimer, espectro autista, estão também no centro dos estudos e debates, existindo já muitas fontes que comprovam terem essas doenças, relações diretas e indiretas com a ingestão de alimentos e água contaminados.

Como proposta à produção agrícola convencional baseada na inserção de insumos químicos agrotóxicos, é amplamente incentivada à expansão da agroecologia, prática essa que segue os princípios da sustentabilidade, da resiliência sistêmica dos ecossistemas. Na atual emergência climática, a agroecologia se mostra muito eficiente ao reequilíbrio das disfunções da complexa teia sistêmica chamada cosmos.  A agroecologia se mostra tão importante e necessária à reversão à crise climática. Durante os debates da 5ª Conferência Estadual, no Eixo III, Justiça Climática, uma das quatro propostas aprovadas foi a seguinte: “exigir do Estado brasileiro uma reforma agrária consistente, favorecendo a agricultura familiar e produções baseadas na agroecologia e produção orgânica, a fim de cumprir com a constituição e democratizar o acesso à terra”.

São inúmeras as experiências em andamento de cultivos agroecológicos que estão produzindo excelentes resultados nas melhorias das condições de vida de milhões de brasileiros diretamente envolvidos nessas atividades. O MST possui praticas produtivas e de organização que deve ser considerada e seguida, por apresentar resultados eficientes no combate da fome e como mitigador dos impactos da crise climática global. A Rede ECOVIDA de Agroecologia e Produção Orgânica, que integra os três estados do sul, vêm comprovando que a organização participativa se mostra extremamente eficiente. Um bom exemplo de eficiência organizacional vem da Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (COPAVI) na cidade de Paranácity/PR, que está vinculada ao Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST).[1]

Quando tratamos o assunto crise hídrica, o mesmo não pode ficar restrito apenas a questão oferta e a demanda de água doce. Também não podemos nos furtar de mencionar os oceanos, pois neles estão inseridos volumes significativos da água doce em estado sólido. A emergência climática tem relação também com o degelo e o aumento do nível dos oceanos. Cidades costeiras já estão literalmente sendo “engolidas” pelo mar. Não bastasse o degelo, tem também o lixo, principalmente de plásticos, que já se mostram como um problema pandêmico para os oceanos. Existem ilhas gigantes de lixo em vários pontos de todos os oceanos e mares.[2] Alguém um dia poderia imaginar que a vida nos oceanos seria ameaçada por microplásticos, considerados tão letais à vida aquática e terrestre quanto ao CO2 e agrotóxicos?

Sim, é isso mesmo. Algo imperceptível ao olho humano, milhões de toneladas de plásticos são dissolvidos em micro fragmentos, comprometendo à vida nos oceanos e nos continentes. Pesquisas comprovam que microplásticos estão sendo depositados nos solos e nos mananciais hídricos por meio da chuva. Microplasticos são elementos químicos considerados piores que chuvas acidas, pelo fato das dificuldades de serem eliminados da natureza. O pior é que são ingeridos no consumo de alimentos, como vegetais, carnes, água, entre outros. Essas substâncias tóxicas se acumulam nos pulmões, sangue e até mesmo na placenta de bebês em desenvolvimento.

Até o momento mesmo existindo um enorme arcabouço de legislações relativas ao saneamento básico, o problema dos resíduos sólidos ainda se caracteriza como um desafio a ser solucionado.  A 5ª Conferencia Estadual do Meio Ambiente também discorreu o assunto resíduos sólidos no IV Eixo Transformação Ecológica. Uma das quatro proposições aprovadas pelos/as delegados/as descreve o seguinte: “promover gestão integrada de resíduos sólidos entre municípios da região e os principais atores como sociedade, cooperativas e associações, poder público e privado, valorizando e implementando a compostagem dos resíduos orgânicos, reciclagem dos resíduos recicláveis e ações de economia circular para o aumento da taxa de desvio de aterro sanitário, valorizando a cadeia produtiva dos resíduos”.

Portanto, o planeta terra vive sua fase mais crítica em se tratando de clima. Isso motivou as agencias intergovernamentais do mundo inteiro a lançarem alertas por já estarmos sobre uma emergência climática. Nesse sentido temos agora pouco tempo para buscar reverter os estragos e assegurar uma sobrevida ao planeta. Como saída a um possível colapso climático, além de ações concretas provenientes de organismos governamentais e dos sistemas produtivos, o trabalho de sensibilização ambiental coletiva em massa deve ser aplicada imediatamente.  

A demanda sensibilização ambiental foi amplamente debatida na 5 conferência de Educação Ambiental, fato que motivou a aprovação pelos delegados de uma proposta, para ser discutida e quem sabe também aprovada na conferência nacional. A proposta do Eixo V é o seguinte: “criar e colocar em prática Políticas Municipais e Regionais de EA como ação de Estado, com diretrizes curriculares, diagnóstico regional, formação formal e não-formal, em rede, com participação social. Criar e institucionalizar as Escolas do Mar, fomentar instituições de EA para implementar programas alinhados ao Plano Nacional do Clima, de forma intersetorial, respeitando a diversidade regional”.                   

Prof. Jairo Cesa

   

   

                    



[1] https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/8216021869399138207

[2] https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/3758619673006269685

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