PRESENÇA
DO/S MONGE/S JOÃO MARIA NA REGIÃO DE PASSO FUNDO: O QUE HÁ DE VERDADE E MITO
SOBRE O/S PROFETA/S
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É
possível que um em cada dez pessoas nos estados do sul do Brasil já tenha
ouvido falar do Monge João Maria e suas profecias. Há relatos de que tenha
havido três monges e não um como se apregoa. Ao mesmo tempo em que existem
tantas pessoas devotas do monge, até mesmo tendo-o como um santo, um profeta,
por que não há nenhuma igreja cristã ou católica contendo o monge João Maria
como Padroeiro? Embora já se saiba a resposta da inexistência de tal edificação
com o seu nome, o que é sabido é que ainda hoje há uma legião de benzedeiras
espalhadas por todos os cantos do sul do Brasil que exercem suas funções intercedidas
pelo monge ou monges.
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Mas
quantas são e onde estão essas pessoas? Existem inúmeras bibliografias
disponíveis de pesquisas, TCC, dissertações, teses, livros, etc, já
desenvolvidas acerca da vida e obras do/os monges. No estado catarinense muitos
conhecem sendo um dos lideres do movimento contestado que atuou no oeste e
planalto central e norte catarinense por longos anos. O próprio estado do Paraná
há incontáveis relatos conhecidos de ter o/s monges por lá transitado,
promovido milagres e convergido para si centenas, milhares de devotos. Existem
relatos da existência de grutas, fontes de águas milagrosas e curas por eles
promovidas por onde passavam. Para entender melhor esse ambiente repleto de
mistérios e incertezas, nada melhor que ir à própria fonte e beber a água da
sabedoria, dos milagres, das inúmeras pessoas que tiveram suas vidas abençoadas
através da intersecção dos monges.
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O
que motivou a embrenhar nesse vasto campo espinhoso e ainda pouco conhecido do
público em geral, é adentrar em uma seara que se imagina ainda pouco explorada
que são os arquétipos que envolveram e ainda permanecem presentes no imaginário
social. É exatamente esse o desafio, estudar os arquétipos ou representações
associadas ao monge. As rezas, as grutas, as fontes de água que não secam e
promovem milagres, são alguns desses aspectos onde se acredita fazem parte
desse roteiro da presença do/os monge/es nos três estados do sul do Brasil.
A
pesquisadora Doutoranda Elisa F. Stradiotto, pela Universidade Humanista da
Flórida/ EUA, está incumbida nessa difícil busca encontrar respostas que possam
elucidar mistérios que envolvem tão enigmáticas personagens míticas. O maior
desafio, portanto, é dar cientificidade a algo repleto de misticismo, fé,
devoção, impregnada no inconsciente coletivo de diversas gerações. É obvio que
a ciência de matriz positivista/cartesiana não responderia muita das indagações
lançadas sobre coisas não palpáveis, abstratas, presentes unicamente na
imaginação.
A
cura através das rezas, uso e consumo de água benta, imagens de santos, símbolo
da cruz, ervas e plantas medicinais, são alguns desses arquétipos que devem ser
investigados e compreendidos. Investigar se suas manifestações são convergentes
ou divergentes no imaginário social dos três estados do sul. Já sabendo que
seriam ínfimas as possibilidades de sucesso nessa pesquisa sobre os arquétipos
de monge João Maria, tendo como único aporte investigativo as teorias
positivistas, a pesquisadora quis ousar adentrando no campo da investigação
quântica, cuja mediação filosófica será do psicanalista Carl Yung que abordou o
inconsciente coletivo.
O
primeiro desafio, portanto, dessa difícil caminhada seria visitar algumas
cidades do Rio Grande do Sul onde se sabe teve a presença do monge. Passo Fundo,
Lagoa Vermelha, entre outras do entorno, obrigatoriamente teriam que ser
visitadas, que como se sabia previamente, suas populações são atravessadas por
forte devoção e crença aos monges. Sendo assim era necessário conferir de perto
tais reflexões, se realmente o arquétipo do monge permeava ou não o imaginário
daquela sociedade e até que ponto ajudava tornar essas pessoas mais felizes.
Chegando a cidade o primeiro local visitado, eu Jairo cesa, historiador, Elisa Stradiotto, pesquisadora e Dr. Daniel, orientador, era a catedral de Nossa Senhora Aparecida, da cidade de Passo Fundo, e conversar com o pároco da mesma, Ari Antônio dos Reis, pois havia informações de ser ele estudioso do monge. Por uma hora mais ou menos, no interior da sala de reuniões, participamos de um intenso e produtivo diálogo, com relatos de sua dedicação na reconstrução da memória dos monges. Além das explanações, o pároco nos forneceu nomes de pessoas e endereços que deveríamos visitar para aprofundarmos nossa investigação.
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Padre
Ari, como é conhecido, que também é professor de uma universidade em Passo Fundo,
fez menção ao trabalho pastoral realizado pela igreja a qual atua há longo
tempo. Quando concluiu o curso universitário, seu Ari escreveu o seu TCC
destacando a saúde e a religiosidade da população cabocla, indígena, no oeste
catarinense. Além de Lagoa Vermelha e Passo Fundo, há relatos de terem existido
monges na região da grande Soledade/RS, entre os anos de 1936 e 1937,
apelidados de monges barbudos. Em uma região de forte presença cabocla, alemã e
de grandes proprietários de terras, corriam noticias de que os monges estavam
mobilizando os caboclos para se rebelarem contra as instituições. Em 1937
forças policiais invadiram uma igreja onde no seu interior estavam o monge e
caboclos. ( PESQUISAR LIVRO DE CIRILO VALVERDE).
Relatou
o padre Ari que esteve em Soledade no passado para pesquisar sobre a presença
dos monges. Disse que não teve problema em entrevistar os descendentes dos
caboclos que tiveram envolvimento direto com os mesmos. Por parte dos
descendentes de italianos e alemães o que havia era ironia. Porém, todos os
relatos havia consensos de se tratar de um santo. No entanto, segundo o padre,
até hoje há duvidas de ter existido mesmo um ou três monges. Partindo desse
pressuposto, o mesmo se sentiu estimulado em pesquisar mais sobre os monges. A
conclusão que chegou o padre foi realmente ter havido três monges, porém o que
permaneceu foi a mística do monge, um personagem que vai circular no imaginário
social.
O
estereótipo forjado sobre os caboclos de indivíduos passivos é um tanto
temerário. Para poder desconstruir tais conceitos vistos como errôneos desses
grupos étnicos foi necessário aprofundar investigações dos aspectos econômicos,
sociais e religiosos em que estavam inseridos. No campo religioso, a pesquisa
tratou de compreender o caboclo, a dificuldade de incorporá-lo ao modelo
racionalista de produção, de base capitalista, a sua condição histórica de
sujeito incorporado as regras da própria natureza onde vivia.
Destacou
a romaria a nossa senhora aparecida que ocorre no segundo domingo de outubro em
Passo Fundo, com forte presença de pessoas pobres. A romaria a São Miguel também
foi citada, sendo o santo cultuado pelos negros desde 1871. Essa romaria é
considerada uma das maiores e mais importantes do rio grande do sul. Disse que durante a guerra, são Miguel cuidou
de dois negros, sendo um deles Isaias. Que no retorno ganharam uma imagem do
santo que os protegeu. Acredita-se que foi são Miguel que os trouxe não o
contrario.
A
História da romaria aconteceu quando “dois
escravos retornaram da guerra do Paraguai, que quando chegou às terras onde
fica o atual distrito do pulador, uma pequena estatueta de São Miguel Arcanjo
os impediu de continuar. Inspirado pela imagem, nas terras de Bernardo Castanho
Rocha, fugindo dos ares urbanos e direcionados para o povo do campo, foi construído,
de pau-a-pique e com telhado de capim, uma pequena capela, que foi reformada e
tombada como patrimônio cultural”.[1]
É
conveniente nesse trabalho discorrer fragmentos da pesquisa realizada pelo Padre
Ari Antônio com o título Criação e Recriação do Mito João Maria pelos Caboclos
da Região Sul. O trabalho foi apresentado como conclusão de curso de graduação
realizada no Instituto de Teologia e Pastoral ITEPA. O pesquisador se muniu em
um vasto e rico acervo de informações tecidas a partir de fontes bibliográficas
e entrevistas realizadas nos estados do RS e PR. Dividiu a pesquisa em três
capítulos, sendo o primeiro dedicado aos três monges; o segundo, os caboclos, e
o terceiro a criação e recriação do mito João Maria.
Nem
há como compreender a presença dos monges e seus desdobramentos ocorridos nos
três estados sem considerar um dos atores protagonistas desse intrincado
enredo. Refiro-me aqui a figura do caboclo, constituído a partir da
miscigenação do negro, índio com o homem branco. A condição de classe
subalterna, explorada já vem desde os tempos vindouros quando seus antepassados
foram submetidos à condição de escravidão pelo colonizar.
No
sul do Brasil o caboclo ocupava terras devolutas, sobrevivendo do cultivo de
pequenas roças ou do extrativismo como a erva mate. De repente suas posses
passaram a ser invadidas por pessoas que se diziam proprietárias. Sendo
expulsos e empurrados para as margens dos territórios, se vêem novamente ameaçados
por companhias encarregadas de construir uma estrada e ferro, bem como a extração
de madeiras, araucárias, por exemplo. Sem qualquer expectativa e apoio das
autoridades, a desesperança e incertezas tomaram conta, porém, tudo isso foi
remediado com a presença dos monges.
Conforme
escreveu Ari Antônio; “esse espaço de
evangelização é ocupado, em parte, pelo culto a João Maria, que não se dizia
seguido de alguma igreja, porém, sua fala e ressonância encontravam junto aos
caboclos”. A própria igreja católica não se solidarizou naquele momento com
a causa dos caboclos, isso se deve, em parte, da estreita relação que possuía
com os grupos dominantes. Uma figura que se despontou do nada oferecendo apoio
espiritual, receitando medicamento e dando esperança de vida plena, é claro que
convergiria para si essa legião de subjugados, desterritorializados.
Tendo
forte relação com os elementos da natureza não foi difícil transformar o monge
em uma representação divina, ou seja, e um arquétipo da bondade, da justiça,
junto aos pobres e necessitados. Isso também ocorria com os sertanejos, tendo fortes
vínculos com as florestas e demais elementos vivos e místicos presentes nesses
cenários. Por suas características culturais o caboclo ou sertenaijo acreditava
que o que acontecia em suas vidas, boas e ruins, tinham relação direta com os
fenômenos da natureza. Sendo assim, não alimentava expectativas de haver
rupturas significativas em seu quadro de existência, se tudo é o que é se deve
ao fato de existir algo superior, que é Deus, força que rege todo o universo.
Muito
se tem percebido o caboclo, o sertanejo esboçando comportamentos que expressavam
certo passivismo, conformismo diante do seu destino. A condição de subalterno
ao proprietário, ao escravocrata impôs a construção do estereotipo de sujeito
passivo. Mas isso tem a ver também pelo papel exercido pela igreja católica
durante a época escravocrata na qual atuava como instituição incumbida de
assegurar o status quo social. O respeito à autoridade do padre, do patrão,
permaneceu latente nos negros e caboclos desterrados do sul do Brasil. Cabe
frisar que tanto o passivismo quanto o conformismo deve ser compreendido como
sendo estratégias inteligentes de sobrevivência, formas encontradas para não
ser perseguido e destruído pelo opressor.
Acreditar
na transcendência levava o caboclo a se apegar aos símbolos sagrados, sentos,
como símbolos capazes de intermediar ao divino. São esses os mecanismos
influenciadores do curso da vida e da natureza. A presença de imagens de santos
nos locais onde o monge havia estado são demonstrações da devoção católica dos seguidores
ou devotos do monge. A prática do
batismo católico é um desses ritos para oficialização do pertencimento a tal
tendência religiosa. Para os pobres despossuídos e ainda hoje da população
remanescente, geralmente o rito do batismo ocorre junto a uma fonte d’água, o
fato de se batizarem na igreja, lhe da garantia alguns benefícios oficiais.
Sobre
o mito de João Maria, presente no trabalho do padre Ari, o mesmo procurou
reconstruir o cenário vivido por outro monge que tenha aparecido na região do
contestado, estado de santa Catarina. Dissertou que a região, os conflitos se
iniciaram na metade do século XVIII durante as disputas de fronteiras entre os
estados de SC e RS. A construção da estrada de ferro SP – RS veio elevar ainda
mais as tensões sociais, pelo fato de ter expulsado posseiros do trecho
construído.
É
nesse cenário que aparece o terceiro monge José Maria de Jesus, pessoa dotada
de grandes habilidades, carisma e que passou a ajudar o povo pobre, receitando
medicamentos, bem como oferecendo apoio espiritual para amenizar o sofrimento
do povo. Cada vez mais dezenas, centenas de pessoas passaram a se ajuntar no
entorno do monge, fato que gerou certa desconfiança por parte dos coronéis
locais, acreditando que ambos estavam articulando algum movimento de tomada da
região. Um dos coronéis de Curitibanos mobilizou tropas federais cujo confronto
em 1912 provocou a morte do monge José Maria.
A
construção do mito ao monge João Maria se atribui a sua personalidade de
individuo simples, bom, que entendia as dificuldades vividas pelo povo. Também
o mito se deve aos feitos e relatos de profecias praticadas, bem como as narrativas
que envolviam o monge. A presentificação do mito João Maria é perceptível
diante dos contados ou entrevistas com pessoas que afirmam ter conhecido o
monge. Geralmente suas narrativas trazem à lua uma figura boa, calma, que fez
algumas profecias e que desapareceu. É comum ouvir relatos de que cruzes de
cedro foram fixadas, que brotaram e tornaram-se árvores frondosas. Da
existência de fontes de água benzidas pelo monge, onde sempre tem no entorno da
fonte uma capelinha com imagem do monge e outras figuras sacras onde
peregrinações acontecem para tomar a água, se lavar ou buscá-la para realizar
batismos em casa.
Concluída
a etapa introdutória da investigação com o padre Ari e a síntese de sua
pesquisa de TCC, demos início nossa peregrinação no intuito de contatar pessoas
que tiveram algum contato com o monge ou que
exercem praticas de benzeduras com o emprego de ervas e orações. Encontrar a
residência de um cidadão conhecido pelo nome de delegado foi nosso primeiro
desafio. A informação foi que seu delegado possuía mais de cem anos e havia
tido contato com o monge. Com dificuldades de audição seu delegado recebeu a
ajuda de sua filha que o intermediava quando seu pai não entendia as perguntas.
Tínhamos
expectativas de que conversando com o seu delegado algo novo em relação ao
Monge ele nos revelaria. Não foi de fato o que ocorreu, pois o que disse já
sabíamos a partir de fontes escritas. Revelou que o monge vivia caminhando, que
quando chegou a sua casa pediu couve, fez um foguinho cozinhou e a comeu com
feijão. Que caminhava sempre descalço, trajando uma roupa grosseira, que era alto
e magro. Sobre as profecias, disse que o monge falava que um dia o céu seria
totalmente tomado por arame farpado, que as pessoas não compreenderiam mais.
Fato
curioso relatado pelo SEU DELEGADO foi
quando disse que certa noite choveu e o fogo aceso pelo monge não apagou, que o
local onde ele estava não choveu. Também disse que durante a sexta feira santa não poderia faltar feijão
e couve, que era a comida de são João Maria, que todos tinham que comer.
Que quando pequeno possuía dores nas pernas, nos quadris, que era só tomar o
chá de erva do monge que cessava as dores.
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Seguindo
o roteiro, depois de visitar o seu delegado, teríamos agora de ir à residência
de Dona Terezinha, afinal era uma
pessoa que benze e que era guiado pelo monge João Maria. Foi uma recepção
amistosa em sua residência onde nos relatou como chegou ao grau de benzedeira.
Deixou bem claro que ter fé é importante, que a mente humana tem poder, que
deus intercede por meio da nossa mente. Que a condição de benzedeira é um Dom
recebido e que deve ser aceito. Confessou que seu bisavô possuía esse dom, que
depois foi transferido para sua vão, sua mãe e que agora ela estava dando continuidade.
Sua neta de 11 anos, ela acredita que herdará esse dom, pois o acompanha nos
rituais.
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Durante
as rezas disse que recebe a bênção de Maria e de Jesus, da família sagrada e de
João Maria. Que o monge havia visitado sua avó e lhe ensinado algumas rezas. O
monge não entrava nas casas, só pedia comida, quando chovia, o lugar onde
estava permanecia seco. Revelou dona Terezinha que seu neto foi diagnosticado
com bronquite, que quando bebeu a água da fonte do Monge João Maria, o mesmo
ficou curado. Lembrou também do galhinho de cedro, que quando fosse enterrado o
mesmo brotava se transformando em uma arvore.
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Crianças
com verminose as rezas tem o poder de curar, disse dona Terezinha. Narrou que
curou crianças utilizando um ritual de benzimento. O rito se dá pegando uma
linha, cortando-as em pedaços e depositando dentro de um copo de água. Se os
vermes estão calmos, as linhas vão para o fundo do copo, do contrário, as
mesmas permanecem na superfície. A linha deve ser cortada com orações. No final
do terceiro corte, deve se oferecer o copo d’água para a criança beber. É
preciso deixar a tesoura aberta para que a benzedura tenha sucesso. Se em três
dias depois da benzedura não deu certo, deve-se ir novamente, em três em três
dias até o nono dia.
Também
relatou ter recebido pessoas com dores de cabeça provocadas pelo ar da lua, do
sol e das estrelas. Para aliviar a dor, o ritual é colocar um pano branco sobre
a cabeça além de um copo de água, que deve ser equilibrado para não cair.
Repetir três vezes a benzedura. Foi perguntado a D. Terezinha se houve em algum
momento benzedura que teve a interseção do Monge. Respondeu que a mãe de sua
nora havia pegado cobreiro no pé.
Que
a mesma não acreditava em benzedura. Foi ao médico algumas vezes, porém, o
problema do cobreiro não foi resolvido. Certo dia ela foi até dona Terezinha, o
cobreiro foi benzido e curou. O uso de ervas é comum nos rituais de cura da
benzedeira, pois para cada problema existe um tipo diferente de erva medicinal,
como a erva de são João Maria, a erva santa, hortelã, etc. D. Terezinha disse
ter uma forte proteção espiritual.
No
final da entrevista, Dona Terezinha ensinou algumas das rezas praticadas, como
a que procura combater cobreiros. A técnica é ambos fazerem o sinal da cruz,
dizer o nome da pessoa e do São João Maria, que o problema está sendo cortado
em nome do Monge, que te abençoa. É preciso rezar o pai nosso e tocar o
cobreiro com três galhos de arruda, passando três vezes em forma de cruz no
problema. Feito isso, os galhos de arruda junto com cobreiro devem ser
descartados na rua.
Além
da benzedeira Da. Terezinha, tínhamos na pauta o endereço de outra benzedeira
no município de Cirilo. Entretanto antes de encontrá-la fomos visitar o tal de
capitel, uma espécie de oratório, junto a uma fonte de água, que foi construído
para fazer celebrações em memória do Monge João Maria. Não sabendo exatamente o local exato,
chegamos numa a residência de agricultores, na comunidade de São Sebastião da
Várzea, para que nos indicasse o caminho. Curiosamente, essa família era devota
do monge, na qual conhecia muitas histórias relacionadas ao mesmo, todas
semelhantes às contadas pelos demais entrevistados.
A
devoção ao monge se deu quando o proprietário dessa casa teve um acidente que
ferio a sua cabeça. Fizerem promessa ao monge e o cidadão Antônio Táparo
melhorou. A promessa foi paga indo ao capitel e acendendo vela e recitando rezas
de agradecimento. Saindo da casa do seu Antônio Táparo fomos ao encontro do
capitel, que infelizmente não descobrimos o seu local. Como tínhamos outro
compromisso agendado naquela tarde, vimos que seria melhor deixar quem sabe
para outra oportunidade a visita ao capitel.
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Agora
nos deslocamos para a cidade de Cirilo onde iríamos conversar com D. Elza, que
também era benzedeira. Dona Elza nos relatou que o monge havia passado por
aquela região, dormia em baixo de arvores, pedia comida e dizia que muita coisa
ou profecia, coisas que aconteceriam no futuro. Disse D. Elza que a pandemia
era algo previsto pelo monge. Na época de sua passagem ele dizia para as
pessoas rezarem para ele, terem bastante fé para que as coisas ruins não
acontecessem.
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Informou
Dona Elza que começou a benzer quando estava na casa de uma sobrinha em Porto
Alegre, que teve dor de dente e foi num benzedor. Chegando lá, ele disse que
estava velho e que ela iria continuar o seu trabalho. Quando retornou para sua
cidade deu inicio ao seu trabalho de benzedura. Contou uma das rezas que faz
para as crianças, contra quebrante, ou mal olhado. “nosso profeta são Joâo Maria, cure, tire esse quebrante dessa criança
cujo nome é..... São João Maria te cure, em nome do pai, do filho e do
espírito, amem – fazer o sinal da cruz três vezes. Também falar – pelo sinal da
cruz da santíssima trindade, nos livre do mal, amém”.
Disse
que quando uma criança sofre de quebrante ela não dorme, chora muito e tem
dorzinha. Como todas as benzedeiras visitadas, Dona Elza também não cobre pelos
serviços prestados, só se o paciente quiser lhe presentear, ai ela recebe.
Disse que se for cobrado, o ritual de benzedura não dá certo. Quando crianças
são benzidas, D. Elza se utiliza de um tercinho; agora para adultos é
necessário galhinhos de cipreste, arruda, alecrim. Disse que também usa erva de
são João Maria, porém, é difícil encontrar.
No
final de sua narrativa sobre o monge e benzeduras, D. Elsa nos relatou uma de
suas rezas oferecidas a pessoas adultas, principalmente para cortar maus
espíritos. Assim é a reza: primeiro fazer o sinal da cruz. “São João Maria atenda quem estou benzendo
essa pessoa (nome), que são João Maria livre de feitiços, que cure do mal, que
as orações de São João Maria defenda de todas as coisas perigosas, maldades,
ódios, raivas, e seja levado tudo para o fundo do mar salgado, para o mato ou
pântano. Que venha paz, alegria, que abençoe pelo sinal da santa cruza.
Gratidão”.
Depois
de quase uma hora dialogando com dona Elsa, seu esposo no ofereceu para nos
guiar até o capitel de São João Maria, onde estava a fonte de água milagrosa.
Em trinta minutos mais ou menos chegamos ao local onde havia uma pequena e
simples capelinha erguida para homenagear o monge. Porém, nossa curiosidade era
saber onde estava a fonte de água. A alguns metros da capelinha junto a uma
capaozinho lá estava a fonte com água cristalina. Segundo o esposo da dona Elsa
que nos guiou até o local, ele nos relatou que tentou proteger a fonte com uma
barreira de concreto, porem, a água secou. Retiraram o concreto, a água
retornou outra vez. Disse também que água não corre para nenhum rio, pois não
existe qualquer rio naquela região. Para onde vai a água é uma incógnita.
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Prof.
Jairo Cesa
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