A
CPI DO MST TRARÁ REVELAÇÕES DA GRANDIOSIDADE DESSE MOVIMENTO QUE GARANTE
ALIMENTOS SAUDÁVEIS PARA MILHÕES DE BRASILEIROS
Não
há duvidas que a CPI criada pela câmara federal para investigar as ocupações
realizadas pelo MST em áreas improdutivas está sendo interpretado como palanque
para os deputados bolsonaristas quase imperceptíveis do cenário nacional após a
derrota eleitoral da sua principal liderança, Jair Bolsonaro. Na primeira seção
dos parlamentares na comissão ocorrida no dia 24 de maio já deixou explícito
que o intuito da ala bolsonarista, que é majoritária, seria criminalizar um
movimento que há mais de quarenta anos vem fazendo o que estabelece
dispositivos da constituição federal, tornar produtivas terras improdutivas.
Não
tenho lembrança de ter ouvido ou assistido nas mídias de massas tradicionais informações
ou reportagens mostrando o cotidiano desses assentamentos, todo o trabalho que
desenvolvem no cultivo sustentável de alimentos e outros serviços de
relevâncias sociais. Poucos brasileiros sabem que o MST é uns dos maiores
produtores de arroz orgânico da América Latina. Enquanto segmentos do
agronegócio durante a pandemia promoviam desmatamentos, queimadas de florestas
e outras barbaridades ambientais, centenas de toneladas de alimentos
provenientes dos assentamentos do MST eram distribuídas às populações famintas
das áreas urbanas do país.
Lembro de ter participado em 2022 de um curso de agroecologia no município de São Pedro de Alcântara, RS, evento coordenador pelo Dr. Sebastião Pinheiro, agrônomo aposentado, que há anos viaja pela América Latina empoderando os movimentos campesinos com técnicas alternativas de manejo do solo e cultivo agrícola. Relatou Sebastião Pinheiro que tem forte envolvimento em atividades sociais no MST, oferecendo-lhes conhecimentos estratégicos importantes. Diagnosticar a biótica do solo por meio da cromatografia é uma dessas estratégias revolucionária que assegura ao movimento autonomia e independência das corporações que dominam o mercado de sementes e insumos.
Essa é uma técnica simples realizada a partir
de partículas de solo seco depositadas em um cromatograma com o adicionamento
de substâncias como o nitrato de prata. O que é revolucionário nesse exercício
é o fato de a experiência ser construída coletivamente. Isso mesmo, cada
indivíduo fará a sua e acompanhará as mutações das cores e testuras do seu e
dos demais experimentos. No final todos terão respostas da qualidade biótica
dos solos analisados e quais as intervenções necessárias para obter boa produtividade
em quantidade e qualidade.
Além
dessa técnica, os assentados do MST
aprendem também outras dinâmicas de recuperação da vida do solo que dispensa
usos de elementos sintéticos como adubos químicos e agrotóxicos. Adubação
verde; produção de pó de rocha; paletização de sementes; coleta de
microorganismos eficientes; biofertilizantes; águas de vidro; micorrizas;
caldas minerais, etc, ambos compõem o pacote de produtos e ferramentas
alternativas empregadas por milhares de camponeses e comunidades de assentados
em toda América latina e outros continentes como a Ásia.
Aqui estão alguns dos motivos pelos quais o
grande capital se desespera quando vê o MST se expandindo e recebendo o apoio
de parte expressiva da população. Eles sabem que a desconstrução de inverdades
sobre o movimento resulta em real ameaça a secular hegemonia de práticas espoliatórias
patrocinadas por poderosas corporações transnacionais monopolizadoras dos
mercados de sementes, insumos e agrotóxicos. Criminalizar, destruir as estruturas de
comando do MST e de outros movimentos campesinos se constitui como plano primordial
dos representantes do agronegócio no Congresso Nacional. A CPI em curso,
portanto, tem esse viés destrutivo das forças populares no campo, e isso foi
mostrado no dia 24 de maio, na primeira audiência da CPI, na postura assumida pelo
presidente da comissão quando repreendeu uma deputada do PSol, cerceando sua
fala, por ter lido reportagem do G1 onda cita do deputado por envolvimento nos
atos golpistas de 08 de janeiro.
Se
prestarmos a atenção acerca da representatividade partidária que compõem a CPI
do MST, notaremos que há enorme supremacia de siglas defensoras do agronegócio.
Claro que nem todos que fazem parte desse segmento corroboram com práticas
usurpadoras de frágeis ecossistemas para expandir seus negócios. Quem acompanhou os quatro anos de governo
bolsonaro deve ter percebido a quantidade de fatos negativos noticiados envolvendo
políticos e segmentos do agronegócio.
Ocupações
e garimpos em terras indígenas, grilagem, desmatamentos, incêndios criminosos, etc,
todos os dias eram noticiados nas principais mídias de coberturas nacionais. Não
bastassem todas essas aberrações, quase todos os dias eram noticiados nos
telejornais ações da polícia e do ministério público de resgates de
trabalhadores em fazendas ou empresas em condições análogas a escravidão. São bem
prováveis que os parlamentares que atuam na CPI para criminalizar o MST são os
mesmos patriotas, que cobertas com a bandeira do Brasil, ocupavam ou apoiavam os
manifestantes acampados nas frentes dos quartéis exigindo intervenção militar.
Prof.
Jairo Cesa
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