REDESCOBRINDO OS CAMINHOS PERCORRIDOS PELO MONGE JOÃO MARIA NO PARANA E SANTA CATARINA
Depois
de ter transitado por alguns caminhos entre os municípios de Lagoa Vermelha e
Passo Fundo, cidades do RS, onde se acredita ter o/s Monge/s João Maria, entre
outros, trilhados durante o final do século XIX e metade do XX, dessa vez o
desafio foi ainda maior, refazer o caminho do/s mesmo/s monges nos estados do
Paraná e Santa Catarina. Pesquisando sobre qual ou quais cidades que poderiam
nos proporcionar mais informações sobre as incursões milagrosas dessa ou dessas
pessoas, decidimos visitar primeiro a cidade paranaense da Lapa, situada acerca
de 70 km da capital Curitiba.
Por
que o desejo de conhecer mais profundamente os passos seguidos pelo monge
nesses três estados do Sul do Brasil? A resposta está no fato de estar a
professora Elisa Stradiotto, do instituto de psicanálise de Santa Maria,
desenvolvendo sua pesquisa de doutorado, cujo objeto investigação são os
arquétipos do/s monge/s, fundamentada na teoria do pensador Carl Yung. Nos três
estados visitados são unânimes as opiniões de ter existido três monges: João
Maria de Agostini, João Maria de Jesus e José Maria de Santo Agostinho.
Foto - Jairo |
Entretanto, há quem defenda que tenha havido
apenas um monge, o primeiro, pois todas as imagens conhecidas e veneradas pelos
devotos mostram similaridades físicas e faciais. A decisão por visitar primeiro
o município da Lapa se caracterizou como opção assertiva, pois o local nos impressionou
tamanha riqueza cultural, histórica, arqueológica, religiosa, geomorfológica,
tudo reunido em um território cuja origem se deu pela passagem de tropeiros a
partir de 1730. Se a intenção era somente desbravar o caminho do/s monge/s,
dialogar com seus seguidores devotos, principalmente benzedeiras, que praticam
seus ritos sob a intersecção do profeta, nossa permanência por três dias na
cidade nos proporcionou mais do que isso, um vasto conhecimento de episódios
importantes da história regional e brasileira e, acredita-se totalmente
desconhecida de milhões de brasileiros e brasileiras.
Esse
trajeto batizado de Caminho dos Conventos passou a fazer ligação terrestre do
Rio Grande do Sul através da facha litorânea, passando por Araranguá, subindo a
serra da rocinha, seguindo rotas já abertas e outras em construção no estado
catarinense. O caminho era para o deslocamento de gado e muares às feiras de
São Paulo. Claro que nesse difícil itinerário estavam os Campos Gerais, no sul
do Paraná, como Ponta Grossa, Campos do Tenente, Tijucas do Sul, Curitiba,
entre outras, todas surgidas através do tropeirismo.
Como
professor de história da rede pública de Santa Catarina por mais de trinta anos
é impactante afirmar que jamais durante esse longo tempo havia ouvido o nome de
uma cidade paranaense de nome Lapa e os fatos lá ocorridos. Estando lá,
refletia comigo mesmo que se tivesse conhecido ou visitado no inicio da minha
carreira profissional certamente minhas aulas sobre o federalismo no sul do
Brasil seriam bem diferentes. Isso inclui também outros temas como o intricado
conflito do contestado e seus desdobramentos políticos, sociais e religiosos no
estado catarinense e paranaense.
Embora
tenha havido dificuldades para chegar ao município paranaense pelo fato de
termos seguido uma antiga estrada de chão batido, que servira de passagem aos
tropeiros, a chegada ao centro da cidade nos deixou a certeza que estávamos em
um local repleto de história e misticismo. Foi exatamente o que ocorreu. Já
sabendo antecipadamente que havia no município um importante lugar onde o monge
João Maria teria morado por algum tempo e promovido milagres, no dia seguinte,
bem cedinho, fomos até esse lugar, o Parque Estadual do Monge.
Foto Jairo |
Por
ser uma terça feira e estando o local fechado para a visitação, o guarda do
parque abriu uma exceção para nós permitindo que o visitássemos. O breve
contato que tivemos com esse cidadão nos proporcionou importantes informações
sobre o parque, o monge e os vários episódios por ele protagonizados. Por ter
sido mantido fechado durante a pandemia do Covid 19, o parque estava passando
por reparos, porém, alguns passos depois se tiveram a impressão de estarmos,
sim, envolvidos em uma ambiente carregado de energia, de espiritualidade.
Uma
extensa e íngreme escadaria de pedras nos levou a um local onde estavam junto à
rocha imagens de santos e objetos deixados pelos devotos. Fixada na parede, de
tamanho pequeno, havia uma figura do monge. Degraus abaixo, enfim encontramos a
fonte de água que, para os devotos, dizem ser milagrosa. Claro que atualmente
por estar o parque sob a jurisdição do governo paranaense o mesmo perdeu um
pouco sua essência original de espaço sagrado como sempre fora na sua
existência.