UMA BREVE SINTESE SOBRE
O QUE FOI DEBATIDO E ACORDADO NO SEMINÁRIO SOBRE PALMEIRA JUÇARA, PRAIA GRANDE/SC, EM 30 DE MARÇO DE 2023
Anos
a fio de perdas devido a furtos freqüentes sem solução, pela primeira vez o
extremo sul de Santa Cantarina realizou um encontro importante para tratar do
tema Palmeira Juçara, mais conhecida como palmito da mata atlântica. Atualmente
muita gente já deve ter experimentado o delicioso sorvete de açaí, uma iguaria
preparada com o fruto do açaizeiro, palmeira cultivada na região norte do país.
Muitos não sabem que o estado de Santa Catarina, área litorânea e planície marginal
do rio Uruguai, no oeste do estado, são os ecossistemas com maior incidência da
espécie Palmeira Juçara.
O
estado do Rio Grande do Sul, a região norte em especial, também tem grande
incidência da palmeira juçara que integra o complexo bioma da mata atlântica. Por
décadas a palmeira juçara foi usada como insumo importante na construção de
residências, galpões, pontes, telhados de igrejas, etc. Além da madeira, o
palmito se tornou um dos principais alimentos extraídos da parte superior do caule
(estipe) no preparo de muitos pratos de elevado valor nutritivo. Diante elevada
exploração sem limites dessa espécie da mata atlântica a ponto de quase chegar
ao esgotamento definitivo, legislações foram criadas impedindo sua exploração.
Entretanto,
mesmo com todas as legislações em curso ambas não estão sendo suficientes para
conter os furtos contínuos, principalmente no sul de Santa Catarinense.
Diferente do estado barriga verde, o Rio Grande do Sul vem desenvolvendo há
algum tempo programas robustos e eficientes sobre a palmeira Juçara, com o
intuito de manejar de forma sustentável essa espécie. A intenção é cultivá-la
racionalmente com vistas a aproveitar o fruto para a produção sucos e
derivados. O estado vizinho se mostra tão avançado nesse segmento que o próprio
governo do estado, através de sua secretaria do meio ambiente, vem construindo
junto com os produtores e organizações ligadas ao setor de políticas conjuntos
para estimular o setor.
Para
compartilhar com tamanhas iniciativas importantes e construir outras, no dia 30
de março de 2023 o município de Praia Grande/SC sediou o Seminário Regional da Palmeira Juçara – açaí juçara como alternativa na
fruticultura. Rapidinho as mais de cem inscrições disponibilizadas foram
preenchidas com participantes de diferentes regiões do estado catarinense e
gaucho. O evento seguiu por o todo o dia, com palestras de pesquisadores,
parlamentares e relatos de experiências de integrantes de organizações
envolvidas na atividade extrativista.
O
que chamou a atenção no encontro foi entender que a palmeira juçara vem tende
grande relevância na subsistência de centenas de famílias do norte do Rio
Grande do Sul, servindo como agregador de recursos na coleta, processamento e
comercialização do açaí Juçara. Um exemplo importante da importância dessa
atividade é que a mesma vem colaborando para a preservação do ecossistema mata atlântica,
pois parte expressiva desse bioma é constituída por essa espécie. Também deve
ser frisado que a palmeira juçara assume um importante vetor no processo de
adaptação climática.
Quando
se diz que a palmeira juçara é imprescindível no equilíbrio ecossistêmico, estamos
nos referindo à fauna, pois são dezenas de espécies de insetos, aves, mamíferos,
roedores que tem nessa espécie meios para sua subsistência. Além do mais ela ajuda
na adequação do solo, ou seja, tem as suas enormes raízes superficiais
interconectadas com outras plantas promovendo uma espécies de simbiose
sistêmica. Legalmente o agricultor familiar pode inserir a espécie juçara no
seu PRA (Programa de Regularização Ambiental), dispositivo contido no código florestal
e que permanece travado desde a sua sanção presidencial em 2012. No aspecto
nutricional, estudos comprovam que a fruta da palmeira Juçara em nada se difere
ao açaí do norte do Brasil.
O
relato de integrantes da secretaria da educação do município de Três Cachoeiras
sobre os desafios enfrentados para incluir o açaí juçara na merenda escolar das
escolas públicas município foi marcante no encontro. Foi dito que o projeto de
inclusão da fruta no cardápio das escolas se deu a partir de 2009. Dessa data
em diante todas as escolas municipais tem na merenda a polpa da fruta que pode
ser servido associado a outros alimentos, dentre alas a banana. Tanto o açaí Juçara
quanto a banana, ambos apresentam propriedades nutricionais extremamente
relevantes ao bom desenvolvimento integral das crianças e adolescentes. Além do
mais açaí juçara e banana são produtos essenciais na sobrevivência de centenas
de famílias dos municípios da região.
A
proposta não era somente incluir a fruta na merenda sem o desenvolvimento de um
trabalho de educação pedagógica mais consistente. Desse modo a secretaria do município
começou a difundir a cultura da palmeira juçara nas escolas, com palestras,
trabalhos pedagógicos, expondo sua importância ao equilíbrio dos ecossistemas. Em
2017, segundo a palestrante, o município de Três Cachoeiras/RS inscreveu o
projeto sobre o açaí juçara na merenda escolar em concurso promovido pelo FNDE
(Fundo Nacional para o Desenvolvimento Educacional), sendo o mesmo selecionado
entre os dez mais relevantes do Brasil.
Sem
dúvida em termos de importância, claro sem desprestigiar outros temas
discutidos durante o seminário, a presença de duas representantes da SEMA
(Secretaria do Meio Ambiente do Rio grande do Sul) e do parlamentar do PSOL
catarinense, Marquito, garantiram aos presentes a possibilidade de compreender
os níveis de atuação dos dois estados no segmento agrofloestal. Se havia alguma dúvida em relação ao estado
catarinense nesse segmento, a não presença de membros do IMA (Instituto do Meio
Ambiente de Santa Catarina) no seminário, deu o tom to pouco interesse do
governo estadual nesse debate.
Em
relação ao parlamento estadual, representantes dos parlamentares do sul
estiveram na parte da manha no encontro, ausentando-se à tarde quando foi
tratado sobre as legislações e políticas públicas relacionadas ao segmento
agroflorestal. A justificativa apresentada pelo IMA a ausência se deu pelo fato
de o órgão estar em processo de reformulação. Sobre a ausência à tarde dos dois
representantes/assessores dos deputados do sul no seminário, José Sheffer e Thiago Zilli, não foram
justificadas.
A
primeira fala abordando legislações e políticas públicas agroflorestais foi da
analista ambiental da SEMA do Rio Grande do Sul, no qual lamentou a ausência do
órgão ambiental catarinense. De início fez menção as metas internacionais sobre
biodiversidade, que foram referendadas por 193 países, inclusive o Brasil, ocorrida
na COP-10 em Nagoya, província japonesa de Aichi. Ressaltou que das 20 metas
elencadas, cujo prazo de execução seria de dez anos, 2010 a 2020, o Brasil não
cumpriu com profundidade nenhuma delas.
Entre as metas elencadas cabe aqui fazer uma breve consideração a de número 7, que trata sobre áreas destinadas a agricultura, aqüicultura e exploração florestal, que deverão ser manejados de forma sustentável, assegurando a conservação da biodiversidade. De fato o seminário sobre palmeira Juçara, coincidentemente trataria um desses ramos da biodiversidade, o uso sustentável dessa espécie florestal. Acrescentou a representante da SAMA que as metas embora não executadas pelo estado brasileiro serviu no mínimo para estender o debate sobre um novo olhar sobre sustentabilidade. Permitiu compreender que há uma forte dicotomia de raiz europeia separando natureza e demais culturas. Afirmando que há uma ideia exacerbada cercada no naturalismo no qual impede práticas de manejo sustentáveis como sistemas agroflorestais.
Dentre
as iniciativas advindas das metas e Aiche estava o plano nacional de
conservação de espécies ameaçadas. O fato é que o plano pouco resultado teve a
exemplo do projeto de preservação da ararinha azul, que pecou pelo fato do
frágil envolvimento direto da sociedade atuando no bioma da espécie, ficando
restrito apenas para pesquisadores. Mudar
a estratégia de conservação, agora estimulando o envolvimento da sociedade no território[L1]
específico, aproveitando seus modos de vida e experiências de manejos
tradicionais tem se mostrado muito eficiente[L2] .
Trabalhar com planos e praticas
tradicionais locais, integrando cadeias produtivas, devem ser incentivadas para
todo o território nacional.
A
lei da mata atlântica sancionada em 2006 traz no seu texto dispositivos
incentivando práticas sustentáveis, como no que trata do manejo agloflorestal, de
interesse social. O próprio código florestal brasileiro, de 2012, embora se
saiba que teve um papel estratégico para anistiar infratores ambientais, tem no
seu arcabouço, dispositivos onde traz um olhar diferenciado sobre manejo
agroflorestal com baixo impacto ambiental. O fato é que tanto a lei da mata atlântica,
o código florestal, entre outros dispositivos sobre o assunto, ambos não vem
sendo aplicados de fato. O próprio poder público vem negligenciando sua
aplicabilidade.
No
Rio Grande do Sul, norte do estado em especial às práticas da certificação
agroflorestal vem demonstrando enorme sucesso e cuja participação do governo do
estado através da SEMA é decisiva. Conforme relato de uma das integrantes do órgão
ambiental gaucho, a certificação teve início em 2013 ainda de forma rudimentar.
Anos depois o processo foi se profissionalizando, sendo atualmente feito de
forma online e com validade de cinco anos. Relatou também que no norte gaucho o
sistema de certificação atende 26 municípios, 77 famílias e uma área de 570
hectares. A participação do Estado se deve ao fato de o programa ser de
interesse social, promovendo a inclusão de mulheres na atividade agroflorestal,
bem como o retorno e permanência do jovem no campo.
A
fala do parlamentar Marquito representando o legislativo catarinense no
encontro foi muito importante, pois trouxe à luz pequeno esboço do atual
cenário e seus entraves envolvendo a agroecologia no estado. Falou da sua
experiência como parlamentar no município de Florianópolis, seu esforço na
construção de políticas de interesse ecológico no município. Afirmou que o
estado possui um robusto arcabouço legal que garante segurança no manejo
agroecológico, porém, não é traduzido em pratica. O problema, segundo ele, não
é técnico, mas político, ou seja, a cada mudança de governo tudo é alterado, algumas
práticas inovadoras nesse e outros setores da agroecologia ou agroflorestas
ficam reféns da boa vontade dos técnicos da Epagri.
Ressaltou
também que até entende a posição do IMA de não enviar represente para o
seminário alegando estar reorganizando o órgão. Porem, como órgão público
estadual e constituído por servidores públicos já deveria estar preparado para
dar prosseguimento das metas e políticas traçadas no governo anterior. Disse também
que o atual governo criou uma nova secretaria denominada de Secretaria
do Meio Ambiente e Economia Verde, que pouca informação tem sobre ações
da mesma na atividade agroecológica do estado. Diferente do Rio Grade do Sul,
no estado de santa Catarina há forte insegurança jurídica entre os técnicos e
os agricultores nos processos de manejo florestal, embora haja muita gente
manejando atualmente.
No
estado catarinense foi aprovada uma instrução normativa nesse seguimento, que,
no entanto, não avançou, pois não teve interesse político. A solução para
impulsionar a agroecologia no território catarinense seria por meio de projeto
de lei ou a construção de diálogos francos com representantes o órgão ambiental
e do executivo estadual. Também não adianta aprovar legislações quando não se
tem o empoderamento dos servidores e da sociedade na sua execução. Afirmou
Marquito que sua participação na comissão do meio ambiente da assembléia abre
espaços importantes para incluir essas temáticas pouco convencionais nas
discussões com outros parlamentares. Deixou claro que não existem apenas
iniciativas como do manejo sustentável da palmeira juçara no estado, há
iniciativas também no manejo da araucária, butiá e de lenha nativa.
Prof.
Jairo Cesa
file:///C:/Users/LOJA349/Downloads/CERTIFICACAOAGROFLORESTAL___versaodigital1.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário