O
RANÇO DA CASA GRANDE E DA SENZALA AINDA PRESENTE DEPOIS DE MAIS DE UM SÉCULO DA
ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO
Desde
a abolição oficial da escravidão por meio da Lei Áurea ocorrida em 13 de maio
de 1888 assinada pela Princesa Isabel que havia assumido a vaga de Dom Pedro
II, naquele momento, no comando do Império, foram jogados literalmente à rua milhares
de cidadãos sem um devido ressarcimento diante de tamanha maldade sofrida pelos
donos da casa grande. São feridas da nossa história ainda não cicatrizadas que
permanecem vivas e permanente abertas como cancros fétidos de uma sociedade que
se acostumou a aceitar a dor alheia. O fim da escravidão, aquela contra os
negros africanos, no entanto, foi apenas conferido de forma oficial, pois os
ditos libertos tiveram que se submeter às novas regras contratuais criadas pelo
Estado republicano, que muitas vezes jamais foram respeitadas ou cumpridas
pelos contratantes.
Já
no século XXI, quase cento e cinquenta anos da abolição, o Estado brasileiro teve
que criar resoluções para monitorar de perto práticas abusivas de trabalhos
análogos a escravidão. O fato é que a escravidão contra humanos no Brasil
continua existindo, afetando negros, brancos e outras tantas etnias
desassistidas pelo Estado impiedoso. As respostas
vindas dessas investigações mostraram que desde 1995 até o momento foram 60 mil
trabalhadores resgatados em condições que se caracterizaram como trabalho
análogo a escravidão. Diante dessa situação foram ajuizadas centenas de infratores
que tiveram que desembolsar milhões de reais para indenizar os trabalhadores
afetados.
Os
estímulos as essas práticas escravistas foram intensificadas com as reformas
trabalhistas, entre outras, implantadas a partir do governo Michel Temmer. Os dispositivos
inseridos na nova lei permitem maior participação de segmentos terceirizados na
contratação e gestão de serviços, que abriram as portas para o aumento das
irregularidades nas relações contrato e trabalho. Os casos mais corriqueiros
ocorrem no campo, envolvendo culturas de cebola, batatinha, maça, entre outras
atividades sazonais. Normalmente os contratados oriundos de cidades nordestinas
e também do sul são atraídos por propostas de salários tentadores.
Quando
chegam ao local de trabalho os contratados são despejados em locais insalubres,
sofrendo maus tratos e ficando totalmente presos ao contratante diante das
dívidas contraídas. O caso mais recente de trabalho análogo a escravidão
ocorreu no Rio Grande do Sul envolvendo empresas ligadas ao segmento da
vinicultura. Mais de duzentos trabalhadores foram resgatados dessa prática
abusiva no município de Bento Gonçalves. Eram trabalhadores terceirizados que
executavam serviços de colheita de uva para três empresas que atuam na produção
de uva e vinhos, a Salton, a Aurora e a Cooperativa Garibaldi, além de outras
propriedades do setor na região.
Os
resgatados confessaram que sofreram ameaças, até mesmo tendo sido submetidos a
pratica de tortura com choques elétricos. As empresas beneficiadas com os
serviços prestados por esses trabalhadores afirmaram desconhecimento dessas
aberrações. Afirmaram também que repudiam praticas abusivas envolvendo
trabalhadores. O que é um tanto curioso nisso é o fato de tais empresas
alegarem desconhecimento da existência de mais de 200 pessoas prestando
serviços para elas e que ambos atuavam em condições análogas a escravidão.
É
sabido que qualquer empresa ou instituição seria faria um acompanhamento e
controle mais direto dos seus colaboradores, independente de serem ou não
terceirizados. Qualquer contratante sabe que há uma forte incidência de
empresas terceirizadas que descumprem regras trabalhistas em relação aos
contratados. O fato é que a escravidão ainda permanece latente em nosso
cotidiano. Um país com tamanha desigualdade e injustiça social como é o Brasil sempre
tende a reproduzir novos donos de casas grandes e senzalas.
Parte
expressiva desses que exploram o trabalho alheio em benefício próprio ou de
seus pares são os mesmos que se dizem patrióticos, defensores da família tradicional
e da moral cristã. Muitos estiveram ou patrocinaram a ocupação das frentes dos quartéis
pedindo intervenção federal. É possível também que muitos desses escravocratas
modernos tenham engrossado a gang de arruaceiros que no dia 08 de janeiro invadindo
a sede dos três poderes em Brasília com objetivo de promover um golpe de Estado.
Quanto
ao município de Bento Gonçalves, resguardando as particularidades, na última
eleição presidencial de 2022, no segundo turno, o candidato do PL, Jair
Bolsonaro, obteve mais de 74% dos votos. Não precisamos aqui tecer comentários
sobre a relação entre eleitores majoritariamente bolsonaristas e praticam
trabalhistas análogas a escravidão debelada pala justiça envolvendo empresas
ligadas ao setor da uva no município gaúcho.
Prof.
Jairo Cesa
https://sit.trabalho.gov.br/radar/
https://ipe.sit.trabalho.gov.br/#!/
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