O FALSO CONSENSO NA EXPRESSÃO O "MORRO É DE TODOS" PENSADO PELO PELO PODER PÚBLICO DE ARARANGUÁ
Muita
gente já deve ter observado que chegando ao Balneário Morro dos Conventos
alguns lugares, camisetas em especial, tem a escrita a expressão Morro e de
Todos. Afinal, por que a administração publica de Araranguá decidiu usar desse
dispositivo como propaganda publicitária para o balneário. A impressão deixada
vendo essa frase, principalmente para quem e de fora, e que o Morro dos
Conventos pertencia a uma casta de abnegados, que o querem somente para sim. O
motivo pelo qual a administração resolveu escolher essa expressão, que de fato tem
um sentido vingativo, começou em dezembro de 2021.
Na
época houve um encontro nas imediações do parapente, reunindo diversas
autoridades e integrantes de entidades para discutir questões ambientais
relativas ao Balneário. Quem protagonizou o encontro foi o Procurador do Ministério
Publico Federal, cuja sede estava administrativa era Tubarão. Entre os
convocados para o encontro estava, e claro, o chefe do executivo municipal e o
superintendente da FAMA. A partir desse ponto, o grupo, formado por quase vinte
autoridades, saiu para inspecionar a orla do balneário e detectar possíveis infrações
ambientais.
E
importante ressaltar que essas diligências realizadas pelo MPF, são rotineiras
em toda a faixa litorânea, de Laguna a Passo de Torres, área de abrangência e
controlada pela procuradoria de Tubarão. A primeira parada do grupo foi junto
ao Deck, na praia central do balneário, que ainda estava em fase de
estaqueamento. Foi exatamente ali que iniciou todo um imbróglio que viria
desencadear mais tarde em uma onda de protestos e difamações contra o órgão
federal, membros de entidades ambientais e cidadãos preocupados com o frágil
ecossistema do Morro.
Desde
a conclusão preliminar do Projeto Orla em 216, contendo mais de duzentas
demandas elencadas durante três anos de encontros, os gestores públicos que
ocuparam o passo municipal vêm insistindo em negligenciá-las. Dentre as
negligências cometidas estão os decretos municipais que criaram a APA (Área de
Preservação Ambiental), o MONA UC (Monumento Natural Unidade de Conservação) e
a RESEX (Reserva Extrativista). Isso mesmo, além de desconsiderá-las, o atual
gestor público, com uma canetada, extinguiu a APA e reduziu significativamente
a área de abrangência do MONA UC. O
Deck, epicentro da primeira polêmica no balneário, se deu pelo fato do MPF e a
Policia Ambiental, no momento da inspeção constatarem que havia irregularidade
na confecção do projeto.
Por
ser um organismo vivo e dinâmico, dunas frontais são áreas de APP, portanto,
não podem receber estrutura, exceto quando for de real interesse de utilidade
publica. O caso onde o Deck estava sendo edificado não se constituía como de utilidade
pública interesse social e de baixo impacto ambiental. A recomendação do MPF e
da policia ambiental era que os estaqueamentos já fixados sobre as dunas fossem
retirados e a obra do deck, recuado para o estacionamento. Se não fosse a
inspeção realizada naquele momento, mais uma irregularidade ambiental poderia
se somar a outras tantas ocorridas no passado no balneário. Para prosseguir a
saga desenvolvimentista no balneário, o poder público se encarregou de
construir uma blindagem para se proteger das criticas.
Para
isso vem se utilizando das mídias locais atuando como instrumentos de
propagação de uma espécie de discurso consensual sobre todos os atos praticados
pela administração. O problema, portanto, para a administração ainda era a
resistência dos ativistas ambientais, que faziam e vem fazendo o seu dever
constitucional, acompanhar os atos da administração e demais órgãos e denunciá-los
quando constatado possíveis indícios de irregularidades. Parece que o atual
governo municipal não se sente tão confortável no comando do município quando e
afrontado ou criticado por atos equivocados por ele cometidos.
Na
época do encontro, dezembro de 2021, foi questionado sobre a abertura da estrada
entre o Paiquerê e o Morro dos Conventos e cuja resposta foi que abriria custe
o que custasse. O fato e que ninguém era contra a obra, porem, para sua
concretização o poder publico deveria cumprir trâmites acordados pelos
delegados envolvidos no projeto orla. A efetivação de três estudos nos traçados
possíveis para abertura da estrada e considerar o menos impactante, era um
desses acordos. Descumprindo o projeto orla, somente um estudo foi realizado,
sendo que a estrada aberta exatamente onde não deveria, devido a fortes
impactos ambientais.
Criticas
e denuncias continuaram ocorrendo e a administração chancelada pela mídia local
intensificou suas saraivadas de ataques contra qualquer um que viesse por
obstáculos ao alucinado furor desenvolvimentista do balneário. Nas varias
entrevistas dadas pelo chefe do executivo, sempre afirmava que um grupo de
moradores do Morro e alguns “ecochatos” queriam o balneário somente para sim, e
que isso seria combatido a ferro e fogo. Repetidamente dizia que o Morro era de
todos e que todos tem o direito de desfrutar aquele paraíso. Foi assim que
surgiu o insólito lema “O MORRO É DE TODOS” estampado em camisetas, placas e
alguns equipamentos de lazer no Balneário.
Bem,
se o morro e de todos mesmo, deve ser incluído nesse todo cinqueta espécies de
anfíbios catalogados, dos mais de 472 identificados em todo o estado de Santa
Catarina. Alem dos anfíbios, o Morro também pertence a cento e setenta e uma
espécies de aves, muitas das quais, migratórias, que se utilizam da nossa orla
para descansar, se alimentar e concluir seu ciclo de viagem entre os
hemisférios norte e sul. Não podemos deixar de fora também as 12 espécies de
mamíferos, tão importantes como o tuco tuco, espécie de roedor, ameaçado de
extinção devido a farte antroposiação da faixa costeira de Araranguá.
Não
fica somente entre os animas o direito de residir no Morro, a lista de donos do
morro e enorme, incluindo agora espécies da flora, tão importantes, porém,
muito maltratadas pelo homem. Antes da chegada do ser humano no município, todo
o território, mais de trezentos km quadrados, era coberto por cem por cento de
mata atlântica, das mais diversas conhecidas. Atualmente, restam apenas 8% dessa
cobertura no município. Interessante aqui e mostrar que mesmo com toda a
pressão sofrida, a faixa costeira de Araranguá, da foz do rio ao paiquerê, foi
identificadas 342 espécies de vegetação, sendo que ambas divididas em 95 famílias.
Então
estão aqui descritos alguns dos motivos que certos moradores e “ecochatos” do
balneário estarem tão preocupados com a cegueira desenvolvimentista impregnada pela
atual administração no balneário. Mais uma vez deve ser realçado que ninguém e
contra o desenvolvimento, ninguém quer o Morro somente para si, o que se quer
mesmo e que seja cumprido as legislações e as demandas do projeto orla.
Respeitando esses pressupostos formais e as demais centenas de moradores que
integram a fauna e a flora local ai sim
teremos morar de afirmar o Morro e verdadeiramente para todos. Sem a inclusão
desses outros moradores que já habitam esse santuário ha centenas de anos antes
da nossa presença, dificilmente o morro será de todos num futuro bem próximo.
Prof.
Jairo Cesa
file:///C:/Users/LOJA349/Downloads/RIMA_LOTEAMENTO_PAIQUERE_ARARANGUA%20(2).pdf
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