EPISÓDIO
CLIMÁTICO EXTREMO OCORRIDO NO LITORAL NORTE PAULISTA PODE SE REPETIR NO EXTREMO
SUL DE SANTA CATARINA NAS MESMAS PROPORÇÕES!?
Catástrofe em Timbé do Sul/SC - 1995 |
A
tragédia climática que se abateu sobre o litoral norte de São Paulo e que
ceifou a vida de mais de 40 pessoas sendo que outras quarenta mais ou menos
continuam desaparecidas, tem um agravante além dos efeitos do aquecimento
global. Nitidamente se observa a partir
das imagens e vídeos divulgados que o número de mortes foi superior em áreas
consideradas de riscos, principalmente encostas de morros sujeitas a
deslizamentos. O fato é que problemas desse tipo têm sim culpa do público e
seus órgãos ambientais, que fazem vistas grossas às ocupações irregulares. Proporções
Também
não é exclusividade apenas de São Sebastião e outros municípios vizinhos
diretamente afetados pelas chuvas, em toda a costa brasileira, muitas
prefeituras seguem os mesmos vícios, negligenciam ou burlam legislações correlatas.
Reportagens divulgadas pelo jornal nacional confirmaram que entidades que
monitoram terrenos no município paulista haviam alertado a prefeitura da
existência de dezenas de áreas de riscos, que havia a necessidade de remoção
das famílias desses espaços. E por que não foi feito? Claro que deve ter pesado
aí coeficiente político, a certeza de que mantendo o facilitando ocupações
irregulares reverteria em votos e a certeza de vitória eleitoral.
Quem
acompanha os noticiários televisivos diários ou as mídias digitais deve ter
percebido que quase diariamente são noticiadas tragédias desse tipo em alguma
parte do Brasil. A incidência está sendo maior na faixa litorânea do território
brasileiro, área densamente habitada. As principais cidades e capitais hoje
super povoadas estão situadas exatamente na faixa litorânea brasileira, formada
na sua maioria por uma complexa geografia de morros, serras, antes coberta por densa
floresta da mata atlântica. Essa ocupação desordenada vem acontecendo
desde a chegada dos portugueses. Acontece que ficou mais evidenciado na
primeira metade do século XX com o crescimento dos fluxos migratórios.
O
sul do Brasil, com ênfase ao estado de Santa Catarina, o cenário de ocupação
também é preocupante. Acontece que quase toda a faixa costeira do estado é
margeada pela serra geral que concentra parcela significativa da população. Nas
últimas décadas o estado catarinense vem sendo acometido por fenômenos
climáticos extremos, estiagens prolongadas e chuvas torrenciais provocando
enchentes históricas, deslizamentos de encostas e centenas de perdas humanas.
O
episódio trágico do Morro do Baú na região de Blumenau em 2008 que causou
dezenas de vítimas foi sem dúvida uma das maiores catástrofes climáticas do
estado ocorrida no começo do século XXI. Ocorreram outros parecidos como de
1995 no extremo sul do estado, quando uma gigante tromba d’água no município de
Timbé do Sul, trouxe abaixo milhares de árvores e toneladas de pedras. Dezenas
de pessoas perderam as vidas, além de prejuízos milionários à infraestrutura da
região.
O
Furacão Catarina de 2004, ciclones bombas, estiagens históricas como de 2011,
ambos também devem ser incluídos entre os fenômenos extremos ocorridos e que
tem relação sim com as mudanças climáticas em curso no planeta. Se há certeza
que o clima global está mudando radicalmente então seria conveniente criar
novos conceitos em relação às políticas públicas de ocupação urbana,
especialmente nas áreas sujeitas a algum tipo de intempérie natural.
A
região do extremo sul de Santa Catarina, mais especificamente o município de
Araranguá, pela sua posição geográfica e epicentro de episódios climáticos como
o Furacão Catarina já deveria estar adotando políticas de ocupação fundiária de
modo a mitigar possíveis fenômenos extremos futuros. Em 2004 quando ocorreu o
furacão Catarina, nos vários encontros ocorridos posteriormente para debater o
assunto, o que ficou acordado foi a elaboração de planos com vistas a treinar a
população para se proteger e evacuar a cidade em uma eventual emergência.
Quase
vinte anos se passaram após o furacão e até hoje nada de concreto foi executado
conforme havia sido proposto. Talvez poucas pessoas admitem que um furacão da
intensidade da do Catarina possa ocorrer novamente na região. Se prestarmos
atenção no comportamento das estações nos últimos anos, perceberemos que há um
descontrole bem acentuado, tanto no que se refere às chuvas e temperaturas.
Invernos e verão estão se confundindo, ao pondo de temperaturas absurdamente
elevadas ocorrerem em pleno inverno, e frio extremo no verão.
Embora
o volume de chuvas anualmente permaneça inalterado, acontece que as
precipitações vêm acontecendo de forma irregular, ou seja, grandes índices
pluviométricos caem em pouco espaço de tempo.
O caso ocorrido no litoral norte paulista serve para elucidar essa
afirmação. Foram quase 700 mm de precipitação em pouco mais de 24 horas.
Paralelo ao que ocorreu em São Paulo, os municípios de Araranguá e Balneário
Arroio do Silva também sofreram as consequências dessa instabilidade climática
do sudeste brasileiro. Em 24 horas choveu no Balneário Morro dos Conventos mais
ou menos 200 mm.
Desde
2008 venho monitorando as chuvas na parte alta do balneário Morro dos Conventos
por meio de um pluviômetro instalado em minha residência. O que foi verificado nos
quase quinze anos de acompanhamento das chuvas naquele ponto é que há uma possível
peculiaridade climática ali localizada e que deve ser acompanhada com mais
atenção. Diversas vezes o volume de chuva precipitado sobre Morro dos Conventos
foi nitidamente superior as demais estações meteorológicas instaladas no
entorno.
A
fixação de uma estação meteorológica nas proximidades do farol se mostra
necessária, pois ajudará o poder público num planejamento mais eficaz nos projetos
de infraestrutura turística. Além de precipitações irregulares e extremamente
volumosas em curto espaço de tempo, outro fenômeno observado e cada vez mais
frequente e violento são as ressacas decorrentes de ciclones extratropicais. Se
no litoral paulista choveu aproximadamente 700 mm em pouco tempo, não está descartado
que tal episódio extremo do clima ocorra também na faixa costeira de Araranguá.
O
que se vê são projetos de infraestrutura turística executados no balneário sem
levar em consideração os fatores climáticos extremos frutos do aquecimento
global. Tanto o mirante localizado no farol quanto o deck construído na orla,
ambos estão suscetíveis a sofrerem serias avarias, ou por deslizamentos de
rochas ou ressacas. A construção da estrada de ligação da praia do balneário ao
paiquerê foi outra obra cujos executores negligenciaram os movimentos extremos
da natureza que estão intensamente impactando aquele local.
A
última chuva ocorrida no dia 20 de fevereiro de 2023 já deu uma mostra que a
estrada terá vida curta. Se tivermos a ocorrência de ressacas fortes e frequentes
como as ocorridas em anos anteriores, a estrada, nos pontos cortados por dois
córregos será profundamente avariada ficando intransitável. Se legislações como
o código ambiental municipal fossem levadas a serio pelas administrações
públicas, muito dinheiro e vidas humanas poderiam ser preservados.
Em
2012 foi aprovada pela Câmera Municipal de Araranguá a Lei Complementar
149/2012 que instituiu o código ambiental municipal. Dentre as prerrogativas
inseridas no documento está a Sessão III que trata da proteção dos recursos
hídricos superficiais e subterrâneos.
Nessa sessão o Artigo 97, apresenta a seguinte redação: “Na gestão dos recursos hídricos, a FAMA
deverá desenvolver programas de monitoramento da qualidade das águas”. Nesse
mesmo artigo, está o § 6 que diz: a “FAMA elaborará cadastro das nascentes do
município com objetivo de preservá-las”.[1]
Se foi feito esse cadastramento das nascentes pouca gente tem conhecimento.
No
Morro dos Conventos são inúmeras as nascentes que geralmente só se manifestam
durante chuvas torrenciais, são as conhecias nascentes intermitentes. Se
existisse realmente um cadastro das mesmas obras como a pavimentação com
lajotas da Rua Vacaria poderia ter recebido mais atenção de quem a planejou.
Por que da atenção? Quem mora próxima à rua sabe que ali há uma nascente
intermitente, que sempre aflora em períodos de fortes chuvas. Dito e feito foi
só ocorrer a primeira chuva um pouco mais s forte que trecho da estrada ficou
intransitável, pois o terreno cedeu devido a pressão da água que veio de baixo
para cima.
O
corte da vegetação no paredão da Rua Caxias junto ao hotel morro dos conventos,
também deveria ter merecido maior atenção dos seus executores. Quem transitou
pela rua durante a chuvarada deve ter percebido a quantidade de água que descia
do morro formando uma cachoeira. Esse acontecimento jamais foi observado quando
existia a vegetação que cobria aquela área, pois as arvores formavam uma
espécie de amortecedor diminuindo os impactos da chuva. Vamos imaginar agora uma precipitação superior
a 200, 300, ou até mesmo 400 a 500 mm em 24 horas. Fato é que já choveu 140 mm
em novembro de 2022 e 200 mm no último dia 21 de fevereiro de 2023.
Segundo
os meteorologistas a temperatura da água do oceano atlântico na costa
brasileira está relativamente quente, entre 25 e 26 graus centigrados. Para
formação de um furacão as temperaturas têm de estar acima de 26 graus. Mês de
março está chegando, normalmente é na transição entre uma estação a outra,
outono para inverno ou primavera para o verão que são mais frequentes a
ocorrência de fenômenos extremos do clima.
Aguardemos os próximos capítulos e ficaremos torcendo para que nada de
excepcional no tempo ocorra em nossa região.
Prof.
Jairo Cesa
https://blogdoenem.com.br/furacao-catarina-geografia-enem/
ttps://revistaforum.com.br/brasil/sudeste/2023/2/23/tragedia-anunciada-prefeitura-de-so-sebastio-foi-alertada-pelo-mp-sobre-risco-na-vila-sahy-131803.html
https://www.redebrasilatual.com.br/ambiente/eventos-climaticos-extremos-relacao-acao-humana/
https://www.youtube.com/watch?v=n2sGbtA6Ib8
[1] Seção III
Da Proteção Dos Recursos Hídricos Superficiais e Subterrâneos
Art. 97 Na gestão dos recursos hídricos, a FAMA deverá
desenvolver programas de monitoramento da qualidade das águas.
§ 6º A FAMA elaborará cadastro das nascentes do
município com o objetivo de preservá-las.
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