MUDANÇAS
CLIMÁTICAS GLOBAIS E SEUS REFLEXOS NA FAIXA COSTEIRA DO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ
BOLHA DE CALOR TRARÁ PERÍODO QUENTE MUITO PROLONGADO E ATIPICO - SUL DA AMERICA DO SUL |
Microexplosão
de nuvens, acompanhada por chuvas torrenciais no extremo sul de Santa Catarina
foram mais uma vez reflexos de um clima global em profundas mudanças. Se fossem
episódios comuns, naturais, o litoral norte de São Paulo não teria recebido
volume tão assustador de chuva em pouco tempo, fato que levou à morte de mais
de cinquenta pessoas. Sem contar os problemas estruturais e prejuízos materiais
que poderão levar meses até mesmo anos para serem recuperados.
Se
fosse somente o norte de são Paulo e o leste de santa Catarina os únicos
epicentros dos fenômenos extremos do clima, talvez não merecesse tamanha
atenção dos meteorologistas e outros profissionais do clima. O fato é que esses
episódios climáticos vêm se repetindo com muita frequência e extrema violência
nos últimos anos, principalmente nos municípios situados na faixa costeira do
Brasil.
https://www.poder360.com.br/brasil/governo-repassa-mais-r-2-mi-para-cidades-do-litoral-paulista/ |
O
furacão Catarina em 2004, ciclones bombas, tornados, temperaturas escaldantes,
geadas em pleno novembro, enchentes e estiagens históricas como que vem
ocorrendo no oeste do Rio Grande do Sul, são situações que requerem
acompanhamentos e debates mais consistentes entre pesquisadores e autoridades
públicas. A maior incidência de episódios extremos do clima, a exemplo das
chuvas torrenciais na faixa costeira, tem relação com o aumento da temperatura do
oceano atlântico nessa região, oscilando entre 25 e 26 graus.
A
existência de uma extensa barreira de morros e a serra geral coberta de
vegetação, com temperaturas mais amenas, faz com que as extensas massas de
nuvens carregadas de umidade, vindas do oceano, ao chocarem com essas áreas
mais frias resultem em enormes volumes de chuvas. É perceptível que essas
anomalias do tempo estão acontecendo com mais frequência e intensidades em toda
a faixa litorânea do estado de Canta Catarina. Outro motivo além das barreiras
físicas é a posição geográfica do estado, área de convergência subtropical de
elevada incidências de anomalias como de ciclones extratropicais.
Algo importante que deve ser destacado e servir de alerta a toda a sociedade. Nos últimos quatro ou cinco anos a costa marítima do estado de Santa Catarina foi violentamente assolada por ressacas que provocaram danos em muitos municípios costeiros. A maior presença de ressacas e chuvas torrenciais está associada, sim, as mudanças do clima motivadas por fatores antrópicos. Outro aspecto também importante e que deve servir de alerta. Em 2004 quando ocorreu o furacão Catarina cujo epicentro foi o extremo sul de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul, ocorreu combinações do tempo muito similar ao momento atual. Uma dessas combinações são as temperaturas da água do oceano atlântico, mais aquecida que a habitual. O fato é que estando a água mais quente a tendência é o aumento da evaporação, além, é claro, do degelo das calotas polares.
Frente
a esses fenômenos climáticos mais frequentes e previsíveis, todos os municípios
costeiros já deveriam ter em seus planos diretores dispositivos que mitigassem
ao máximo os impactos provocados por todas essas combinações atípicas do tempo.
A impressão é que todas essas anomalias não estão sendo suficientes para
sensibilizar os governantes, que insistem em atuar com políticas de
infraestrutura em áreas costeiras como se tudo tivesse normal.
Quem
já viajou pela rodovia BR 101 que margeia toda a costa catarinense de sul a
norte, deve ter percebido a quantidade edificações em execução em cidades como
Balneário Camboriú, Itapema, entre outras. Grande parte dessas construções ocorreram em
áreas suscetíveis a algum impacto ambiental. Entretanto, paralelo a esse
crescimento em infraestrutura, cresce também o fenômeno migratório, de
populações que ocupam as periferias e áreas consideradas de riscos como margens
de rios e encostas de morros. O litoral norte do estado de são Paulo é um bom
exemplo desses desarranjos políticos.
A
valorização absurda dessas áreas costeiras leva ao surgimento de máfias ligadas
ao segmento imobiliário. Geralmente esses setores mantêm relações de
aproximação com os poderes constituídos municipais como câmaras de vereadores,
prefeituras e seus órgãos ambientais. Muitos municípios importantes da faixa
costeira do estado de Santa Catarina já possuem planos de gestão de toda a orla,
cuja construção desses documentos teve a participação direta da sociedade. Esse
documento/plano, em tese, tinha como promessa uma ocupação mais ordenada desses
espaços dos quais foram distribuídos em zonas de interesse.
Em
tese, o que de fato se vê nesses municípios é o total negligenciamento dessas
diretrizes contidas nos planos. Há exemplos até de municípios como Araranguá,
que possui um projeto orla construído e três unidades de preservação aprovadas
por decreto como demanda, que há seis anos todos os governantes que assumiram o
paço municipal insistem em descumprir as mais de duzentas demandas elencadas no
plano. Esses são um dos inúmeros motivos que estão levando ambientalistas e demais
cidadãos a protocolarem denúncias junto ao MPF, MPSC e POLICIA AMBIENTAL, por
práticas antiambientais cometidas por particulares e o poder público no
Balneário.
Uma das respostas é a complexidade geomorfológica de toda a região que é constituída por dunas quaternárias e vegetação de restinga. Por essa e outra razão o lençol freático do lugar é extremamente raso, aflorando sempre quando chove um pouco mais. Isso aumenta o risco de contaminação por coliformes fecais toda a orla do Morro dos Conventos. Mesmo com pouca chuva é possível observar a presença de poças d’água em toda a extensão. O último plano diretor aprovado pela câmara municipal autoriza a construção em áreas ditas consolidadas, ou seja, áreas adquiridas no passado, ainda não edificadas, e interpretada pelo poder público como regulares e passíveis de edificações.
A questão é, e aqui entra a polêmica, para que novas construções fossem licenciadas para o local já deveria estar disponível um complexo sistema de tubulações para coletar e tratar o esgoto produzido. Especula-se que já existe um projeto em tela na prefeitura, porém, não se sabe exatamente quando terá início a execução da obra. O que é fato concreto é que todos os dias se observam novas obras em execução no balneário elevando ainda mais a chance de a água, limpa e cristalina, que atrai milhares de veranistas e turistas todos os anos, vir a se tornar completamente imprópria para o banho.
O
melhor momento para observar os riscos de o balneário vir a ser em breve uma praia rejeitada por turistas é agora,
quando a região está sendo acometida por fortes chuvas. Quem transita pelas
ruas da parte baixa do balneário pode perceber que o lençol freático está
aflorando e escorrendo na superfície. Por ser temporada de verão onde centenas
de pessoas estão ocupando suas residências é sabido que todo o esgoto lançado às
fossas está se misturando com a água oriunda do lençol freático.
FOTO - JAIRO |
O
problema do lençol freático vem se mostrando mais complexo todos os anos haja
vista já que estamos vivendo problemas oriundos das mudanças globais do clima.
As últimas precipitações no balneário fizeram com que a água acumulada
invadisse até mesmo residências provocando prejuízos materiais. Isso tudo
merece atenção das autoridades sobre as políticas de ocupação imobiliária no
balneário. O fato é que existem áreas de risco extremo, que trará muita dor de
cabeça aos proprietários e ao poder público se construções forem autorizadas. Algumas
dessas áreas já foram embargadas pela justiça por ocorrências de vícios
processuais nos seus licenciamentos.
Outro
detalhe também importante. A intervenção permanente de ambientalistas e demais
cidadãos, ambos sensíveis as causas ambientais, levando ao conhecimento de
autoridades competentes como o MPF de irregularidades cometidas por
particulares e o poder público na execução de obras duvidosas, vem se
caracterizando como imprescindíveis à preservação daquele santuário ecológico.
Mesmo com todo o empenho desse segmento em defesa desse singular Oasis do
litoral catarinense, o poder público vem pondo em prática seu plano de “passar
a boiada” no que tange as regras ambientais que requerem estudos mais
consistentes de áreas recebedoras de obras estruturantes para alavancar o
turismo.
A
abertura da rua ligando o balneário ao paiquerê é um desses projetos fadados ao
fracasso. E por que dessa certeza? Há quarenta anos aproximadamente foi também
aberta rua no mesmo traçado da de hoje. As forças dos ventos, das chuvas e ressacas
tornaram aquela via intransitável em pouco tempo. Se observarmos o atual
traçado, aberto há menos de dois meses, podemos concluir que as últimas chuvas
já comprometeram um trecho da rua. O problema ainda não é pior porque não houve
a ocorrência de ressacas de média ou grande expressão, que são mais comuns no
inverno.
FOTO - JAIRO |
FOTO - JAIRO |
Ressaltando
mais uma vez, nem ambientalistas, nem moradores do balneário são contra o
desenvolvimento dessa região de extraordinário potencial turístico. Insistimos
que não estamos atuando para inviabilizar ou atrapalhar os gestores no seu
árduo trabalho de administrar o município de Araranguá. O fato é que a cada
quatro ou oito anos gestores passam e outros chegam à prefeitura de Araranguá. Enquanto
isso nós cidadãos, ambientalistas, permanecemos, sempre com os mesmos objetivos,
nos oferecendo para compartilhar nossas experiências com os que ocupam a
cadeira do paço municipal.
Até
hoje jamais houve uma integração pacifica entre ambientalistas do morro dos
conventos e integrantes do legislativo e do executivo municipal. Seria pelo
fato de não compactuarmos com suas posturas e argumentos nada convincentes
sobre meio ambiente, particularmente o meio ambiente do Balneário Morro dos
Conventos? Por que de tanta rejeição, perseguição e criminalização àqueles que insistem
cumprir seus papéis preconizados pela constituição brasileira, que é fiscalizar
e denunciar práticas ambientais abusivas por parte daqueles que teriam por prerrogativa,
proteger.
Claro
que a rejeição se dá pelo simples fato não compactuarmos com as
irregularidades. Se realmente as ações de denúncias praticadas por tais indivíduos
fossem infundadas, muitos desses já teriam respondido alguma ação na justiça e sido
condenados por crimes de falsidade ideológica ou dano moral. Nos quase quinze
anos de existência do grupo ambientalista no balneário nenhum dos seus membros
foi alvo de ação condenatória por ter praticado algum ato ilícito. Isso mostra
que a existência de ativistas defensores do meio ambiente em qualquer lugar se
torna importante para o equilíbrio das forças entre o poder público e a
sociedade civil.
Prof.
Jairo Cesa
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