A EEB DE ARARANGUÁ É UM EXEMPLO DE ESCOLA PÚBLICA QUE COMPROVA
QUE A PESQUISA CIENTÍFICA PODE TRANSFORMAR PESSOAS E O MUNDO
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Historicamente
as experiências de projetos científicos desenvolvidos em escolas públicas
catarinenses e que permaneceram ativos depois de pleitos eleitorais, são
ínfimas. A história nos revela que nos últimos trinta ou quarenta anos de
educação brasileira, a duração dos projetos científicos teve o mesmo período de
tempo dos partidos ou governos a frente de administrações, ou seja, quatro
anos. São contadas nos dedos, as escolas que se superaram as descontinuidades
de políticas educacionais nada relevantes às mudanças de paradigmas, pautadas
em modelos autônomos, críticos, sem ou com o mínimo de apoio dos governos nas
suas execuções.
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A
EEBA de Araranguá é um exemplo de instituição de ensino que pode servir de
referência às demais escolas espalhadas pelo estado e o país. Mais uma vez ratifico a afirmação que o mérito
reconhecido a essa unidade de ensino em se tratando de projeto de pesquisa se deve
a ousadia e insistência do corpo gestor, discente e docente, que desafiaram as
adversidades e descontinuidades políticas para se consolidar como uma das
pioneiras no campo da inovação pedagógica.
O
que ficou explícito quando desafiamos as amarras políticas pedagógicas nada
producentes e transformadoras, que a pesquisa nas escolas não se materializou
pelo fato de estar nela o antídoto da ruptura do modelo de escola que aprisiona
a criatividade. O projeto sustentabilidade na EEBA cuja temática proposta foi
investigar o consumo e os desperdícios de energia e água na instituição
demonstrou que a pesquisa na escola é capaz sim de melhorar os níveis de
aprendizagem como também elevar a autoestima de toda a comunidade escolar.
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A
elaboração de um plano de trabalho bem consistente e a montagem de uma equipe
responsável e participativa foi o primeiro estágio para o sucesso da empreitada
iniciada em 2016. O registro por meio de relatório e imagens de todas as ações
desenvolvidas durante a trajetória da pesquisa impediu que o grupo andasse em
círculo, repetindo ações já executadas. Esse é, portanto, um dos grandes
pecados cometidos pelas escolas, o não registro das atividades e o pouco hábito
de realizar reuniões permanentes para avaliação e tomada de decisões. Três anos
na coordenação do projeto sustentabilidade na EEBA possibilitou compreender que
as escolas públicas catarinenses e brasileiras estão longe de se igualar a de
países que conquistaram níveis de excelência em educação.
As
escolas brasileiras ainda permanecem engessadas, atreladas as tarefas
repetitivas e nada producentes socialmente. O PNE e a BNCC embora trazendo um
discurso inovador e até mesmo transformador, ambos esbarram no modo como as
escolas estão estruturadas, produção em séria de mão de obra barata para o
mercado de trabalho. A escassez de recursos para a recuperação de escolas e
aquisição de equipamentos pedagógicos me fez refletir sobre buscar soluções a
tais demandas sem impactar financeiramente os cofres públicos.
Vendo
que a temática ambiental permeava os debates e programas de ensino das escolas,
surgiu a ideia de aproveitar a oportunidade e adentrar num campo quase
despercebido aos olhos de todos nas escolas, porém, estratégico ao satisfatório
funcionamento das mesmas. Refiro-me ao uso eficiente ou não da água e energia
elétrica na instituição. Intrigava uma escola pública tradicional como a EEBA,
cujos extratos das contas de luz e energia elétrica demonstravam que algo de
errado vinha ocorrendo nesses seguimentos, que os valores pagos pelo estado aos
órgãos fornecedores estavam acima da normalidade.
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Não
havia dúvida que parcela significativa dos valores cobrados era decorrente de
desperdícios, que bastava ter em mãos os extratos para comprovação. Diante
disso, o projeto elencado na escola teve como objetivo investigar o consumo e
desperdícios de tais demandas nos últimos cinco anos. Se na EEBA o problema dos
desperdícios foi confirmado, era de prever que nas demais escolas da rede
estadual havia também indícios de desperdícios.
Não
foi necessário muito esforço para comprovar que as escolas estaduais da
regional de Araranguá também sofriam com os desperdícios e que era necessário
alertar as autoridades para contê-los. Embora o tema do projeto água e energia
tenham possibilitado a abertura para outras frentes afins, o eixo central
permaneceu. Parcerias com instituições importantes como a UFSC e CELESC deram
um UP de credibilidade a tal iniciativa.
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Palestras,
debates, feiras interdisciplinares e saídas de campo, passaram a fazer parte do
cotidiano da escola, se traduzindo em regra e não mais em exceção como é
corrente nas unidades de ensino. A insistência era para que o projeto
adquirisse identidade própria, que pudesse se consolidar como eixo central da
escola, que todas as demais áreas orbitassem no seu entorno como uma força de
atração gravitacional. Enquanto não fosse consolidada tal temática no cotidiano
da escola, havia a expectativa de repetição do ciclo vicioso de projetos não
concluídos no passado.
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Com a aposentadoria de uma das
coordenadoras do projeto e com todas as dificuldades impostas por uma escola
ainda imatura no campo da pesquisa, o ano letivo de 2019 passou a dar sinais de
que as chances do projeto permanecer ativo eram mínimas. Há poucos dias para seguir
o caminho de minha companheira, coordenadora do projeto, a aposentadoria, fui
surpreendido com a alegre notícia de que duas colegas professoras estavam
interessadas em desenvolver um tema ligado a sustentabilidade ambiental para a
feira interdisciplinar programada para o mês de setembro de 2019.
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A
notícia reavivou as esperanças da permanência do projeto, pois sabia que essa
seria a oportunidade de fazer com que o projeto continuasse. Uma reunião foi
realizada na biblioteca com a presença das duas professoras e três estudantes.
Depois de uma breve explanação do projeto, o grupo decidiu abordar a temática
água. A proposta elencada pautaria primeiro no levantamento do consumo per capta de água em seis escolas estaduais no município de Araranguá. Para ajudar a
pesquisa, o grupo obteve os extratos das contas de água dessas escolas do órgão
fornecedor do município, o SAMAE.
Embora
a proposta motivadora da pesquisa fosse a feira interdisciplinar da EEBA, o
grupo se inscreveu para apresentar os resultados do trabalho num importante
evento internacional, o INFOMATRIX, que ocorreu no município de Araranguá, nas
dependências da Escola Murialdo. Os
trabalhos apresentados de diferentes escolas do estado, Brasil e de outros
países, tiveram caráter competitivo.
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Pela
relevância e qualidade da pesquisa desenvolvida pelo grupo que representava a
EEBA, os integrantes obtiveram a medalha de prata, sendo a proposta indicada
para outro evento similar previsto para outubro, em Novo Hamburgo, a 34ª MOSTRATEC (Mostra Brasileira e Internacional de Ciência e Tecnologia). Nesse evento
estarão expostos mais de 750 trabalhos classificados, representando vinte
países, dentre eles o projeto da EEBA, Diagnóstico do Consumo de Água das
Escolas Estaduais do Município de Araranguá, SC.
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Antes
de participar da MOSTRATEC em outubro, o projeto foi apresentado na feira
interdisciplinar da escola EEBA para estudantes e toda a comunidade escolar. Em
contato com uma das professoras coordenadoras da pesquisa, a mesma revelou que
Santa Catarina é um dos estados da federação que menos investe em pesquisa
científica nas escolas. A comprovação disso pode ser comprovada com o ínfimo
número de unidades de ensino do estado inscritas para a MOSTRATEC em Novo
Hamburgo, cinco escolas apenas.
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A
presença da EEBA em um evento de tamanha importância como foi o INFOMATRIX e
agora indicado ao MOSTRATEC, é um importante indicador de que a pesquisa
transforma pessoas e o mundo. Não há dúvida que para os protagonistas do
projeto suas vidas jamais serão as mesmas. Agora imaginemos essa experiência
transformadora sendo multiplicada para centenas, milhares de estudantes no
estado e no país? Embora o cenário político brasileiro atual não seja tão
promissor nesse sentido, o que temos a fazer é unificar as forças para resistir
aos violentos ataques desferidos pelo governo federal às escolas públicas.
Prof.
Jairo Cezar
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