LEGISLATIVO DE ARARANGUÁ
DESRESPEITA COMITÊ GESTOR DO PROJETO ORLA APROVANDO LEI QUE COMPROMETE ÁREA DE
PRESERVAÇÃO INTEGRAL NO MORRO DOS CONVENTOS
De
2014 a 2016 representantes da sociedade civil organizada, organizações
ambientais, segmentos empresariais e integrantes do poder público municipal e
estadual, entre outros, estiveram envolvidos em dezenas de encontros e
oficinas, onde foram discutidas e executadas uma série de demandas relativas ao
projeto orla da faixa costeira de Araranguá. No final dos encontros em 2016,
foi elaborado um PGI (Plano de Gestão Integrada), onde constam inúmeras
demandas, divididas em classes de importância e com prazos para o seu
cumprimento. Já que o ano de 2016 era final de governo, gestão 2012/1016, e
algumas leis do plano diretor seriam votadas até dezembro, dentre elas uso e
ocupação do solo envolvendo também o Morro dos Conventos.
Como
já vem sendo praxe em várias administrações onde a pressão dos particulares ou
grupos de interesses se sobrepõe ao coletivo, na calada da noite, as vésperas
da votação da lei do plano diretor, emendas aditivas para mudar dispositivos do
projeto foram acrescidas e aprovadas pelo legislativo. Essa postura nada
democrática do legislativo municipal deixou um rastro de apreensão e dúvida no
ar, pois de acordo com o regimento do projeto orla, qualquer alteração,
supressão ou aditivo no PGI, deve partir primeiro de realização de reunião com
os membros do grupo gestor do projeto orla, criado em 2017.
Embora
inúmeras demandas do PGI não contemplassem integralmente as entidades ligadas
ao meio ambiente, um ponto positivo e visto como uma grande conquista para o
município foi a sansão por parte do executivo municipal de três decretos
criando três unidades de conservação (RESEX, APA E MONA-MONUMENTO NATURAL) em
toda área que integra o projeto orla. A partir da criação dessas unidades
caberia ao município por parte grupo gestor do projeto orla, a escolha dos
chefes das unidades de conservação, data essa que expirou em 2018.
Durante
o ano de 2017 varias reuniões com o grupo gestor ocorreram, porém, o governo
municipal e o próprio legislativo sempre se mostraram um tanto reticente a
autonomia do grupo gestor com estatus de poder para deliberar e vetar tudo que
afronta o PGI. No final de 2018 o presidente e a secretária do comitê gestor do
projeto orla solicitaram desligamento da entidade pelo fato de ambos terem
pedido demissão dos seus cargos na administração municipal.
Daquele momento em diante, apenas um encontro
com o novo presidente e o comitê ocorreram, porém, nada foi deliberado for
insuficiência de quórum. Não há dúvida que a administração municipal não
demonstra qualquer interesse em dar continuidade com os encontros para o
comprimento das metas do PGI. Enquanto
isso, o Morro dos Conventos e toda a extensão de cobertura da APA vêm sofrendo
alterações e ocupações do seguimento imobiliário com impactos visíveis aos
ecossistemas locais.
A
regulamentação das três unidades de conservação através de um plano de gestão
sistematizado iria definir regras claras sobre tipos de habitações e níveis mínimos
de impactos ambientais. Aquilo que
temíamos sobre os riscos dos decretos sofrerem alguma alteração para torná-los
mais permissivos ao capital, aconteceu. Em 2017 o decreto relativo a APA teve
um de seus artigos suprimidos relativos a vegetação de restinga.
O
agravante é que a mudança se deu no COAMA, sem ter passado por uma discussão
mais ampla no comitê gestor. Se mudanças no decreto de uma das unidades foram
possíveis sem qualquer reação contrária, era possível que daquele momento em diante
outras interferências do executivo e legislativo viesse a ocorrer no PGI ou
Plano Diretor das zonas que estão integradas ao projeto orla.
Não
demorou muito veio a notícia de que na câmara de vereadores um projeto de lei
tramitava para alterar dispositivo do plano diretor favorecendo interesses
particulares. Numa das seções da câmara que seria votado o projeto de lei, n.
017/2019, a pressão de alguns legisladores fez com que a proposta fosse tirada
da pauta para maiores discussões. Um ofício foi destinado ao presidente da
câmara de vereadores solicitando que o mesmo enviasse o projeto de lei ao
comitê gestor para a apreciação dos delegados.
No
entanto, o respectivo legislador desconsiderou o documento enviado, cuja
votação e aprovação com 9 votos a favor e 5 contras, ocorreu em sessão da
câmara no mês de agosto. Não há dúvida que a respectiva lei aprovada é passiva
de anulação, pois além de passar por cima do comitê gestor, com status de poder
para deliberar sobre tal matéria, a mesma lei desconsiderou o decreto que inclui
a respectiva área modificada como pertencente ao MONA-UC (Monumento Natural
Unidade de Conservação).
O
agravante nessa lei é que é que a unidade de conservação afetada é de uso
integral, ou seja, para promover qualquer alteração deve primeiro partir do
plano de manejo, que ainda não foi sancionado. Somente através do plano de
manejo que é possível solicitar a inserção de um novo zoneamento. Portanto, não
é constitucional a câmara de vereadores deliberar matéria sobre áreas do
projeto orla, sem prévia consulta com o comitê gestor do mesmo.
Os
legisladores que votaram a favor da aprovação da matéria agiram de má fé contra
uma sociedade inteira, que por quase quatro anos estiveram representadas por
seus delegados, que ajudaram a construir um plano de ocupação sustentável do
solo. Muitos dos vereadores, que votaram pele deferimento do projeto,
possivelmente não têm qualquer compreensão do que foi o projeto Orla e o PGI
elaborado.
Mais
uma vez repudiamos a atitude desses vereadores e do presidente da câmara por
não ter atendido a solicitação dos delegados do comitê gestor para realização
de encontro visando discutir a proposta de lei que tramitava na casa. Se a
respectiva lei não foi derrubada pela justiça, estará em xeque todo um árduo
trabalho de anos de dedicação e elevado custo financeiro. O morro dos conventos
e toda faixa costeira do município de Araranguá são o nosso rico e complexo patrimônio,
porém, por ser frágil exige enorme cuidado por parte de todos nós. O exemplo
desse cuidado deveria partir primeiro do seguimento administrativo e dos
legisladores, que infelizmente estão deixando muito a desejar.
Prof.
Jairo Cezar
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