MOSTRA CIENTÍFICA NAS ESCOLAS
ESTIMULA ESTUDANTES À PENSAREM SOLUÇÕES
AOS PROBLEMAS DO COTIDIANO SOCIAL
O
incentivo a atividades educacionais como mostras de ciências ou feiras
interdisciplinares são exemplos de ações que podem fazer diferença na vida do/a
estudante, pelo fato da escola se tornar o primeiro laboratório para pensar
soluções aos problemas que afligem a sociedade. Tanto a LDB quanto as
resoluções sancionadas depois como o Plano Nacional de Educação (PNE), ambos
dão ênfase a iniciação à pesquisa a partir das primeiras fases do ensino
infantil. Entretanto, o modelo educacional ora vigente, com raras exceções, não
dá garantia que essas iniciativas sejam disseminadas como regra geral do
processo aprendizagem.
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Foto - acervo - Jairo |
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O
que deveria ser prática diária nas escolas tornou-se exceção de um dia ou
algumas horas, onde estudantes expõem suas produções científicas à comunidade.
Embora ainda estejamos longe de uma educação ideal, as amostras científicas
infelizmente refletem o abismo estratosférico entre escolas públicas e
particulares. Enquanto as escolas
públicas padecem de infraestrutura mínima para o exercício da profissão
docente, escolas particulares de excelência são vistas como verdadeiros tubos
de ensaio, prelúdios para o ingresso de jovens às universidades e áreas de
comando da economia e política.
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Foto - acervo - Jairo |
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Não
é pela falta de recursos que as escolas públicas especialmente as estaduais vivem
esse abismo. Em termos absolutos os recursos arrecadados pelo Estado seriam
suficientes para assegurar educação de qualidade a cada cidadão brasileiro. Os
vícios generalizados somados a falta de políticas de Estado, transformaram instituições
públicas de ensino básico em ambiente desacreditado das populações mais pobres.
O resultado disso é o seu próprio boicote, com a elevação das taxas de abandono
anual. Baixa produtividade e salários menores alimentam o ciclo vicioso dessa
pobre engrenagem que mantém o Brasil nas últimas posições no ranque
educacional.
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Foto - acervo - Jairo |
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São
esses despossuídos que corroboram com a engrenagem da corrupção e do atraso
secular mantendo o país nas últimas posições em quase todos os indicadores
sociais. Encontrar saídas às demandas
não depende exclusivamente dos governantes, pois não são essas suas reais
intenções. São regimes ou governos que
se alimentam dos desmandos, das negociatas, da corrupção. Uma feira de ciência
pouco prestigiada como foi a da EEBA é uma prova de que governos e elites
econômicas estão fazendo a sua parte para que seja realmente um fracasso. Isso
desperta sentimentos de impotência e de descrédito da sociedade com tudo que é
publico.
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Foto - acervo - Jairo |
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Diante
de tantas dificuldades e boicotes típicos de escolas públicas espalhadas pelo
estado e Brasil, os/as corajosos/as professores/as e estudantes da EEBA deram
mostras de ousadia. Todos os anos a escola reserva um dia no calendário para
que educadores/as e estudantes apresentem experiências relevantes que
contribuem para o aprendizado e melhoria da qualidade de vida da sociedade. Uma
escola com quase mil estudantes e mais de cinquenta profissionais era de se prever
que, no mínimo, duas dezenas de trabalhos pudessem estar à mostra para a
população. Não foi exatamente o que se viu no dia.
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Foto - acervo - Jairo |
Foram
cerca de 10 trabalhos exibidos e 200 ou 300 indivíduos que transitaram pelos
corredores da instituição, entre pais, estudantes, professores. É muito pouco
para uma escola do nível da EEBA, respeitada, que foi referência no sul do
estado na formação de profissionais de várias áreas, especialmente normalistas/professores/as.
Até pode ser justificável o boicote à feira, pois a escola se encontra em situação
deplorável, parte dela interditada por falta de segurança. Os demais cômodos, ginásios,
quadras esportivas, banheiros, refeitórios, laboratórios e recursos
pedagógicos, funcionam parcialmente. Sendo a escola pública, mantida com
dinheiro dos impostos, a sociedade teria que assumi-la, abraçá-la, como se
fosse seu lar.
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Foto - acervo - Jairo |
Por
que não o faz? Não o faz porque a escola continua muito distante do cotidiano
da população mais desassistida, cujos filhos estão lá matriculados. Não vislumbram
como caminho para superação individual, ascensão e realização profissional. Os governos,
que representam a classe dos dominantes, executam políticas que reforçam as
desigualdades. Quanto mais escolas depredadas, abandono/reprovação, baixo nível
de aprendizagem, maior será o número de políticos descomprometidos eleitos para
cargos importantes de decisão. Todos/as sabemos que uma feira interdisciplinar
pouco impacto traz à solução dos problemas emergenciais de uma escola.
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Foto - acervo - Jairo |
No
entanto, poderia ser o momento oportuno para
refletirem a realidade social, discutir possibilidades e soluções
sustentáveis e de baixo custo orçamentário às várias demandas econômicas e
ambientais. Não é mesmo? Proposições como economia de energia e água,
reciclagens, elementos da cultura local, imagens realçando cenários protegidos
e antropisadas, saúde corporal, foram alguns dos trabalhos exibidos na mostra
interdisciplinar da EEBA. Por ter sido definido o dia da feira como atípico, ou
seja, sem a costumeira rotina das salas de aula, todos/as foram designados/as
para estar na escola e prestigiar o evento. Em culturas mais avançadas, espaços como da
EEBA seriam pequenos para acomodar tanta gente ansiosa para conhecer o que
cientistas mirins estão pesquisando, estudando, para tornar o mundo melhor.
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Foto - acervo - Jairo |
Não
foi exatamente o que aconteceu na instituição de ensino. Havia expectativa de pequena
participação dos pais, por ter sido o evento ocorrido numa quinta feira. Por
outro lado, assustou quando mais da metade dos/as estudantes e um número
expressivo de professores/as deixaram de prestigiar, atém mesmo solidarizar com
os colegas profissionais e estudantes que dedicaram tempo de sua rotina para
elaboração e organização de suas temáticas.
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Foto - acervo - Jairo |
Sabemos
que não é conveniente fazermos comparações entre instituições de ensino,
especialmente quando se trata de redes públicas com particulares. Não há dúvida
que muitas escolas privadas os níveis de aprendizagem são relativamente
melhores que as publicas devido a estrutura organizacional e do capital
cultural acumulado pelos sujeitos antes de ir à escola. Outra diferença se dá no
acompanhamento da família durante sua trajetória escolar.
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Quanto
às atividades extraclasses, como mostras científicas, um exemplo que revela o
abismo que separa tais redes de ensino foi constatada quando visitei uma escola
em Caxias do Sul há poucos dias. Como acontece em todas as escolas, independentes
das redes, ambas cometem os mesmos equívocos nas amostras científicas, que é o
reduzido tempo para o público apreciar os trabalhos. Na escola de Caxias do
Sul, me surpreendi com a avalanche de pessoas circulando por todos os lados
conferindo de perto o que os estudantes haviam pesquisado.
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Foto - acervo - Jairo |
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Numa das dependências da escola estavam
distribuídos dezenas de pequenos stands com dois ou três estudantes ansiosos em
querer demonstrar ao público a relevância de sua pesquisa. Em outra
dependência, em um ginásio de esportes, outro turbilhão de pessoas disputava
cada centímetro quadrado do local para ver e ouvir os relatos dos pesquisadores
mirins. Ao todo, foram mais de 150 stands montados, com temas diversos, alguns
tão complexos e instigantes que ocupavam longo tempo dos apresentadores.
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Foto - acervo - Jairo |
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É
claro que embora me sentindo entusiasmado de estar ali acompanhando de perto a
empolgação dos estudantes, certa tristeza ou decepção ainda tomava conta de mim.
Isso porque há dois dias havia vivido experiência semelhante na escola onde leciono. Outra surpresa foi perceber que nenhum
trabalho apresentado na escola de Caxias do Sul requereu grandes investimentos.
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Foto - acervo - Jairo |
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A
maioria dos protótipos foi utilizada materiais recicláveis para confecção.
Porém, o destaque foi a organização, pois cada grupo exibia na mesa, cópia do
projeto, apresentando objetivos, metodologia e fontes pesquisadas. Conversando
com estudantes, ambos disseram que semanalmente a escola dispunha de uma ou
duas aulas para se dedicar exclusivamente com a pesquisa. O uso da internet foi
fundamental especialmente na pesquisa de fontes bibliográficas, muitas vezes recorrendo
a fontes estrangeiras para fundamentar a investigação.
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Foto - acervo - Jairo |
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Não
há dúvida que o a dinamização de uma sociedade se dá por meio da educação,
sendo a pesquisa científica devendo ser estimulada a partir dos primeiros anos
de vida. Quanto mais investimento nesse setor maior é a possibilidade de grupos
sociais galgarem estágios mais elevados de desenvolvimento social. Poderia
estar no quesito mostra científica um dos fatores preponderantes do grau de
pujança que atingiu cidades do porte de Caxias do Sul, Gramado, Bento
Gonçalves, etc, entre outras no estado catarinense. E Araranguá, quanto tempo
levará para superação do atraso estrutural que o acompanha há décadas?
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