FÓRUM BRASILEIRO E CATARINENSE DE
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: BRECHAS PARA REFLETIR OUTRO PROJETO VERDADEIRAMENTE
SUSTENTÁVEL DE SOCIEDADE
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Entre
os dias 17 e 20 de setembro de 2017, nas dependências da UNIVALI (Universidade
do Vale do Itajaí) campus Baln. Camboriú ocorreu o IX Fórum Brasileiro e IV
Catarinense de Educação Ambiental, cujo objetivo foi a socialização das
diversidades de experiências, por meio de defesa dos direitos e conquistas no
campo político e socioambiental. O fórum também serviu para reflexão acerca dos
eventos relevantes ocorridos globalmente e em âmbito de Brasil estados nas
últimas quatro décadas, que serviram como marcos propulsores das atuais
políticas ambientais.
Quarenta anos da primeira Conferência Mundial
sobre o Clima em Tbillisi, Geórgia; 25 anos do tratado de EA (Educação
Ambiental) para sociedades sustentáveis e desperdícios globais; 25 anos do
REBEA (Rede Brasileira de Educação Ambiental); 20 anos da primeira conferência
nacional de EA; 18 anos da promulgação da lei n. 9795/98 que institui a
PNEA(Política Nacional de EA) e 15 anos da sua regulação; 15 anos da ReaSUL
(Rede EA Sul Brasil); 12 anos do PRONEA (Programa Nacional de EA); 5 anos do
CNE (Conselho Nacional de Educação), da resolução que estabelece os DCNEA
(Diretrizes Curriculares Nacionais que estabelecem a EA), etc, etc, etc, e o
que vemos um planeta cada vez mais ameaçado, sob risco eminente de colapso, devido
a tanta devastação.
Entretanto,
diante de incontáveis eventos e outras tantas dezenas de siglas que tratam
sobre o ambiente e educação ambiental, o fórum brasileiro e catarinense de
educação ambiental, se configurou como esperança para poder reverter o curso
nada otimista que caminha a humanidade, podendo resultar na sua extinção. E não
foram poucos os temas elencados na pauta do fórum. Quem estava presente,
certamente tinha consciência que os debates não se esgotariam em quatro dias de
encontro. Divulgação de experiências; construção de instrumentos que assegure a
juventude a multiplicar as ações ambientais; estímulo à pesquisa;
fortalecimento do intercâmbio entre instituições publicas e sociedade civil;
fortalecimento dos GTEAS/SC, entre outras tantas proposições, foram
exaustivamente discutidas pelos debatedores e por mais de mil participantes.
Diante do extenso número de debatedores e de
proposições encaminhadas, o sentimento dominante foi de que estamos navegando em
águas turbulentas, mergulhados em um gigantesco desafio de fazer que os chãos
das escolas possam refletir os ecos esperançosos do Fórum. O que preocupa é que
muitos debatedores representantes dos governos no Fórum não possuíam a mínima
noção da terrível realidade que permeia as escolas públicas brasileiras. Se
hoje fossem entrevistados os cerca de 40 mil professores que atuam na rede
pública estadual de Santa Catarina, perguntando-os se ouviram falar desses
nomes: CIEA (Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental de Santa
Catarina), CEAS (Centros de Educação Ambiental), REBEAS (Rede Brasileira de
Educação Ambiental), e outras tantas siglas vinculadas à educação ambiental,
acredito que, talvez, dois ou 3% devam ter ouvido falar.
O
que impressionou foi saber que o Fórum Brasileiro de EA estava na sua IX
edição, sendo que cada edição ocorre a cada três anos. Já o catarinense, realizado
paralelamente também em Camboriú, estava na edição número quatro. Dezenas de
mesas redondas, centenas de trabalhos científicos, pesquisas acadêmicas e
outras tantas oficinas foram compartilhadas simultaneamente com o público nos
quase quadro dias do fórum.
Sendo
praticamente impossível estar ao mesmo tempo nas várias mesas redondas, standard,
painéis, oficinas, os participantes tiveram que se conformar em optar por
alguns dos temas da programação e acompanhá-los. Foi exatamente o que eu fiz e
outros tantos participantes. Como ambientalista e coordenador junto com a
professora Maria de Fátima Maccarini, de um projeto de educação ambiental na
escola EEBA, de compreender os desdobramentos das políticas públicas no âmbito
da educação ambiental, nas instâncias federal, estaduais e municipais, me levou
a optar pelo auditório do Bloco 7 da Univali, onde lá acompanhei os debates durante
dois dias.
Na
segunda feira, dia seguinte da abertura do evento, a primeira mesa redonda
tratou sobre Políticas de Educação Ambiental e Compromissos Estaduais e Municipais
com a Educação Ambiental. Nas falas dos/as palestrantes, foi quase consensual
que os seguimentos públicos e privados devem compartilhar tarefas de modo a
mediar conflitos. Quanto às legislações em vigor, afirmaram que não adiante ter
leis que ficam engavetadas. Foi citado o exemplo do estado de São Paulo, no
qual tem lei estadual específica sobre EA, porém, não há abertura de espaço
para o diálogo entre o governo e a sociedade. Na realidade o papel do Estado (União)
é de instituição fomentadora, moderadora e fiscalizadora das políticas públicas
executadas pelos governos, iniciativa privada e sociedade civil. É manter a “sinergia”
da pluralidade dentro dos territórios.
Quanto
as proposições de educação ambiental, a União (governo federal) se configura
como principal agente articulador, que avalia as ações em andamento no setor,
que interage com os estados e municípios, através de seus ministérios MMA
(Ministério do Meio Ambiente) e MEC (Ministério da Educação e Cultura). Suas
ações visam impulsionar programas de fomento e projetos que alcancem todos os
estados, municípios e escolas. Dentre os seguimentos criados pelo governo
federal para fortalecer a interlocução com os estados e município no campo da
educação ambiental, o destaque é a ANPEA (Articulação Nacional de Políticas
Públicas de Educação Ambiental), que atua como articulador com o FUNBEA (Fundo
Brasileiro de Educação Ambiental) órgão que atua na liberação de fundos para
programas ambientais.
Em outra
mesa redonda, onde foram debatidas as Políticas de Educação Ambiental que Temos
e Queremos o professor Philippe Pomier Layrargues, da UNB, foi ovacionado em pé
após concluir sua fala. Desconstruiu literalmente o discurso conservador do
palestrante que o antecedeu, que representava o MEC. O porta-voz do MEC expressou
idéias um tanto romantizadas relativa à educação ambiental, afirmando que tal
tema transversal servia para promover o desenvolvimento em bases sustentáveis.
Na verdade é uma narrativa de macrotendência conservadora.
Não
questionou, nem mesmo proferiu qualquer crítica às políticas educacionais como
a própria BNCC, que pouca ênfase dá a EA. Deixou explícito o professor Philippe que o
atual modelo de Estado Liberal assume uma função de aparelho repressor da
sociedade, que a educação ambiental, articulada pelo Estado Liberal, propõe
fortalecer consensos, entre capital e trabalho. Nessa perspectiva conservadora,
os conteúdos e atividades em educação ambiental, tendem a ser esvaziados, excluindo
possibilidades de criticidade e rupturas sociais.
Citou
nomes de expressão no campo do debate das políticas ambientais, como a
professora Paula Brugger, que escreveu em 1999 a obra intitulada Educação ou
Adestramento Ambiental. É preciso pensar educação ambiental sob o prisma do
anti-capitalismo, ou seja, trabalhar conceitos como reciclagem, coleta
seletiva, produção solidária, entre outros, como instrumentos de ruptura social
e não como compensação para corrigir a imperfeição do sistema produtivo.
É importante entender que a escola é o espaço
de disputa, espaço de poder, que a educação ambiental deve ser concebida como
instrumento que leva as pessoas a pensarem além do ambientalismo apaziguador,
consensual e dominador. A EA não é neutra, ela é ideológica, está nas suas
entrelinhas todo um aglomerado de intenções. É por meio da escola, por meio das
feiras interdisciplinares, e outras ações encabeçadas pelo poder público, como
as campanhas de plantio de árvores e limpezas de rios e praias, que se
disseminam tais ideologias dominantes.
Os
planos municipais de coleta seletiva, cooperativas de catadores, etc, que
envolvem escolas e outras entidades participantes, têm caráter mercadológico,
ou seja, função específica de “reciclar o capital” dando-lhe um verniz
solidário. No interior dessas práticas estão as contradições do modelo
explorador. Quem recolhe o lixo, quanto paga o capital pelo trabalho realizado
e, por fim, qual o seu lucro? É preciso não combater os programas de coleta,
mais refletir sobre suas reais intenções. As escolas devem fazer as pessoas pensarem
sob o olhar crítico a partir do local onde vivem, como que os discursos se
materializam em práticas dominantes e de libertação. Um exemplo de práticas
saudáveis e socializantes fora da lógica do mercado ocorre no âmbito das
agriculturas familiares.
Em nenhum
momento nos PCN’s se faz qualquer menção a EA. Mesmo existindo como tema
transversal, a educação ambiental poderia contribuir na interconexão entre as
disciplinas do currículo, e que não ocorre. O fato dos estudantes poderem optar
por um dos conteúdos itinerários, inviabiliza o acesso a outras áreas do saber,
onde deixarão de tê-las. Portanto, a educação ambiental perde sua concepção de
tema transversal. Outra falha dos PCNs é quanto a capacitação dos professores
para a pesquisa e o desenvolvimento de projetos nas escolas. Nas escolas
brasileiras ao invés de estar escrito equipar as instituições de ensino com
recursos tecnológicos, aparece a seguinte expressão: “as habilidades
necessárias para que desenvolva o espírito investigativo nos alunos não estão
associadas a laboratórios modernos, com equipamentos sofisticados” MEC, 2006,
P.26 Apud File:///C:Users/Biblioteca/Downloads/1554-3118-2-PB.pdf
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Em
âmbito governamental, o professor Phelippe relatou o modelo de política
transformadora no campo da educação ambiental praticado pelo IBAMA antes de
2006. A política aplicada teve um viés anticapitalista, pautada numa
perspectiva dos oprimidos. Hoje em dia cerca de 25 milhões de pessoas no país executam
práticas agrícolas autônomas, sustentáveis. São ações que caminham na contramão
do Estado dominador. São comunidades que preservam hábitos e técnicas
tradicionais de cultivo e uso de sementes originais. Concluída a fala dos
palestrantes, um professor de uma universidade federal fez severas críticas ao
palestrante integrante do MEC, afirmando que o governo Temer desmontou com a
EA, que é um verdadeiro retrocesso a tudo aquilo que se construiu nos últimos
anos.
No
período da tarde, na primeira mesa redonda, o debate se deu sobre as Políticas
de Formação em EA e suas Reflexões a Partir do Diálogo dos Contextos Vividos. A
representante da SED/SC (Secretaria Estadual de Educação), aproveitando o
enorme público presente no auditório da UNIVALI, fez um extenso relato das
ações do governo estadual no campo da educação ambiental. A professora
ressaltou as feiras de ciência apoiadas por entidades importantes; das pesquisas
e extensão que caminham de mãos dadas com a educação básica. Destacou o
programa CONVIVA[1]
e o protagonismo juvenil de participar na conferência ambiental infantojuvenil.
Teceu
elogio ao MEC por ter contemplado inúmeras escolas públicas estaduais através
de recursos do PDDE Escola Sustentável. Que os valores disponibilizados dinamizaram
ações em EA, práticas que já vinham acontecendo anteriormente. Falou também que
as escolas contempladas com o projeto, têm hoje espaços reservados às hortas,
pomares, minhocários, viagens de estudos, etc. Argumentou que o recurso chegou
no momento certo, que outras escolas também precisam desses recursos do MEC.
A
professora fez menção a V Conferência infantojuvenil nacional, que ocorrerá em
março de 2018, em Brasília, que todos os estados, municípios e escolas irão
desenvolver suas conferências no segundo semestre de 2017. Afirmou que sempre
participou das conferências. Disse também que as conferências têm pretextos
pedagógicos bacanas. O tema do V evento será Vamos Cuidar do Brasil, Cuidando
das Águas.
Destacou
que no estado de Santa Catarina existem 35 coordenadorias regionais de ensino,
com equipes extremamente competentes para dirigir as conferências. Afirmou que
os encontros serão um sucesso se o MEC é claro, cumprir com o que prometeu. As
GEREDS (Gerências Regionais de Ensino) terão que buscar parcerias, promover articulações
com a UNDIME (União Dirigentes Municipais) e FATMA (Fundação Ambiental do
estado de Santa Catarina) para colaborar com as conferências. Trabalhar a
conferência nas escolas não é tão simples, mesmo porque as respectivas unidades
já trabalham EA o ano inteiro, que a SED/SC sempre manteve boas articulações
com o MMA (Ministério do Meio Ambiente) e MEC (Ministério da Educação e
Cultura).
Quanto
ao PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola) Escola Sustentável, foram disponibilizados
140 milhões de reais para 14 mil escolas espalhadas pelo Brasil. No entanto, os
órgãos de controle federal estão atuando com rigor para fiscalizar os
resultados dos projetos das escolas que receberam os recursos. Há propostas de
formular parcerias com UNESCO, com o fornecimento de material e cursos para
trabalhas as mudanças climáticas.
Sobre
a conferência ambiental infantojuvenil, com o tema água, a ideia é um pretexto
para movimentar as águas do território da escola. Tudo isso são preparativos
para o mês de março de 2018, quando ocorrerá o fórum mundial ambiental da água,
em parceria com a ANA (Agência Nacional da Água). “É uma extraordinária forma
de formar lideranças. Independente da etapa nacional. Os professores têm que
trabalhar, tem de se preparar e o país está se preparando, e o fórum vai
acontecer”. Todo material distribuído às escolas brasileiras serão patrocinados
pela ANA, e estarão também disponibilizadas na própria página eletrônica da
entidade, e de 48 instituições de ensino superior, coordenada pela CAPEs
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Seguindo
os preceitos capitalistas, a educação ambiental se caracteriza como dinamizadora
de uma proposta que metaboliza recursos naturais e humanos em produtos mercantilizáveis
disponíveis para o capital. Tornou-se consenso entre os signatários do mercado
a idéia de que sustentabilidade e cidadania se completam. Na realidade é um
discurso repleto de ideologias e interesses escusos. O termo cidadania tem sua
origem na Grécia, no qual define pessoas que vivem na cidade, contempladas com
certos direitos assegurados pelo Estado.
Numa
linguagem Freiriana (Paulo Freire) o conceito de cidadania assume outra
interpretação. Os sujeitos não alinhados a classe dominante, não são pensados como
cidadãos, somente em momentos específicos como os períodos eleitorais. Servindo
como massa reprodutora do sistema que os exploram, negando o próprio direito à
cidadania. De acordo com o filósofo polonês Zygmund Bauman, o mundo vive uma
modernidade gasosa, com o esgotamento das relações afetivas. Quanto menor o
vínculo afetivo mais se potencializa a exploração. Todos se tornam mercadorias,
um explorando o outro. Torna-se comum, pessoas expressarem conceitos do tipo:
“negócio é negócio, amizade a parte”. Não é mesmo? Isso nada mais é do que
sentimentos expropriados, que são absorvidos e materializados pelo cérebro
humano. Tudo e todos têm preço, são classificáveis, descartáveis.
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Foram
inúmeros palestrantes que durante suas falas mencionaram as conferências
infantojuvenis de educação ambiental, e que deverão ocorrer em âmbito escolar,
municipal e estadual ainda nesse semestre, em preparação ao Fórum Mundial da
Água, em Brasília, de 18 a 23 de março de 2018.
O que não foi dito pelos porta-vozes dos governos, durante o evento em
Balneário Camboriú, é que o Fórum terá como objetivo central debater
estratégias de privatização das fontes naturais e os serviços públicos de água.
Convencidos das manobras que afetarão bilhões de pessoas no mundo inteiro,
entidades sociais, instituições de pesquisas, representantes de comunidades
tradicionais, se reuniram em fevereiro de 2017 e criaram a FAMA (Fórum
Alternativo Mundial da Água), que atuará paralelamente ao FMA, para se
contrapor as políticas de entrega dos recursos hídricos ao capital.
Na
realidade há dados que comprovam que centenas de cidades ou estados no mundo
inteiro remunicipalizaram ou reestatizaram seus sistemas abastecimento de água
e saneamento. E os motivos são os mais óbvios: tarifas abusivas; descumprimentos de contratos, etc. No entanto, o
capital continua sua insistente jornada de apropriação dos recursos hídricos no
mundo inteiro. A cada ano meio trilhão de metros cúbicos de água são absorvidos
por grandes empresas. O fato é que hoje 90% desse volume são destinados para o
abastecimento agrícola, pecuária, os biocombustíveis e especulação financeira.
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O
Brasil hoje, 316 municípios, ou seja, 5,6% são atendidos por companhias
particulares, que administram os serviços de abastecimento de água e
saneamento. São seis grandes empresas que controlam 95% dos serviços de
saneamento no Brasil. Entretanto, quando o assunto é água e saneamento, na
concepção do capital, o Brasil é visto como uma mina de ouro ainda inexplorada.
Com o progressivo problema da escassez de água no planeta, a tendência é a
elevação vertiginosa das tarifas do setor, e também do setor elétrico, que no
caso brasileiro, depende da água das hidrelétricas. Para elucidar, nas últimas
décadas o consumo de água no Brasil cresceu duas vezes mais que a população. A
tendência é que até 2050 a demanda de água no Brasil crescerá 55%.
Há
previsões nada otimistas de que em 2030 o planeta irá enfrentar um dos maiores
colapsos de abastecimento de água. O que é preocupante é que a população não
tem consciência desse perigo, que é necessário uma intensa campanha de
esclarecimento sobre hábitos corretos de consumo e políticas públicas para a
expansão do saneamento básico. Mas tais medidas são apenas paliativas, pois não
ataca o problema na sua raiz, que é estrutural, está na base do sistema de
produção, que se alimenta dessas contradições, das crises do mercado.
O Fórum
Alternativo Mundial da Água, em Brasília, tem exatamente esse objetivo. Trazer
para o público a real situação da água no planeta, e denunciar a rapinagem do mercado,
protagonista da degradação das reservas existentes. O cenário da água e dos
demais recursos naturais é tão ameaçador, que o próprio Papa Francisco, em
2016, lançou encíclica “Louvado Seja” – O Cuidado da Casa Comum, uma
contribuição das igrejas cristãs voltada à sensibilização das pessoas sobre os
perigos que corre o planeta terra. É a água contaminada que mata hoje mais de
quinhentas mil pessoas por ano no mundo. O que é espantoso é que no mundo 80%
dos países, as metas aplicadas aos recursos hídricos são frágeis.
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A
própria UNECEF defende que a questão da água se constitui como um problema de
gênero, que evolve mulheres e crianças. Ambas gastam cerca de 200 milhões de
horas coletando água todos os dias. A feminização da pobreza vem crescendo
progressivamente no mundo inteiro. A ONU lançou relatório afirmando que 70% das
pessoas em situação de pobreza no mundo são mulheres, negros, latinos,
indígenas e imigrantes. Enfim, é importante que durante a realização das
conferências infantojuvenis nas escolas, preparativas ao fórum da água no
próximo ano, sejam denunciado tais manobras do FMA, articuladas pelo governo
brasileiro e grandes conglomerados do seguimento hídrico e de saneamento.
O Brasil,
que concentra as maiores reservas de água doce do mundo, também concentra os
terríveis descasos quanto aos cuidados com esse recurso. Ao mesmo tempo em que
83,3% da população brasileira eram atendidas por água encanada em 2015, apenas
50,3% dos domicílios possuíam rede de esgotos. O que é mais grave é que apenas
42,7% de todo o esgoto coletado é tratado. As populações mais afetadas pela
falta de saneamento são: as ocupações irregulares, a população quilombola, as
aldeias e comunidades tradicionais. Se a proposta do Fórum é discutir políticas
de mercantilização dos serviços da água, que sirvam de exemplo os municípios e
estados que terceirizaram tais serviços, cuja população teve baixa qualidade
dos serviços e precarização das relações trabalhistas dos que atuam na
atividade vinculada ao abastecimento hídrico.
Na segunda
feira, 18 de setembro, à noite, todos os integrantes dos 10 GTEA que
representavam os comitês das bacias hidrográficas do estado, se reuniram em uma
das salas do Hotel Sibara em Baln. Camboriu, onde participaram primeiro de uma
dinâmica para socialização, e depois formaram pequenos grupos para expor suas
experiências, avaliar as fragilidades, potencialidades do grupo que atuam e do
GTEA estadual. No final das discussões, cada grupo expôs o resultado dos
trabalhos desenvolvidos, que servirão de subsídio na elaboração de uma Carta
dos grupos de educação ambiental no estado a ser encaminhada às autoridades
estaduais.
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Também
aqui segue algumas criticas aos seguimentos políticos que não se fizeram
presente em Balneário Camboriú durante a realização do Fórum Brasileiro de Educação
Ambiental. Por que da ausência? Consultando os noticiários ou reportagens dos
jornais de tiragem estadual durante os dias e posterior ao encontro, se constata
escassa ou nenhuma mansão dada ao fórum. As próprias páginas eletrônicas da SED
e SDS, que são secretarias vinculadas ao governo do estado, não se viu qualquer
notícia, comentário ou proposições elencadas no fórum, voltada aos professores
das escolas públicas estaduais. Por que pouca divulgação da imprensa e do
governo em relação ao encontro? Seria porque, para o governo e o seguimento
empresarial, meio ambiente é visto como entreve, barreira ao
desenvolvimentismo, que volta e meia entidades ambientais, são denunciados por
envolvimento em fraudes de licitação, favorecendo o próprio capital?
Todos
que participaram do Fórum Brasileiro de EA, e os que não tiveram oportunidade,
em especial, educadores e ativistas ambientais, vão aqui algumas considerações
que julgo importantes para o real entendimento da educação ambiental no momento
conjuntural atual. Desde a o final da década de 1960, o capital vinha dando
sinais de esgotamento de suas reservas naturais. Era necessário, portanto,
ressignificar metodologias e técnicas produtivas, nada que ameaçasse o sistema
de produção capitalista.
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Nesse
sentido, se espelha pelo planeta outra tendência produtivista pensada sob a
ótica preservacionista, conservacionista. A educação ambiental, portanto, em
escala federal e curricular assumiu tendências ou macrotendências
conservacionista, pragmática e crítica. É obvio que embora as legislações em
vigor sobre o tema EA, que estão embasadas pela LDB, discorram sobre políticas
sociais transformadoras, nas escolas e nos espaços públicos, todas as ações se
limitam a ativismos descontextualizados.
Não
produz qualquer impacto mais significativo, trabalhar reciclagem de lixo,
contenção de desperdícios de energia e água, sem contextualizá-los com o modelo
de produção em vigor que se realimenta das suas próprias contradições.
Contextualizar permite pensar além do ativismo puramente dito. Sociedade
sustentável, pensada pelo viés do mercado, visa o realinhamento e a readequação
do sistema de produção, para continuar submetendo milhões de pessoas a práticas
exploratórias e degradantes.
Prof.
Jairo Cezar
[1] É
um ambiente virtual totalmente gratuito, que apóia a gestão das Secretarias
Municipais de Educação.
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