AS PREVISÕES PESSIMISTAS DE UM MUNDO CONTURBADO E VIOLENTO NA OBRA “1984” (O GRANDE IRMÃO) ESCRITA POR GEORGE ORWELL EM 1948
Das
muitas obras literárias escritas que marcaram gerações e que estão de volta
como verdadeiros Best seller de vendas como Vigiar e Punir de Michael Foucault
e o Príncipe de Maquiavel, sem qualquer sombra de dúvida a obra 1984 de George
Orwell, publicada em 1949, é disparadamente um dos mais procurados, um dos mais
lidos atualmente no mundo inteiro. Não se exclui também da lista dos mais
procurados, A Revolução dos Bichos, outra obra futurista de Orwell. E os motivos são inúmeros a começar pela
eleição inesperada do controvertido Donald Trump à presidência dos EUA, a
grande Revolução Cultural global provocada pela internet e os fracassados
regimes comunistas/socialistas (Rússia, China, Koréia do Norte) e petista, no
caso brasileiro.
Na realidade
o autor da obra fictícia 1984 de Orwell, cujo nome verdadeiro é Eric Arthur
Blair, foi procurar mostrar o seu pessimismo do mundo pós- conflito mundial que
seria dominado pela tecnologia em detrimento da liberdade. Entretanto, a obra
também serviu para criticar os sangrentos regimes fascistas e comunistas da
época, cujos lideres para satisfazer seus insaciáveis egos de poder se muniam
de todos os artifícios possíveis, manipulando, vigiando, perseguindo e punindo
qualquer suspeito de traição ou conspiração.
Era
necessário, portanto, induzir o povo a acreditar nos discursos dos líderes. A
propaganda seria uma das ferramentas imprescindíveis desse maléfico plano de
dominação. Sua aplicação se daria nos mais diversos espaços, como forma de
tornar os lideres personagens míticas, onipresentes, acima do bem e do mal. Tal
estratégia se constituiu como uma das metáforas aplicadas por Orwell para
representar esses regimes.
No
entanto o autor da obra, cujo nome também era fictício, criou metáforas
invertidas para retratar os principais ministérios com suas respectivas
nomenclaturas: ministérios da fartura, do amor, da paz e da verdade. Ambos, a
partir do uso intensivo da propaganda, mídias sociais, produziria extraordinária
“purificação” mental, fazendo acreditar que tudo que fosse dito e mostrado pelo
grande irmão, era fidedigno.
O
uso de telas ou “teletelas” (TVs), divulgando permanentes imagens do grande
líder e dos seus feitos faria com que todos o temessem e ao mesmo tempo o
amassem. Uma espécie de auto-hipnose seria desencadeada toda vez que o líder
fosse visto ou sua voz ouvida. Era o instante do delírio, da catarse coletiva,
dos movimentos cadenciados por impulsos quase que instintivos.
A
obra traz, também, a metáfora dos “dois minutos de ódio diário”, ou seja, o
momento pela qual os membros do partido, aos gritos, teriam que reverenciar o
líder; esternizar sentimentos de ódio ao oponente, ao diferente. A atualidade da
obra de Orwell pode ser reconhecida a partir das visões unilaterais; dos ataques
a oposição; da xenofobia, da intolerância e das demonstrações de forças de
governos como de Donald Trump e da poderosa Inglaterra diante do rompimento
definitivo com a União Européia.
O
que distingue Trump do grande líder imaginário de Orwell, no caso inglês, é que
o primeiro foi eleito democraticamente. Há indícios de ter havido a
participação Russa definindo os resultados da eleição a favor de Donald Trump. Claro
que os votos a seu favor foram impulsionados por professas e discursos
extremistas, um deles tornar outra vez “grande” a pátria para os americanos. A
perseguição e deportação de estrangeiros ilegais, a construção de barreiras
físicas (muros) para impedir a entrada de imigrantes, e a autorização para o
ataque com mísseis ao território Sírio, com dezenas de mortes, são alguns
exemplos de como o “grande irmão do norte” vem demonstrando seu poder,
instigando o ódio contra ele, seus concidadãos e aliados. O “ministério da
verdade”, citado no livro de Orwell como instrumento ideológico para assegurar paradoxalmente
“diversão e instrução”, no mundo contemporâneo assumiu versão mais personalizada,
onde os fatos são interpretados segundo versões de quem os vê e transmite.
A cientificidade
e a objetividade dos fatos abrem campos para interpretações individualizadas, não
necessitando de comprovações. O que é dito se torna o mais importante. A
internet e com ela as redes sociais se transformam em potentes ferramentas
condutoras de informações fragmentadas que hoje concebidas como pós-verdades. A
linguagem que a internet tenta padronizar, abreviada, reduzida a códigos
simplificados, limita a comunicação e a compreensão sistematizada da própria
identidade cultural.
Outro
perigo, quanto ao emprego das redes sociais, é que cada um tenta dar a sua
versão acerca dos fatos, prevalecendo aquela com argumentos mais convincentes.
Não é mesmo? Lembram o que escreveu Trump na sua página na internet quanto ao
Estado Islâmico? Disse que foi Barack Obama, o seu criador. Sobre o aquecimento
global, para romper com os acordos de Paris, afirmou que tudo foi invenção dos
Chineses para destruir a indústria Norte Americana.
Quem
acompanhou a conflitante trajetória que resultou no impeachment da
ex-presidente Dilma, considerado para muitos como um golpe, é testemunha ocular
de que as redes sociais e a imprensa rentista assumiram papeis extraordinários
na condução e polarização dos discursos e na destilação e difusão do ódio
político e partidário. O pensamento maniqueísta, o bom e o mau, davam o tom das
narrativas, atingindo o limite do extremismo exacerbado como demonstrado nas
manifestações de ruas, tendo de um lado os camisas verde-amarela, “coxinhas”,
(o bem) e do outro os “petralhas”, “mortadelas” os representantes do (o mau).
A
obra de Orwell, o grande irmão, não se limite apenas no aspecto político. No
campo social, cultural e especialmente religioso é possível perceber sua
presença tão atual. A intensificação de teletelas (canais de TV) de igrejas
diversas com programações ininterruptas e exclusivas para atrair, hipnotizar
novos e desatentos fiéis para a adoração ao grande líder, é sem dúvida a versão
mais simbólica e próxima daquilo que Orwell apresenta no seu livro 1984.
A
exploração do espaço privado pelo big brother vem se configurando em um
excelente instrumento de participação e controle público sobre o modo como cada
indivíduo deve se comportar. E esses mecanismos de vigilância e controle
individual, pelo próprio Estado através de câmaras de vigilância, vêm sendo
assimilado pela sociedade como algo natural. Não é por acaso que o programa big
brother, exibido pela rede globo de televisão está no ar há 17 anos. Quem fica
e quem sai da casa é decidido pelos próprios telespectadores. Trazendo para a
vida real, os últimos fatos relacionados à política nacional como o cassação do
mandato de Dilma Rousseff e a outros tantos de impacto social, a opinião
pública não teria sido influenciada pelas teletelas distribuídas nos milhões de
lares brasileiros?
Portanto
a fabricação de verdades vem se tornando hábito ultimamente. Ao mesmo tempo em
que era função do ministério da verdade revisar jornais ou publicações antigas
suprimindo informações subversivas, hoje em dia, uma ou duas agências de
notícias internacionais são responsáveis pela filtragem e divulgação de imagens
e notícias sobre fatos do dia a dia. O filme o Show de Truman, protagonizado
por Jim Carrey, é um exemplo clássico de como as pessoas, territórios,
documentos, organizações, são vigiadas ultimamente no planeta. Nossas vidas
passam a ser monitoradas desde o instante em que nascemos. A corrida espacial
no período da guerra fria se transformaria em um extraordinário laboratório
para intensificar ainda mais o poderio bélico de superpotências. A instalação
de satélites cada vez mais sofisticados na órbita terrestre permitiria que tudo
e todos, mais cedo ou mais tarde, estariam sob os olhos vigilantes dos milhões
de big brothers espalhados por todos os cantos do mundo.
Quando
se imaginava que ter o domínio de tais tecnologias de vigilância e comunicação
lhes asseguraria mais poder aos seus donos, a realidade mostrou um cenário
pouco seguro e otimista. Nem mesmo os “invioláveis” arquivos do governo norte americano
contendo informações secretas ficaram imunes aos ataques de Rakers. Portanto,
mais do que nunca é necessário a releitura de obras como 1984 e até mesmo a
obra fictícia do escritor brasileiro Ignácio de Loiola Brandão, com o título
Não Verá País Nenhum, e escrita em 1981, que semelhante a de Orwell desenhou um
cenário preocupante em termos ambientais para o Brasil para os anos 2030, 2040.
É sem dúvida um livro obrigatório para
todos os educadores e estudantes do ensino médio, com objetivo de sensibilizá-los
e dar suporte para a superação das profundas contradições que cercam nosso
complexo e frágil planeta.
Se todos
desejam um mundo “admiravelmente novo” é preciso se despir de tudo que os
oprime. As novas ferramentas do mundo moderno, TVs, internet, smart fones,
whatsapp, facebook, etc, estão aí ao dispor de todos para facilitar e estreitar
laços e sentimentos de tolerância entre pessoas e culturas diversas. Não é
mesmo? Porém, o que se vislumbra no horizonte é um novo “processo civilizatório”,
onde pessoas cada vez mais procuram se isolar em seus minúsculos mundos
domésticos, que embora se vanglorie em afirmar que possuem centenas, milhares
de amigos virtuais, tentam suportar a solidão lotando consultórios
psiquiátricos e ingerindo psicotrópicos na busca incessante de algo que amenize
a dor existencial.
Prof.
Jairo Cezar
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