GOVERNOS, SISTEMAS EDUCACIONAIS E
TECNOLOGIAS CAMINHANDO NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA
Os efeitos perversos de uma estrutura
social e econômica decadente, carregada de vícios históricos transformaram
segmentos institucionais do Estado republicano brasileiro (legislativo,
executivo e judiciário), em estruturas de poderes desacreditados por expressiva
parcela da sociedade. Nas principais democracias do mundo globalizado, as
crises cíclicas que se abatem sobre os sistemas produtivos e sociais, suas
durações tendem a ser relativamente curtas pelo fato do aparato
institucional montado pelo estado, órgãos gestores e fiscalizadores, para
enfrentar e corrigir as adversidades ou distorções do próprio mercado.
Em visita a Malmo, cidade situada a
extremidade sul da Suécia, que faz divisa com a Dinamarca, o clássico e o
moderno das construções se mesclam simetricamente em tons harmoniosos, com
destaque o verde que sobrepõe entre os demais. A região se configurava como o
retrato sem distorção de uma sociedade que se reinventa a todo instante
especialmente nos momentos de crises estruturais. Durante os anos 1990 a Suécia
enfrentou uma das maiores crises econômicas de sua história pós segunda guerra
mundial, similar até a crise que o Brasil enfrenta atualmente.
No entanto a diferencia das
instabilidades entre as duas nações está no seu contexto conjuntural, ou seja,
enquanto no Brasil as instabilidades resultam de vícios administrativos, má
gestão do dinheiro público, corrupção, corporativismo, apadrinhamentos e
fraudes eleitorais lá as crises geralmente estão cingidas a estrangulamentos
dos ciclos produtivos tradicionais, bem como guerras e fenômenos climáticos
extremos. É importante que fique claro que tais observações um tanto quanto
positivas dos instrumentos de gestão de países como a Suécia que asseguram a
milhares de cidadãos a oferta de serviços na área da saúde, assistência e
educação, não se constitui como apologia ao capitalismo.
O fato é que modelos produtivos,
capitalismo, socialismo, etc. devem sempre ser vistos e avaliados, considerando
variáveis importantes como o contexto histórico e cultura do povo. Portanto, se
os países nórdicos, entre outros da Europa central, que são capitalistas,
obtiveram elevado padrão de desenvolvimento e distribuição de renda, é claro
que o processo se deu por via exploratória, ou seja, alguém teve que perder para
que outros ganhassem. A Expansão Marítima, século XVI, e a Saga Viking,
são episódios importantes da história que explicariam melhor o atual cenário
cultural e econômico da Europa e dos demais continentes.
A transformação da cidade de MALMO em
um espetacular laboratório de tecnologias de ponta atraiu para a região
empresas importantes desse segmento como a Google, Microsoft, entre outras.
Além dos incentivos públicos, as empresas se beneficiam da extraordinária
oferta de trabalhadores altamente qualificados e preparados em universidades
públicas do país. Lá, o ensino, do jardim a universidade, são subsidiados pelo
Estado. São milhares de jovens oriundos dos países vizinho e do mundo inteiro
que deslocam para estudar em Malmo e demais instituições de ensino suecas, com
a certeza de trabalho assegurado e bons salários quando concluírem os estudos.
Quanto mais investimentos em educação e
responsabilidade ética dos governos na gestão dos recursos públicos, menores
serão os impactos de crises sobre todo o centro gravitacional de uma sociedade.
Porém, não é exatamente o que ocorre em sociedades como a brasileira, com
histórico de crises estruturais, cujo modelo educacional básico adotado, se
pautou a partir de um padrão de ensino nada atrativo e descontextualizado com a
realidade e expectativas dos estudantes. O resultado disso é o que vemos a cada
relatório apresentado pelo governo brasileiro, IDEB/ENEM, e organismos
internacionais, como o PISA, pondo o Brasil sempre em posições ridículas no
ranking de qualidade.
O que ocorre é que tais processos
avaliativos padronizados servem unicamente de parâmetros para que organismos
financiadores como o Banco Mundial decidam quem tem direito de continuar
recebendo tais recursos do fundo e quem não tem. São fundos aplicados na
melhoria dos serviços de infraestrutura dos países “em desenvolvimento”,
saneamento básico, educação, entre outros. A partir da promulgação da LDB, em
1996, seguidamente o ensino básico brasileiro, nos estados e municípios, vêm
sendo submetidos a reformas e mais reformas. Como exemplo, pode ser destacado o
Plano Nacional, Estaduais e Municipais de educação, sem qualquer impacto
significativo na superação das desigualdades e do elevado índice de analfabetos
estruturais.
O estado de Santa Catarina, cujos
governos procuram a todo custo produzir consensos falsos de uma estrutura
produtiva impermeável à crise, os últimos relatórios apresentados põem Santa
Catarina numa posição preocupante entre os demais estados nas avaliações do
IDEB e do PISA. Isso já era previsível à educação frente a tantas outras
negligências do executivo e legislativo estadual nas áreas de saneamento
básico, saúde, segurança e mobilidade.
Poderia aqui citar uma enorme lista de
demandas para cada seguimento listado acima. Porem é imperativo nos determos à
educação, pois para os governos e especialmente para o Secretário da educação
de Santa Catarina e presidente do CONSED, Eduardo Deschamps, “a escola
deve ser um espaço organizado, com boa infraestrutura, de debate e constantemente
avaliado”. Em qualquer país que prevalece a justiça e a ética,
discurso demagógico como o expressado pelo secretário, redundaria em revolta
popular, queda de secretariado, até mesmo do próprio governo.
Se todos os municípios catarinenses os
representantes do ministério público estadual adotassem a mesma metodologia ou
critérios de avaliação das condições de infraestrutura das escolas públicas
estaduais como adotou um promotor de justiça no município de sombrio, sobrariam
poucas em condições satisfatórias para a prática docente no Estado.
Qualquer cidadão com o mínimo de discernimento sabe que escola com adequada
infraestrutura para a prática pedagógica e professores preparados e bem
remunerados, são condições elementares para o começo de uma grande revolução
educacional. Os países que aparecem no topo do ranking em educação iniciaram
transformações há 30, 40 anos, muitos dos quais estavam na mesma situação de
penúria econômica que o Brasil hoje.
Em vez de tratar diretamente das causas
que redundam no baixo rendimento dos estudantes do ensino médio, que apresentam
elevados índices de reprovação e abandono, os governos, como de Santa Catarina
tenta aplicar medidas paliativas para melhorar nas estatísticas, uma delas a
redução da média final de 7 para 6 e a recuperação paralela, na certeza que
tais estratégias irão reduzir significativamente os índices de reprovação anual
nas escolas públicas do estado. É importante saber, que tais medidas são
exclusivamente para cumprir protocolos assinados entre governos e organismos
financeiros internacionais como o Banco Mundial, BID, BIRD. O baixo rendimento
dos estudantes compromete os governos no recebimento dos recursos e na
continuidade dos seus programas.
O momento que os professores poderiam
estar discutindo projetos, processos pedagógicos e metodologias significativas
para estimular os estudantes no aprendizado, as semanas de preparação para de
início de ano letivo e reuniões pedagógicas, tem suas agendas sobrecarregadas
com assuntos que pouco ou nada alterarão o atual cenário burocrático e
excludente da escola pública estadual, apenas, é claro, servirão de estratégia
para maquiar números e a realidade. Quem é professor se lembra das inúmeras
portarias, resoluções, portarias para alterar resoluções, etc, etc. que alteram
sistemas avaliativos, conselhos de classe, procedimentos de recuperação
paralela... Pare que serve tudo isso? É claro, mais sobrecarga de trabalho para
o professor, pois as escolas não oferecem recursos pedagógicos e infraestrutura
adequada para que o processo educativo possa fluir condizente as
expectativas e necessidades dos estudantes.
É consenso entre todos os profissionais
de educação que os laboratórios de informática existentes em todas as unidades
de ensino público, estavam servindo como ferramenta importante para a
progressiva melhoria do ensino. Os resultados, entretanto, não foram melhores
que o pretendido pelo fato da escassez de investimentos do estado na
estruturação dos laboratórios, forçando os profissionais da área a ocuparem seu
tempo mais com o reparo e injambramento de equipamentos.
Lembram o que foi escrito no primeiro
parágrafo acima em relação a cidade sueca de Malmo? Como estratégia para
superação da crise que se abateu sobre o país, investimentos em educação e a
criação de um pólo tecnológico para atrair investimentos e empresas foram
medidas estratégicas e acertadas pelo Estado. Aqui no Brasil, em especial no
estado catarinense, o caminho está sendo outro, completamente contrário aos
discursos de integrantes dos governos e representantes de seguimentos
industriais que enaltecem a necessidade de revolucionar a educação investindo
em laboratórios e profissionais da área de tecnologia. Qual a contradição
do discurso? Sucateamento dos laboratórios e demissão de todos/as profissionais
de informática, substituindo-os por professores readaptados, estagiários ou
qualquer um que esteja disponível na escola.
Outro detalhe importante que comprova
as contradições de um governo que caminha na direção contrária da história. A
região da grande Florianópolis se constitui em um dos principais pólos de
tecnologia de ponta do Brasil. Porém, paralelo a tudo isso tem um governo
catarinense e seu secretario da educação, que excluiu da chamada dos ACTs para
2017, mais de 1.200 trabalhadores que deveriam atuar nos laboratórios de
informática. Portanto, permanecendo tais regimes e modelos de gestão pública,
teremos que conviver ainda por muitos e muitos anos, quem sabe até décadas, na
lista vexatória e humilhante dos últimos países em Índice de Desenvolvimento
Humano e qualidade na educação.
Prof. Jairo Cezar
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