AS
MORDOMIAS DO PARLAMENTO BRASILEIRO EM TEMPOS DE CRISE
Enquanto
o valor do vale refeição recebido pelos professores/as da rede pública estadual
de ensino de Santa Catarina é de míseros R$ 216,00 reais mensais, um
parlamentar como o Deputado Federal Rogério Peninha Mendonça, PMDB/SC, segundo
informações divulgadas pelo jornal Diário Catarinense dos dias 4 e 5 de março
de 2017, o mesmo recebeu em 2015 em vale alimentação o montante de 17.671,14,
ou seja, R$ 1.471,59 mensais. Todos os professores/as sabem que o vale refeição
recebido não cobre a alimentação de uma semana de trabalho, isso incluindo as
três refeições que tem direito. Não são também incluídos nessa equação os gastos
com combustível, pois muitos professores/as utilizam seus próprios veículos
diariamente para se deslocar e lecionar em duas ou três escolas. Somente o
deputado Pedro Benedet, PMDB, da região de Criciúma, em combustíveis e
lubrificantes, gastou o equivalente a R$ 70 mil reais, vindo em seguida, o
deputado Décio Lima, PT, com R$ 65 mil e Geovânia de Sá, PSDB, com R$ 64 mil. É
importante esclarecer a todos/as os/as catarinenses que os profissionais do
magistério público estadual catarinense recebem um dos menores vales refeições
em comparação as demais categorias dos servidores públicos.
Quanto
aos/as parlamentares, a ambos/as são assegurados/as outros privilégios
financeiros mediante a Cota Parlamentar a que tem direito. Somente em repasses
da cota aos deputados federais e senadores catarinenses, totalizaram R$ 7,62 milhões
em 2016 gastos com despesas de almoço, passagens aéreas, entre outras. Se tal prerrogativa é constitucional ou
regimental, não vem ao caso, o fato é que diante de uma realidade terrível a
que estão submetidos os/as brasileiros/as, com quase 15% de desempregados/as,
com ameaças de demissões, cortes e mais cortes de direitos, é um tanto quanto
imoral permanecerem os/os parlamentares com tais privilégios.
Quem
deveria dar o exemplo a toda propaganda paga pelo Estado para conscientizar a
população da necessidade de economizar, evitar desperdícios, seria os próprios
legisladores. Embora alguns deputados já o fazem, bem como algumas câmaras
municipais com redução de proventos, outros legisladores, pelo contrário,
tiveram crescimento expressivo de seus gastos com as cotas parlamentares. Muitas
das justificativas apresentadas por ambos para tentar convencer a população de
que os recursos são imprescindíveis para o bom andamento de suas funções como
parlamentares nas suas bases eleitorais, o cenário político e o sentimento expressado
por cada cidadão/ã são provas cabais de que é muito pouco o que fazem para fazer
valer o montante de dinheiro recebido.
Quando
falamos de descrédito ou de desilusão dos/as brasileiros/as com a política e
com os seus representantes, um exemplo para elucidar foi o que ocorreu na
quarta feira, 01 de fevereiro, quando da realização de uma palestra sobre Parlamento
Jovem na EEBA de Aararanguá. Expressiva parcela dos/as estudantes presentes
levantaram as mãos no momento que foi efetuada a seguinte pergunta: Quem acha
que a política é algo indiferente na vida de cada um de vocês? A reação dos/as
estudantes reflete exatamente o que sentem milhares ou milhões de brasileiros
hoje em dia. É claro que poucos/as cidadãos/ãs terão oportunidade de ler tal
reportagem do jornal, muitos talvez, terão até dificuldade de interpretar
tantos números, tantas casas decimais, pois são valores muito altos.
A
participação do jovem no parlamento, como iniciativa da escola do legislativo
da ALESC, se constitui em momento de oportunidade do jovem estudante de compreender
o motivo pelo qual tanto dinheiro é gasto por um candidato à disputa de uma das
cadeiras do legislativo durante as campanhas eleitorais. O objetivo, portanto,
de reportagem como a que mereceu caderno especial no DC, nesse domingo, com o
título “Nós de almoço a passagens aéreas”, não é desestimular ainda mais o/a
jovem e o/a cidadão/ã brasileiro/a e catarinense em gostar de política e
acreditar em seus representantes.
Muito
pelo contrário, a idéia é debater política em todo sentido e participar
ativamente do seu processo. No momento que as pessoas afirmam categoricamente
que política tanto faz como tanto fez, estão expressando exatamente o que
querem muitos desses parlamentares que tem assegurados tantos privilégios,
recursos que poderiam estar sendo investidos na melhoria das nossas escolas,
hospitais, estradas, segurança, saneamento básico, etc. R$ 7,62 milhões, que
foi o valor gasto pelos parlamentares catarinenses em 2016 com despesas de
almoços e passagens, poderia tranquilamente ajudar na reforma de dezenas ou até
mesmo centenas de escolas públicas que estão caindo aos pedaços.
A
política, portanto, faz parte da vida de cada cidadão, gostando ou não. No
momento que as pessoas deixam de gostar, de participar, discutir os problemas,
alguém está se beneficiando, obtendo privilégios. Pois todos continuam pagando
impostos, elegendo e reelegendo seus representantes, muitas vezes em troca de
telhas, cestas básicas, dinheiro, etc. Tanto o parlamento jovem como os grêmios
estudantis ambos têm funções importantes e distintas. Quando ocorreu ou ocorrem
encontros como a palestra da Escola do Parlamento na EEBA, concebida como virtude
da escola por ter sido contemplada entre centenas inscritas, isso deve ser bem
aproveitada pelos profissionais da escola, para a revitalização do seu grêmio e
das demais agremiações que congregam as redes de ensino público e particular da
região.
São por meio dos grêmios estudantis que poderão
ser realizados os debates políticos nas escolas, aproveitando até a cartilha
distribuída pelas palestrantes com o título “o que é política, Prá inicio de
conversa... A leitura da Poesia O Analfabeto Político do pensador Alemão, Bertolt
Brecht, se constitui como ferramenta útil e eficaz para desconstruir
informações e conceitos equivocados sobre política que dominam as mentes de
nossos jovens e adultos. Na sequência, depois de compreender os novos conceitos
relativos à política e o papel constitucional do parlamento, há de se convir que
os/as estudantes estarão aptos para discutir assuntos mais complexos como a
própria reportagem do DC: “Os Gastos do Seu Parlamentar no Congresso”.
Prof.
Jairo Cezar
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