O HISTÓRICO DESCASO DAS
AUTORIDADES PÚBLICAS COM A CULTURA NO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ
Em sociedades mais desenvolvidas há o desejo quase
obsessivo das pessoas de quererem proteger os símbolos materiais e imateriais
construídos para o fortalecimento da memória coletiva. Já no Brasil a
obstinação trilha caminhos completamente opostos seguindo a descaracterização e
a supressão definitiva dos símbolos representativos da cultura local. Quem
visita ou visitou alguma cidade histórica brasileira presenciou o modo displicente
como as autoridades tratam da memória materializada, como os casarios que estão
às ruínas sem qualquer plano de revitalização.
São situações que refletem o modelo míope,
atrasado de Estado brasileiro voltado à cultura, com dotações orçamentárias para
o ministério que beira o ridículo. Associada a um pensamento ainda
partidarizado no trato da cultura e tudo que ela representa para a emancipação
do povo, estão o legislativo e o executivo, que se esquivam ao máximo em
promover debates relevantes que combatam os gargalos culturais que entravam
o desenvolvimento sustentável das cidades.
No lugar do debate, prevalecem a indiferença e
ações isoladas que pouco contribuem para o rompimento das amarras históricas do
atraso econômico, social e cultural municipal e regional. Em relação ao atraso,
estamos nos referindo ao município de Araranguá que embora tenha o título de uma
das mais antigas ocupações estado, com mais de trezentos anos de história, sem
incluir os quase quatro mil anos de presença pré-histórica, está longe de
vencer seu quase crônico atraso econômico e cultural.
Cultura não é somente dinamizar rota gastronômica,
agosto cultural, natal verão, festa da padroeira e outros eventos com pouco impacto
positivo no impulso da economia regional. Até poderia ser se tais
proposições não partissem de uma administração cujo governo e os que comandam o
seguimento cultural não apresentassem um historio de envolvimento em movimentos
populares e culturais. É decepcionante o legado deixado pela
administração PT à cultura nos quatro anos a frente do poder. É sabido que,
como alegam os partidários petistas, que a crise que se abateu sobre o país
impactou economicamente a administração local, porém não é desculpa por não ter
plantado no município a semente do debate e da construção de um plano permanente,
autônomo, que pudesse caminhar paralelo a administração.
Nada disso ocorreu. Lembro que em 2011 ou 2012,
quando o PT era vice do prefeito Mariano Mazzuco, do PP, em inúmeras oportunidades
estive na casa da cultura chegando a ter participado junto com a Escola
Estadual do Morro dos Conventos de uma exposição relativa à cultura do bairro. Dois
anos antes tinha sido inaugurado o museu municipal, cuja escola estadual do
balneário doou para um artefato guarani, ou seja, urna funerária, encontrada
por um cidadão quando escavava o solo para instalação de fossa.
Com a realização das eleições municipais em 2012 no
qual resultou na vitória do PT nas urnas, se vislumbrava no horizonte próximo
que o museu e tudo o que se refere à cultura local e regional tomassem caminhos
diferentes, quem sabe numa guinada revolucionária transformando o município de
Araranguá em referência cultural estadual e quiçá nacional. Durante os quatro
anos foram contados os dias que o museu permaneceu aberto ao público. Acredito
que nos sete anos de existência do museu foram, talvez, três ou quadro
exposições importantes que apresentou para o público uma releitura da memória
local.
Na época, conversando com a dirigente do centro
cultural e do museu, isso quando o partido dos trabalhadores era vice da administração
do PP, a dirigente sempre expressava o desejo de criar projeto de um museu
itinerante, que pudesse ir às comunidades, aos bairros, oportunizando as
pessoas a verem de perto traços no nosso passado representados por sons,
imagens e objetos.
Não houve,
portanto, qualquer iniciativa de concretização da proposta na administração do
Partido dos Trabalhadores. Há cerca de trinta anos várias foram as
manifestações solicitando que o legislativo municipal regularizasse legislação
resguardando de dilapidação o patrimônio arquitetônico do município do começo e
metade do século XX. Inúmeras foram os casarios e monumentos centenários, como o
coreto da Praça Alcebíades seara, o antigo prédio da prefeitura, este último em
poucos minutos foi demolido e o espaço deu lugar a um estacionamento para
automóveis.
São contáveis as construções que tiveram o mesmo
destino nos últimos anos. Nada foi feito. Todas as administrações sempre se
esquivaram em adotar medidas que pudessem tentar restringir tais práticas ou
quem sabe sancionar leis mais rígidas. Tal desleixo não se deu somente com as
construções e monumentos arquitetônicos históricos urbanos, o patrimônio
paisagístico natural Morro dos Conventos, Morro Centenário, Morro Azul, entre
outros, também sofrerão e sofrem descasos semelhantes. O agravante é que há
legislação especifica aprovada no município que resguarda de descaracterização
tais patrimônios, porém, não foi suficiente para evitar que o Morro Azul, fosse
vítima da brutalidade e da insensibilidade resultante da ganância do capital.
E o Morro dos Conventos? Um paraíso natural localizado
no Extremo Sul de Santa Catarina com um espetacular e formoso paredão
rochoso formado há milhões de anos, que ainda resguarda em todo o seu entorno resquícios
da endêmica fauna e flora local. Importante também pontuar que tais
peculiaridades naturais, associadas a um micro clima ameno e de uma abundante fauna,
ambos contribuíram para que a região costeira atraísse há mais de quatro mil
anos os primeiros grupos humanos identificados arqueologicamente como
sambaquianos.
Ao mesmo tempo em que se processavam as
transformações ecossistêmicas, climáticas, geomorfológicas, biológicas e da
própria dinâmica dos oceanos com os seus avanços e recuos sobre os continentes,
novos agrupamentos humanos iam se fixando e costurando formatos culturais
distintos na costa litorânea do sul de Santa Catarina. Assentada sobre as
diversidades de um cenário paisagístico deslumbrante, contemplativo, frágil e
em permanente mutação cíclica, que o Morro dos Conventos se configurou
naquilo que é hoje, um balneário com elevado potencial turístico, onde sai
governo e entra governo e tudo continua sendo tratado com desprezo, com elevado
risco de perder sua identidade de paraíso do sul em âmbito regional e nacional.
Imponentes falésias, inigualável barra do rio
Araranguá, espetaculares dunas, furnas, restingas e um imponente farol
construído há mais de meio século no ponto mais alto do balneário, são alguns
exemplos de tudo e algo mais que tornaram e tornam Araranguá por décadas
roteiro preferido de turistas, veranistas, bem como de outras pessoas que aqui
escolheram para fixarem residência e permanecerem. Não se podem excluir desse
complexo mosaico natural do qual assegurou a identidade ao Morro dos Conventos,
o hotel, a ponte e o camping, que juntos redesenharam o cenário urbano do
bairro entre os anos 1950 até o início dos anos 2000.
A concessão de uma área pública no Morro dos
Conventos a um grupo empresarial para dar lugar a um camping, ação homologada
por meio de legislação específica aprovada na câmara de vereadores em 1975,
resultou em um dos maiores booms econômicas da região. O processe se deu na
gestão do ex-prefeito Lino Jovelino Costa, forte aliado político do grupo
Freitas, novo proprietário do camping e de empresas e terras espalhadas pelo
sul de Santa Catarina. Com o apoio de
famílias abastadas do bairro, do poder executivo e do legislativo municipal,
foi possível viabilizar o projeto. A primeira medida foi a demolição da antiga
igreja e do barraco de festas, que também serviu de escola pública. Concluída
essa etapa, foi negociada em troca do terreno antigo, outra área próxima onde
seria erguida nova capela.
Em entrevista a um cidadão que foi vereador no
período que tramitaram as negociações, o mesmo afirmou que foi o único
integrante do legislativo que votou contra o projeto por não concordar com a
proposta de tirar do local a capela. Seu voto foi vencido, não evitando a
demolição e construção em outro local. Concluída todas as etapas do
empreendimento, o sucesso do projeto nos dois primeiros anos foi de tal
grandeza que o grupo Freitas tomou a decisão de adquirir outro terreno
limítrofe ao camping para a sua expansão.
Com a concretização definitiva do projeto no qual dobrou
a área original, até 1985, no auge do movimento, a rotatividade diária de hóspedes
no camping, na alta temporada, variava de 1000 a 1500 pessoas. Em ocasiões
especiais como o carnaval, o camping chegava a sua ocupação máxima, entre quatro
a quatro mil e quinhentas pessoas. Convém realçar que os números acima
esboçados são relativos ao camping, não estavam incluídos os hóspedes do hotel,
das cabanas, pousadas, pequenos campings e casas alugadas fora do perímetro do
camping.
O sucesso do empreendimento lhe assegurou o titulo
internacional de um dos campings com melhor infraestrutura da América
Latina. A placa recebida na premiação foi fixada em um monumento construído
próxima a portaria do camping, parte baixa. Conforme relatou um dos antigos
funcionários do camping, o mesmo informou que a aquisição da área pelo grupo
Freitas se deu pelo fato do negócio se configurar como uma espécie de “cabide de
emprego”, que assegurava a eleição de candidatos que orbitavam os círculos de
poder monitorados pelo grupo proprietário do camping. Isso se dava tanto em
escola local, regional e nacional, tamanha a sua influência.
Outro problema sério ocorrido no camping durante a
gestão Freitas foi o total descontrole acerca do funcionamento do
empreendimento. Além do desleixo de parte significativa dos trabalhadores nas
funções que exerciam, havia a prática descabida do furto nos vários
departamentos: supermercado, lanchonetes, restaurantes, lojas, entre outros
setores, todos controlados pelos proprietários. Eram aproximadamente 250
funcionários contratados durante os quase dez anos de gestão Freitas.
Com a transição da gestão Freitas do camping para outro
proprietário de cidadania argentina, o processo de gestão do empreendimento sofreu
uma abrupta transformação. A decisão tomada pelo novo proprietário foi de
terceirizar os principais empreendimentos internos ao camping, reduzindo
vertiginosamente de 250 para 40 ou 50 funcionários. O camping Morro dos
Conventos e o Hotel com o mesmo nome, durante os quase vinte anos de hegemonia,
movimentou a economia do bairro e do município de Araranguá. Segundo o
entrevistado, ele afirmou, sem qualquer modéstia, que o camping e o hotel eram
o coração da pujança da região.
Com os primeiros sinais de decadência do ciclo do
campismo nos moldes tradicionais, era de se imaginar que as autoridades
competentes do município mobilizariam o proprietário do empreendimento e a
população do bairro para discutir caminhos alternativos ao ciclo que se
encerra. Seria possível ter mantido preservada a floresta e todo o ecossistema
constituído do camping, com objetivo de inventar novo ciclo econômico mais
dinâmico e duradouro? O tempo passou o Camping Morro dos Conventos atraindo
cada vez menos turistas. A ousadia foi tanta que houve até a concessão ou
locação das construções internas para clubes de baladas noturnas, que se
constituíram em “pá de cal” para o enterro definitivo do camping.
Várias foram as denúncias protocoladas na justiça
contra as festas noturnas no interior do camping por infringir inúmeras
legislações em vigor dentre elas a lei do silencio. Com o fim da limpeza do
camping e os sinais cada vez mais reveladores da franca deterioração das
construções, uma placa da FAMA foi afixada autorizando a supressão da
vegetação. Centenas de árvores exóticas e nativas, algumas quase centenárias e
todo o complexo acervo de espécies que integravam aquele ecossistema, foram
derrubadas. A população, no entanto, acompanhava atônita, cenas macabras
da derrubada das árvores, dos chalés, banheiros, parque infantil, piscina e da demolição
definitiva do monumento onde estava assentada a placa referente a premiação do camping.
Em poucos dias mais de cinco décadas de história
daria lugar a um amontoado de toras, raízes e escombros de construções
demolidas. O único monumento que continua lá acompanhando os movimentos das
máquinas e de trabalhadores é de um elefante de concreto em forma de
escorregador que fez a alegria de milhares de crianças. É uma mistura de
tristeza e perplexidade de ter que acompanhar a destruição e não poder impedir.
A ficha enfim caiu quando se viu afixada nas laterais do camping uma
grande Placa da FAMA contendo números do processo e nomes dos profissionais liberando
o licenciamento ambiental para a construção do empreendimento imobiliário no
local.
A angústia de ver tudo aquilo era pelo fato da
atual administração municipal, vinculada ao partido dos trabalhadores, ter como
lema de governo a sustentabilidade. Alguém se lembra do lema de governo da
ex-presidente Dilma, no seu segundo mandato? Brasil, Pátria Educadora, não é
mesmo? Será mera semelhança em relação
as contradições dos lemas? Ouvir a população era o mínimo que a administração e
seu órgão ambiental poderiam ter feito. Pois a área do que seria o camping não
era somente um ambiente constituído de arvores, cabanas e outras construções,
era sem dúvida o patrimônio do município, com história, sentimento, que como um
pesadelo desapareceu do cenário, permanecendo apenas no imaginário social.
O descaso da atual administração com as causas
ambientais, com a história, com a cultura seguiu e segue o mesmo processo das
administrações anteriores. Se o Morro dos Conventos adquiriu notoriedade
nacional e internacional elevando também o próprio município de Araranguá, isso
teve relação com o empenho dos próprios empresários do setor hoteleiro e do
camping que não mediram esforços em instalar agência de turismo na própria
argentina para comercializar pacotes para as altas temporadas no Morro dos
Conventos.
Segundo o cidadão entrevistado, o poder público, durante
o instante que o camping estava sob a gestão do Bonailton, jamais se sentaram
para discutir planos conjuntos para dinamizar o turismo na região. Muito pelo
contrário, o que prevaleceu foi a severa perseguição das administrações
subsequentes contra o proprietário, arcando com os gastos exorbitantes em impostos
e outros serviços prestados pelo município sem contrapartida. O que deveria ter
ocorrido naquele instante, quando surgiram os primeiros sinais da derrocada de
um ciclo, era o poder público ter se mobilizado e definir outros caminhos para
o turismo local do mesmo modo como se deu em outras regiões do estado e Brasil.
É
impressionante, na época tínhamos o hotel, o camping morro dos conventos, lago
dourado, golden parque, golférias. Com governos focados no turismo certamente
tudo isso poderia ter sido mantido e o município não estaria amargando hoje um
ridículo posto de um dos municípios mais pobres do estado de Santa Catarina. Todos
os governos que passaram pelo município nas últimas décadas, duvido quem tem
lembrança de algum legado relevante deixado para dinamizar o turismo. Tirando o
esforço de alguns visionários empresários do setor que conseguiram driblar as
adversidades para se manter vivo no negócio, o poder publico, ao contrário
sempre deu as costas para o setor.
O Morro dos Conventos não é segredo para ninguém, expressiva
parcela de turista e visitante passa por lá ou que se hospedam nas baixas e
altas temporadas, são atraídos entre outros fatores pelas extraordinárias
belezas naturais oferecidas. Se tais atrativos naturais ainda permanecem
preservados é devido ao esforço de voluntários ou entidades ambientais que não
medem esforços para promover ações de limpeza especialmente da orla. Também não
se amedrontam e se curvam as pressões e ameaças advindas do setor imobiliário e
de cidadãos que tentam burlar as leis ambientais e a orgânica na tentativa de
expandir seus negócios em áreas de preservação.
O estarrecedor é que muitos dos projetos propostos
para o Morro dos Conventos, como uma passarela que ligaria as dunas à furna
(abrigo sobre rocha), bem como de um mirante pretendido no farol, com a
aprovação do órgão ambiental municipal, foram abortados por ter sido comprovado
irregularidade na sua elaboração. Mais uma vez não é segredo para ninguém que
há décadas vem se discutindo no Morro dos Conventos a criação de uma unidade de
conservação que assegure definitivamente a preservação de toda á área encima e
do entorno das falésias.
Através de um plano de manejo bem construído seria
possível disciplinar tanto a ocupação imobiliária ao redor da unidade, como
também definir estratégias de como explorar as potencialidades oferecidas, o
farol, as trilhas, as furnas, à barra do rio Araranguá e os inúmeros sítios
arqueológicos sem comprometê-los. Alguém acredita que o futuro gestor público
municipal, suas secretarias afins, cultura e turismo, o legislativo e o próprio
órgão ambiental municipal, se prestarão em realizar algum encontro no balneário
e debater com a população local proposições desse porte nos próximo quatro
anos?
Se a atual administração que teve como lema de
governo a sustentabilidade, resultaram em dezenas de denúncias impetradas nos
MPE, MPF e Polícia Ambiental, por atos criminosos ao ambiente, imaginemos
agora, com a futura administração, com um longo e histórico descaso o meio
ambiente e o balneário morro dos conventos. Se a atual administração tivesse ao
menos nos quatro anos a frente do executivo convencido a comunidade do morro
dos conventos da necessidade da criação da unidade de conservação, já teria deixado
um grande legado às futuras gerações.
Nada disso o fez, muito pelo contrario, durante os
quatro anos o próprio poder público e o órgão ambiental sempre procurou
criminalizar lideranças dos movimentos ambientais locais devido às denúncias
impetradas aos órgãos competentes por atitudes negligentes que comprometiam os
frágeis ecossistemas no Morro dos Conventos. Outra prova de que o poder público e o seu
órgão ambiental tentaram de todas as formas forjarem o processo para favorecer
o setor imobiliário e proprietários de terrenos, foi o projeto orla iniciado no
final de 2014 e finalizado em meados de 2016.
O Balneário Morro dos Conventos, constituído por um
paredão de formação geológica datada de duzentos milhões de anos, de um
fabuloso e rico patrimônio arqueológico que guarda vestígios dos primeiros
humanos que habitaram a região há cerca de quatro mil anos, acreditem, a
presença de um representante da secretaria da cultura em uma das reuniões do
Projeto Orla ocorreu uma única vez. Tal proeza se deveu ao fato da Oscip ter encaminhado
convite ao coordenador do departamento de arqueologia do IPAT-UNESC, que de
pronto atendimento aceitou e se fez presente, junto com outros profissionais da
entidade.
Vários convites também foram encaminhados ao IPHAN,
Santa Catarina, porém, nos dois anos que se seguiram as reuniões jamais se
fizerem presentes. Em outra reunião ocorrida no gabinete do prefeito, no mês de
junho ou julho de 2016, acompanhado de representantes do IPHAN, IPAT-UNESC,
FAMA, OSCIP PRESERV’AÇÃO, para dar prosseguimento as discussões relativas a
preservação dos sítios arqueológicos, se repetiu a ausência de membros da
Cultura e da Educação do município. Já na reta final da gestão PT – Araranguá,
e com a pouco convincente explicação do atual prefeito pela desistência à disputa
eleitoral, outro candidato da sigla foi indicado no último dia da convenção
para a difícil missão de conquistar os votos de uma população desacreditada e
decepcionada depois de tantos equívocos e tropeços cometidos pelo atual
governo.
Depois de
quatro anos de total abandono da administração com um dos seus principais
balneários, o que gerou mais indignação foi ter acompanhado pelo rádio o
programa político do partido dos trabalhadores contendo propostas extremamente
polêmicas como a abertura da estrada interligando o bairro paiquere ao
balneário morro dos conventos. O fato é
que esse tema não houve consenso entre os integrantes do Projeto Orla. Agora ir
para o rádio e prometer a abertura da respectiva rua, bem como a sua
pavimentação com lajotas fabricadas por uma fábrica criada pela própria
prefeitura, é algo intragável. Em nenhum momento o candidato a prefeito pelo PT
esteve presente em uma das dezenas de reuniões do projeto orla.
E não parou por ai as propostas vazias do
candidato. Prometeu a instalação de containeres para servirem de banheiros na
praia e um posto de informação turística. Além do mais, também prometeu a
criação de um calçadão na rua aparados da serra. A única vez que teve um posto
de informação turística no balneário foi usada as dependências de um barraco
próximo a portaria do camping. Agora, posto turístico para oferecer o que ao
turista? O que deveria ter prometido ou estar contido no programa de governo seria
algo mais palpável, como a elaboração de um amplo projeto de longa duração para
o turismo. O primeiro passo seria elencar as potencialidades oferecidas pelo município
e balneário e estimular a participação da população e seguimentos empresariais,
ligadas a hotelaria, comércio, gastronomia, entre outros, em um debate franco e
propositivo.
Quanto ao calçadão, todos sabem que é uma proposta
cara e por enquanto desnecessária diante da enormidade de demandas que o
balneário vem esperando há anos. Colocar lixeiras apropriadas e promover o
recolhimento adequado do lixo e nos dias estabelecidos, já seria suficiente. Se
a idéia também é a sustentabilidade, deveria ter a atual administração,
cumprido artigos da lei orgânica que restringe a aplicação de agrotóxicos em
vias públicas, algo que não o fez.
Sobre a rua aparados da serra, durante os quatro
anos de gestão PT, são incontáveis o número de caçambas de pedras depositadas
no trecho em declive, que na primeira chuva um pouco mais volumosa tudo era
arrastado e o trabalho perdido. O dinheiro que foi gasto na compra das pedras,
combustível das máquinas, trabalho dispensado, seria suficiente para instalação
de tubos e a pavimentação da mesma. Nada foi feito. Portanto, no lugar do
calçadão pretendido, que se recuperem as calçadas quase intransitáveis das ruas
do balneário e da uma grade entre a Rua Caxias e aparados da serra, que vai
governo e vem governo, ela continua lá provocando acidentes e incidentes.
Se a vida é um eterno aprendizado, as falhas que
cometemos profissionalmente e na gestão de um bem público como o município
devem servir de reflexão para redirecionarmos nossas ações futuras. Além do
mais, quem sabe ocupar novamente os espaços de decisão e agir diferente, ter a
humildade de ouvir a opinião dos que contribuíram em antigas jornadas e não dar
ouvidos e espaços a predadores oportunistas que se alojam nos espaços de poder,
se alimentam do poder e quando estão bem alimentados, cospem fora. Não foi isso
que fizeram muitos dos partidos que ocuparam espaços da administração do
partido dos trabalhadores. Que a história contribua para a reflexão.
Prof. Jairo Cezar
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