A
VENDA DO PRÉ-SAL E A PERDA DA SOBERANIA NACIONAL
A
votação ontem na Câmara Federal do projeto que retirou da Petrobras a condição
de empresa única na exploração do Pré-Sal foi sem dúvida um dos maiores golpes conhecidos
na história contra a soberania territorial e política do Brasil. Fato similar à
perda do controle do pré-sal ocorreu na gestão FHC quando em 1997 por uma
bagatela de 5 bilhões de dólares a estatal Vale do Rio Doce do setor de
mineração foi também vendida às companhias estrangeiras. Era o início de um
processo de entreguismo sem precedente das nossas riquezas que iniciou no
governo Collor de Mello, e continuando nos governos subseqüentes, até a chegada
no poder de Michel Temer, que inaugura um novo ciclo violento de privatizações.
O
fato é que agora o novo presidente tem a seu favor esmagadora parcela do congresso
nacional, do setor empresarial e financeiro nacional e internacional. Todos esses seguimentos apóiam as reformas
estruturais pretendidas, pois sabem que tais medidas lhes proporcionarão a elevação
dos lucros e o empobrecimento da população brasileira.
Quando
governos neoliberais ou neopopulistas se instalam no poder o que fazem é criar cenários
de instabilidade forjando crises, ou até propalando falências fictícias como no
sistema previdenciário para poder justificar as reformas pretendidas mediante a
elevação da idade mínima para a aposentadoria. No caso da Petrobras a tentativa
é privatizá-la a todo custo. Nos últimos anos a empresa vem dominando os
noticiários televisivos e das demais mídias com denúncias de escândalos de
desvios de bilhões de reais da companhia, fato que resultou na operação “lava-jato”.
A verdade é que a corporação não é corrupta, são pessoas – políticos, funcionários,
entre outros, vinculados a partidos políticos, que no exercício de suas funções
na estatal forjavam esquema de desvio de recursos para financiar campanhas
eleitorais e enriquecimento próprio.
A
pressão negativa sobre a empresa foi de tal forma avassaladora que as ações da
companhia nas principais bolsas de valores tiveram baixas significativas. Com
ações em baixa, é claro que muitas empresas do setor aproveitam a oportunidade
para adquirir ações baratas com expectativas de lucrar no futuro. O processo é
tão perverso que agências de avaliação são contratadas chegando ao ponto de
apresentar relatórios com dados contábeis negativos das contas da estatal. A intenção é manipular a opinião pública de
tal modo que possa convencê-la de que não há outro caminho para combater a
roubalheira que não seja privatização.
O
primeiro ponto a ser destacado é que a divida da empresa orçada em cerca de 90
bilhões de dólares, um dos motivos de toda a balbúrdia que se espalhou pelo
Brasil, é irrisório em comparação aos 50 bilhões de barris de petróleo previstos
na reserva do pré-sal. Seguindo esse raciocínio, dos cinqüenta bilhões de
barris de petróleo previstos, a um valor de mercado que hoje beira os 50
dólares por barril, o Brasil teria um lucro bruto de 2 trilhões de doares
aproximadamente. Portanto, se o motivo da venda é a dívida, é um argumento que
não convence. O segundo ponto é que com a venda dos direitos de extração, o
poder sobre o pré-sal estará sendo entregue a certas empresas que não inspiram
qualquer confiança quanto a honestidade dos seus negócios. Em termos de
comparação, são insignificantes os escândalos de corrupção denunciados pela
operação lava jato sobre a empresa comparado aos escândalos das companhias
petrolíferas que irão extrair e comercializar o petróleo brasileiro.
Outro
aspecto importante que deve ser ressaltado com o pré-sal é a ressignificação da
nova ordem geopolítica global. A uma forte tendência de o Brasil se configurar como
território de influência das principais potências econômicas que tem o petróleo
como fonte principal de energia. O progressivo estreitamento das relações
comerciais com a China, até mesmo conferindo a empresas chinesas fatia expressiva
do pré-sal, acendeu a luz vermelha de potencias como os Estados Unidos que
historicamente se posicionavam como nação hegemônica sobre o continente
americano.
Atualmente,
com a intensificação dos conflitos nas regiões produtoras de petróleo do
oriente médio, associada a redução das reservas disponíveis devido ao aumento
da demanda por energia, o Brasil, com o pré-sal, poder se tornar palco de
disputas geopolíticas, capaz até de desencadear conflitos com repercussão
global. Os dois principais conflitos mundiais tiveram entre outros fatores o
petróleo como um dos estopins que desencadearam a violência. A entrega, portanto, do pré-sal, às gigantes
corporações é querer tornar o Brasil eternamente dependente e subdesenvolvido.
A Angola é um exemplo de nação que seguiu o caminho que está sendo pretendido
pelo Brasil, entregou suas reservas às multinacionais e hoje a população amarga
a miséria.
Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que se
fala tanto das extraordinárias reservas de petróleo do pré-sal, da sua entrega
às grandes corporações e a configuração de um novo desenho geopolítico a partir
desse cenário, o mundo vive o dilema do aquecimento global, da necessidade
urgente de limitar a queime de combustíveis fósseis, petróleo, carvão, substituindo-os
por fontes limpas renováveis como a eólica, solar, etc. Quase todos os anos
encontros são realizados como as COPs (Conferência das Partes), onde são discutidas
ações conjuntas para tentar frear o aumento acelerado da temperatura do
planeta, que já é comprovadamente responsável por mudanças climáticas extremas.
A Furação Catarina, as estiagens e os frequentes ciclones extratropicais que vêm
se abatendo sobre o litoral catarinense, já servem de alerta.
Prof.
Jairo Cezar
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