Semana do meio ambiente: “Pense, Coma, Poupe”.
Com a realização da primeira conferência
Mundial sobre o ambiente em Estocolmo, em junho de 1972, foi acordado que
anualmente a primeira semana de junho, cujo ápice é o dia cinco, fosse
reservada para refletir as
interferências humanas sobre o ambiente local e os impactos à grande aldeia
global terra. Embora a conferência tenha
recebido expressiva participação de governos e chefes de Estados que aprovaram
algumas metas emergenciais como a limitação da poluição em níveis toleráveis e a
prática da educação ambiental, o planeta terra nestes últimos quarenta anos vem
sofrendo agressões de tal magnitude que ameaça a sobrevivência de toda
biosfera. Depois do encontro de Estocolmo em 1972, outras tantas conferências se
sucederam como a Rio-92, Rio+20, encontro de Kyoto e dezenas de COPs
(Conferências das Partes), estas últimas para a ratificação de acordos e
cronogramas que jamais foram cumpridos.
É consenso geral que a problemática ambiental
mundial está condicionada ao modelo de desenvolvimento econômico predatório que
está sendo adotado, que se nutre das contradições, da exploração do trabalho e
dos recursos naturais finitos. Diante desse modelo de produção, os milhões de
dólares gastos na realização das inúmeras conferências sobre o ambiente, pouco
efeito trouxeram ou trarão, pois as mesmas não atacam nas causas do problema,
apenas medidas paliativas para amenizar seus efeitos. A fome que avassala
milhões de pessoas no planeta também é fruto dessas políticas. Não porque haja
escassez de alimentos disponíveis, muito pelo contrário, a cada ano, com algumas
exceções, a disponilibilidade de alimentos aumenta, porém, o problema está na
distribuição ou desperdício dos mesmos. No planeta um em cada sete pessoas
passa fome, e mais de vinte mil crianças com menos de cinco anos morre todos os
dias de desnutrição. Um quarto dos alimentos desperdiçados anualmente seria
suficiente para alimentar novecentos milhões de pessoas no planeta. Somente no
Brasil são lançados no lixo a cada ano vinte seis milhões de toneladas de
alimentos.
Com
vistas a sensibilizar a sociedade e os governos, a ONU escolheu como slogan
para a semana mundial do ambiente de 2013, “PENSE – COMA – POUPE”. Esse tema visa sensibilizar a população acerca
das políticas públicas relativas ao cultivo, distribuição, armazenamento e
consumo de alimentos e os fatores responsáveis para o aumento de famintos no
planeta. A concepção de consumo sustentável também fará parte das discussões,
que debaterá estratégias de como as pessoas podem viver com o mínimo. Numa
sociedade descartável como a que vivemos tais idéias podem ser interpretadas
como absurdas, correndo o risco de ser ridicularizadas pelos próprios governos
que tem suas políticas desenvolvimentistas alicerçadas em números, estatísticas,
percentuais de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Mesmo assim, é
urgente alertar a humanidade que tal modelo econômico é questionável e
responsável pelo progressivo aumento da escassez de água potável que afeta mais
de 40% das pessoas no planeta, ou seja, aproximadamente 1.8 bilhão. Hoje, os
sete bilhões de pessoas que ocupam 3% do planeta, consomem 75% dos recursos
naturais, resultando na produção de 50% dos resíduos totais que contribuem por
60 a 80% das emissões de gases estufas.
O problema da fome não é motivado pela falta,
mas pela má distribuição dos alimentos, pois um terço produzido ou 1.3 bilhão
de toneladas, acaba apodrecendo nas lixeiras dos consumidores ou varejistas.
São aproximadamente 300 milhões de toneladas descartados todos os anos nas
regiões industrializadas. A produção de gêneros alimentícios no planeta ocupa
25% das terras habitáveis, consumindo 70% da água potável e responsável por 80%
do desmatamento que contribui com 30% da emissão de gases estufa. Quando muita
se fala na emissão de dióxido de carbono pelos escapamentos de automóveis e
chaminés de fabricas e visto como um dos
vilões pelo aquecimento global, a mídia procura escamotear outro gás muito mais
agressivo que o dióxido de carbono (CO2), o gás metano (CH4). Segundo dados do
Instituto de Ciências Biológicas, Ambientais e Rurais da Aberystwyth
University, o gás metando emitido por bois e vacas é 21 vezes mais perigoso que
o dióxido de carbono. Somente no Brasil, um quilo de carne bovina custa 10 mil
metros quadrados de floresta desmatada, 15 mil litros de água doce, etc.
A ONU, todos os anos escolhe um país como
referência para celebrar a semana do meio ambiente. Um dos principais critérios
na seleção são as políticas de redução significativa dos problemas ao
ecossistema. Para 2013, a Mongólia foi o país escolhido pelo simples fato de
estar passando por um processo de transição de uma economia convencional à verde.
Esse modelo de produção se caracteriza por um complexo conjunto de transformações
nas estruturas industriais, comerciais, agrícolas e de serviços, que quando aplicado produz o
mínimo de resíduos ou impactos ambientais e sociais. Diante
de uma economia baseada exclusivamente na atividade agropastoril, em 2010, o governo da Mongólia decidiu
suspender os pedidos para abertura de novas minas de carvão até que fosse
promulgada nova legislação definindo novos procedimentos para a extração e
beneficiamento. A justificativa de tais medidas visa promover a transição do
país à “economia verde” e proteger as sociedades tradicionais que adotam práticas
milenares de extrativismo que estão fortemente comprometidas pelo aquecimento
global.
A preocupação do governo da Mongólia com
o aquecimento do planeta também é respaldada pela população chinesa residente
na capital Pequin e outras cidades industriais do país em que os índices de partículas
de poluentes suspensas na atmosfera vêm tornando o ar irrespirável. Se a China
mantiver os índices de crescimento de sua economia em taxas médias anuais de 8
a 9% do PIB, o planeta não suportará tamanha pressão. Atualmente a concentração
de dióxido de carbono na atmosfera atingiu o mais alto nível em 4 milhões anos,
chegando a 400 ppm (partes por milhão). Isso
quer dizer que a cada milhão de moléculas suspensas, quatrocentas são de
dióxido de carbono. São essas moléculas as responsáveis pela absorção da
radiação infravermelha que é novamente devolvida a terra, mantendo-a aquecida. Quando
atinge ou supera o patamar de 400 ppm é sinal de que a terra está super
aquecendo. A ultima vez que isso ocorreu, foi na era PLIOCENA, onde a
temperatura era maior, as calotas polares menores e o nível do mar 25 metros
maior que hoje.
Diante de tantas tragédias naturais como
furacões, tornados, enchentes, estiagens prolongadas, derretimentos das calotas
polares, a grande imprensa mundial principalmente a televisiva ocupa parte dos
seus horários com programações fúteis, descartáveis que em nada contribuem para
a promoção da cidadania, da conscientização, da construção de hábitos de
consumo saudáveis. É preciso transformar ou romper essa estrutura de controle
social que se nutre da ignorância de milhões de pessoas que se colocam a frente
da TV consumindo imagens e desejos que jamais serão concretizados. Não podemos
alimentar a expectativa de que transformação de uma sociedade como a brasileira
ocorra sob a forma de decretos ou projetos de leis que disponibilizarão mais e
mais recursos financeiros para educação, saúde, segurança, etc. Isso jamais
ocorrerá dentro desse modelo econômico. Uma grande revolução pode começar na
sua casa praticando hábitos simples como cultivar uma pequena horta com
adubação orgânica, separar o lixo, não desperdiçar alimentos, economizar água e
energia, andar mais de bicicleta que de carro, ter um ou dois pares de
calçados, duas ou três peças de roupas, participar de trabalhos voluntários,
etc. Numa sociedade de consumo na qual
estamos reféns e cuja pressão da mídia é estimular mais e mais o consumo de
descartáveis, fugir a essa tentação exigirá esforço redobrado.
Uma nova geração de cidadãos e cidadãs conscientes
deverá ser construída. Porém é na escola que os (as) educadores (as) assumirão
a responsabilidade de despertar em cada estudante as suas potencialidades
cognitivas de poder imaginar um ambiente diferente do qual estão inserido. É a partir de um novo
imaginário social que será possível promover as transformações e a escola
pública assumirá esse compromisso. Não a escola que temos, dominada por um
sistema de ensino falido que a emprega para moldar sujeitos acríticos e úteis
para fazer movimentar as engrenagens de uma estrutura que explora e consome
energia vital dos trabalhadores convertendo em lucro e mais lucro para o
capital. Uma escola verdadeiramente pública é aquela onde os currículos são
construídos mediante a participação de toda comunidade escolar.
A seleção dos conteúdos terá como
critério os problemas que envolvem a comunidade estimulando os (as) estudantes
a refletirem sobre as estratégias para solucioná-los. Problemas ambientais,
fome, violência, intolerância, entre outros temas emergentes farão parte da
rotina dessas escolas. Nessas unidades de ensino os estudantes saberão que e
acordo com a FAO (Food agriculture organization), órgão das nações unidas para
alimentação, o Brasil se destaca como o
quarto maior produtor de alimentos do planeta, 25% a mais do que necessita d
porém, 11,2 milhões de pessoas vivem na pobreza, e o que desperdiçamos por ano
daria para alimentar 19 milhões de bocas. Durante a semana do meio ambiente,
que vai de 03 a 08 de junho, possivelmente muitos administradores municipais
espalhados pelo Brasil já devem ter estabelecidos todo um cronograma de
atividades minuciosamente preparado visando mostrar um cenário irreal, otimista
e acrítico, onde dificilmente haverá espaços para as organizações da sociedade
civil como ONG e Oscip Ambientais colocarem suas verdades, os problemas e as
omissões do poder público quanto a fiscalização e punição dos infratores
ambientais.
Prof. Jairo Cezar
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