Teoria
da Complexidade: reflexões acerca das
crises que assolam o planeta e possibilidades
de soluções
Texto
adaptado a partir da obra “A Minha Esquerda” de Edgar Morin
Durante
os séculos XIX e XX o que prevaleceu nas sociedades ocidentais foi a lógica da razão,
da ciência, da exploração desenfreada dos recursos naturais e da produção
exacerbada de bens de consumo. Acreditava-se que com os avanços das técnicas e
das tecnologias as sociedades alcançariam um grau elevado de progresso que proporcionaria
a completa erradicação da miséria e das desigualdades sociais que vem acompanhando
a humanidade há séculos.
No
entanto a crença cega a “Deusa ciência” como resposta às crises sociais e as
guerras, começou a ser questionada a partir das últimas década do
século XX, quando o planeta lançou os primeiros sinais de que o modelo de
produção vigente poderia levar a sua destruição. Nesse contexto a ciência, que
exercia sua condição de “deusa” inquestionável do progresso, da modernidade,
estava desprovida de regras elementares quanto aos limites da aplicação da inteligência
humana. No passado, o problema da
relação entre o conhecimento científico e a ética não era levado a sério. O que importava era o conhecimento, o controle
e o domínio da natureza, dispensando qualquer tipo de normatizações que
disciplinassem tais ações. No século XVIII, teóricos como Emanoel Kant já lançava
manifesto admitindo que a ética não provinha de Deus, da religião, do Estado e
nem da sociedade, mas do próprio indivíduo.
Com
a chegada do século XXI, problemas como degradação
ambiental, efeito estufa, que eram avaliados pelos teóricos positivistas do
século XIX como possibilidades remotas no futuro em decorrência da crença na
ciência, tornam-se temas obrigatórios nas agendas governamentais e nos
encontros, congressos e conferências sobre ambiente. A preocupação dos
representantes do sistema capitalista, diante da ameaça a vida no planeta, foi
promover ajustes paliativos na engrenagem produtiva, tornando mais humana a
exploração do trabalho, porém, mantendo o cuidado para não ocorrência da
ruptura.
O
que ficou explícito aos olhos de todos foi o forte impacto sofrido pela ciência, que já não respondia mais as
promessas lançadas no século XIX, que cultuava a tecnologia, o progresso, porém desprovidas de ética. Agora, mais do que nunca, era imprescindível
construir uma nova forma de organização centrada nos princípios da solidariedade ética. A falha, portanto, cometida pelos
protagonistas da ciência foi em acreditar na previsibilidade da história, na
crença cega da evolução e do progresso, da não compreensão de que o planeta
terra é um sistema vivo e complexo, que há uma relação sistêmica entre seus
componentes, semelhante a uma “teia
viva” desprovida de certezas a longo prazo acerca dos fins e dos meios.
A
idéia de desenvolvimento foi um mito construído pelo ocidente e cujo modelo
deve ser abandonado em defesa de uma política do homem e da civilização. Não o
modelo de desenvolvimento que vem sendo propagado pelo sistema capitalista,
defendendo um padrão de sustentabilidade que nada mais é do que atenuar o desenvolvimento levando em
consideração o contexto ecológico, sem questionar seus princípios.
Este
modelo não considera o sofrimento, a alegria, o amor, sendo que sua única
medida de satisfação reside no crescimento (da produção, da produtividade, dos
lucros financeiros), gerando o subdesenvolvimento moral e psíquico, ou seja, a
perda da solidariedade. A política de civilização teria como missão desenvolver
o melhor da civilização ocidental, de rejeitar seu pior, e de operar uma
simbiose de civilizações integrando os aportes fundamentais do Oriente e do
Sul. Para isso, torna-se necessário a criação de um sistema de GOVERNANÇA
vinculada as Nações Unidas, instalando instâncias planetárias dotadas de poder
sobre os problemas vitais e perigos extremos.
A
concepção antropocêntrica que deu ao homem a condição de “superioridade” sobre
as demais espécies vivas ainda não foi superada. A não ruptura e o
desconhecimento da nossa complexa
interdependência com o mundo vivo, cuja morte significa a nossa morte, deve ser
intensamente debatida a partir da ecologia. Alguns males psíquicos que afetam a
humanidade, tornando as pessoas dependentes de remédios, soníferos,
antidepressivos, psicoterapias, ete, tem que ser percebidos como efeito da
própria civilização. Como solução, o
papel da ecologia e fundamental através da via pedagógica – uma reforma
cognitiva que permitiria religar os conhecimentos, mais do que nunca
fragmentados e separados, a fim de tratar os problemas fundamentais e globais
de nosso tempo; via existencial – uma reforma de vida, na qual viria à
consciência o que cada um sentiu de maneira obscura, que o amor e a compreensão
constituem os bens mais preciosos para o ser humano, que o importante é viver
poeticamente, isto é, no desenvolvimento de si mesmo, na comunhão e no favor.
A
orientação mundialização/desmundialização significa que é preciso multiplicar
os processos de comunicação e de planetarização culturais. É preciso constituir
uma consciência de Terra-Pátria. Nas
crises planetárias cíclicas, quando surgem as forças regressivas ou
desintegradoras, surgem também as forças geradoras e criadoras; As virtudes do
perigo comumente se combinam: “Lá onde cresce o perigo, cresce também aquilo
que salva” A chance suprema é inseparável do risco supremo.
Prof. Jairo
Cezar
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