A Educação já possui respostas, prioridade
política dos governantes
Qualquer
sociedade que se preze tem a educação como umas das prioridades dos seus
governantes. Nessas culturas a educação é concebida como área estratégica do
Estado, sendo pensada e articulada com as demais políticas públicas como saúde,
segurança, saneamento, seguridade social, entre outras. Portanto, o Estado como
ente administrativo federal é o principal provedor e gerenciador do sistema
educacional, cujos recursos públicos devem atender do infantil ao nível
superior. Realidade que não é verificada no Brasil e outros países latinos
americanos, cujas histórias foram profundamente influenciadas pelas culturas
das nações invasoras.
O
Brasil, nação colonizada pelos portugueses, foram necessários aproximadamente
quatrocentos anos para que se estabelecessem as primeiras políticas públicas de
estruturação do ensino. Santa Catarina, as primeiras leis de regulação do
ensino público elementar correram em 1836. Porém foi na década de 1910, do século
XX, que se consolidou a primeira grande reforma educacional catarinense,
estabelecendo normatizações quanto ao
currículo e a profissionalização do magistério. Com tais avanços
institucionais, o sistema educacional público, manteve atrelado às estruturas
arcaicas de um Estado viciado e controlado por uma elite provinciana cujo
magistério viria se transformar como um dos pilares de sustentação e perpetuação
no poder.
Acreditava-se
que tais práticas, muito aquém do que se propunha o regime republicano, fosse
rapidamente rechaçada, instituindo no Brasil e em Santa Catarina políticas
públicas priorizando a educação como carro chefe das transformações que estavam em curso. Chegado a década de
1960, aumentavam as expectativas que tais possibilidades poderiam ser
evidenciadas. Uma nova reforma educacional estava em curso, protagonizado por
Paulo Freire, Ministro da Educação do governo João Goulart. No entanto, tal
utopia educacional durou pouco tempo, até 1964, quando os militares assumiram o
controle político e administrativo do Brasil. Foram aproximadamente vinte anos
de retrocesso. Tempo no qual muitos acreditavam
ser recuperado com a redemocratização política, consolidada com a constituição
de 1988 e a institucionalização da Lei de Diretrizes e Base de 1996.
Um
sentimento de esperança brotava nos corações e mentes dos educadores, pois as
promessas que ecoavam nos quatro cantos do território brasileiro eram de que a
educação finalmente passaria a ser a principal meta dos governantes do século
XXI. E não poderia ser diferente. Para um país que deseja despontar como uma
das principais potências econômicas a educação deveria ser pensada como
prioridade.
O
estado de Santa Catarina, acompanhando a locomotiva Brasil, deveria agora
promover suas reformas adaptando-se à legislação federal. Para os governos de
plantão, atendendo o clamor dos educadores e dos movimentos populares, promoveu
ampla reforma na estrutura curricular adotando como referencial teórico educadores
e intelectuais de vertentes marxistas, dentre eles Vigotsky, Wallon e Paulo
Freire. Estaria o governo interessado em minar as estruturas do sistema
capitalista ou apenas conquistar a simpatia dos educadores e, principalmente,
desviar o foco dos movimentos populares.
Mesmo com a efetivação das reformas, as transformações desejadas não se concretizaram, suas condições de
trabalho e salarial mantiveram-se inalteradas. Porém isso já era esperado, pois
tanto a estrutura e organização educacional
continuaram atreladas ao poder público, ou seja, ao partido ou partidos que
integram sua base de sustentação.
Com
a chegada do século XXI o desmantelamento do sistema educacional público
continuou em evidência, com o patrocínio dos governos federais que
disponibilizam menos recursos para educação. Paralelo as ações federais, os
estados, seguindo as mesmas linhas de contenção de despesas, promovem um
processo de descentralização educacional, transferindo as responsabilidades do
ensino fundamental às esferas do poder
municipal. O Brasil onde o controle político e administrativo dos municípios continua
atrelado as oligarquias ou partidos tradicionais cuja existência sempre
dependeu das articulações clientelistas e apadrinhamentos, há de se imaginar
que a municipalização do ensino fundamental sofrerá um processo de
partidarização de sua estrutura de comando e ensino, pois, raros são os municípios cuja gestão da educação tem ampla
participação da população.
Admitem
os protagonistas defensores da municipalização que com sua efetivação haverá
uma revolução do ensino no Brasil. Como levar a sério discursos como esses,
tendo como exemplo o município de Florianópolis, um dos mais ricos do estado,
que não consegue garantir nem a universalização da educação infantil. Faltam mais
de 3 mil vagas em creches.
O
processo educacional brasileiro tem na sua estrutura uma forte complexidade,
que deve ser atendida pelo governo federal como prioridade. Não são políticas
descentralizadoras que resolverá o gargalo do ensino público brasileiro. A
busca por melhorias da educação pública deve envolver e comprometer toda
sociedade, o Ministério da Educação, os demais ministérios, os poderes
legislativos e judiciários e os seguimentos sociais organizados. Porém, mesmo
seguindo o caminho proposto, é impossível reverter o quadro caótico na qual
está submetida a educação com investimentos que pouco ultrapassam os 5% do PIB,
com possibilidades de atingir os 10% nos próximos dez anos. Países como Coréia
do Sul, Japão, Suécia, entre outros, participam com cifras muito maiores, atingindo
patamares superiores a 25% do PIB.
O
que vem ocorrendo em alguns estados como o Rio de Janeiro é a privatização mascarada
da educação pública. São aproximadamente 90 projetos de parcerias
público-privadas em andamento nas escolas do município. Tem parcerias com as
fundações Roberto Marinho, Ayrton Sena, Sangari, Volkswagen, Natura, Uerê, Alfa
e Beto, entre outras. Outro dado
alarmante em relação a participação do estado nos demais seguimentos sociais
cujas cifras explicitam os motivos que colocam o Brasil numa posição vergonhosa
entre as mais desiguais do planeta. No setor previdenciário, a participação do
PIB é de 12%; saúde 3,5%; habitação – urbanismo e saneamento 2,2%; assistência
social – bolsa família 1,3%; poder judiciário 1,7%; segurança 1,1%; cultura –
ciência, desporto e lazer 0,6%; poder legislativo 0,5% e forças armadas 1,6%.
Se
somarmos esses valores os gastos do PIB chegam a um patamar de 32%, muito
inferior aos aplicados por países como França, Bélgica, Suécia, Dinamarca,
Finlândia, que ultrapassam a 50%. Setores como Educação, saúde e previdência
exigiriam gastos públicos adicionais da ordem de 12% a 13% do PIB, que somados
aos valores atuais, totalizariam 45%. Portanto, a educação pública não precisa
de respostas, pois já sabemos. O que queremos é que os governantes retirem suas
máscaras, esclareçam a sociedade que educação não está na pauta de prioridades,
pois se assim o fosse os investimentos seriam maiores que os aplicados
atualmente. Mesmo com baixos investimentos, os recursos disponibilizados à
educação enfrentam outro problema crônico, as estruturas administrativas
viciadas em estruturas clientelistas e corporativistas.
Em
2010, os gastos públicos em educação foram de R$ 3,5 mil por aluno, bem
inferior aos aplicados por países como Argentina, Chile e México. É importante
frisar que os 3,5 mil aplicados referem-se apenas ao ensino básico, perdurando até
os quatorze anos. Não está incluído gastos com o ensino superior, que atingiram
cifras de 17,9 mil por universitário. Portanto, os estudantes do ensino
fundamental e médio receberam cinco vezes menos que os do ensino superior.
Afinal que público estuda nas universidades públicas e quem estuda nas escolas
particulares brasileiras? Só para ter uma idéia apenas 14% dos estudantes
conseguem acessar a universidade, enquanto que 21milhões de jovens entre 18 e
24 anos estão de fora.
Enquanto
no Brasil o gasto por aluno é equivalente a U$ 2.416.10, a Coréia do Sul que é
a vigésima classificada entre as nações com
pior investem em educação, aplica R$ 7.434.46; a quinta colocada é a
Dinamarca, U$ 11.787.86; quarta, Áustria, 11.851,57; terceira, Noruega,
13.284.82; segundo, EUA, 14.922.76 e primeiro a Suíça, 14.976.81. Em relação a
remuneração do profissional da educação que deveria ser a principal preocupação
dos governantes, a mesma não está inserida no pacote das políticas reformistas em
curso, mesmo sabendo que em 2008 foi promulgada lei estabelecendo o piso
nacional do magistério. Desde a sua promulgação
e com forte pressão da categoria com paralisações longas, poucos são os
estados que cumprem a lei, mesmo precariamente. Alegam os estados que a
legislação do piso é inconstitucional e incompatível com realidade, pois os
índices estabelecidos de reajustes comprometem o orçamento. Tentando reverter o
processo, estados como Rio Grande do Sul, Mato Grosso dos Sul, Santa Catarina entre
outros, deram entrada com uma ADIN (Ação de Inconstitucionalidade) no Supremo
Tribunal Federal tentando derrubar a lei, restabelecendo o sistema de reajuste
aplicado anteriormente, o INPC. (Índice
Nacional Preços ao Consumidor).
Mesmo
com a aplicação da Lei do Piso, o salário do magistério continua vergonhoso
comparado aos profissionais da educação de outros países. Com base no OCDE
(Organização Para Cooperação do Desenvolvimento Econômico), a remuneração anual
do professores brasileiros atinge R$ 9,8 mil; Chile – 15,6 mil; México 15,6
mil; França 24 mil; Turquia 25,5 mil; Coréia do Sul 30,5 mil; EUA 36,5 mil;
Alemanha 46,4 mil; Suíça 48,8 mil; Luxemburgo 51,7 mil. Com os respectivos índices
é possível avaliar o grau de satisfação dos educadores das escolas públicas de
um país classificado como a sexta potência economia do planeta, a frente de
países como Inglaterra e outros acima citados que remuneram e valorizam seus educadores
muito melhor que o Brasil. O não envolvimento das famílias brasileiras com as
escolas na qual estudam seus (as) filhos (as) é verificado com base nos
resultados de uma pesquisa lançada pelo instituto de pesquisa IBOP, quando foi
concluído que 72% das mesmas se dizem satisfeitas com a educação nacional,
concedendo nota 7 (sete) para as escolas públicas e privadas.
O
que estarrece ainda mais é quando se sabe que 70% da população brasileira desconhecem
as políticas adotadas pelos prefeitos
para a melhoria do ensino; 1% apenas dos eleitores considera as
propostas de educação determinante na hora de vota; 89% não consideram a
educação como principal problema do país; 20% acreditam que a educação é também
responsabilidade da população; 7% acham que educação é responsabilidade dos
pais e 68% pensam que é responsabilidade do governo.
Diante
de uma tragédia anunciada cujos governos procuravam utilizar a mídia para maquiar a educação com
imagens ou informações de otimismo, veio
a tona o lodaçal na qual educação pública está envolvida. A UNESCO, entidade
ligada as nações unidas e responsável pela organização cultural e científica
das nações, em 2011, laçou os resultados de uma pesquisa realizada em127
nações, cujo objetivo foi avaliar os níveis de conhecimento dos (as) estudantes
do ensino básico. As conclusões obtidas foram estarrecedoras, o Brasil obteve
uma colocação ridícula, o 88º lugar; nas áreas de leitura e ciência a colocação
foi 53º. Dos 65 países pesquisados nas áreas de matemática o Brasil ocupou a 57ª
colocação.
Em
2005, o índice de estudantes matriculados (as) nos cursos de licenciatura foi
de aproximadamente 1.250 milhão; em 2010 esse índice caiu para 928 mil
matrículas. É inegável que tais cifras tendem a aumentar ainda mais,
principalmente quando foi noticiada a aprovação do novo PNE (Plano Nacional de
Educação), para os próximos dez anos, quando a participação do PIB (Produto
Interno Bruto) para a educação alcançará o patamar de 10%. O objetivo original
do PNE quando foi lançado era o investimento de 7% do PIB para 2012. A nova
proposta aprovada na câmara dos deputados o índice foi elevado para 10% a ser
cumprido até 2023. Mesmo assim, o ex-ministro da educação e atual candidato à
prefeitura de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad, considerou que será difícil
atingir a meta de 10%.
Se
calcularmos o que de fato foi investido em educação entre 1998 e 2009, o país
levaria 80 anos para chegar em 10% do Pib. Segundo
a Auditoria Cidadã da Dívida Pública, até agosto de 2012, a dívida já consumiu
R$ 566 bilhões, o que representa 52% do gasto federal. O gasto proporcional por
pessoa em idade escolar no Brasil é menor do que o investido em Butswana, país
africano onde a expectativa de vida é de 50 anos. Lá se investe US$ 2.203 por
pessoa em idade educacional. No Brasil, o investimento é de US$ 959. O que realmente preocupa os (as) educadores
(as) é a Adin 4.848 (Ação de Inscostitucionalidade) encaminhada pelos
governadores do Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, Mato Grosso do Sul, Goiás, Piauí e Roraima, tentando anular o art. 5º da Lei 11.738, que trata da atualização monetária anual do
piso nacional do magistério que pode tornar o magistério uma
profissão sem professores ou, aqueles que ousarem, exercerão sem nenhum
estímulo.
Além
da pesquisa lançada pela UNESCO colocando o Brasil numa posição vexeminosa no
cenário mundial, na segunda metade de 2012, é publicado os resultados do IDEB
(Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico), escancarando ainda mais o caos
educacional brasileiro. A luz vermelha acendida motivou o governo federal a
promover algumas medidas emergenciais e paliativas para tentar reverter o
buraco negro da educação dentre elas uma reforma curricular, admitindo que o
problema estaria no excesso de disciplinas e não no modelo de educação adotado. Os dados
do IDEB demonstraram maior deficiência nas fases de transição dos 8 aos 9 anos,
período em que os (as) estudantes possuem maior diversidade de disciplinas e professores
(as). Sendo assim a reforma tem como propósito substituir o modelo tradicional
de disciplinas por outro mais dinâmico dividido em áreas temáticas afim.
A
contradição da reforma principalmente em se tratando de Santa Catarina é que
desde a década de 1990, está sendo discutido com os (as) educadores uma nova
proposta curricular de caráter marxista, que teria como propósito desconstruir
o modelo tradicional de ensino, oportunizando os (as) profissionais da educação
a participarem da elaboração de um Projeto Político Pedagógico, cuja finalidade
seria discutir com a comunidade escolar um modelo de escola desejado e a forma como a mesma
deveria ser gerida. Não haveria necessidade, portanto, de novas
reformas, cardápios de disciplinas e outros absurdos se tais propostas fossem
realmente concretizadas. O que deve ocorrer é fazer com que haja um maior
envolvimento da sociedade, discutindo os problemas da escola e que caminhos
devem ser tomados. O que não podemos aceitar é que representantes do governo
ocupem os espaços da mídia para expressar absurdos como este: “a escola tem
muitos projetos, ela deve concentrar naquilo que é fundamental, que ela possa
gerir recursos e definir os projetos que deseja aplicar, ampliar a autonomia”.
Como
podem afirmar que há excessos de projetos se os mesmos continuam engessados a
um programa de ensino arcaico, conteudista e excludente, cujos (as) professores
(as) são forçados (as) a ocuparem cargas horárias desgastantes, correndo de uma
escola à outra, muitas vezes desconhecendo os (as) próprios (as) colegas de
trabalho e tendo que optar por uma das escolas quando da realização de reuniões
pedagógicas. E afirmar que há muitos projetos e que a escola deve gerir
recursos e definir os projetos que deseja aplicar. É nítido o desconhecimento
dos nossos governantes quanto ao funcionamento das nossas unidades de ensino.
Há projetos sim, inovadores, que estão sendo desenvolvidos, com empenho e
dedicação de professores (as) e estudantes, que conseguem brechas em suas aulas
indo a campo pesquisar, conhecer a realidade da comunidade, do bairro,
município, trazendo os problemas para escola e inserindo-os nos currículos de
acordo com os projetos pedagógicos das escolas. São exemplos de casos isolados
como esses, que passam despercebidos dos olhares dos (as) gerenciadores (as) de
educação, mas que influenciam intensamente na melhoria do desempenho dos (as)
estudantes.
Portanto,
não é esse o modelo de educação que a elite retrógrada que comanda a estrutura
econômica e educacional brasileira propõe. Em qualquer país sério o crescimento
econômico sempre esteve associado a maiores investimentos no campo social,
especialmente em educação. No Brasil, o processo é invertido, pois somos a
sexta economia mundial, cujas estruturas físicas de ensino, escolas, são do
século XIX, professores do século XX e estudantes do XXI. A reversão desse processo
se dará com a quebra desse modelo atrasado de educação. Embora os discursos dos
governantes tratem a educação, saúde, segurança, saneamento como principais
prioridades, a realidade é completamente oposta. É preciso investir pesadamente
nesses setores, ampliar o Estado e melhorar a eficiência dos serviços prestados
às camadas mais necessitadas, combatendo disparidades salariais, à corrupção e
o desvio de recursos. Não podemos cair na armadilha que está sendo preparada
por setores organizados da elite, muitos dos quais atrelados ao próprio Estado,
que vem promovendo campanha na mídia, denegrindo a figura do Estado, levando ao
descrédito da população.
Nos
países culturalmente avançados Estado sempre foi um elemento primordial de
fomentação das políticas de crescimento e desenvolvimento. Sua ampliação e
eficiência tornaram-se essenciais na
elevação do PIB e a melhoria de qualidade de vida da população. Já nos países subdesenvolvidos
como o Brasil a necessidade do setor público deveria ser maior e mais
eficiência para atender a enormidade de problemas. A causa da pequenez do Estado
e da limitada carga tributária cobrada está nos baixos valores das alíquotas de
impostos cobrados e a grande sonegação e a evasão fiscal consentidas.
Esse
demonstrativo deixa explícitos os motivos pelos quais a participação do PIB
brasileiro continua tão modesta em serviços essenciais. Observem que quase a
totalidade dos (as) candidatos (as) que concorrem as vagas do executivo e
legislativo dos municípios brasileiros possuem discursos semelhantes, priorizam
melhorias dos serviços básicos como educação e saúde. São discursos vazios que
não correspondem a realidade, pois como viabilizar tais promessas quando o Estado
federal limita cada vez mais os investimentos do PIB, deixando setores como saúde
e educação em estados de penúria absoluta.
Prof.
Jairo Cezar
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