terça-feira, 10 de dezembro de 2024

 

COMGRESSO BRASILEIRO EM HOMEOPATIA INTEGRATIVA  - LAGES/SC, 2024 – CUIDADO DA SAÚDE DAS PESSOAS, DOS ANIMAIS, DAS PLANTAS E DO AMBIENTE

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O uso de ervas, raízes, minerais, entre outras substâncias, foi uma das formas de tratamento contra moléstias utilizadas pelos primeiros homo sapiens sapiens. Mais tarde inúmeras sociedades associaram esses e outros elementos da natureza aos seus rituais de cura, muitas das quais apresentando efeitos alucinógenos a ponto de fazer o “curandeiro” transcender, a ponto de ativar energia vital do sujeito acometido por alguma anomalia. Ainda hoje comunidades tradicionais e não tradicionais aplicam essas técnicas ancestrais de tratamento e cura que parte do interior para o exterior do indivíduo.  Porém, são práticas ainda hoje tomadas por tabus e preconceitos, como se a ciência, a alopatia curativa fosse ela a única capaz de dar respostas às disfunções do reino vegetal e animal.

Associar plantas, raízes e rezas, é o pilar essencial na reconstrução de processos milenares de integração da espécie humana às formas de vida existentes no planeta. Sendo assim, o que está sendo reconstruído às duras penas em nossos frágeis ambientes são fragmentos químicos e físicos de todo o tecido do macrocosmo, presente na fina matéria das galáxias e nas células de cada elemento vivo. Se pudermos resumir tudo isso no contexto da vida planetária, incluindo também seres inanimados, podemos defini-los como estruturas homeopáticas integrativas.

Claro que são definições um tanto simplórias diante de toda a sua complexidade e desconhecimento por parte significativa das pessoas, que ainda o interpretam como algo utópico. A visão cartesiana de mundo tratou de suprimir do nosso imaginário tudo que pudesse deixar alguma margem de abordagem intuitiva aos fenômenos da natureza e ao funcionamento do complexo aparelho chamado corpo humano. O avanço da ciência e as grandes descobertas da química, da matemática, da física, influenciaram decisivamente no tratamento das moléstias ate então tratadas com poções e ritos.

É sabido que as doenças, expressiva parcela delas, se manifestam no organismo humano, de plantas e outras espécies vivas em decorrência de inúmeros fatores, sendo os desequilíbrios dos campos energéticos reguladores das energias vitais, os mais comuns. É importante destacar que os princípios das energias vitais já haviam sido detectados há muito tempo, na Grécia, por Hipócrates, considerado o pai da medicina ocidental. Nos seus estudos, Hipócrates fazia referência à via medicamentosa natural presente no organismo, que era responsável pela doença. Para ele alma e força vital eram um só principio, ou seja, uma força imaterial regendo os sistemas vivos.

Com o avanço do pensamento mecanicista, racionalista, século XIV em diante, os fundamentos do holismo que nortearam a medicina hipocrática anterior a cristo foram deixados de lado. A imaterialidade, alma e força vital, ambas passaram a ser interpretadas pelos cartesianos como elementos abstratos do pensamento, ou seja, campos nebulosos repletos de incertezas acerca da materialidade. Foi, portanto, bem mais tarde, século XVIII que nasceu na Alemanha Christian Friedrich Samuel Hahnemann, individuo que trouxe à luz, as bases do pensamento de Hipócrates para a formulação da medicina homeopática.

Segundo Samuel Hahnemann a cura se da pelo semelhante, também admite que a perturbação da energia vital seja causadora das enfermidades. Enfatizou que o termo energia vital deve ser compreendido como força, princípio, espírito e poder. Portanto, a homeopatia não pode ser compreendida como instrumento de cura, mas como campo de regulação da energia vital, que é o equilíbrio perfeito no estado da saúde.   Mas Samuel se sentia decepcionado com a medicina da época, na qual não compactuava com as técnicas um tanto agressivas de tratamento dos doentes.

Somente mais tarde quando ele próprio se tornou cobaia no experimento da quina, planta utilizada para o controle da malária, que foi aí que descobriu os princípios do pensamento de Hipocrates. Afirmou ele que a mesma substância que produz os sintomas numa pessoa sadia pode curar uma pessoa doente, através do princípio da ressonância. No tratamento, Hipocrates acreditava que era necessário conhecer a natureza do homem por meio dos seus atributos individuais, meio ambiente social e espiritual, vistos integrados em seu corpo e alma. Portanto, a força vital anima a vida emocional do individuo, gera pensamentos, produz criatividade e conduz a inspiração espiritual.

 As doenças se manifestam pelo enfraquecimento da força vital, isto é, pelos maus pensamentos, dificuldades da aceitação, traumas emocionais ou pré-disposição genética, tudo que desequilibre o organismo espiritual, emocional, mental e físico.  Para curar as doenças Samuel acredita que acontece por meio da reação vital do organismo contra a enfermidade. O medicamento, no entanto, só deve representar o papel de agente provocador, não de agente executante.  

Segundo François Choffat (1996) “na época de Hahnemann, a lei da semelhança era uma ideia mais familiar do que hoje. não por acaso a vacinação antivariólica foi inventada por Janner no próprio ano do nascimento da homeopatia. O seu princípio era o seguinte: Inoculava-se no homem, para protegê-lo da varíola, o pús das lesões de uma vaca na qual fora inoculada a vacina, que é a varíola dos bovinos. Essa doença, menos perigosa par o homem do que há varíola parecia protegê-lo desta última, em conformidade com o princípio da semelhança”.[1]

A partir dessa abordagem reflexiva acerca da homeopatia, seu fundamento histórico e filosófico acredita que é possível fazer agora um breve resumo e reflexões críticas, dos quatros dias, de 20 a 23/11/2024, do I Congresso Brasileiro de Homeopatia Integrativa: Cuidado da Saúde da Pessoas, dos Animais, das Plantas e do Ambiente, ocorrido no campus da UDESC, município de Lages/SC. É necessário ressaltar que esse congresso atraiu especialistas e adeptos da homeopatia na agricultura e ambiente de vários estados brasileiros e fora do país.

Para mim que conhecia parcialmente a homeopatia há algum tempo, porém, no campo da medicina, no encontro fiquei surpreendido com a intensidade de aplicações dessa modalidade médica nas atividades produtivas do campo e nos ambientes urbanos. Paulatinamente, a homeopatia vem substituindo ou sendo acrescentada conjuntamente as técnicas convencionais de combate de moléstias, que além de reduzir custos está melhorando a qualidade de vida das famílias no campo. Os organizadores do congresso, em Lages, tinham expectativa de no máximo 100 inscritos, porém as inscrições superaram a todos, ultrapassando os 200 inscritos.

A palestra de abertura foi realizada pelo Italiano Giovanni Dinelli, que é professor doutor da Università di Bologna, Itália. O tema que escolheu para discorrer foi a Agricultura Europeia em Transição: Demandas por Práticas Agroecológicas e o espaço da homeopatia.   Tanto na fala do pesquisador italiano como nas varias buscas que eu fiz vasculhando Sites internacionais sobre o tema, o que constatei foi que a homeopatia passa por um momento muito complexo, pois vem sofrendo críticas das comunidades médicas e científicas convencionais.  As investidas negacionistas são tão brutais com reflexos negativos nas políticas públicas desse segmento em muitos países importantes da Europa, como a Inglaterra, França, Alemanha, Itália, entre outros.

O fato é que o Brasil, embora ainda protegido por barreiras políticas, como a lei criada em 2006 que instituiu a Política de Práticas Integrativas e Complementares via SUS, diariamente vem também sofrendo bombardeios de setores negacionistas, que insistem definir a homeopatia como algo ineficaz. Em 03/07/2024, em seu Site, a Associação Médica de Homeopatia Brasileira – AMHB, traz texto com o seguinte título: Em mais um ataque orquestrado contra a Homeopatia “Folha de São Paulo” publica editorial falacioso contra a especialidade médica.

A editorial gerou intensa revolta por parte da associação em decorrência dos ataques infundados do órgão noticioso que procurou desconsiderar a homeopatia como técnica medicinal milenar. Em 2023 a AMHB postou na sua página, livro digital gratuito, como seguinte título: Homeopatia não é efeito placebo – comprovação das evidencias cientificas da homeopatia. O material publicado teve também o apoio Associação Medica Brasileira – AMB e da Associação Paulista de Medicina – APM. Em 2024, a AMB, divulgou o livro também na sua revista digital.

Outros temas relevantes foram debatidos em mesas redondas durante os quatro dias do evento. Entretanto, a expectativa de todos era com a fala da pesquisadora Britânica Charlotte Southall, cujas investigações do seu doutorado sobre parreiras, vêm ocorrendo no Brasil junto com uma universidade britânica, no Laboratório de Homeopatia e Saúde Vegetal da Estação Experimental da Epagri, Lages/SC. No laboratório Charlotte fez algumas considerações acerca do seu trabalho investigativo, onde mostrou que aspectos intuitivos e certos instrumentos mecânicos são essenciais na detecção de respostas às anomalias presentes nas parreiras.  O que pretende a pesquisadora é explorar novos estimuladores de defesa vegetal para mitigar a eliminação gradual do cobre, presente na calda bordalesa, nos setores da viticultura do Reino Unido e do Brasil.

No laboratório outros trabalhos foram apresentados, dentre os quais, de uma pesquisadora que procura tratar com homeopatia uma das doenças mais comuns e cultivo de feijão, a antracnose. A grosso modo, revelou a pesquisadora que uma entre as várias observações no seu trabalho investigativo está a colheita de sementes filhas de feijão para verificar se ambas contém elementos degenerativos das sementes pais.

Segundo ela serão tomados dados de crescimento, desenvolvimento e produtividade, além do efeito dos preparados na indução de resistência do feijão à antracnose. Serão realizadas análises da expressão de genes relacionados aos mecanismos de defesa, tanto em plantas pais quanto em plantas filhas.  Esse processo recebe o nome de memória transgeracional. Claro que tal pesquisa sobre o tratamento de certas moléstias no feijão por meio da homeopatia pode tornar os produtores rurais menos dependente do uso de substâncias químicas nessa atividade.

O tratamento de ulcerações em bovinos por meio da homeopatia também mostrou muito eficiente. Uma pesquisadora mostrou um animal cujos tratamentos convencionais não apresentavam resultados relevantes. A lesão no animal havia passado por duas cirurgias, porém, os sintomas permaneciam. Diante do resultado nada promissor a decisão foi de sacrificar o animal, até que surgiu a ideia da homeopatia. Primeiro passo foi investigar o histórico do animal a partir do seu nascimento, suas características comportamentais, e fatores que levaram ao adoecimento. A partir dessas informações foram elaborados compostos homeopáticos e inseridos ao animal. O anima bovino apresentou recuperação satisfatória estando quase em condições de retornar ao convívio com outros animais.

A região dos campos de cima da serra no estado catarinense, a criação de ovinos é uma atividade importante da cadeia produtiva da agropecuária. Por isso o laboratório de homeopatia da EPAGRI desenvolve pesquisas no tratamento de doenças que afetam esses animais, dentre as doenças comuns está a verminose.  A metodologia adotada foi a seguinte, foram usados medicamentos químicos, medicamentos homeopáticos comerciais e homeopáticos obtidos pela repertorização. O resultado, portanto, foi bastante eficiente no controle da verminose e outras doenças em ovinos.  O que se constatou foi que animais em boas condições de saúde possuem capacidade imunológica de limitar a ação de parasitas a níveis aceitáveis.

O cultivo da cebola também foi objeto de discussão no congresso de homeopatia. A região de Ituporanga/SC é uma das maiores produtoras do tubérculo no Brasil. Além do cultivo convencional essa atividade vem se destacando no manejo orgânico. Portanto a homeopatia no controle de certas doenças durante o ciclo produtivo da mesma também é objeto investigativo nos laboratórios da Epagri. As doenças mais comuns são a Trips ou piolho da cebola e o Míldio, doença causada por um fungo. Para o controle da Tripes, de modo homeopático, pode-se preparar o extrato de quitosana 0,5% formulado em água  com 2,25% p/v de quitosana e 12,5% p/v de vinagre de álcool, também reduz a incidência de tripés.

É importante que fique claro que a aplicação das substâncias alternativas deve estar associada ao sistema de plantio direto na palha, pois favorece a fertilidade do solo, a absorção de água e a saúde das plantas. O controle mecânico de pupas de tripes também é favorecido pela presença de palha sobre o solo, além de incrementar a presença de inimigos naturais e antagonistas.

Ouvir experiências bem sucedidas de produtores e extensionistas no uso da homeopatia no manejo do campo e animais também teve espaço no congresso. Dentre as que mais empolgaram o público presente, sendo a pesquisadora aplaudida de pé pela sua ousadia e dedicação, o destaque foi uma extensionista da Emater/RS, que atua na região norte estado gaúcho, mais precisamente no pequeno município de Gramado dos Loureiros.

Relatou que desde pequena tinha desejo que fosse reduzido ou até mesmo suprimido o uso de agrotóxicos na agricultura. Formou-se em biologia com especialização em educação ambiental. Quando ingressou na Emater fez vários cursos de extensão em homeopatia. Por ser Gramado dos Loureiros um município pequeno constituído por sítios de pouca extensão, começou a trabalhar com as famílias o preparo e aplicação de produtos homeopáticos na agricultura e pecuária leiteira.

Problemas como a do carrapato e a dermatite eram os mais comuns. No entanto foi o carrapato, o inseto considerado o carro chefe nas suas investigações homeopáticas. Com o inseto, foi possível preparar um nosodio, que aplicado no animal infestado, os mesmo em dois ou três dias caiam completamente. Essas técnicas alternativas começaram a se espalhar pelo município e região estimulando novas famílias ao uso da homeopatia.  Dezenas de famílias foram capacitadas para a aplicação dessas técnicas no campo. A cada final de ano, as famílias se reúnem para avaliação do quanto era economizado nesse sistema.

Relatou também o uso da arnica no cultivo de morango, com resultados satisfatórios. Confessou que seria mais conveniente ouvir e acompanhar as experiências exitosas dos agricultores, que são verdadeiros pesquisadores. Citou outros experimentos homeopáticos no combate da lagarta do cartucho do milho; ataques de formigas; controle da ferrugem; do pulgão. São cerca de 100 ha de milho e mais 250 ha de soja com o uso da homeopatia. Algo que era muito comum nos potreiros de antigamente era a presença de um inseto conhecido como rola bosta, revelou a palestrante. Devido aos manejos convencionais dos rebanhos bovinos, aplicação de muitos medicamentos químicos, esse inseto desapareceu.

Notou que com o manejo da homeopatia nos animais, esse inseto começou a retornar, reequilibrando novamente os sistemas. Envolver o poder público em manejos alternativos no campo deve ser estimulado. Afirmou a extensionista que foi realizado convênio com uma clínica homeopática para que fornecesse os produtos aos agricultores. Disse também que é necessário fortalecer as políticas de assistência técnica ligada à homeopatia no campo, seguindo os mesmo procedimentos praticados no sistema de saúde. Portanto, concluiu a palestrante que a homeopatia é uma técnica que nos obriga ao acompanhamento permanente.

Prof. Jairo Cersa    

http://www.tede2.ufrpe.br:8080/tede2/bitstream/tede2/5533/2/Gisele%20Bazzo%20Piccirilli.pdf

  https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/artigo/2023/05/10/homeopatia-um-resquicio-da-medicina-pre-cientifica

https://saude.abril.com.br/medicina/academias-francesas-pedem-o-fim-da-homeopatia-na-saude-publica

https://link.springer.com/journal/508

https://epoca.globo.com/saude/check-up/noticia/2017/07/por-que-os-britanicos-desistiram-da-homeopatia.html

https://www.dw.com/pt-br/homeopatia-funciona-ou-s%C3%B3-tem-efeito-placebo/a-67966984

https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/artigo/2024/01/11/alemanha-estuda-proibir-gasto-publico-com-homeopatia

https://www.dw.com/pt-br/homeopatia-a-maior-engana%C3%A7%C3%A3o-da-hist%C3%B3ria/video-70957474

https://www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/view/1178/1077/4270

https://amhb.org.br/opiniao/em-mais-um-ataque-orquestrado-contra-a-homeopatia-folha-de-sao-paulo-publica-editorial-falacioso-contra-a-especialidade-medica/

https://www.scielo.br/j/ramb/a/sNBNt8WFhyJKcLg6tDntghh/?lang=en

 

 

 

       

                                                            


[1] Pustiglione, Marcelo. 17 lições de homeopatia: estudos avançados do organon e leitura atualizada dos “textos maiores” de Samuel Hahnemann / Marcelo Pustigone. – São Paulo: Typus, 2000.  p. 64 e 64.

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