quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

 

A DEPOSIÇÃO DE BASHAR AL-ASSAD, DA SÍRIA, NÃO ESTÁ LIGADA AOS INTERESSES DA POPULAÇÃO SÍRIA

https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/12/08/paises-reagem-com-misto-de-cautela-e-celebracao-a-queda-do-regime-de-assad-na-siria.ghtml


O que ocorreu recentemente no Oriente Médio quando o presidente Sírio foi deposto do cargo depois de 50 anos de dinastia Assad, se constituiu como sendo mais uma vitória do imperialismo norte americano e de seus aliados mais próximos, a exemplo do genocida israelense Benjamin Netanyahu. De fato é muito difícil descrever com precisão os desdobramentos políticos desse complexo território do oriente médio, secularmente sacudido conflitos de disputas sangrentas. Entretanto, para simplificar o raciocínio e entender o que foram os quinze anos guerra civil na Síria e a deposição do governo, é necessário incluir nessa intrincada colcha de retalhos geopolítica, de um lado o bloco ocidental Estados Unidos, União Europeia e Israel, opositores ao regime de Assad, e do outro, bloco oriental, à Rússia, Irã, China, e alguns grupos rebeldes como o Hamas, Hesbolah, ambos simpatizantes do governo Sírio.

É claro que há mais elementos adicionais que compõem esse tabuleiro de disputas, cujas peças se moviam e se movem segundo interesses de países e grupos econômicos distintos. Durante o regime de Assad, se constituiu o chamado “eixo de resistência”, constituído por países e grupos rebeldes que prestavam algum apoio ao governo Sírio em oposição ao eixo ocidental, liderado pelos Estados Unidos. Portanto esse movimento de resistência anti-Israel e anti-Ocidente era integrado pela Rússia; Irã; a Síria; o grupo militante libanês xiita Hezbolah; o sunita palestino Hamas; e os Houthis do Iêmen.

O que chama atenção foi a postura da Rússia de não ter tomado posição a favor do líder Síria, impedindo que os rebeldes do Hayat Tharir al-Sham, abreviado como HTS, tomasse as principais cidades sírias e a capital Damasco se qualquer resistência. É de se imaginar que a não resistência Russa à deposição do governo de Damasco tenha relação com o conflito na Ucrânia, onde parcela expressiva das forças militares russas, sediada no território sírio, teve que ser removida para o front ucraniano. Com a saída de Assad do poder, a Rússia tende a se enfraquece na região no mar mediterrâneo, correndo sério risco de perder o controle de suas bases militares dentro do território sírio.

Por outro lado, o Estado de Israel sai muito fortalecido com o conflito, pois o governo de Assad sempre foi uma pedra no sapato aos interesses expansionistas do Estado sionista. O grupo político palestino Hamas também é impactado com a deposição de Assad do poder, pois o governo sírio prestava apoio ao grupo facilitando a entrada de armamento aos militantes espalhados nos territórios palestinos ocupados. As Colinas de Golã, tomadas da Síria por Israel na guerra de 1967, mesmo com a anexação ao território israelense em 1981, o governo Síria buscava sempre reconquistá-la, porém, sem qualquer sucesso.

O que faltava de fato para Israel era o reconhecimento internacional sobre o domínio territorial das Colinas de Golã. Em 2019 o presidente norte americano Donald Trump reconheceu formalmente as Colinas de Golã como parte de Tel Aviv. É possível entender agora por que tanto interesse numa região montanhosa, inóspita. A resposta é simples. Essa região é rica em petróleo. Em 2015 a empresa AFEK, que é subsidiária da holding estado unidense Genie Energy, já havia anunciado reservas significativas de petróleo na região.    o conselho dessa holding é constituído por magnatas da política e da mídia dos Estados Unidos.  Agora  com o domínio de Golã por parte de Israel, o país poderá se tornar grande exportador de petróleo. Isso deixa claro que a deposição do presidente Sírio não está ligada diretamente aos interesses da população civil do país, mas de grupos de interesses diversos.

Dois dias após a deposição de Bashar al-Assad do posto de presidente da Síria, foram mais de 250 incursões do exército israelense contra bases militares estratégicas do território. Aeroportos, navais militares, aviões, bases de radares, entre outros equipamentos, foram destruídos por mísseis israelenses. As justificativas do governo israelense às ações bélicas são fundamentadas na tese de que tais investidas evitariam que esses espaços e equipamentos pudessem cair em mãos erradas. De todo modo o Estado de Israel já está pavimentando os caminhos de um domínio mais efetivo no território sírio.

É importante esclarecer que os grupos armados que tomaram o poder na Síria, a exemplo do HST, de tendência Jihadista, que foi um dos braços do grupo terrorista Al Qaeda foram treinados ou receberam apoio logístico de países como o Qatar, Arábia Saudita, Turquia, Israel, EUA e membros da EU. O risco é de que a Síria se torne em uma possessão teocrática, uma espécie de califado, o mesmo sistema de regime autocrático que procurou se instalar no Iraque durante a ocupação americana.

Não podemos esquecer que quando o Talibã retornou há pouco tempo ao comando do Afeganistão, havia prometido que instalaria no país um regime de governo mais flexível, com respeito às liberdades individuais, principalmente em relação às mulheres. Foi só o exército americano sair do país que o regime do Talibã voltou a impor atos de perseguição, principalmente contra as mulheres, impedindo-as de irem às escolas entre outros direitos. Fica aqui o alerta, tudo indica que o território sírio poderá também se transformar num Talibãn, sendo que as bases para a sua implementação já foram executadas.   

Prof. Jairo Cesa

  

https://www.brasildefato.com.br/2024/12/09/queda-de-assad-para-rebeldes-aliados-de-israel-enfraquece-resistencia-palestina-diz-analista

 

https://www.brasil247.com/mundo/israel-ataca-instalacoes-militares-na-siria-apos-queda-de-assad

https://revistaforum.com.br/global/2024/12/9/israel-quer-tomar-mais-terras-petroleo-da-siria-170638.html

https://revistaforum.com.br/global/2024/12/9/a-grande-prejudicada-pela-queda-de-assad-propria-populao-siria-afirma-analista-170620.html

https://www.aljazeera.com/news/2024/12/10/barrage-of-israeli-attacks-destroys-important-military-sites-in-syria

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário