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DEPOSIÇÃO DE BASHAR AL-ASSAD, DA SÍRIA, NÃO ESTÁ LIGADA AOS INTERESSES DA
POPULAÇÃO SÍRIA
https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/12/08/paises-reagem-com-misto-de-cautela-e-celebracao-a-queda-do-regime-de-assad-na-siria.ghtml
O
que ocorreu recentemente no Oriente Médio quando o presidente Sírio foi deposto
do cargo depois de 50 anos de dinastia Assad, se constituiu como sendo mais uma
vitória do imperialismo norte americano e de seus aliados mais próximos, a
exemplo do genocida israelense Benjamin Netanyahu. De fato é muito difícil
descrever com precisão os desdobramentos políticos desse complexo território do
oriente médio, secularmente sacudido conflitos de disputas sangrentas.
Entretanto, para simplificar o raciocínio e entender o que foram os quinze anos
guerra civil na Síria e a deposição do governo, é necessário incluir nessa
intrincada colcha de retalhos geopolítica, de um lado o bloco ocidental Estados
Unidos, União Europeia e Israel, opositores ao regime de Assad, e do outro,
bloco oriental, à Rússia, Irã, China, e alguns grupos rebeldes como o Hamas, Hesbolah,
ambos simpatizantes do governo Sírio.
É
claro que há mais elementos adicionais que compõem esse tabuleiro de disputas,
cujas peças se moviam e se movem segundo interesses de países e grupos
econômicos distintos. Durante o regime de Assad, se constituiu o chamado “eixo
de resistência”, constituído por países e grupos rebeldes que prestavam algum
apoio ao governo Sírio em oposição ao eixo ocidental, liderado pelos Estados
Unidos. Portanto esse movimento de resistência anti-Israel e anti-Ocidente era integrado
pela Rússia; Irã; a Síria; o grupo militante libanês xiita Hezbolah; o sunita
palestino Hamas; e os Houthis do Iêmen.
O
que chama atenção foi a postura da Rússia de não ter tomado posição a favor do
líder Síria, impedindo que os rebeldes do Hayat Tharir al-Sham, abreviado como HTS,
tomasse as principais cidades sírias e a capital Damasco se qualquer
resistência. É de se imaginar que a não resistência Russa à deposição do
governo de Damasco tenha relação com o conflito na Ucrânia, onde parcela expressiva
das forças militares russas, sediada no território sírio, teve que ser removida
para o front ucraniano. Com a saída de Assad do poder, a Rússia tende a se
enfraquece na região no mar mediterrâneo, correndo sério risco de perder o
controle de suas bases militares dentro do território sírio.
Por
outro lado, o Estado de Israel sai muito fortalecido com o conflito, pois o
governo de Assad sempre foi uma pedra no sapato aos interesses expansionistas
do Estado sionista. O grupo político palestino Hamas também é impactado com a
deposição de Assad do poder, pois o governo sírio prestava apoio ao grupo
facilitando a entrada de armamento aos militantes espalhados nos territórios
palestinos ocupados. As Colinas de Golã, tomadas da Síria por Israel na guerra
de 1967, mesmo com a anexação ao território israelense em 1981, o governo Síria
buscava sempre reconquistá-la, porém, sem qualquer sucesso.
O
que faltava de fato para Israel era o reconhecimento internacional sobre o
domínio territorial das Colinas de Golã. Em 2019 o presidente norte americano
Donald Trump reconheceu formalmente as Colinas de Golã como parte de Tel Aviv.
É possível entender agora por que tanto interesse numa região montanhosa,
inóspita. A resposta é simples. Essa região é rica em petróleo. Em 2015 a
empresa AFEK, que é subsidiária da holding estado unidense Genie Energy, já
havia anunciado reservas significativas de petróleo na região. o conselho
dessa holding é constituído por magnatas da política e da mídia dos Estados
Unidos. Agora com o domínio de Golã por parte de Israel, o
país poderá se tornar grande exportador de petróleo. Isso deixa claro que a
deposição do presidente Sírio não está ligada diretamente aos interesses da
população civil do país, mas de grupos de interesses diversos.
Dois
dias após a deposição de Bashar al-Assad do posto de presidente da Síria, foram
mais de 250 incursões do exército israelense contra bases militares
estratégicas do território. Aeroportos, navais militares, aviões, bases de
radares, entre outros equipamentos, foram destruídos por mísseis israelenses.
As justificativas do governo israelense às ações bélicas são fundamentadas na
tese de que tais investidas evitariam que esses espaços e equipamentos pudessem
cair em mãos erradas. De todo modo o Estado de Israel já está pavimentando os
caminhos de um domínio mais efetivo no território sírio.
É
importante esclarecer que os grupos armados que tomaram o poder na Síria, a
exemplo do HST, de tendência Jihadista, que foi um dos braços do grupo
terrorista Al Qaeda foram treinados ou receberam apoio logístico de países como
o Qatar, Arábia Saudita, Turquia, Israel, EUA e membros da EU. O risco é de que
a Síria se torne em uma possessão teocrática, uma espécie de califado, o mesmo
sistema de regime autocrático que procurou se instalar no Iraque durante a
ocupação americana.
Não
podemos esquecer que quando o Talibã retornou há pouco tempo ao comando do
Afeganistão, havia prometido que instalaria no país um regime de governo mais
flexível, com respeito às liberdades individuais, principalmente em relação às
mulheres. Foi só o exército americano sair do país que o regime do Talibã voltou
a impor atos de perseguição, principalmente contra as mulheres, impedindo-as de
irem às escolas entre outros direitos. Fica aqui o alerta, tudo indica que o
território sírio poderá também se transformar num Talibãn, sendo que as bases
para a sua implementação já foram executadas.
Prof.
Jairo Cesa
https://www.brasil247.com/mundo/israel-ataca-instalacoes-militares-na-siria-apos-queda-de-assad
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