domingo, 22 de dezembro de 2024

 

ACORDO MERCOSUL X UNIÃO EUROPEIA FORTALECERÁ AINDA MAIS OS LAÇOS NEOCONIAIS DA EUROPA COM A AMÉRICA DO SUL

 

https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2024/12/perguntas-e-respostas-acordo-de-parceria-mercosul-uniao-europeia

No começo dá década de 1990 às economias do planeta passavam por profundas transformações em suas estruturas produtivas e comerciais, com isso, grupos de países vizinhos se organizaram por meio de blocos, construindo regras próprias, para proteger os interesses de ambos.  Os blocos dos Tigres Asiáticos, da ALCA, do MERCOSUL e da União Europeia, dão uma nova configuração no mapa geopolítico em escala global.  É claro que a partir da formatação dos blocos, os países mais estruturados tiveram vantagens comparativas aos seus vizinhos. Um exemplo foi a ALCA, na América do Norte, cujos Estados Unidos foram mais beneficiados em relação aos seus vizinhos, Canadá e México.

A partir da década de 2010 em diante os blocos tiveram seus poderes de influência reduzidos, vindo a se destacar nesse período duas forças econômicas distintas. A primeira, os Estados Unidos, com o apoio da União Europeia e nações satélites como mediana expressividade no ocidente e oriente.  A segunda força é a China, com forte influência sobre as nações que a orbitam, bloco dos ex-tigres, a Rússia e nações árabes do oriente médio. É China, portanto, a principal pedra no sapato aos interesses hegemônicos imperialistas dos Estados Unidos. A nova rota da seda está ocupando áreas até então sempre dominada pelo imperialismo estadunidense e seus aliados ocidentais. Os chineses estão alocando bilhões de dólares em investimentos em áreas estratégicas do continente africano, bem como na America Latina.       

Políticas protecionistas, guerras comerciais, passaram a dominar o cenário geopolítico nas duas primeiras décadas do século XXI. Tanto os Estados Unidos quanto a China, ambos procuram restringir ao máximo o poder de influencia comercial de cada um nos quatro cantos do planeta. Com o conflito na Ucrânia, a Rússia foi acometida por fortes sanções comerciais por parte dos Estados Unidos e seus aliados europeus. Como saída ao estrangulamento comercial ocidental imposto, à Rússia desloca a sua maquinaria comercial para o centro e sudoeste da Ásia, China e Índia, por exemplos, grandes consumidores de petróleo, gás e outras mercadorias.

O Mercosul foi o bloco econômico criado em 1999, integrando o Brasil, Argentina, Uruguai e o Paraguai, que desde a sua oficialização o objetivo era fortalecimento das relações comerciais entre ambos. É claro que nessa integração, o Brasil obteve mais vantagens que os demais devido a sua extensão territorial e pujança econômica. Embora o tratado comercial da região não impedisse que ambos promovessem negociações com outros blocos, o desejo de lideranças políticas e econômicas do Mercosul sempre foi em costurar acordo de livre comércio com a União Europeia. Depois de 25 anos, felizmente para alguns setores e trágico para outros, aconteceu no Uruguai em 05 de dezembro de 2025, encontro dos representantes da União Europeia e Mercosul para selar o acordo, considerado um dos mais ousados e também polêmicos.

O acordo, contem em seu esboço, inúmeras clausulas que devem ser negociadas pelos países de ambos dos dois blocos. É bem provável que esse acordo mais uma vez não irá frutificar, pelo fato de algumas nações importantes da UE se posicionarem contrárias ao acordo, como a França, Itália, Polônia, Irlanda. Uma das clausulas do acordo diz que se havendo a rejeição de 35% da população do bloco europeu o acordo deixará de existir. A população atual da união europeia alcança os 448 milhões e com a posição contrária dessas quatro nações, o acordo seria abortado, pois ambas somam 36,5% da população do bloco.

A França, por exemplo, é o país que vem articulando com os demais o abortamento do acordo, pois sua ratificação afetaria profundamente o segmento agropecuário intensamente  protegidos por fortes subsídios públicos. A Alemanha, diferente da França, Itália, se mostra entusiasmada com o acordo, por ver grandes vantagens para sua indústria incomparavelmente mais desenvolvida que a dos países do MERCOSUL.

Para o Brasil, o agronegócio se coloca como um dos setores mais agraciados na hipótese de sucesso do acordo, porém, por outro lado, isso intensificará ainda mais o drama da crise climática global. A Abertura de novos mercados às commodities minerais e agrícolas elevará os percentuais de desmatamentos para dar lugar à soja, o milho, à cana de açúcar, o algodão, entre outras. O setor da indústria, comércio e relações de trabalho teriam sérios impactos.

Com a entrada de produtos de melhor qualidade e preços mais baratos, o já sucateado parque industrial brasileiro sofreria um revés inimaginável, com o aumento sem precedentes de trabalhadores sem emprego. Portanto o que é sabido do acordo Mercosul União Europeia é que irá fortalecer ainda maior as relações neocolonialistas entre a America do sul e o bloco europeu, nos moldes da época colonial quando as duas metrópoles Espanha e Portugal tinham poder absoluto sobre a região.

Prof. Jairo Cesa         

 

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/franca-italia-polonia-e-irlanda-ameacam-acordo-mercosul-ue-entenda/

https://www.cut.org.br/noticias/acordo-mercosul-ue-prejudica-trabalhadores-diz-cent rais-sindicais-do-cone-sul-4ff0

https://www.youtube.com/watch?v=JQnwUlLgyfo

 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

 

ASSOREAMENTO DA FOZ E BRAÇO DE RIO PODE LEVAR À EXTINÇÃO   DA TRADICIONAL COMUNIDADE DE ILHAS/ARARANGUÁ

Foto - Jairo


 O desejo quase insano de fixar a foz da barra do rio Araranguá sempre rondou o imaginário de políticos e de parcela expressiva da população dos municípios que integram a bacia hidrográfica que tem o nome do próprio rio. Uma das alegações a favor da obra é de que com a construção de Molhes ajudaria na rápida vazão das águas durante as enxurradas. Na época, 2012, em audiência pública, foram apresentadas três projetos, um propondo que fosse nas proximidades da comunidade do Morro Agudo, o segundo, entre Ilhas e Morro Agudo, o terceiro, na desembocadura da antiga foz.

Lembro-me que durante as tramitações da audiência, impasses ocorreram envolvendo moradores dessas duas comunidades tradicionais, ambas se digladiando para que a obra acontecesse junto às mesmas. A proposta de fixação na antiga foz era vista como menos impactante principalmente no segmento econômico, por manter ativa a pesca artesanal em todo o trecho. Embora os argumentos pro fixação em Ilhas fossem quase que consensuais, grupos constituídos de políticos e empresários do município insistiam na tese de que a primeira proposta de barramento nas imediações do Morro Agudo era a mais salutar.

Por ser a obra de fixação em área da união, o órgão responsável para sua autorização é o IBAMA, que na época recebeu todas as documentações dos estudos realizados, porém atendeu as solicitações do MPF – Ministério Público Federal, para que o projeto fosse embargado por insuficiência de informações. Diante do exposto pelos técnicos do MPF, o órgão ambiental federal decidiu pelo indeferimento da obra. O argumento contrário à fixação por parte do Ministério Público Federal foi fundamentado na tese de que o empreendedor, no caso o município de Araranguá, não cumpriu com todas as etapas recomendadas, ou seja, não foram realizados estudos complementares do local pré-determinado, principalmente nos dois pontos mais ao norte.

Em texto escrito em 2013 no qual expus alguns vícios cometidos nas tramitações dos estudos da obra de fixação da barra, descrevi também o sentimento da população de Ilhas admitindo que fosse importante ouvi-los, considerar suas argumentações de que a obra de fixação na extremidade norte seria menos impactante ambientalmente. No texto relatei que: com base no vasto conhecimento acumulado tanto da geografia como da geologia da região, sustentam os moradores que a não observância da ordem natural da vazão do próprio rio pode resultar em prejuízos irreparáveis ao ecossistema da região.

Quando se falou em prejuízos irreversíveis ao ecossistema e à comunidade estavam se referindo ao possível fechamento definitivo da foz do rio na hipótese da fixação ocorrer mais ao sul, onde segmentos econômicos insistiam que fosse executada.  O texto também dizia que: as primeiras reuniões realizadas para a discussão do projeto cuja conclusão se deu com a realização de audiência pública no Grêmio Fronteira ocorreram manifestações populares alertando sobre os impactos irreversíveis que sofrerá o bairro de Ilhas se for mantida a proposta originária. A justificativa tem procedência, pois o rio que atravessa a comunidade perderá força e se transformará em um lago inerte, cujos efeitos do vento resultarão no seu assoreamento ameaçando a sobrevivência da população local que tem na pesca sua principal fonte de subsistência.

Em 2016 três unidades de conservação foram criadas por meio de decretos municipais na faixa costeira de Araranguá, sendo ambas provenientes de demandas do Projeto Orla. Para a comunidade de Barra Velha, Ilhas e Morro Agudo, o governo municipal da época decretou que a partir da foz do rio até a balsa seria transformada em uma Reserva Extrativista – RESEX, área essa delimitada para o desenvolvimento da pesca artesanal integrativa nessas comunidades. O fato é que desde a sua assinatura em dezembro de 2016 nenhum passo a mais foi dado pelas administrações que se sucederam para a viabilização das etapas relativas à Resex.

Foto - Jairo


Uma das demandas importantes inseridas na Resex está no Art.6 do decreto, onde estabelece que todo o empreendimento licenciado, que causa algum impacto ambiental à mesma, o proprietário ou poder público deverá, em forma de compensação, repassar de 5% a 10% do valor total ao órgão gestor da unidade de conservação. O valor relativo à compensação ambiental terá que ser investido em recursos humano e bens materiais para a implementação, manutenção e gestão da unidade.

Se a Resex estivesse ativa, ações como aberturas de canais alternativos para agilizar o escoamento da água das enxurradas, como o que ocorreu nas proximidades do Morro Agudo, as decisões teriam que partir do corpo gestor da RESEX, junto com a administração municipal. A própria Resex se encarregaria de agilizar levantamentos técnicos da viabilidade ou não de fixar a barra, investigar se existem alternativas possíveis à obra de fixação. A Resex também poderia ter um acento no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá, apresentando e discutindo com os demais pares suas demandas à foz junto às demais entidades que integram a mesma.

Negar a existência da Resex resulta em sérios problemas às comunidades situadas na foz da bacia. A abertura de um canal para agilizar a vazão das águas das enxurradas, que aparentemente demonstra ser permanente, vem se constituindo como um problema aos pescadores tradicionais, bem como ao conjunto da população de Ilhas. Aquilo que se cogitou em audiências passadas de que abrir canal ou fixá-lo no ponto mais ao sul do braço do rio resultaria no fechamento da foz, se confirmou.

Menos de cinco meses após sua abertura, já houve o assoreamento completo da boca da antiga barra. Não tendo mais vazão para o transporte dos sedimentos ao oceano, o vento agora está se encarregando de depositá-lo no fundo do leito do braço de “rio morto”. Na hipótese de haver estiagens mais prolongadas, todo o trecho no entorno da comunidade que serve de porto para centenas de pequenas embarcações poderá ser tomada por extensas dunas. Creio que tais reflexões um tanto pessimistas acerca da  geomorfologia da foz da bacia do rio Araranguá devem ser  consideradas pelos gestores públicos. Ouvir as experiências dos/as antigos/as moradores/as dessas comunidades sobre a dinâmica da geografia local, se mostraria como estratégia ao não desaparecimento de quase dois séculos de cultura.

Prof. Jairo Cesa          

  

  https://leismunicipais.com.br/a/sc/a/ararangua/decreto/2016/783/7830/decreto-n-7830-2016-dispoe-sobre-a-criacao-da-unidade-de-conservacao-da-natureza-municipal-reserva-extrativista-do-rio-ararangua-e-da-outras-providencias#:~:text=Art.,e%20delimitada%20no%20ANEXO%20II.

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/8054837874785528147

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

 

 

CONFERENCIA MUNICIPAIL SOBRE O MEIO AMBIENTE – AMESC - EMERGENCIA CLIMÁTICA – O DESAFIO DA TRANSFORMAÇÃO ECOLÓGICA



Se fôssemos agora fazer uma enquete, perguntar as pessoas se elas têm alguma informação sobre a realização de conferencias sobre o meio ambiente em seus municípios em preparação a conferencia nacional, em maio de 2025, podemos ter certeza que de cem pessoas perguntadas, talvez uma ou duas soubessem ou ouviram falar sobre o assunto. É exatamente essa a sensação que domina o cenário dos mais de 5.500 municípios brasileiros. Afinal, qual a razão dessas conferências voltadas ao meio ambiente?

A proposta é envolver a sociedade brasileira nas discussões das demandas ambientais a partir dos municípios, para que depois, com os delegados escolhidos nos encontros, discutam as propostas elencadas, nas conferencias estaduais, programadas para ocorrerem de janeiro a março do próximo ano. Esse, portanto, é o quinto evento que está sendo realizado, cujo tema norteador é: Emergência Climática – o Desafio da Transformação Ecológica. Nas quatro conferências anteriores, cada uma delas teve temas norteadores, por exemplo, a primeira em 2003 foi: Fortalecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente; a segunda, em 2005 - Gestão Integrada das Políticas Ambientais e o Uso dos Recursos Naturais; de 2008 - Mudanças Climáticas, e de 2013 - Resíduos Sólidos.

Por mais de dez anos, desde 2013, o Brasil deixou de realizar qualquer conferência sobre essa temática. A resposta se deve ao golpe político de 2016, ato que depôs do cargo de presidente da república, Dilma Rousseff.  Os presidentes que assumiram o comando do país a partir dessa ocasião deixaram de lado pautas importantes como a do meio ambiente. Com a posse do presidente Lula em janeiro de 2023, novamente foi reativada a pauta meio ambiente. O próprio tema proposto para a V conferência, emergência climática, se encaixa bem à atual realidade caótica na qual se encontra o clima global, impactado por práticas produtivas nada sustentáveis.

Foto - Jairo


Os episódios extremos do clima em curso nos dão certezas inquestionáveis de que o planeta está em sua fase mais crítica devido ao aquecimento global. Levantamento feito por agencias que monitoram o clima, concluíram que a temperatura média de 1.5° prevista para o final do século, foi alcançada em 2024. Portanto, o que se conclui é que o tempo já está se expirado para salvar o planeta, sendo as COP e as conferências em curso no país são os últimos suspiros que nos restam ainda.

Foto - Jairo


O que espanta é que muita gente ainda não acredita que estamos sob uma crise climática sem precedente em nossa longa trajetória planetária. Os episódios climáticos extremos ocorridos há poucos meses no Rio Grande do Sul e que deixaram centenas de mortos e prejuízos bilionários, parece que não foram suficientes para sensibilizar parte da sociedade gaúcha, do estado catarinense, enfim, de toda a região sul, palco de inúmeras tragédias. Era de se imaginar que diante de tantas catástrofes, os gestores públicos de todos os municípios do sul do estado catarinense seriam motivados em fazerem suas conferencias ambientais. Por acreditar que não o fariam, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá e Afluentes do Mampituba, assumiu o compromisso de promover o evento, ocorrido no dia 11 de novembro, quarta feira, nas dependências da AMESC – Araranguá.

Foto - Jairo


Os 23 municípios que integram a bacia hidrográfica, 11 responderam o convite afirmando que enviaram algum representante do poder público para participar do evento. O auditório da Amesc recebeu 75 pessoas, na sua maioria representante das sociedades civis e particulares. Os 11 municípios que responderam o convite e que enviaram algum representante foram: Araranguá, Balneário Arroio do Silva, Ermo, Jacinto Machado, Morro Grande, Santa Rosa do Sul, Passo de Torres, Praia Grande, São João do Sul e Sombrio e Criciúma. Deixaram de comparecer 12 municípios, sendo 9 desses, vinculados a bacia do rio Araranguá. São municípios que contribuem enormemente com a degradação da mesma bacia. No encontro houve a presença de um prefeito apenas, do município de Santa Rosa do Sul. Sem a presença dos demais prefeitos e de nenhum vereador, a conclusão que se chegou foi de que a conferencia não demonstrou ser de grande importância aos gestores e ao corpo legislativo.

Foto - Jairo


Cada um dos cinco eixos da conferência foi discorrido por um palestrante convidado. Cabe aqui destacar quais as temáticas de cada eixo norteador. O eixo I trata sobre resíduos, energias renováveis e desmatamento; o eixo IImonitoramento hídrico, monitoramento meteorológico, prevenção de desastres e geologia; o  eixo IIIjustiça ambiental, água potável, saneamento e passivo ambiental; eixo IVdescarbonização econômica, código florestal brasileiro e soluções ecológicas que servem de exemplo; eixo Vgarantias de direitos ambientais e sociais, educação participativa e integração entre todos os setores da sociedade.

O eixo I teve como palestrante Profa Dra Elaine Virmond – da UFSC – Araranguá, cujo tema a presentado foi Redução da emissão de gases do efeito estufa; o eixo número II o palestrante foi Franco Turco Buffon, que é Superintendente Regional de Porto Alegre do Serviço Geológico do Brasil – SGB/CPRM, onde abordou o tema Adaptação e Preparação para Desastres – Prevenção de riscos  e redução de perdas e danos; o eixo III, o convidado foi o Prof. Dr. Calyle  Torres Bezerra de Meneses – PPGCA-UNESC, com o tema Justiça Climática – Superação das Desigualdades; o eixo IV, a palestrante foi Marluci Pozzan – APREMAVI –SC, com o tema Transformação Ecológica  - Descarbonização da economia com maior inclusão social; eixo V – Governança e Educação Ambiental - Marileia Selonke – Formada em Gestão  e Análise Ambiental, já atuou no GTEA RH 06 e no GTEA RH 7, e atualmente  é membro titular  da Câmara Técnica  de Educação Ambiental  do Conselho Estadual  de Meio Ambiente – CTEA/CONSEMA/SC e atua como Assessora de Educação Ambiental  no Consórcio  Intermunicipal  do Médio Vale  do Itajaí – CIMVI; Marcellus Brinkmann – Assessor de Educação Ambiental SEMAE, Presidente da CIEA e CTEA – Formado em Direito e Gestão de Recursos Humanos. Nessa mesa, a mediadora foi Eliandra Gomes Marques – CBH Araranguá e afluentes catarinenses do Mampituba.

Foto - Jairo


Concluída as apresentações das quais oportunizaram aos presentes um vasto e rico acervo de informações relevantes no campo econômico, político, jurídico em escala ambiental, era o momento agora da elaboração do relatório com as demandas em conformidade com os eixos norteadores. O que aconteceu foi que no momento de formar os grupos para que esboçassem as propostas, o auditório já estava quase que vazio, demonstrando assim pouco interesse com o que estava sendo debatido e construído. Em vez de grupos foi decidido que cada indivíduo presente elaborasse suas demandas seguindo os eixos estabelecidos. Finalizada essa etapa, foram escolhidos os delegados que participarão da etapa estadual, que ocorrerá até o final de março de 2025.

Conversando com a uma das responsáveis da conferencia municipal, a atual presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica rio Araranguá e Afluentes Catarinenses do Rio Mampituba, a mesma relatou que havia previsão de ter conferencia somente no município de Sombrio, onde a mesma reside, pois também lá integra uma ONG ambiental. Quanto à divulgação, disse que concedeu várias entrevistas, porém, isso pouco influenciou as autoridades e o público em geral a participarem do evento.

A presidente relatou, mais tarde, que nem mesmo no Sombrio teria a conferência se não tivesse pressionado. Afirmou que a mobilização dos demais municípios foi mínima, quase nada, que de fato foi um trabalhão o comitê, organizar tudo, principalmente contatar os palestrantes. A AMESC, portanto, colaborou cedendo o espaço, bem como fazendo a divulgação, enviando e.mail aos municípios e fornecendo o café ao público. Já próximo das vinte horas foi concluído o rascunho das propostas relativas aos cinco eixos, que serão enviadas à conferencia estadual,  ficando assim distribuídas: eixo I, 3 (três) demandas; eixo II, 4 demandas; eixo III, 2 demandas; eixo IV, 5 demandas e eixo V, 2 demandas.

Prof. Jairo Cesa    

 

             

   https://agenciabrasil.ebc.com.br/meio-ambiente/notic ia/2024-11/prefeituras-tem-ate-dia-14-para-convocar-conferencias-do-meio-ambiente

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

 

A DEPOSIÇÃO DE BASHAR AL-ASSAD, DA SÍRIA, NÃO ESTÁ LIGADA AOS INTERESSES DA POPULAÇÃO SÍRIA

https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/12/08/paises-reagem-com-misto-de-cautela-e-celebracao-a-queda-do-regime-de-assad-na-siria.ghtml


O que ocorreu recentemente no Oriente Médio quando o presidente Sírio foi deposto do cargo depois de 50 anos de dinastia Assad, se constituiu como sendo mais uma vitória do imperialismo norte americano e de seus aliados mais próximos, a exemplo do genocida israelense Benjamin Netanyahu. De fato é muito difícil descrever com precisão os desdobramentos políticos desse complexo território do oriente médio, secularmente sacudido conflitos de disputas sangrentas. Entretanto, para simplificar o raciocínio e entender o que foram os quinze anos guerra civil na Síria e a deposição do governo, é necessário incluir nessa intrincada colcha de retalhos geopolítica, de um lado o bloco ocidental Estados Unidos, União Europeia e Israel, opositores ao regime de Assad, e do outro, bloco oriental, à Rússia, Irã, China, e alguns grupos rebeldes como o Hamas, Hesbolah, ambos simpatizantes do governo Sírio.

É claro que há mais elementos adicionais que compõem esse tabuleiro de disputas, cujas peças se moviam e se movem segundo interesses de países e grupos econômicos distintos. Durante o regime de Assad, se constituiu o chamado “eixo de resistência”, constituído por países e grupos rebeldes que prestavam algum apoio ao governo Sírio em oposição ao eixo ocidental, liderado pelos Estados Unidos. Portanto esse movimento de resistência anti-Israel e anti-Ocidente era integrado pela Rússia; Irã; a Síria; o grupo militante libanês xiita Hezbolah; o sunita palestino Hamas; e os Houthis do Iêmen.

O que chama atenção foi a postura da Rússia de não ter tomado posição a favor do líder Síria, impedindo que os rebeldes do Hayat Tharir al-Sham, abreviado como HTS, tomasse as principais cidades sírias e a capital Damasco se qualquer resistência. É de se imaginar que a não resistência Russa à deposição do governo de Damasco tenha relação com o conflito na Ucrânia, onde parcela expressiva das forças militares russas, sediada no território sírio, teve que ser removida para o front ucraniano. Com a saída de Assad do poder, a Rússia tende a se enfraquece na região no mar mediterrâneo, correndo sério risco de perder o controle de suas bases militares dentro do território sírio.

Por outro lado, o Estado de Israel sai muito fortalecido com o conflito, pois o governo de Assad sempre foi uma pedra no sapato aos interesses expansionistas do Estado sionista. O grupo político palestino Hamas também é impactado com a deposição de Assad do poder, pois o governo sírio prestava apoio ao grupo facilitando a entrada de armamento aos militantes espalhados nos territórios palestinos ocupados. As Colinas de Golã, tomadas da Síria por Israel na guerra de 1967, mesmo com a anexação ao território israelense em 1981, o governo Síria buscava sempre reconquistá-la, porém, sem qualquer sucesso.

O que faltava de fato para Israel era o reconhecimento internacional sobre o domínio territorial das Colinas de Golã. Em 2019 o presidente norte americano Donald Trump reconheceu formalmente as Colinas de Golã como parte de Tel Aviv. É possível entender agora por que tanto interesse numa região montanhosa, inóspita. A resposta é simples. Essa região é rica em petróleo. Em 2015 a empresa AFEK, que é subsidiária da holding estado unidense Genie Energy, já havia anunciado reservas significativas de petróleo na região.    o conselho dessa holding é constituído por magnatas da política e da mídia dos Estados Unidos.  Agora  com o domínio de Golã por parte de Israel, o país poderá se tornar grande exportador de petróleo. Isso deixa claro que a deposição do presidente Sírio não está ligada diretamente aos interesses da população civil do país, mas de grupos de interesses diversos.

Dois dias após a deposição de Bashar al-Assad do posto de presidente da Síria, foram mais de 250 incursões do exército israelense contra bases militares estratégicas do território. Aeroportos, navais militares, aviões, bases de radares, entre outros equipamentos, foram destruídos por mísseis israelenses. As justificativas do governo israelense às ações bélicas são fundamentadas na tese de que tais investidas evitariam que esses espaços e equipamentos pudessem cair em mãos erradas. De todo modo o Estado de Israel já está pavimentando os caminhos de um domínio mais efetivo no território sírio.

É importante esclarecer que os grupos armados que tomaram o poder na Síria, a exemplo do HST, de tendência Jihadista, que foi um dos braços do grupo terrorista Al Qaeda foram treinados ou receberam apoio logístico de países como o Qatar, Arábia Saudita, Turquia, Israel, EUA e membros da EU. O risco é de que a Síria se torne em uma possessão teocrática, uma espécie de califado, o mesmo sistema de regime autocrático que procurou se instalar no Iraque durante a ocupação americana.

Não podemos esquecer que quando o Talibã retornou há pouco tempo ao comando do Afeganistão, havia prometido que instalaria no país um regime de governo mais flexível, com respeito às liberdades individuais, principalmente em relação às mulheres. Foi só o exército americano sair do país que o regime do Talibã voltou a impor atos de perseguição, principalmente contra as mulheres, impedindo-as de irem às escolas entre outros direitos. Fica aqui o alerta, tudo indica que o território sírio poderá também se transformar num Talibãn, sendo que as bases para a sua implementação já foram executadas.   

Prof. Jairo Cesa

  

https://www.brasildefato.com.br/2024/12/09/queda-de-assad-para-rebeldes-aliados-de-israel-enfraquece-resistencia-palestina-diz-analista

 

https://www.brasil247.com/mundo/israel-ataca-instalacoes-militares-na-siria-apos-queda-de-assad

https://revistaforum.com.br/global/2024/12/9/israel-quer-tomar-mais-terras-petroleo-da-siria-170638.html

https://revistaforum.com.br/global/2024/12/9/a-grande-prejudicada-pela-queda-de-assad-propria-populao-siria-afirma-analista-170620.html

https://www.aljazeera.com/news/2024/12/10/barrage-of-israeli-attacks-destroys-important-military-sites-in-syria

 

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

 

COMGRESSO BRASILEIRO EM HOMEOPATIA INTEGRATIVA  - LAGES/SC, 2024 – CUIDADO DA SAÚDE DAS PESSOAS, DOS ANIMAIS, DAS PLANTAS E DO AMBIENTE

https://www.abhama.org/icbhaa


O uso de ervas, raízes, minerais, entre outras substâncias, foi uma das formas de tratamento contra moléstias utilizadas pelos primeiros homo sapiens sapiens. Mais tarde inúmeras sociedades associaram esses e outros elementos da natureza aos seus rituais de cura, muitas das quais apresentando efeitos alucinógenos a ponto de fazer o “curandeiro” transcender, a ponto de ativar energia vital do sujeito acometido por alguma anomalia. Ainda hoje comunidades tradicionais e não tradicionais aplicam essas técnicas ancestrais de tratamento e cura que parte do interior para o exterior do indivíduo.  Porém, são práticas ainda hoje tomadas por tabus e preconceitos, como se a ciência, a alopatia curativa fosse ela a única capaz de dar respostas às disfunções do reino vegetal e animal.

Associar plantas, raízes e rezas, é o pilar essencial na reconstrução de processos milenares de integração da espécie humana às formas de vida existentes no planeta. Sendo assim, o que está sendo reconstruído às duras penas em nossos frágeis ambientes são fragmentos químicos e físicos de todo o tecido do macrocosmo, presente na fina matéria das galáxias e nas células de cada elemento vivo. Se pudermos resumir tudo isso no contexto da vida planetária, incluindo também seres inanimados, podemos defini-los como estruturas homeopáticas integrativas.

Claro que são definições um tanto simplórias diante de toda a sua complexidade e desconhecimento por parte significativa das pessoas, que ainda o interpretam como algo utópico. A visão cartesiana de mundo tratou de suprimir do nosso imaginário tudo que pudesse deixar alguma margem de abordagem intuitiva aos fenômenos da natureza e ao funcionamento do complexo aparelho chamado corpo humano. O avanço da ciência e as grandes descobertas da química, da matemática, da física, influenciaram decisivamente no tratamento das moléstias ate então tratadas com poções e ritos.

É sabido que as doenças, expressiva parcela delas, se manifestam no organismo humano, de plantas e outras espécies vivas em decorrência de inúmeros fatores, sendo os desequilíbrios dos campos energéticos reguladores das energias vitais, os mais comuns. É importante destacar que os princípios das energias vitais já haviam sido detectados há muito tempo, na Grécia, por Hipócrates, considerado o pai da medicina ocidental. Nos seus estudos, Hipócrates fazia referência à via medicamentosa natural presente no organismo, que era responsável pela doença. Para ele alma e força vital eram um só principio, ou seja, uma força imaterial regendo os sistemas vivos.

Com o avanço do pensamento mecanicista, racionalista, século XIV em diante, os fundamentos do holismo que nortearam a medicina hipocrática anterior a cristo foram deixados de lado. A imaterialidade, alma e força vital, ambas passaram a ser interpretadas pelos cartesianos como elementos abstratos do pensamento, ou seja, campos nebulosos repletos de incertezas acerca da materialidade. Foi, portanto, bem mais tarde, século XVIII que nasceu na Alemanha Christian Friedrich Samuel Hahnemann, individuo que trouxe à luz, as bases do pensamento de Hipócrates para a formulação da medicina homeopática.

Segundo Samuel Hahnemann a cura se da pelo semelhante, também admite que a perturbação da energia vital seja causadora das enfermidades. Enfatizou que o termo energia vital deve ser compreendido como força, princípio, espírito e poder. Portanto, a homeopatia não pode ser compreendida como instrumento de cura, mas como campo de regulação da energia vital, que é o equilíbrio perfeito no estado da saúde.   Mas Samuel se sentia decepcionado com a medicina da época, na qual não compactuava com as técnicas um tanto agressivas de tratamento dos doentes.

Somente mais tarde quando ele próprio se tornou cobaia no experimento da quina, planta utilizada para o controle da malária, que foi aí que descobriu os princípios do pensamento de Hipocrates. Afirmou ele que a mesma substância que produz os sintomas numa pessoa sadia pode curar uma pessoa doente, através do princípio da ressonância. No tratamento, Hipocrates acreditava que era necessário conhecer a natureza do homem por meio dos seus atributos individuais, meio ambiente social e espiritual, vistos integrados em seu corpo e alma. Portanto, a força vital anima a vida emocional do individuo, gera pensamentos, produz criatividade e conduz a inspiração espiritual.

 As doenças se manifestam pelo enfraquecimento da força vital, isto é, pelos maus pensamentos, dificuldades da aceitação, traumas emocionais ou pré-disposição genética, tudo que desequilibre o organismo espiritual, emocional, mental e físico.  Para curar as doenças Samuel acredita que acontece por meio da reação vital do organismo contra a enfermidade. O medicamento, no entanto, só deve representar o papel de agente provocador, não de agente executante.  

Segundo François Choffat (1996) “na época de Hahnemann, a lei da semelhança era uma ideia mais familiar do que hoje. não por acaso a vacinação antivariólica foi inventada por Janner no próprio ano do nascimento da homeopatia. O seu princípio era o seguinte: Inoculava-se no homem, para protegê-lo da varíola, o pús das lesões de uma vaca na qual fora inoculada a vacina, que é a varíola dos bovinos. Essa doença, menos perigosa par o homem do que há varíola parecia protegê-lo desta última, em conformidade com o princípio da semelhança”.[1]

A partir dessa abordagem reflexiva acerca da homeopatia, seu fundamento histórico e filosófico acredita que é possível fazer agora um breve resumo e reflexões críticas, dos quatros dias, de 20 a 23/11/2024, do I Congresso Brasileiro de Homeopatia Integrativa: Cuidado da Saúde da Pessoas, dos Animais, das Plantas e do Ambiente, ocorrido no campus da UDESC, município de Lages/SC. É necessário ressaltar que esse congresso atraiu especialistas e adeptos da homeopatia na agricultura e ambiente de vários estados brasileiros e fora do país.

Para mim que conhecia parcialmente a homeopatia há algum tempo, porém, no campo da medicina, no encontro fiquei surpreendido com a intensidade de aplicações dessa modalidade médica nas atividades produtivas do campo e nos ambientes urbanos. Paulatinamente, a homeopatia vem substituindo ou sendo acrescentada conjuntamente as técnicas convencionais de combate de moléstias, que além de reduzir custos está melhorando a qualidade de vida das famílias no campo. Os organizadores do congresso, em Lages, tinham expectativa de no máximo 100 inscritos, porém as inscrições superaram a todos, ultrapassando os 200 inscritos.

A palestra de abertura foi realizada pelo Italiano Giovanni Dinelli, que é professor doutor da Università di Bologna, Itália. O tema que escolheu para discorrer foi a Agricultura Europeia em Transição: Demandas por Práticas Agroecológicas e o espaço da homeopatia.   Tanto na fala do pesquisador italiano como nas varias buscas que eu fiz vasculhando Sites internacionais sobre o tema, o que constatei foi que a homeopatia passa por um momento muito complexo, pois vem sofrendo críticas das comunidades médicas e científicas convencionais.  As investidas negacionistas são tão brutais com reflexos negativos nas políticas públicas desse segmento em muitos países importantes da Europa, como a Inglaterra, França, Alemanha, Itália, entre outros.

O fato é que o Brasil, embora ainda protegido por barreiras políticas, como a lei criada em 2006 que instituiu a Política de Práticas Integrativas e Complementares via SUS, diariamente vem também sofrendo bombardeios de setores negacionistas, que insistem definir a homeopatia como algo ineficaz. Em 03/07/2024, em seu Site, a Associação Médica de Homeopatia Brasileira – AMHB, traz texto com o seguinte título: Em mais um ataque orquestrado contra a Homeopatia “Folha de São Paulo” publica editorial falacioso contra a especialidade médica.

A editorial gerou intensa revolta por parte da associação em decorrência dos ataques infundados do órgão noticioso que procurou desconsiderar a homeopatia como técnica medicinal milenar. Em 2023 a AMHB postou na sua página, livro digital gratuito, como seguinte título: Homeopatia não é efeito placebo – comprovação das evidencias cientificas da homeopatia. O material publicado teve também o apoio Associação Medica Brasileira – AMB e da Associação Paulista de Medicina – APM. Em 2024, a AMB, divulgou o livro também na sua revista digital.

Outros temas relevantes foram debatidos em mesas redondas durante os quatro dias do evento. Entretanto, a expectativa de todos era com a fala da pesquisadora Britânica Charlotte Southall, cujas investigações do seu doutorado sobre parreiras, vêm ocorrendo no Brasil junto com uma universidade britânica, no Laboratório de Homeopatia e Saúde Vegetal da Estação Experimental da Epagri, Lages/SC. No laboratório Charlotte fez algumas considerações acerca do seu trabalho investigativo, onde mostrou que aspectos intuitivos e certos instrumentos mecânicos são essenciais na detecção de respostas às anomalias presentes nas parreiras.  O que pretende a pesquisadora é explorar novos estimuladores de defesa vegetal para mitigar a eliminação gradual do cobre, presente na calda bordalesa, nos setores da viticultura do Reino Unido e do Brasil.

No laboratório outros trabalhos foram apresentados, dentre os quais, de uma pesquisadora que procura tratar com homeopatia uma das doenças mais comuns e cultivo de feijão, a antracnose. A grosso modo, revelou a pesquisadora que uma entre as várias observações no seu trabalho investigativo está a colheita de sementes filhas de feijão para verificar se ambas contém elementos degenerativos das sementes pais.

Segundo ela serão tomados dados de crescimento, desenvolvimento e produtividade, além do efeito dos preparados na indução de resistência do feijão à antracnose. Serão realizadas análises da expressão de genes relacionados aos mecanismos de defesa, tanto em plantas pais quanto em plantas filhas.  Esse processo recebe o nome de memória transgeracional. Claro que tal pesquisa sobre o tratamento de certas moléstias no feijão por meio da homeopatia pode tornar os produtores rurais menos dependente do uso de substâncias químicas nessa atividade.

O tratamento de ulcerações em bovinos por meio da homeopatia também mostrou muito eficiente. Uma pesquisadora mostrou um animal cujos tratamentos convencionais não apresentavam resultados relevantes. A lesão no animal havia passado por duas cirurgias, porém, os sintomas permaneciam. Diante do resultado nada promissor a decisão foi de sacrificar o animal, até que surgiu a ideia da homeopatia. Primeiro passo foi investigar o histórico do animal a partir do seu nascimento, suas características comportamentais, e fatores que levaram ao adoecimento. A partir dessas informações foram elaborados compostos homeopáticos e inseridos ao animal. O anima bovino apresentou recuperação satisfatória estando quase em condições de retornar ao convívio com outros animais.

A região dos campos de cima da serra no estado catarinense, a criação de ovinos é uma atividade importante da cadeia produtiva da agropecuária. Por isso o laboratório de homeopatia da EPAGRI desenvolve pesquisas no tratamento de doenças que afetam esses animais, dentre as doenças comuns está a verminose.  A metodologia adotada foi a seguinte, foram usados medicamentos químicos, medicamentos homeopáticos comerciais e homeopáticos obtidos pela repertorização. O resultado, portanto, foi bastante eficiente no controle da verminose e outras doenças em ovinos.  O que se constatou foi que animais em boas condições de saúde possuem capacidade imunológica de limitar a ação de parasitas a níveis aceitáveis.

O cultivo da cebola também foi objeto de discussão no congresso de homeopatia. A região de Ituporanga/SC é uma das maiores produtoras do tubérculo no Brasil. Além do cultivo convencional essa atividade vem se destacando no manejo orgânico. Portanto a homeopatia no controle de certas doenças durante o ciclo produtivo da mesma também é objeto investigativo nos laboratórios da Epagri. As doenças mais comuns são a Trips ou piolho da cebola e o Míldio, doença causada por um fungo. Para o controle da Tripes, de modo homeopático, pode-se preparar o extrato de quitosana 0,5% formulado em água  com 2,25% p/v de quitosana e 12,5% p/v de vinagre de álcool, também reduz a incidência de tripés.

É importante que fique claro que a aplicação das substâncias alternativas deve estar associada ao sistema de plantio direto na palha, pois favorece a fertilidade do solo, a absorção de água e a saúde das plantas. O controle mecânico de pupas de tripes também é favorecido pela presença de palha sobre o solo, além de incrementar a presença de inimigos naturais e antagonistas.

Ouvir experiências bem sucedidas de produtores e extensionistas no uso da homeopatia no manejo do campo e animais também teve espaço no congresso. Dentre as que mais empolgaram o público presente, sendo a pesquisadora aplaudida de pé pela sua ousadia e dedicação, o destaque foi uma extensionista da Emater/RS, que atua na região norte estado gaúcho, mais precisamente no pequeno município de Gramado dos Loureiros.

Relatou que desde pequena tinha desejo que fosse reduzido ou até mesmo suprimido o uso de agrotóxicos na agricultura. Formou-se em biologia com especialização em educação ambiental. Quando ingressou na Emater fez vários cursos de extensão em homeopatia. Por ser Gramado dos Loureiros um município pequeno constituído por sítios de pouca extensão, começou a trabalhar com as famílias o preparo e aplicação de produtos homeopáticos na agricultura e pecuária leiteira.

Problemas como a do carrapato e a dermatite eram os mais comuns. No entanto foi o carrapato, o inseto considerado o carro chefe nas suas investigações homeopáticas. Com o inseto, foi possível preparar um nosodio, que aplicado no animal infestado, os mesmo em dois ou três dias caiam completamente. Essas técnicas alternativas começaram a se espalhar pelo município e região estimulando novas famílias ao uso da homeopatia.  Dezenas de famílias foram capacitadas para a aplicação dessas técnicas no campo. A cada final de ano, as famílias se reúnem para avaliação do quanto era economizado nesse sistema.

Relatou também o uso da arnica no cultivo de morango, com resultados satisfatórios. Confessou que seria mais conveniente ouvir e acompanhar as experiências exitosas dos agricultores, que são verdadeiros pesquisadores. Citou outros experimentos homeopáticos no combate da lagarta do cartucho do milho; ataques de formigas; controle da ferrugem; do pulgão. São cerca de 100 ha de milho e mais 250 ha de soja com o uso da homeopatia. Algo que era muito comum nos potreiros de antigamente era a presença de um inseto conhecido como rola bosta, revelou a palestrante. Devido aos manejos convencionais dos rebanhos bovinos, aplicação de muitos medicamentos químicos, esse inseto desapareceu.

Notou que com o manejo da homeopatia nos animais, esse inseto começou a retornar, reequilibrando novamente os sistemas. Envolver o poder público em manejos alternativos no campo deve ser estimulado. Afirmou a extensionista que foi realizado convênio com uma clínica homeopática para que fornecesse os produtos aos agricultores. Disse também que é necessário fortalecer as políticas de assistência técnica ligada à homeopatia no campo, seguindo os mesmo procedimentos praticados no sistema de saúde. Portanto, concluiu a palestrante que a homeopatia é uma técnica que nos obriga ao acompanhamento permanente.

Prof. Jairo Cersa    

http://www.tede2.ufrpe.br:8080/tede2/bitstream/tede2/5533/2/Gisele%20Bazzo%20Piccirilli.pdf

  https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/artigo/2023/05/10/homeopatia-um-resquicio-da-medicina-pre-cientifica

https://saude.abril.com.br/medicina/academias-francesas-pedem-o-fim-da-homeopatia-na-saude-publica

https://link.springer.com/journal/508

https://epoca.globo.com/saude/check-up/noticia/2017/07/por-que-os-britanicos-desistiram-da-homeopatia.html

https://www.dw.com/pt-br/homeopatia-funciona-ou-s%C3%B3-tem-efeito-placebo/a-67966984

https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/artigo/2024/01/11/alemanha-estuda-proibir-gasto-publico-com-homeopatia

https://www.dw.com/pt-br/homeopatia-a-maior-engana%C3%A7%C3%A3o-da-hist%C3%B3ria/video-70957474

https://www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/view/1178/1077/4270

https://amhb.org.br/opiniao/em-mais-um-ataque-orquestrado-contra-a-homeopatia-folha-de-sao-paulo-publica-editorial-falacioso-contra-a-especialidade-medica/

https://www.scielo.br/j/ramb/a/sNBNt8WFhyJKcLg6tDntghh/?lang=en

 

 

 

       

                                                            


[1] Pustiglione, Marcelo. 17 lições de homeopatia: estudos avançados do organon e leitura atualizada dos “textos maiores” de Samuel Hahnemann / Marcelo Pustigone. – São Paulo: Typus, 2000.  p. 64 e 64.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

 

A COP 29, AZERBAIJÃO, MAIS UMA CUPULA FRACASSADA SOBRE O CLIMA GLOBAL

https://agenciabrasil.ebc.com.br/meio-ambiente/noticia/2024-11/brasil-e-segundo-pais-entregar-meta-de-emissoes-na-cop29

 

No texto escrito antes do inicio da Cop 29, em Baku, capital do Azerbaijão, já havia dito que seriam duas semanas de reuniões de custo financeiro elevado, que de fato sempre foram, porém sem resultados significativos favoráveis ao clima global. Mais uma vez as grandes potências econômicas, as que mais contribuem com as emissões de gases poluentes à atmosfera, se recusaram a aceitar a proposta de um trilhão e trezentos bilhões de dólares anuais de ajuda às nações subdesenvolvidas.

A cúpula de Baku foi batizada como a cúpula das finanças, ou seja, evento que trataria instrumentos para elevar as cifras de ajuda financeira, de 100 bilhões/ano, aprovada na Cop 15, em Paris, para 1,3 trilhão, valor proposto pelos agentes do clima. A decepção já se deu no inicio do encontro quando representantes dos países ricos vieram com uma proposta ridícula de 150 bilhões de dólares, acrescentados aos 100 bilhões, que somados chegariam a 250 bilhões.  Depois de intensas negociações a ponto de muitas delegações dos países pobres abandonarem as dependências do evento em protesto à resistência dos países ricos em não elevar o valor, veio a decisão um pouco mais confortável, a ajuda passaria para 300 bilhões de dólares ano.

O que não ficou claro no documento redigido foi a forma como esse dinheiro seria obtido e nem mesmo o modo como os países não desenvolvidos receberiam. Na cláusula há indicativos que poderia ser em forma de empréstimos ou outros meios. As exigências dos representantes dos países pobres são de que os valores teriam de ser em forma de doações, porque não seria cabível endividar ainda mais essas nações mantendo-as mais dependentes ainda. Penso que esse assunto não vai ser solucionado até a Cúpula 30, em Belém, Brasil, no próximo ano, 2025.

O crédito de carbono também foi uma das demandas na cúpula de Baku. Dispositivo esse criado em Kyoto, 1997, que propõe a manutenção das florestas em pé em troca de créditos, dinheiro, de empresas cuja taxa de emissão de gases do efeito estufa tenham expirado. Na Cop 15, em Paris foi dado novas diretrizes ao tema crédito de carbono, enquanto que em Baku, foi discutido como será operacionalizá-lo.  De fato é um tema polêmico que beneficiará os países poluidores, assegurando-os condições de lançar mais e mais gases do efeito estufa à atmosfera. A proposta é que a demanda do crédito de carbono seja administrada pela ONU, porém não ficaram claro que tipos de projetos e atividades que poderão gerar créditos de carbono.

O Congresso Nacional brasileiro, em 19 de novembro último, aprovou projeto que regulamenta o mercado de carbono no Brasil, o texto agora vai para presidência da república para sua sanção. Sua aplicabilidade está prevista para ser executada em seis anos. O projeto cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases do Efeito Estufa – SBCE. Esse mercado permitirá a negociação de Cotas Brasileiras de Emissão e de Certificação de Redução. O que estranha é que por ser um tema tão importante e de interesse global, a sociedade civil ficou de fora dos debates, não podendo encaminhar proposições ou criticas ao projeto. Por ser um tema um tanto complexo, vou deixar para discorrê-lo em outro momento.

O que não imaginavam os membros organizadores da Cop29 era que houvesse um forte retrocesso no quesito mitigação e adaptação climática. Na cop anterior, ocorrida nos Emirados Árabes Unidos, os países árabes produtores de petróleo haviam afirmando que iriam cumprir com a meta global de adaptação, ou seja, aplicariam metas de transição energética com menor emissão de gases poluentes. Em Baku, quando foi apresentado o documento relativo à mitigação e adaptação climática, esses mesmos países disseram que rejeitariam qualquer texto contrário ao setor de combustíveis fósseis.  

Finalizando a Cop 29, em Baku, em 23/11/2024, cujo resultado não foi nada vantajoso ao clima global, dois dias depois, em 25/11, na cidade de Busan, Corea do Sul, deu inicio outro encontro importante para tratar sobre os impactos gerados por plásticos ao planeta. Esse encontro, o quinto, cuja sigla em inglês é INC (Comitê Intergovernamental de Negociação) teve como objetivo discutir com as demais nações envolvidas protocolos conjuntos sobre a redução da fabricação de plásticos que contaminam os ecossistemas.

A criação do INC se deu a partir da sessão da assembleia ambiental da ONU (UNEA-5-2) em 2022. Desde o momento da criação já ocorreram quatro reuniões, sendo a primeira em Ponta Del Este, Uruguai, em novembro de 2022; a segunda em Paris, França, junto de 2023; terceira, em Nairóbi, Quênia, novembro de 2023; e a quarta em Attawa, Canadá, abril de 2024. Acreditava-se que no quinto encontro, na Corea do Sul, se poderia se chegar a um consenso acerca do tema, que de fato não aconteceu, e que gerou decepção às nações mais pobres que esperavam uma postura mais flexível, principalmente das nações produtoras de petróleo, uma das principais matérias primas utilizadas na fabricação do segmento.

A única certeza que se teve no encontro foi que depois de dois anos do início das negociações, não foi estabelecido prazo para a eliminação, nem mesmo de plásticos descartáveis. A biodiversidade, que era para ser central nos debates na cúpula da Corea sobre plásticos, foi esquecida ou negligenciada. O fato é que a vida terrestre e marinha é o segmento mais impactado com resíduos plásticos. Houve consenso de que ações voluntárias como Logística Reversa de Embalagens Plásticas, já adotadas por alguns países como o Brasil, não são suficientes para reverter o grave problema global, que a solução plausível seria ações conjuntas em forma de protocolos. Acredita-se que até o dia 20 de dezembro de 2024, o presidente Lula irá assinar decreto determinando que produtos plásticos tenham 25% de material reciclado.

Prof. Jairo Cesa

 

 

        

https://oeco.org.br/reportagens/ou-se-juntam-a-nos-ou-por-favor-saiam-da-frente-declara-panama-diante-de-esboco-decepcionante-do-tratado-de-plasticos/#comments

https://oeco.org.br/reportagens/paises-nao-conseguem-chegar-a-um-acordo-para-combater-poluicao-plastica/