NOVOS ATAQUES AOS SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS DE
SANTA CATARINA NO ÚLTIMO DIA ANTES DO RECESSO PARLAMENTAR DA ALESC
Nesses treze anos de existência desse blog
cuja construção se deu para me auxiliar nas atividades de intercâmbio com os
estudantes dos cursos superiores da UNIBAV, Orleans, onde lecionei, desde então
são dezenas de textos escritos discorrendo sobre educação, sobretudo o magistério
publico estadual catarinense. Durante esse período, mais de uma década, o
estado foi administrado por três governadores, todos, sem exceção, atuaram, em
maior o menor escala, na supressão ou fragilização de direitos dos
trabalhadores do serviço público.
Claro que o magistério catarinense sempre foi
o “patinho feito” dos horrores cometidos pelos governadores desde o fim da
ditadura. Pode ser que a explicação desses ataques esteja na própria
organização da categoria, cujo sindicato, o SINTE, entre 1990 a 2010, sempre
atuou com muita força, resistindo sem recuar as investidas neoliberais dos
gestores estaduais. Sempre reafirmei nas minhas publicações que o magistério
estadual, professores e demais trabalhadores da educação, sem incluir os seus
familiares, tem voto suficiente para decidir uma eleição para o executivo.
No campo de legislativo a categoria poderia
ter a cada legislatura seis ou mais deputados. Acontece que, não se sabe
exatamente o motivo, parcela significativa do funcionalismo público, incluindo
o magistério, votam em candidatos de tendências conservadoras, exatamente em indivíduos
que vão passar quatro anos perseguindo, ferrando professores, arrochando
salários e suprimindo direitos conquistados diante de muita luta. Não
precisamos nos estender muito no passado para comprovar a obviedade do quão
despolitizado é o magistério estadual.
No pleito de 2018, mais de 70% dos eleitores
catarinenses votaram em um candidato ao executivo desconhecido sem qualquer
experiência no campo da gestão pública. Foi eleito pelo fato de ter prestado
apoio ao candidato à presidente da república, o ultraconservador Jair
Bolsonaro. Entre as ações elencadas nos seus quatro anos obviamente o
magistério não ficaria isento, claro que de modo negativo. Tanto o governador
Carlos Moises como qualquer outro que passou pelo executivo, ambos jamais
tiveram dificuldades em aprovar projetos na ALESC contrários aos interesses dos
servidores públicos, pois o executivo sempre teve maioria representativa no
parlamento catarinense.
A Reforma Previdenciária dos servidores
catarinenses em 2021, sem dúvida foi um dos grandes trunfos do governador
Moises e da elite política e econômica catarinense. Não bastassem as novas
regras de aposentadoria que estendeu por mais tempo a permanência do servidor
na ativa, o desfecho da perversidade culminou com a aprovação na ALESC de um
dispositivo que sequestrou dos servidores aposentados 14% dos seus vencimentos,
a partir de quem recebe um salário mínimo. Sobre o assunto, em dezembro de 2021
publiquei um texto com o título: O
CONFISCO DO GOVERNADOR MOISES NOS PARCOS SALÁRIOS DOS/AS APOSENTADOS/AS E
PENSIONISTAS CATARINENSES (PRIMEIRA FASE).
O uso de expressão
primeira fase se deve ao fato que o assunto iria render muito do momento da aprovação
do projeto para os dias e meses subsequentes, que os servidores aposentados e
os ativos iriam resistir a esse ataque e que o governador Moises iria pagar
muito caro por isso. Dito e feito, a resposta à brutalidade cometida contra aposentados
e demais servidores públicos veio em outubro de 2022, quando não obteve
sufrágio suficiente para chegar ao segundo turno, perdendo para o candidato a
governador do PT, Décio Lima.
A derrota de Moises
no pleito eleitoral de 2022 não significou a vitória dos servidores públicos do
estado de Santa Catarina. Os votos que não foram suficientes à sua reeleição,
aqui incluímos votos dos professores e demais servidores, foram para o
candidato bolsonarista também ultraconservador, Jorginho Melo, do PL. No
segundo turno o candidato do PL conquistou 70,69% dos votos, contra 29,31, do
PT. Não bastasse a vitória acachapante do candidato bolsonarista ao executivo
estadual, a ALESC também teve foi contaminada por essa onda ultradireitista,
que seria constituída por um das legislaturas mais conservadoras de todos os
tempos.
Se a situação já foi
desastrosa aos servidores durante o governo Moises, todo sabia que iria piorar
no governo de Jorginho, sem a necessidade de “bola de cristal” para prever,
bastava observar o cenário político, principalmente quem estava ocupando as
cadeiras do legislativo, cujo partido do governador, o PL, ficaria com 11 das
40 assentos disponíveis. Portanto seria uma questão de tempo para presenciar as
barbaridades que viriam desse governador contra os servidores públicos.
Durante 2023 as
entidades que representam os servidores do serviço público concentraram as
energias na tentativa de revogar a lei que sequestrou os 14% dos aposentados. O
fato é que as próprias entidades que representam os servidores não conseguiram
se unificar na luta impedidas por divergências políticas. No fechamento do ano
de 2023, na derradeira sessão antes do recesso, se repetiu um episódio
costumeiro de governos autoritários, o encaminhamento de projetos de interesse do
executivo na ALESC sem discussão com a sociedade.
Foi assim mesmo o que
aconteceu, em novembro, a pouco mais de trinta dias para o recesso do
legislativo foi dada entrada na ALESC projeto de lei visando à revogação
escalonada dos descontos dos 14% aos aposentados e pensionistas e a criação de
dois sistemas de aposentadoria, o SC futuro e o SC seguro. A pressão da
oposição na assembleia era para que os dois dispositivos fossem votados em
separado, que não ocorreu de fato. Isso foi uma estratégia do governador
Jorginho para que os deputados votassem a favor, pois já era consenso o fim dos
descontos, que seriam escalonados, a partir de 2024 para aqueles que recebem
até dois salários mínimos, finalizando em 2026 aos que recebem até três
salários mínimos.
O que os servidores
queriam mesmo era que o governador revogasse imediatamente os descontos, pois
tal decisão vem impactando a vida de milhares de aposentados e pensionistas
catarinenses, que dependem desses recursos para a sua subsistência. Esses
descontos impactam diretamente a economia de muitos municípios pelo fato de
entrar menos dinheiro no comercio local. Infelizmente o magistério catarinense
teve que amargar mais essa derreta frente a tantas batalhas perdidas. O
patrolamento do dia 19/12, na ALESC, contra os servidores do estado foi além,
tornando suas vidas financeiras futuras e de seus familiares mais incertas ainda.
Dois sistemas de
aposentadorias para servidores serão criados a partir de 2024, o SC Futuro e o
SC Seguro. Isso significa que os
servidores que estão na ativa continuarão contribuindo para o fundo
previdenciário do estado. Os novos que ingressarem a partir dessa data, os
descontos serão aplicados no capital financeiro, o mesmo que bolsas de valores,
instrumentos de capitalização de elevado risco diante de qualquer crise
financeira que porventura ocorrer. Todos se lembram da crise imobiliária norte americana
em 2008 que pulverizou do dia para a noite bilhões de papeis de investidos do
mundo inteiro. Esse é uma proposta que foi rechaçada em 2015 no estado por
acreditar ser inviável devido ao elevado risco de ser impactada por uma crise
financeira.
Mas o atual governo
insistiu na proposta, recebendo total apoio de seu partido, o PL, de outros
parlamentares na ALESC, somando ao todo 27 votos a favor e 11 contrários. O que
é mais absurdo é quando se sabe que esse sistema de rendimento via
capitalização financeira não deu certo nos estados onde foi implementado. Então
por que insistir no erro? Seguindo essa lógica, mesmo com a criação desses dois
fundos previdenciários no estado, é bem provável que antes do fim do mandato do
atual governador os servidores irão amargar outra reforma previdenciária.
Por que da certeza?
Se não houver concurso público para novos servidores do estado não tem como
manter a previdência do estado saudável por muito tempo. Além do mais a crise previdenciária
dos servidores de deve também aos bilhões de reais que não entram nos cofres
públicos devido às isenções fiscais e sonegações. Para deixar bem claro, se não
houver uma grande mobilização unificada dos servidores estaduais já no próximo ano
rechaçando, derrotando candidatos aliados do governador às eleições aos
legislativos e executivos municipais, é bem possível que em poucos anos seremos
uma categoria em extinção.
Prof. Jairo Cesa
Nenhum comentário:
Postar um comentário