A ÁRVORE ONDE ERAM NEGOCIADOS ESCRAVOS/AS E SEUS NOMES REBATIZADOS
ARVORE DE LEILÃO DE ESCRAVOS (CIDADE DO CABO/AFRICA DO SUL |
Existe
no Brasil uma vasta produção bibliográfica que retrata fragmentos da participação africana na construção da identidade cultural brasileira. Para elucidar,
destacamos duas obras importantes da historiografia que aborda aspectos distintos
dos africanos no Brasil. A primeira, descreve o cotidiano dos cativos no
extremo sul de Santa Catarina, submetidos ao comando do proprietário da terra; a
segunda, procura destacar o lado empreendedor de ex-escravos, não mais como
figurante da história e sim protagonistas que se tornaram até mesmo negociantes
de escravos.[1]
Todos/as que estudaram história no ensino fundamental e médio devem ter lembrança dos
professores falarem que a maioria dos escravos trazidos para o Brasil, vinham de Angola e Moçambique. Chegando ao Brasil eram negociados em grandes feiras públicas e cujos nomes rebatizados.
Em viagem à África do Sul, um aspecto chamou atenção e que certamente
contribuiu para pensar que o país africano direta e indiretamente teve peso no
processo de colonização do Brasil e no tráfico de escravos.
Os
portugueses quando se lançaram ao mar à procura de outro caminho para chegar às
Índias, a África do Sul se tornaria parada obrigatória para o
reabastecimento. O curioso foi a África do Sul não ter sido ocupada e se tornado uma possessão portuguesa. E por que teria motivada a não colonização? O
fato é que na África do Sul a água sempre foi um recurso escasso e valorizado
pelas tribos que habitavam o seu litoral. Na tentativa de roubar a água, a
tripulação das embarcações que transitavam pela costa era violentamente
reprimida pelos nativos. Não havendo possibilidade de colonizar o território, a
coroa portuguesa designou que fosse executado o plano B, ou seja, a ocupação imediata
do Brasil, que além de outros atrativos, havia água em abundância.
Quanto
ao processo de escravidão na África do Sul, os colonizadores europeus também praticavam intenso comércio de compra e venda de escravos oriundos de outras partes do
continente. No centro da Praça na Cidade do Cabo, há um monumento construído que dá a ideia
de como era realizado esse comércio e a procedência dos cativos. O local onde está o monumento, no passado havia
uma árvore, que sob a sua sombra eram realizadas os trâmites comerciais.
Dos
cerca de 400 escravos trazidos pelos barcos para a África do Sul, morriam durante a
viagem 150 a 200 por doenças ou maus tratos. Escravos da mesma família eram
separados. Já que os holandeses foram os primeiros a colonizar a África do Sul
por volta de 1652, o início do comércio de cativos ocorreu por volta de 1658, vindo
das suas colônias na Ásia. A decisão dos holandeses de importar escravos
asiáticos se deu pelo fato de os nativos africanos imporem resistência ao
trabalho forçado, muitos dos quais nômades caçadores.
Além
do mais as companhias holandesas tinham que cumprir certos protocolos legais
instituídos pela própria metrópole, como a que proibia a escravização de
nativos do país dominado. Isso foi um dos motivos que forçou a companhia a
importar escravos de suas colônias. Os escravos muçulmanos que chegavam ao
porto, seus nomes de batismos rapidamente eram substituídos por outros. O
processo denominado “rebatismo” se processava da seguinte forma: todos ficavam em fila, o escrivão mantinha uma bíblia aberta e os batizavam com algum
nome tirado do livro.
Além
dos nomes bíblicos, se adotavam também outras metodologias de troca de nomes,
como os dias da semana, meses e os lugares de onde eram trazidos. Outro
exemplo: todos os carregamentos de escravos quando eram desembarcados no porto,
se no dia do desembarque fosse sábado ou qualquer dia da semana, o sobrenome
dado seria o dia da semana do descarregamento. Ex. Antônio sábado;
Pedro domingo, Adão sexta, etc.
No
monumento construído no centro da Praça da Cidade do Cabo, chamou a atenção por
estar escrito o sobrenome BRAZIL. A explicação pelo nome ali escrito foi que
nessa época os navios portugueses que saíam de Angola ou Moçambique em direção
a sua colônia no Brasil, ou do Brasil para as colônias da África, poderiam ter
sido capturados por um navio holandês, por estarem navegando em águas proibidas.
Acredita-se que o navio capturado poderia estar vindo do Brasil, por isso o
sobrenome BRAZIL recebido pelo escravo ali no monumento.
Prof.
Jairo Cezar
[1]
SPRICIGO, Antônio Cesar. Sujeitos Esquecidos, Sujeitos Lembrados: Entre fatos e
números, a escravidão registrada na Freguesia do Araranguá no Século XIX.
CALDEIRA, Jorge. História do Brasil com empreendedores – São Paulo: Mameluco, 2009.
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