AS
CULTURAS PRÉ-INCAICAS (AMÉRICA DO SUL) ESQUECIDAS NOS CURRÍCULOS DAS ESCOLAS
BRASILEIRAS
Há
cerca de cinco anos tivemos a oportunidade de nos aventurar cruzando o deserto
de Atacama e visitando alguns países hispânicos que preservam na arquitetura, no
vestuário e na culinária, vestígios de culturas milenares que os antecederam.
Salta na Argentina, São Pedro de Atacama e Iquique, no Chile; La paz, na Bolívia;
Pumo e Cuzco foram às cidades que forçam os visitantes brasileiros e demais sul
do continente a ressignificarem suas visões de mundo, rompendo com o paradigma
europocentrico que ainda insiste em dominar o imaginário coletivo.
Tanto
os/as atuais estudantes quanto aqueles/as que já concluíram o ensino básico há
anos, acredita-se que devam lembrar-se dos/as professores/as descrevendo em
detalhes antigas e importantes civilizações como a mesopotâmica, fenícia,
egípcia, suméria, grega, romana, maia, inca, asteca, entre outros. São nomes
que “tradicionalmente” estão representadas nos livros didáticos de história
distribuídos às escolas de ensino fundamental e médio brasileiras.
Se
análise mais suscita forem realizadas nesses mesmos livros nomes do tipo Caral,
Wari, Uru, Nazca, Chavin, Paracas, Chinchorro, Quechua, etc, em nenhum deles
provavelmente haverá qualquer citação, pois são povos que floresceram na
América do Sul, alguns tão ou mais antigos que as milenares sociedades
européias e asiáticas. Na realidade pouco ainda se conhece acerca das culturas
que antecederam os colonizadores portugueses, muito menos ainda os primeiros habitantes
do altiplano andino, da costa do pacífico e floresta amazônica, que foram
sucumbidos pela voracidade destrutiva do invasor espanhol. Tudo o que se
aprende nas escolas e de forma resumidíssima são aspectos culturais relacionados
aos Tupi guaranis, Astecas, Incas e Maias.
O
que restaram dos saqueadores, predadores europeus foram poucos artefatos e ruínas
de templos e construções hidráulicas, algumas ainda em bom estado de
conservação mesmo tendo enfrentando violentas intempéries. Acredita-se que o
motivo da barreira cultural entre os vizinhos de língua espanhola e portuguesa
da América do Sul, se deve ao modelo educacional adotado, inspirado em
conceitos e valores importados dos Estados Unidos e Europa. Conhecemos muito
mais pelas mídias tradicionais e eletrônicas, cidades e pontos turísticos do
tipo: Nova York, Londres, Paris, Torre Henfil, Coliseu de Roma, Pirâmides do
Egito, etc. Muitos, no entanto, jamais ouviram falar da minúscula e pacata São Pedro de Atacama, cidade construída no
meio do deserto de Atacama, no Chile, que recebe anualmente milhares de pessoas
de todo o planeta, e PUNO as margens do Titicaca, lado peruano.
Quando
nos referimos a acidentes geográficos como rios que influenciaram ao
florescimento de civilizações importantes como a Egípcia, a Mesopotâmica, a
Indiana, rapidamente vem à mente os rios Nilo, Tigre, Eufrates, Ganges. Não é
mesmo? Mas se tratando de América do
Sul, talvez poucos devam ter ouvido falar dos misteriosos povos NAZCAS, dos
seus enigmáticos desenhos gigantes (gioglifos), traçados geometricamente sobre
o deserto de Atacama, cujas últimas pesquisas trouxeram revelações
surpreendentes. Acredita-se que as linhas e os desenhos traçados tivessem,
entre outras finalidades, destacar as fontes de águas subterrâneas.
É
de se imaginar que quando fossem os/as estudantes questionados/as sobre
mumificação, não titubeariam em responder que era um ritual religioso
recorrente entre os povos egípcios. Certo?
Não saberiam informar que no norte do Chile, há pouco tempo foram realizadas
escavações e desenterrados corpos mumificados, cujas datações oscilam entre 6 e
7 mil anos, superando em mais de 2000 mil anos as múmias do Egito. O que
perturbou os pesquisadores foi quando constataram que não ocorreu qualquer
processo químico na preparação dos corpos. Diferente da mumificação no Egito que
teve o emprego de técnicas medicinais, como o embalsamento,
para sua preservação.
Na
América do Sul, o solo árido e as condições climáticas ideais se encarregaram
de mantê-los conservados por milênios. O que é estarrecedor é saber que todo
esse magnífico acervo descoberto está se perdendo por negligência das
autoridades competentes. Muitas múmias estão sendo atacadas por fungos, por
precariedade no sistema de refrigeração dos locais onde estão alocadas. Além do mais, os reflexos do aquecimento
global já estão sendo percebidos nessas regiões onde estão concentrados os
monumentos e templos milenares. Áreas que por centenas de anos não caia uma
gota de chuva, vem sofrendo com inundações tanto de chuvas torrenciais quanto pelo
degelo dos picos nevados.
Crânios
e pescoços alongados são exibidos nos livros didáticos de história como rituais
egípcios ou de outras culturas africanas. Os Nazcas do altiplano andino também
ritualizavam seus crânios. Alguns corpos estavam com olhos vedados com pano e
excrementos humanos na boca. E por que será?
Se formos enumerar os importantes feitos e legados deixados pelos povos pré-lusitanos
e pré-hispânicos, somente os que habitaram a América do Sul dariam para cobrir
dezenas ou até mesmo centenas de páginas de livros e disponibilizados a todas
as escolas de ambos os idiomas. Não há dúvidas de que em pouco mais de uma
década estaria germinando uma nova geração na América do Sul, com o
fortalecimento dos vínculos culturais e econômicos.
Prof. Jairo Cezar
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