Na semana do dia 22 de
dezembro de 2016 o Presidente da Republica Michel Temer se reuniu no palácio do
planalto com alguns ministros e representantes patronais e dos trabalhadores
para apresentar a proposta de reforma trabalhista, onde foi dito pelo próprio
anfitrião do encontro que a proposta era um “belíssimo presente de natal”. Se
for belíssimo como os projetos já aprovados que tratam sobre as novas regras
para o ensino médio; idade limite para a aposentadoria e o teto de gastos públicos,
que congela os reajustes salariais por 20 anos, então os trabalhadores
brasileiros estão prestes a receber um verdadeiro “presente de grego”, uma
alegoria à obra Ilíada e Homero, onde narra o cenário de uma guerra entre
gregos e troianos. Como forma de persuadir o inimigo, os gregos (Temer)
presentearam os troianos (trabalhadores) com um enorme cavalo de madeira ou
Cavalo de Troia (Reforma Trabalhista), cujo interior do “presente” estavam
dezenas de soldados (artigos e parágrafos) que arruinaram Troia e do qual foi
estabelecido o domínio grego (capital) sobre a cidade.
Na linha do capitalismo selvagem que
converteu o Brasil em uma das nações mais desiguais e corruptas do planeta,
pensar que a reforma trabalhista irá proporcionar melhorias à vida de milhões
de brasileiros é acreditar em papai Noel, coelhinho de páscoa, duendes, troll,
entre outras tantas fábulas do mundo infantil. Outra piada para “boi dormir” é
o que a imprensa vem insistentemente fazendo e sem escrúpulo, que é bombardear
a cabeça de milhões de brasileiros com inverdades, reafirmando que as reformas
em curso são necessárias e inevitáveis para restabelecer os rumos da economia.
A corrupção (operação lava a jato), que revelou e ainda vem revelando o
envolvendo de centenas de políticos e de importantes empresas, públicas e
particulares, em manobras fraudulentas, ambas são cúmplices por expressiva
parcela do rombo financeiro que pôs o Brasil num atoleiro sem precedentes já
vistos na história recente.
Mas o motivo da crise que assola o
Brasil não está somente na “farra” deslavada com o dinheiro público. Você sabia
que a sonegação de impostos é sete vezes maior que a corrupção. O Estado
brasileiro deixa de recolher por ano de impostos devidos, cerca de 500 bilhões
de reais? Além da sonegação bilionária e da corrupção, a imprensa que também se
beneficia com essas “patologias” do capital, não divulga as bilionárias
isenções fiscais concedidas às empresas, cujo retorno em termos de emprego e
renda ao trabalhador é ínfimo.
Como explicar também os mais de 600
bilhões de reais que foram isentos em 2013 do pagamento de Imposto de Renda.
Nesse mesmo ano o governo foi declarado somente 115 bilhões de reais. Essas
isenções beneficiaram 2,1 milhões pessoas. As 29,9 mil pessoas mais ricas, ou
seja, 0,01%, com patrimônio médio de 40 milhões, pagaram somente 1,56% de sua
renda total. Afinal quem vai pagar o pato? Lembra do pato gigante em exposição
na Avenida Paulista, centro de São Paulo, durante as mobilizações contra a
corrupção e pelo impeachment da presidente Dilma? A ação foi coordenada por
integrantes da FIESP, entre outros seguimentos que foram beneficiados por
generosas benesses dos governos petistas.
Lembra dos benefícios concedidos ao
setor automobilístico durante os governos Lula e Dilma. Jamais se vendeu tanto
carro no Brasil em tão pouco tempo e toda a história. Agora, com o desemprego
em alta, como pagar os financiamentos? Foi só o primeiro sinal de crise no
horizonte, que as demissões coletivas ocuparam o cenário. Mas os acordos entre
governo e capital não era para assegurar emprego e renda aos trabalhadores?
Para tornar a vida mais difícil ainda tem o financiamento da casa própria,
minha casa minha vida. Como pagar uma conta quase eterna, mesmo agora sem
trabalho? Naquele momento o cenário forjado pela mídia, também beneficiada
pelos pomposos patrocínios publicitários do Estado, era pulverizar otimismo
pelos quatro cantos do território brasileiro. Quem não se deixou dominar com o
fatídico “canto da sereia”? Com 2014 e 2015 veio a revelação de um Brasil que
estava caminhando em direção a um profundo precipício financeiro. Pois além do
endividamento estratosférico das famílias, da dívida pública bilionária
impagável, rondava também o fantasma da corrupção, da roubalheira generalizada
do dinheiro público.
O impeachment da ex-presidente Dilma
foi mais uma manobra bem articulada pelo grande capital como estratégia de
reconquistar os mimos oferecidos pelo Estado durante séculos. Mais dádivas
ainda do que vinha obtendo nos últimos anos? Isso mesmo, e as crises cíclicas
são estratégias forjadas pelo próprio sistema para lograr mais lucros ainda.
Numa situação de tensão social extrema, como agora, a população se vê acuada,
fragilizada, receosa de que o pior ainda está por vir. A tendência é o
recolhimento, a resignação, de assegurar o que já tem, para não perder mais. É
exatamente isso o que o capitalismo faz quando quer elevar às nuvens o seu
volume de lucros. Espalha sentimentos de medo, de insegurança e a incerteza por
todos os lados.
A reforma trabalhista é uma das
inúmeras estratégias adotadas pelos donos do capital para maximizar lucros.
Dizer que a reforma irá modernizar as legislações trabalhistas, criando milhões
de novos empregos, é mais uma das tantas fábulas monstruosas narradas para
assustar crianças. Até pode ser verdade, mas que tipo de emprego e em que
condições serão exercidas pelo trabalhador? No momento que saiu a notícia da
proposta de reforma, a imprensa ventilou informação de que um dos itens
sugeridos pelo patronato seria elevar a jornada de oito para 12 horas de
trabalho diário. No momento em que alguém propõe tal absurdo, que por pouco não
foi aceito pelo congresso, como acreditar que a proposta só trará benefícios
aos trabalhadores?
Um dos itens extremamente polêmico e
certamente considerado a “cereja do bolo” da reforma é o que trata sobre as
políticas dos reajustes salariais. Atualmente ou tradicionalmente os salariais
eram e ainda são discutidos e reajustados mediante acordos coletivos entre
sindicatos e segmentos patronais. O que se pretende, portanto, é flexibilizar
esse dispositivo, permitindo que os acordos negociados se sobreponham ao
legislado, ou seja, se patrões e empregados decidirem reduzir salários pela
metade e elevarem a jornada de trabalho de oito para 12 horas/diário, a CLT perde
sua validade.
É um preceito muito arriscado, pois
sabemos como as lideranças das organizações sindicais que representam os
trabalhadores vêm se comportando frente as demais reformas em curso. Quem
duvida que durante as negociações salariais não haja alguma forma de cooptação
de lideranças para forçar os trabalhadores a acatarem as proposições sob risco
de retaliações e demissões. Não há dúvida que a intenção do governo, setores do
congresso e do capital é enfraquecer os movimentos de luta dos trabalhadores,
como o que o próprio Partido dos Trabalhadores o fez com a combativa CUT
durante os 15 anos de mandato.
Enfim, mais uma vez, os trabalhadores
passam por mais um dilema em suas vidas. Além de ter de trabalhar por 65 longos
anos para ter direito a uma mísera aposentadoria, correm o risco de não ter
mais assegurando gratuitamente nos próximos anos, educação, saúde, etc. Porém,
tem um detalhe, os impostos continuarão sendo cobrados para remunerar altos
salários e outros benefícios a uma pequena parcela de privilegiados, que
permanecerão “vampirando” o sangue de milhões enquanto não houver uma ruptura
definitiva nesse modelo perverso de produção capitalista.
Prof. Jairo Cezar
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