MUNICÍPIOS CATARINENSES LITORÂNEOS INVESTEM EM POLITICAS DE MOBILIDADE, MAS CARECEM DE AÇÕES QUE COÍBAM A OCUPAÇÃO DESORDENADA DA ORLA
Em viagem de quatro dias a cidade de
Itajaí foi possível constatar embora superficialmente a forte influência da
atividade portuária, da BR 101 e do aeroporto na dinamização da economia do
município e de toda a região do entorno. O município possui o segundo maior PIB
per capto do estado, situação um tanto quanto vantajosa no quesito recursos
financeiros disponíveis para investimentos em infraestrutura. O que chama
atenção quando se transita pela área urbana é a enorme malha de ciclovias
construída que facilita o deslocamento da população, especialmente de
trabalhadores que utilizam a bicicleta como meio de transporte.
Muito diferente de cidades como
Araranguá que apresentam características geográficas semelhantes a de Itajaí e
outras situadas na faixa litorânea, porém, até o presente momento nenhum administrador
público teve a ousadia de focar suas gestões em políticas de mobilidade com
ênfase no transporte coletivo e ciclovias. E parece, observando o modelo de
ciclovias adotado em Itajaí, que não foram necessários vultosos investimentos
ou mudanças radicais do trânsito, apenas o recuo das faixas, pintura, fixação
de tacões e instalação de sinalização específica. Outro problema ainda não
solucionado nos municípios que adotam as ciclovias e ciclo faixas é a
inexistência de estacionamentos para esses veículos.
Nas proximidades do porto estão
concentrados bares, restaurantes e o famoso mercado público onde durante o dia
milhares de pessoas por ali transitam passeando ou adquirindo peixes e outros
tantos frutos do mar, muito dos quais ainda fresquinhos. Durante as noites quentes a principal avenida
paralela ao porto se transforma. É uma infinidade de automóveis, pedestres,
ciclistas, entre outros transeuntes, que aproveitam toda a infraestrutura
disponível para o lazer. São inúmeros play grouds construídos para atender o
público infantil, academias ao ar livre, quadra esportiva polivalente, pistas
de skates, campo de futebol de areia, e é claro uma longa faixa a beira mar
para caminhadas e corridas. No entorno da área dois banheiros com designer
moderno foram construídos permanecendo aberto diariamente e gratuito para todos
os públicos.
O município de Itajaí também foi
agraciado pela natureza, pois embora possua uma curta faixa costeira, o fluxo
de turistas e veranistas que freqüentam as belas praias durante a temporada é
enorme. Algumas das praias de difícil acesso ainda mantém preservada expressiva
parcela da vasta vegetação de restinga e da floresta atlântica que a se estende
em direção aos morros que margeiam a faixa costeira. Como vem acontecendo e
quase todo litoral catarinense, especialmente no município de Araranguá, a
pressão imobiliária sobre esses frágeis ecossistemas litorâneos quase
desconhecidos e intocados vem transformando toda a região.
São inúmeras as residências e
edifícios de vários compartimentos construídos em áreas de preservação, que
comprovam todo o envolvimento dos poderes públicos constituídos na facilitação
dos licenciamentos ambientais para a execução das obras. Atualmente as
legislações federais em vigor que disciplinam os planos diretores dos
municípios são um tanto quanto rigorosas em relação as questões ambientais,
especialmente quando se trata de saneamento básico. São compromissos dos municípios
brasileiros construírem seus sistemas de tratamento de esgoto como forma de
solucionar o problema do esgotamento sanitário, cujo estado de Santa Catarina é
o que possui o menor percentual instalado entre os estados brasileiros.
Em 2014, o município de Itajaí
concluiu seu sistema de tratamento e destinação do esgoto, tendo capacidade de
tratamento de 133 litros por segundo e com capacidade de remover 95% da carga
orgânica. No mesmo ano de 2014 foram estendidas tubulações da usina de tratamento
até as praias brava, cabeçudas entre outras. Embora em menor grau, na praia de
cabeçuda se constata que nem todas as residências têm as suas ligações conectadas
à rede geral de esgoto, pois é possível observar o escoamento de esgoto em um
córrego que deságua no oceano.
Diferente de cidades como
Florianópolis e Balneário Cambo riu onde transitar pelas orlas requer coragem e
estômago forte para agüentar o mau cheiro exalado pelos esgotos que escorrem
para o mar, em Itajaí, em todo trecho da área central que margeia o porto, é
quase inexpressivo o lixo presente nas margens do rio, menos ainda o odor de
esgoto escorrendo em direção ao rio. De acordo com relatório apresentado pela http://exame.abril.com.br/brasil/as-praias-improprias-para-banho-no-verao-2017/, Santa Catarina, dos 214 pontos para
banho, 71 estão impróprios para o banho devido a presença de poluentes que
podem causar algum prejuízo a saúde da população.
A tendência é o aumento progressivo
dos pontos impróprios para o banho no litoral catarinense. Isso se deve ao modo
como as administrações públicas municipais vêm se comportando frente a pressão
do seguimento imobiliário nas faixas costeiras do litoral cada vez mais
valorizada. A concessão de licenciamentos ambientais geralmente repletos de
vícios pelos órgãos ambientais municipais para novos empreendimentos em APPs
são talvez um dos fatores contribuintes no agravamento de áreas contaminadas de
praias, rios e mananciais que abastecem com água potável os municípios
litorâneos. Muitos dessas fundações ambientais (FAMA) atrelados
administrativamente aos municípios foram criados apenas para agilizar processos
de licenciamentos para supressão de vegetação e referendar projetos
imobiliários.
No dia 17 de janeiro de 2017, o
jornal correio do sul, de Sombrio, trouxe reportagem que trata sobre a ação do
Gaeco na secretaria do meio ambiente de Passo de Torres, gestão passada, com
suspeita de ter havido fraude em documentação de licenciamento ambiental para
construção de loteamentos. Acredita-se que práticas semelhantes a de Passo de Torres
são comuns em muitas administrações e fundações ambientais e certamente deve
estar aí o motivo de existir tantos empreendimentos visivelmente irregulares,
construídos em áreas de APP, como encostas de morros, margens de rios, lagos e
nas faixas de dunas frontais.
Prof. Jairo Cezar
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