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REFORMA DO ENSINO MÉDIO SEGUINDO AS DIRETRIZES DO PLANO DE AJUSTE FISCAL IMPOSTAS PELO CAPITAL
Quando se soube da assinatura da medida
provisória feita pelo presidente da república onde promoveu alterações de
dispositivos da LDB, lei n. 9394/96, especialmente referente ao ensino médio, o
que chamou a atenção foi o item que trata da ampliação do tempo do aluno na
escola de aula que passará de 800 para 1400 horas. A proposta soa
“confinamento”, isso mesmo, aprisionamento, pois manter o aluno recluso no
interior das escolas cujas estruturas mais parecem presídios de segurança
máxima, é pura ingenuidade de quem acredita que isso poderá reverter os
péssimos resultados de um sistema de avaliação questionável como o IDEB.
Os números divulgados pelo IDED além de
outros fatores que são mercadológicos também foram um dos indicadores que
contribuíram para agilizar as mudanças no ensino. O fato é que esse
dispositivo de medição nacional sua eficiência é duvidosa e não
representam a realidade por excluir outros indicadores importantes principalmente
os aspectos sociais e econômicos dos estudantes. Leva-se em consideração na
avaliação apenas aspectos técnicos como avaliações de provas padrões para todas
as unidades de ensino.
Outro agravante que jamais deve ser omitido para a
compreensão das reformas estruturais é o plano de ajuste fiscal, cuja reforma
no ensino médio entre outras tantas medidas impositivas tem por princípio
assegurar o cumprimento das metas impositivas ditadas pelo Banco Mundial e
outros agentes financeiros. Além é claro, a reforma visa expandir o
tecnicismo no ensino, modelo regime militar, para a “formação” de um novo
“exército de trabalhadores”, reserva de mão de obra barata pouco qualificada,
para suprir a demanda do capital. A tendência é o desmonte inquestionável dos
institutos federais e estaduais de ensino, que tem nas suas políticas
pedagógicas toda uma filosofia que prepara cidadãos para além do mercado
de trabalho.
Acreditar que com a supressão de disciplinas como
artes, sociologia, filosofia e educação física e a elevação do tempo de
permanência do estudante em sala de aula modificará o quadro traumático que se
encontra a educação é permanecer confinado a “caverna de Platão”. Muitos
já escreveram alertando que a intenção dos governos anteriores e o atual eram
forjar uma situação que justificasse uma reforma profunda na educação nos
moldes apresentados pela medida provisória do governo Michel Temer. Limitar ao
máximo os investimentos na construção e reestruturação de unidades básicas de
ensino e remunerar mal os professores seria algumas das estratégias que
assegurariam resultados negativos nas avaliações e que convenceriam
a sociedade da necessidade de mudanças radicais para reverter o quadro de
“decadência” da escola pública.
O fato é que tais argumentos têm procedência. Pois
vejamos. Somente na região de Araranguá com 43 escolas que integram a 22ª GERED
pasmem, desse total 39 delas não apresentam alvarás de funcionamento, portanto,
não estão aptas para oferecer segurança aos estudantes e profissionais.
Sem contar que quase todas não possuem bibliotecas estruturadas, as salas de
tecnologias estão sucateadas, sem laboratórios de ciências, o acesso a internet
é precário, etc, etc.
O que dizer então da qualidade do ensino?
Quem é professor sabe que o problema da educação no Brasil é muito mais
complexo que se imagina. Centenas de reformas já foram realizadas desde o
período colonial e que se estenderam durante toda a república, porém, sem
qualquer reversão do quadro de desigualdade social e de dependência econômica.
Lembra da reforma do Marquês de Pombal, Ministro do governo de D. José I, de Portugal,
século XVIII, que atacou frontalmente o modelo de ensino jesuítico, uma manobra
articulada pelo Estado português para fortalecer sua hegemonia no Brasil e nos
territórios sobre sua influência. Atém o momento todas as reformas
instituídas na educação, exceto no período que antecedeu o golpe militar,
contribuíram para a intensificação do quadro de pobreza, miséria e alienação de
milhões de brasileiros. Não é isso que vemos hoje, com mais de 80% de
analfabetos estruturais?
Reformas são como tratamentos para moléstias
diagnosticadas por médicos. É indicado medicamento e o paciente é tratado. No
entanto, há o risco do retorno da moléstia pelo fato do tratamento não
debelar as causas reais, apenas os efeitos, que é a própria doença. O que vem
se fazendo com a educação pública tem o mesmo sentido. Alteram-se dezenas
de dispositivos da LDB e do FUNDEB sem atacar a causa da moléstia que é a
inexistência de um projeto de sociedade pautado na valorização do professor. O
exemplo da Singapura serve como exemplo, onde a remuneração do profissional da
educação é equiparada ao de engenheiro. Já no Brasil...
Uma reforma que amplia o tempo de permanência do
aluno na escola, quando se sabe que milhares de unidades de ensino não
apresentam as mínimas condições de infraestrutura para uma educação de
qualidade, é uma atitude um tanto quanto criminosa dos governos. O fato é que
milhares de estudantes de escolas públicas exercem algum trabalho remunerado no
contra turno como forma de auxiliar na subsistência da família. É quase
provável que muitos estudantes deixarão de freqüentar a escola ou se
matricularão naquelas de turno único, isso é claro se houver tal opção no
município, especialmente os de pequeno porte. Como ficará o ensino noturno? A medida
provisória não cita.
A supressão de disciplinas como sociologia, artes,
filosofia e Educação Física no ensino médio são medidas, digamos, “psicóticas”
de governos que procuram deixar explícitos quais os seus objetivos e a quem
estão representando. Se fosse realmente representar o povo, como é o preceito
constitucional, jamais tomariam medidas absurdas como essas, com um agravante,
sem dialogar com a sociedade. Países como a Finlândia levaram 10 anos para
promover reformas estruturais na educação. Afinal, o que representa
a arte, a sociologia e a filosofia na construção da identidade social? São
áreas, como as demais que completam o currículo, que atuam diretamente no
processo de maturação da criticidade e da liberdade individual e
coletiva. Lembram da aberração quanto a proposta descabida de Escola sem
Partido? Excluir arte, sociologia e filosofia, o que isso
preconiza? Não seria uma forma também de alienação, de formação de sujeitos
dóceis, despolitizados e manipuláveis?
Outra aberração também é com o ensino da educação
física. O ataque é essa área do saber se constitui em um dos maiores
retrocessos já vistos na educação brasileira. Sem contar que há pouco mais
trinta dias e uma semana o Brasil sediou dois eventos esportivos importantes, as
olimpíadas e paraolimpíadas, cujo legado pretendido foi o fortalecimento das
políticas públicas para alavancar a expansão de espaços para a atividade física
e prática esportiva em todo território nacional.
Agora, vir com essa proposta, tornando a educação
física disciplina facultativa no ensino médio, é piada de mau gosto. O
analfabetismo não é somente o desconhecimento das letras para a compreensão do
mundo, ela se dá também através do corpo e a educação física é imprescindível
para isso. Segundo a Psicóloga do Esporte Kátia Rúbia: “quando se tem
uma boa educação física motora, as crianças têm suas habilidades básicas
desenvolvidas. Além do mais quando se tem analfabetos motores, fica muito
difícil esperar uma população olímpica”.
O que poderá acorrer com a supressão dessas
disciplinas do ensino médio das escolas públicas é certamente a expansão do
desnivelamento de oportunidade entre estudantes das redes particulares e
públicas. Se a qualidade no ensino já era gritante mesmo com a contratação de
profissionais habilitados, imagine como ficará com a flexibilização dos
contratos onde se excluirá os concursos públicos. Basta comprovar “notório
saber”, que estará disponível para estar em uma sala de aula.
Alguém já imaginou um profissional de “notório
saber” atuando nos cursos de medicina, engenharia civil, entre outras
importantes áreas do conhecimento? Claro que não! Se os concursos serão
dispensados às escolas públicas, adivinhe quem decidirá sobre a escolha do
professor “apto” para o exercício da função? Lembra também do modo como os
diretores das escolas estaduais eram selecionados até pouco tempo atrás?
Não estaria nesse novo modelo de contratação sendo ressuscitado o
famigerado fantasma do apadrinhamento político, cujas vagas disponíveis ficarão
atreladas aos acordos eleitoreiros? Não podemos esperar para ver.
Prof. Jairo Cezar
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