NOVO
CÓDIGO NACIONAL DE MINERAÇÃO E AS MANOBRAS ENVOLVENDO PARLAMENTARES E EMPRESAS
MINERADORAS.
Há
poucas semanas as notícias sobre o rompimento de duas barragens de resíduos de
minério de ferro de uma empresa de mineração no estado de Minas Gerais correram
o mundo escancarando o que deve ser considerado um dos maiores desastres
ambientais já registrados no Brasil. As características da tragédia que
certamente deixará resquícios na bacia hidrográfica do rio doce por séculos dão
prova que o episódio poderia ter sido evitado se cumpridas todas as medidas
preventivas pelos órgãos ambientais e pela própria empresa SAMARCO pertencente
a Companhia Vale, antiga Vale do Rio Doce.
O
problema da irresponsabilidade que resultou no desastre ambiental de Minas Gerais
é a ponta do iceberg de uma serie de outros episódios ambientalmente
depredatórios em curso no Brasil, cuja mídia corporativa brasileira tanto
escrita quanto falada vem concedendo pouco espaço. As mega barragens como a de Belo
Monte, no rio Xingu e a do Rio Madeira, no estado de Rondônia, são alguns dos
exemplos de projetos altamente impactantes e desnecessários devido ao elevado
custo financeiro e ambiental irreversível, afetando direta e indiretamente
milhares de pessoas, especialmente comunidades indígenas que terão suas vidas
totalmente alteradas, pois suas terras se transformarão em um grande lago,
levando a extinção milhares de espécies da fauna e flora.
Outro
exemplo comprovando que a irresponsabilidade das mineradoras não se dá somente
no estado de Minas Gerais ou região norte do Brasil, mas em bacias
hidrográficas menores próximas de nós, foi o episódio catastrófico ocorrido no
município catarinense de Lauro Muller, em 2014, quando uma barragem contendo resíduos
finos de carvão da Companhia Carbonífera Catarinense, rompeu, contaminando toda
a extensão da bacia do rio tubarão. Depois das autuações dos órgãos ambientais
exigindo reparação dos danos, as informações divulgadas pelo jornal diário
catarinense em reportagem especial sobre barragens no estado, davam conta que a
empresa que cometeu o crime há cerca de um ano não tinha ainda cumprindo
determinação da justiça estadual, muito menos reparado os danos cometidos. http://osoldiario.clicrbs.com.br/sc/noticia/2015/11/um-ano-apos-rompimento-de-barragem-de-mineracao-rio-tubarao-ainda-aguarda-por-recuperacao-ambiental-4916323.html.
Com o episódio catastrófico em Mariana, Minas
Gerais, entre outros tantos sob-riscos eminentes de acidentes nas demais
regiões do Brasil, acreditava-se que o mínimo que se poderia fazer era a
rediscussão das legislações sobre mineração existentes garantindo aos órgãos
ambientais e aos próprios entes federados maiores poderes para restringir
licenças de mineração em áreas de risco, bem como maior fiscalização às
empresas que atualmente exploram recursos minerais e que lucram bilhões sem o
cumprimento mínimo das resoluções ambientais existentes, resultando em passivos
ambientais irreversíveis.
Há
duas semanas aproximadamente lendo o artigo de Maria Lucia Fattorelli que é Auditora Fiscal e Coordenadora Nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, no site
correio da cidadania, cujo título é Terrorismo Ambiental e Divida Ecológica, a
mesma traz em sua página outras reportagens como a Cartilha do Comitê em Defesa
dos Territórios Frente à Mineração com o seguinte questionamento: Quem é quem
nas discussões do novo código da mineração.
http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=11259:2015-11-30-21-33-13&catid=32:meio-ambiente&Itemid=68.
É um
documento extremamente polêmico pelo fato de trazer revelações contundentes
acerca dos nomes de parlamentares que compõem a comissão especial do novo
código de mineração que tramita no congresso nacional, cujo propósito é definir
politicas que estabeleçam regras mais claras quanto a atividade mineradora no Brasil
em substituição o antigo código homologado em 1967. O fato é que o projeto de
lei ainda em tramitação vem repleto de dúvidas e vícios quanto a sua real finalidade,
pois, seguindo o caminho que se vislumbra o horizonte, não traz qualquer
garantia às populações indiretamente envolvidas no processo, podendo se repetir episódios catastróficos
semelhantes à Mariana. As incertezas se tornam mais evidentes quando se observa
a lista dos deputados eleitos nas últimas eleições de 2014 e que compõem as
comissões, cuja maioria teve suas campanhas financiadas por empresas
mineradoras, muitas das quais instaladas no estado de Minas Gerais.
Dos
37 deputados titulares da atual comissão especial do novo código de mineração,
19 deles foram patrocinados por empresas ligadas à mineração. As manobras
políticas ficam mais evidenciadas quando se percebe que os principais postos da
comissão como de presidente; 1°,2° e 3° vice-presidentes e relator o número de
empresas e os valores doados oscilam entre 20% a 42%. É, nesse caso, o relator
do projeto, o deputado Leonardo Quintão, do PMDB – MG, que obteve um dos maiores
percentuais de repasse Dos 4.953.956.40 doados, 42% foram do setor de
mineração. Quem acredita que o parlamentar em questão terá coragem de relatar
no texto qualquer dispositivo ou fazer substitutivo que se oponha aos
interesses das 17 empresas financiadoras de sua campanha.
Atitude
que também não será diferente do próprio presidente da comissão, o deputado
Gabriel Guimarães, do PT, de Minas Gerais. Dos 2.489.312.92 orçados, 20% foram
de doações de nove empresas mineradoras. Os demais deputados das três vice-presidências,
dos 4.038.307.53 declarados no tribunal superior eleitoral, 20% na média foram oriundos
de doações de companhias mineradoras. Os candidatos ao cargo de presidência da
república também não ficaram isentas dessas benesses eleitoreiras do setor
minerador. Dentre os que concorreram o pleito de 2014, merecem destaques os
candidatos Aécio Neves do PSDB e Dilma Rousseff, do PT. Ambos tiveram suas
campanhas também financiadas por empresas mineradoras. Dos 201.279.353.14
repassados ao comitê financeiro do candidato do PSDB, 6% desse total vieram de
dez empresas do setor de mineração. A
candidata e atual presidente da República, Dilma Rousseff, dos 350.493.401.70
que foram registrados, 8% foram doações de um “Pool” de vinte empresas que
atuam na atividade mineradora.
São
informações importantes e reveladoras que toda a sociedade brasileira deveria
ter conhecimento, porém, seguindo a tradição de
um país cujo modelo econômico é controlado por seguimentos do capital
nacional e internacional, jamais depositaremos qualquer expectativa que tais
articulações no congresso deixarão de favorecer o lobby de empresas mineradoras.
A única saída é compartilharmos de tais
informações, mobilizando a população para que saibam conheçam os parlamentares
que estão compartilhando com os interesses de seguimentos do setor minerador,
que estimulados pela ganância desenfreada vem pondo em risco a sobrevivência de
milhões de pessoas, como é o caso das vítimas fatais em Bento Rodrigues,
município de Mariana – MG, e outras tantas afetadas direta e indiretamente em
toda a Bacia do Rio Doce.
Prof.
Jairo Cezar
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