Algumas
reflexões críticas em relação ao X Congresso Estadual do SINTE-SC (Sindicato dos Trabalhadores em Educação) realizado em Fraiburgo/SC
Entre
os dias 5 e 7 de dezembro de 2013 ocorreu na cidade de Fraiburgo/SC o X
Congresso Estadual do Sinte. Como já se presumia, o ambiente irradiava sensação
de que o evento se transcorreria sob forte tensão e disputa, pois estariam
frente a frente duas forças políticas que atuam no interior do Sinte, a ala
majoritária que controla a direção da entidade há anos, e a minoritária, que vem
insistindo pela retomada do controle do sindicato e a implantação de uma
estrutura verdadeiramente democrática para os (as) trabalhadores (as) em
educação.
Quando
se adentrou nas dependências do ginásio de esportes onde expressiva parcela dos
(as) delegados (as) estava acomodados (as) era nítido no semblante dos (as)
presentes que o cenário havia sido previamente preparado para assegurar a eternização
dos privilégios de uma meia dúzia de sindicalistas profissionais que há anos vem
se beneficiando das benesses oferecidas por quem ocupa os postos de comando do
SINTE, CNTE e CUT, sendo que esta ultima, atua como braço político do governo
federal para promover as políticas reformistas que estão em curso no sistema
educacional brasileiro. A uniformização dos (as) delegados (as) pertencentes às
tendências Artsinte e Resistir e Conquistar, trajando camisetas vermelhas e
verdes, se traduziu como instrumento de controle facilitando o monitoramento
dos (as) mesmos (as) durante as votações.
Na realização
da contagem dos votos referentes ao tema regimento, que no primeiro momento não
teve êxito devido ao tumulto que se sucedeu, ficou explícito o interesse do
coordenador do Sinte Estadual, que representava uma das chapas, de manipular o
processo como forma de assegurar o resultado a seu favor. Após duas tentativas
fracassadas os (as) monitores (as) foram substituídos (as) e nova contagem foi procedida,
sem tumulto, cujo resultado confirmou supremacia dos (as) integrantes das duas
chapas da situação. Em relação às teses apresentadas pelas correntes Artsinte,
Resistir e Conquistar, Corrente Sindical Esquerda Marxista era nítido as
semelhanças das proposições encaminhadas, com ênfase a não desfiliação da Cut e
o fim da proporcionalidade. Além desses dois dispositivos polêmicos que estavam
no centro do debate, a reformulação do Estatuto do Sinte se consubstanciaria em
outra questão polêmica que certamente renderia discussões acaloradas.
Tais
previsões foram confirmadas no segundo dia do congresso quando os (as)
delegados (as) foram distribuídos (as) em diversos grupos de discussões dentre
eles o que tratava sobre a revisão estatutária. No interior de uma das salas de
um colégio público do município onde se realizou a discussão relativa ao
estatuto, ampla maioria dos presentes pertencia ao bloco situacionista,
condição que lhes daria ampla vantagem no momento das votações dos destaques. Dentre
todas as proposições encaminhadas apenas uma não correspondeu aos interesses da
mesa coordenadora, sendo derrotado. A doutrinação dos (as) delegados (as) das
duas teses era tamanha que chegou ao ápice de uma das presentes questionar, no
momento que levantou o crachá, se a proposta que estava sendo votada foi
encaminhada pela oposição ou situação. Na leitura dos artigos a intenção dos
monitores da mesa era convencer os presentes de que o estatuto necessitava de
mudanças profundas, que não mais se adequava a realidade da categoria.
A
polêmica tomou conta do recinto quando se fez a leitura do Art. 18 na qual
consolidava o Congresso do Sinte como instância soberana na deliberação de
metas de luta da categoria. A discordância em relação a essa proposição foi
pelo fato de que as Assembléias Gerais que ocorrem uma ou duas vezes ao ano,
perderiam seu caráter de instância deliberativa. A defesa acerca do congresso
como instância máxima partia do princípio de que o debate ou imposição sobre os
destinos da categoria somente ocorreria a cada dois ou três anos, com reais
condições de o grupo majoritário perpetuar-se a frente do comando da entidade.
Se
havia o interesse explícito de restringir o debate quando se propôs tornar o
congresso como único espaço de luta, ficaria mais limitado ainda se o item que
trata sobre o direito de voz e voto nas assembleias fosse modificado como
pretendiam. Atualmente as assembleias gerais de professores (as) garantem condições
amplas de voz e voto tanto para os filiados como os não filiados. A proposta da
ala majoritária seria garantir direito de voz e voto apenas aos associados. A
argumentação contraria a modificação do artigo que exclui os não filiados da
luta foi embasada nos movimentos de paralisações dos (as) trabalhadores (as) em
educação que sempre são constituídos na sua maioria por não associados. Esse
item não obteve percentual suficiente para sua aprovação nessa plenária, sendo
encaminhado para decisão na plenária do congresso. Outra questão delicada que rendeu
discussões acaloradas foi o item relativo a continuação ou não da proporcionalidade,
condição essa que no atual contexto oportuniza a participação das diferentes
correntes na coordenação da executiva da entidade e também das regionais.
No sábado
à tarde novo cenário foi estrategicamente montado pelas duas chapas da situação
protagonizando um dos maiores golpes jamais visto na história do Sinte, quando foram colocados em
discussão os destaques do estatuto, cuja mesa propôs um minuto como tempo
limite para que fosse feita a defesa da proposta e um minuto para sua supressão.
A oposição discordou dessa aberração argumentando que um minuto era
insuficiente para discorrer temas tão complexos e polêmicos. Propuseram dois
minutos, no qual foi imediatamente refutado pela mesa. Na certeza de que o
circo já estava previamente preparado para homologar tudo que interessava a ala
majoritária, mesmo que fosse garantindo dois, três, cinco ou mais minutos para
as discussões dos destaques, as chances de alterar o resultado das votações
seriam ínfimas.
Em
vários momentos o grupo minoritário presente no plenário fez ameaças de
abandonar o congresso, pelo simples fato que não seria possível negociar
qualquer proposta intermediária. Mesmo esgarçando a garganta para convencer os
(as) delegados (as) a refletirem e votarem contra itens que excluía ampla
parcela dos trabalhadores do direito de decidir os rumos da categoria, não foi
possível sensibilizá-los (las), prevalecendo o poder da doutrinação.
Esgotando-se
todas as possibilidades de acordo, a coordenadora do Sinte Regional de
Criciúma, em protesto a tais intransigências encaminhou que os (as) delegados
(as) insatisfeitos (as) com o que estava ocorrendo abandonassem o recinto. Depois
de saída pacífica todos (as) se posicionaram na entrada do ginásio onde
promoveram simbolicamente a queima de uma camiseta com o distintivo da CUT e de
crachás de identificação do congresso, uma demonstração de revolta contra uma
central sindical e de um congresso que não expressa os sentimentos e
expectativas de ampla parcela da categoria. No decorrer do ato, representantes das
tendências minoritárias fizeram pronunciamentos argumentando que o episódio
seria lembrado por todos (as) como o divisor de águas de dois momentos distintos
do Sinte, o de antes e o depois do congresso de Fraiburgo.
Uma
das debatedoras deixou claro que a oposição do Sinte vem assumindo um
comportamento equivocado nos últimos tempos que é a oposição dentro da própria
oposição, que é imprescindível à unificação das forças para a construção de um
programa com metas claras que levem na retomada do Sinte para os (as)
trabalhadores (as) da educação e a desfiliação incondicional da CUT. Se nos
próximos um ou dois anos o quadro do movimento não se alterar, a mesma propôs
que se faça campanha em massa de desfiliação da entidade, e por sua vez da CUT,
desarticulando uma poderosa rede de privilegiados que são sustentados com o
dinheiro dos contribuintes, sendo que 50% dos (as) filiados (as) não comungam
com tais aberrações patrocinadas por tal grupo.
Também
foi ressaltado que a fragmentação ou divisão do Sinte foi definitivamente
consolidada na greve de 2011, quando o bloco situacionista decidiu em
assembléia estadual pelo seu fim, uma atitude que interessava diretamente ao
governo estadual e a própria CUT, mas não a expressiva parcela da categoria que
era favorável a continuidade. Diante de tudo que aconteceu foi proposto o
agendamento de um encontro estadual da oposição para o início de 2014 e a
elaboração de documento ou panfleto esclarecendo os (as) trabalhadores (as) da
educação sobre as maracutaias patrocinadas por tais blocos, que na realidade
ambos se odeiam, porém, quando o objetivo é defender interesses e privilégios
proporcionados pelo Sinte, Cnte e CUT, deixam suas diferenças de lado e se
unem, procurando transmitir a todos (as), principalmente aos (as) delegados
(as) presentes um falso comportamento de harmonia, companheirismo e solidariedade. Se
havia perfeita unidade entre as duas chapas do bloco situação, por que razão a
distribuição de camisetas com cores distintas à plenária.
Ficou
também evidenciada durante os três dias de congresso a dificuldade de construir
um relacionamento amistoso entre os presentes no evento. A Apartheid providencial
de dois grupos da situação no interior do ginásio foi visivelmente refletida
fora do recinto. Todos e todas que não estivessem trajando camisetas com as
cores que os (as) caracterizavam como pertencentes ao grupo específico eram
tratados (as) como oposição, perigosos (as), raivosos (as), baderneiros (as),
que estavam no congresso para provocar arruaças. Votar qualquer proposição que
lhes possam garantir maior influência nas decisões da categoria seria um ato inconseqüente.
Portanto, quando mais distanciamento entre ambos, melhor. A distribuição das
comitivas das regionais nos hotéis da região foi meticulosamente planejada.
Dificilmente delegados (as) de regionais pertencentes às forças distintas
ficaram hospedados (as) no mesmo recinto, evitando o contato e o risco de serem
influenciados e mudarem de posicionamento no momento das votações.
Paralelo
aos debates e discussões relativas à estrutura organizacional da categoria
ocorreram também palestras no campo das políticas conjunturais e educacionais.
Seus articuladores procuraram abordar visões ou concepções que levavam em conta
sua posição política e ideológica a partir do olhar da tendência ou grupo
político na qual representavam.
Na abertura
do encontro a palestrante Susana de Sá Gutierrez – diretora do SEPE – RJ,
discorreu sobre os problemas enfrentados pelo magistério estadual do Rio de
Janeiro, cujas políticas do governo seguem determinações internacionais,
transformando as escolas em estruturas que seguem um modelo empresarial com
metas específicas a serem atingidas. Os projetos educacionais que estão em curso
na rede de ensino estão sendo patrocinados por instituições filantrópicas como a Fundação Roberto Marinho, Airton Sena, entre
outras, um nítido processo de terceirização ou privatização do sistema
educacional público. No que tange as
políticas de carreira do magistério vinculadas aos cargos e remunerações a
proposta apresentada pelo governo foi pior do que a existente, fato que
resultou em paralisações gigantes com violenta repressão do estado.
O
Deputado Federal Pedro Uczai um dos convidados para o congresso iniciou a fala
afirmando categoricamente que “apesar dos contraditórios, temos vitórias a
comemorar”. Procurou justificar sua posição otimista em relação a educação
afirmando que houve crescimento da intervenção do Estado, que a decisão de
disponibilizar 10% dos Royalty do pré-sal à educação proporcionará uma
extraordinária transformação do Brasil. Em relação ao Piso admitiu que a lei
que obriga estados e municípios a pagarem o piso emperra com a lei de
responsabilidade fiscal, que é preciso desvinculá-la para garantir o seu
cumprimento. Sobre o PNE, destacou que sua aprovação que destinará 10% do orçamento
do PIB até 2023 expressou os sentimentos da sociedade. Concorda com o que pensa
o Senador Cristóvão Buarque com relação à federalização da educação brasileira.
Destacou também a necessidade de debater a escola em período integral, que é
importante estabelecer qual o tipo de arquitetura necessária para sua
efetivação.
Prof.
Jairo Cezar
OBS: Na conclusão desse artigo foram postados três vídeos com as falas das principais lideranças do bloco oposicionista, que se manifestaram justificando os motivos que levaram expressiva parcela da categoria a abandonar a plenária do Congresso do Sinte e as estratégias de lutas que foram elencadas.
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