Algumas
breves reflexões do Historiador da Arte Jorge Colli sobre imaginação e observação
A arte
pictórica e demais formas de representação no Brasil apresentam certas
peculiaridades que necessitam ser abordadas de maneira reflexiva para permitir
a compreensão da própria identidade da sociedade brasileira. No século XIX parte
das produções artísticas brasileiras como o quadro que retrata a Independência do
Brasil pelo artista plástico Pedro Américo, os intelectuais procuravam fabricar
a história, ou seja, traduzir a sociedade a partir da imaginação e não da observação
propriamente dita como fizeram artistas europeus como Prost, Debret, entre
outros. Foi a partir da presença desses artistas que negros e índios, ignorados
pelos eruditos brasileiros, ganharam representatividade e espaços nas telas, sob
um olhar antropológico que expressava seu cotidiano como a brutalidade sofrida na
sua duríssima luta pela sobrevivência.
Uma
obra instigante que retrata fielmente o imaginário dos artistas plásticos brasileiros
é o quadro A Primeira Missa no Brasil, que além de ser pintada em Paris, Victor
Meireles teve inspiração a partir de obra similar européia, cuja finalidade foi
expressar a fusão romântica do negro, índio e europeu na formação do povo e da
identidade brasileira, expressando o mito de homem cordial. Essa mesma obra foi retratada no cinema em
1937, na era Vargas quando se pretendia fortalecer o espírito nacionalista, da
integração cultural.
Outro
trabalho conhecido e que também traduz o mito da passividade, da assimilação e
do olhar romantizado em relação ao negro e índio brasileiro, é a obra O Guarani
de Carlos Gomes, inspirado no livro escrito por José de Alencar. A idéia de musicalizar
e pintar os índios a luz do imaginário branco europeu ou produzir uma visão romantizada
acerca de um índio (Peri) e uma mulher branca (Ceci) como fez José de Alencar,
não correspondeu exatamente o mundo real desse povo do século XIX, que foram
expulsos de suas terras e quase que dizimados em confrontos fratricidas.
Saindo
um pouco daquele olhar reprovador que tanta buscar culpados pelos fracassos que se seguiram, não
há dúvidas de que a igreja católica salvou a arte ocidental, quando incorporou
obras sacras como representação do imaginário social. A tradição jesuítica
incorporada à cultura brasileira é uma delas e pode ser vista nas construções
arquitetônicas, nos instrumentos musicais e, especialmente, na diversidade de
obras sacras que ainda são preservadas e que retratam o imaginário da sociedade
latina americana.
A arte
Norte Americana seguiu o caminho inverso a brasileira, sempre calcada numa concepção
reflexiva acerca da sua condição de existência, de valorização da sua
identidade cultural, que pode ser constatada nas produções cinematográficas que
sempre procura trabalhar na perspectiva dos seus feitos heróicos. Similar a
Norte Americana, o cinema brasileiro também está hoje seguindo nessa linha retratando
o cotidiano das favelas, a partir de filmes como Tropa de Elite, Cidade de
Deus, entre outros.
Diante
da narrativa do historiador da arte Jorge Colli, o mesmo procura tecer conceitos
acerca do significado de ser brasileiro e como pode ser definido? Nesse contexto,
gripo meu, há de se pensar a cultura brasileira a partir da relação de múltiplas
interfaces étnicas que se entrelaçaram, porém os valores e as regras morais
predominantes são forjadas por uma respectiva classe social, que define o modo
como o “povo brasileiro” deve se comportar.
Prof.
Jairo Cezar
Nenhum comentário:
Postar um comentário