Oscip Preserv’Ação, FAMA,
Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal inspecionam ocupações
irregulares no Balneário Morro dos Conventos.
Depois de muita insistência com inúmeras denúncias
encaminhadas à imprensa escrita, órgãos ambientais, Polícia Ambiental e poderes
judiciários, enfim, no dia 05 de outubro de 2012, a Oscip Preserv’Ação foi
atendida, pois participou junto com o Ministério Público Estadual e Federal, FAMA
(Fundação Municipal do Meio Ambiente), imprensa e demais cidadãos (ãs),
participaram de uma inspeção no balneário Morro dos Conventos para verificar em
loco as irregularidades ambientais existentes, dentre elas a invasão
imobiliária em APPs (Áreas de Preservação Permanente).
Durante o percurso, a procuradora do Ministério Público
Federal, Drª Rafaela, solicitou do superintendente da FAMA, Luiz Lemer, maiores
esclarecimentos acerca das construções e reformas que estavam em andamento.
Segundo o superintendente, munido de um mapa da área visitada, o mesmo procurou
argumentar que tais construções e reformas estão situadas em áreas já
consolidadas, portanto, não haveria problema para o Poder Público
Municipal em regularizá-las, especialmente porque seus proprietários, por
pagarem seus impostos, tem direito de usufruir seus bens.
Na opinião da Oscip, é questionável tal argumento em
decorrência das novas legislações ambientais consideradas mais restritivas em
relação as licenças para novas construções, principalmente em se tratando de
ecossistemas frágeis como o balneário Morro dos Conventos. Atualmente as
legislações ambientais e o próprio Plano Diretor, exigem dos empreendedores o
cumprimento de regras ambientais rígidas, tais como a apresentação do Eia Rima
(Estudos de Impacto Ambiental), esclarecendo
a destinação do lixo sólido, a mobilidade humana e de veículos, o esgotamento,
etc, itens desconsiderados quando da criação do balneário há aproximadamente
cinquenta anos.
Verificou-se na inspeção a ação deliberada de
cidadãos (ãs), que vem promovendo limpezas do seus imóveis como o corte
da vegetação restinga, sem autorização e acompanhamento dos órgãos ambientais,
demonstrando, nitidamente o visível
descaso do poder público. A procuradora solicitou esclarecimento de tais
infrações, cuja justificativa apresentada pelo órgão ambiental foi em defesa de
tais procedimentos admitindo que os proprietários por pagarem seus impostos tem
o direito de promover construir. Ouvindo a resposta, a procuradora não
convencida com o argumento retrucou-o de forma incisiva, afirmando que tal
prática é irregular, sendo passiva de crime ambiental. Discorreu também que os
lotes quando foram adquiridos, seus proprietários deveriam ter consciência das
suas peculiaridades geográficas e ambientais, pois além de estarem localizados
em área da marinha, portando território federal, havia a questão
ambiental, ou seja, toda região em
questão está situada numa área de proteção ambiental.
Durante as interpelações da FAMA e Ministério Público
Estadual, o coordenador da Oscip Jairo Cezar fez algumas intervenções
discordando das argumentações do representante do órgão ambiental municipal.
Segundo Jairo, a liberação de novas construções, especialmente em áreas já
consolidadas abrirá precedentes para ocupações das áreas não consolidadas,
comprometendo ainda mais o ecossistema do local. Alertou os presentes, que os
órgãos ambientais que teriam a função de fiscalizar e aplicar sansões aos
infratores agem de forma parcial, eximindo de suas obrigações. Portanto não há
nenhuma certeza de que com a liberação de construções, aberturas de ruas e
outros empreendimentos, tais proprietários e órgãos ambientais respeitarão as
leis ambientais ou cumprirão acordos pré-estabelecidos.
Jairo ratificou a necessidade urgente da criação de uma
Unidade de Conservação no Balneário e cujas políticas de infra-estrutura
imobiliária e turística deverão estar vinculadas a unidade. A própria Procuradora
da República se considera defensora de tal idéia, admitindo que a respectiva
unidade deva ser coordenada por uma entidade não governamental, pela sua independência
política e responsabilidade ética.
Durante a inspeção do lado sul do balneário foram
constatadas novas irregularidades além das já denunciadas pela Oscip
Preserv’Ação. Embora a denúncia de construção irregular em área de APP tenha sido proferida há aproximadamente trinta
dias, quando a mesma estava no seu início, não houve nesse período nenhuma
interferência dos órgãos fiscalizadores impedindo sua continuidade e conclusão.
Próxima a residência denunciada, outra já estava em processo de reforma,
possivelmente, sem autorização legal. O que chamou a atenção dos
presentes foi o número elevado de trabalhadores envolvidos na obra. De acordo
com fala do superintendente da FAMA, a respectiva residência em questão já
teria sido embargada, porém o proprietário não o acatou, sendo o mesmo passivo
de punição de crime responsabilidade. Porém as infrações ambientais não pararam
por ai. Construções clandestinas, cercas e muros de concretos sobre dunas e
restingas, corte de vegetação, entulhos, lixos à beira mar, poluição sonora,
etc., são alguns dos muitos problemas que vem descaracterizando dia após dia um
dos cartões postais mais belos e frágeis do Brasil.
Mais uma vez depositamos nossas esperanças e expectativas
no relatório a ser elaborado e apresentado pelo Ministério Público Federal
sobre a inspeção no Balneário. Acreditamos na sensibilidade e bom senso dos
integrantes desse órgão que adotarão certamente uma postura técnica e não
política na conclusão do documento. O evento ocorrido no Balneário no dia 5 de
setembro não foi apenas uma vitória da Oscip Preserv’Ação, foi da fauna, da
flora, da sociedade araranguaense e do próprio planeta, pois sabemos que nossos
atos, bons ou maus, em nossa casa, bairro, município e país repercutirá na
grande aldeia chamada terra.
Segundo Patrick
Bond “A luta pela sustentabilidade do ambiente doméstico é uma parte central da
possibilidade de tornar as cidades mais justas”.
Patrick Bond, é economia político diretor do Center for Civil Society da
Universidade de KwaZulu-Natal, em Durban (África do Sul), e ativista de
movimentos sociais, defende que a construção de cidades sustentáveis passa pela
aliança da agenda ambientalista com a da justiça social.
Oscip Preserv’Ação
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